sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A terra treme no Oriente Médio


Por Lejeune Mirhan

Afastado alguns meses por outros compromissos das colunas semanais do Portal Vermelho, retorno agora ao objeto de meus estudos e pesquisa há quase trinta anos – o Oriente Médio árabe – a convite desta vez do portal da Fundação Maurício Grabois na condição de colaborador. E retorno em um momento especial: a terra treme em todo o Oriente Médio em termos políticos. 


Dias de Fúria


Em termos de história, na maior parte do tempo, sejam em atitudes pessoais, atos coletivos e mesmo descobertas e invenções, nem sempre aquilatamos as dimensões que essas atitudes e descobertas podem ter na história da humanidade e no futuro imediato ou de médio e longo prazo.

Pois arrisco um palpite que o caso do jovem de 26 anos Mohammed Boazizi, vendedor de frutas ambulante, mas com formação universitária, é um desses casos. Inconformado com o fato da polícia ter tomado seu carrinho, seu ganha pão, decidiu imolar-se em frente ao palácio presidencial onde governava desde 1988, por longos 23 anos Zine Abdine Ben Ali. A partir desse momento, até a queda do ditador em 16 de janeiro, transcorreram 27 dias de grandes manifestações. A polícia atacou com fúria a multidão diariamente, que, de peito aberto, a enfrentou. O ditador – chamado durante todos esses anos de “presidente” por ser amigo de Washington – fugiu em debelada com sua família e, dizem, com mais de cem malas carregadas de ouro e dólares.

Em vários outros países ocorreram imolações nas capitais árabes. Essa forma de manifestação não é novidade no movimento popular. Foi muito usada pelos monges budistas na década de 1960, contra os EUA na Guerra do Vietnã. Na Guerra dos Bálcãs na década de 1990, em especial na Albânia esses episódios também ocorreram.

Toda a região do Oriente Médio, nos 22 países árabes (incluindo a palestina que ainda não tem seu Estado nacional), possui governos longevos. Ou são monarquias absolutistas ou são ditaduras disfarçadas de democracias, onde a cada cinco ou seis anos, fazem-se “eleições” farsescas, fraudulentas para tentar legitimar ditadores amigos dos Estados Unidos, para garantir ao império norte-americano a defesa de seus interesses nessa estratégica região, em especial a garantia do fluxo de petróleo para a América, a passagem dos seus navios petroleiros e cargueiros pelo Canal de Suez, garantir, fundamentalmente, a existência do estado racista e sionista judaico de Israel, algoz do povo palestino.

No entanto, há uma diferença imensa de alguns protestos e mesmo a derrubada de um ditador na Tunísia, protestos na Jordânia contra o Rei Abdulláh 2º, no Iêmen do ditador Ali Abdulláh Saleh no poder há 32 anos ou até contra o rei Abdulláh Bin Abdel Aziz, da família saudita que governa a Arábia Saudita há séculos (até o nome do país vem do ancestral Ibn Saud) e o que esta agora acontecendo no Egito.

O Egito, cujos protestos iniciaram-se desde a queda do ditador tunisiano, as coisas são completamente diferentes. É o maior país árabe, com 80 milhões de habitantes e aliado estratégico tanto dos Estados Unidos como de Israel, pois se coloca como inimigo dos árabes e dos palestinos.

Pretendia dar um panorama geral de todos os outros países árabes neste momento, com suas encruzilhadas históricas, em especial o Líbano, a Palestina e o Iraque. No entanto, ainda que os problemas desses países que mencionei se insiram no contexto geral de que comentarei sobre o Egito em particular, esta análise ficará por demais longa se tratasse de todos. Ficarão para as próximas colaborações que enviarei.
 Egito, um país estratégico

O Egito é um dos países árabes mais milenares, ao lado da Síria. É claro que é justo falar de uma época dos faraós e suas dinastias e outra do momento no século VII quando foi ocupada pelos muçulmanos do Império Árabe.

O marco fundamental do Egito ocorre com a revolução de 1952 que derruba o rei Farouk e instaura a República, foi uma iniciativa dos jovens oficiais livres, liderados pelo coronel Gamal Abdel Nasser. Um presidente interino foi colocado no poder, o general Mohammad Naguib, que durou até 1954. Dessa data em Dante, esse país, que diz fazer eleições regulares para presidente, teve apenas e tão somente três presidentes. O primeiro deles, Nasser, o maior e mais querido líder árabe da história, governou de 1954 até 1970 quando morreu. Anuar El Sadat assume e é assassinado em 1981 e de lá para cá, Hosni Mubarak, o ditador de plantão foi “eleito” e reeleito nada menos que seis vezes, muitas vezes com votações que atingiam quase cem por cento.

Sempre foi amigo dos Estados Unidos. Governou com a mão de ferro esses trinta anos e nem sequer teve a pretensão e nem precisou indicar um vice-presidente. Era vice de Sadat desde 1975, como chefe da Força Aérea. Após a assinatura dos acordos de paz com Israel em 1979, sob os auspícios da administração Carter após as conversações de Camp David em 1978, Mubarak vai ganhando destaque até que, com o assassinato de Sadat por extremistas islâmicos que o consideraram traidor, assume definitivamente a presidência.

O Egito sob o seu governo viveu trinta anos de corrupção e repressão do povo, dos sindicatos e dos partidos de esquerda e progressistas. Reprimiu, em nome de uma suposta laicidade, a organização Irmandade (ou Fraternidade, dependendo da tradução) Muçulmana, fundada por Hasan Al Banna, em 1928, sob a inspiração de Sayyid Qutb (falaremos dela posteriormente).

O Egito é o país do OM que mais recebe ajuda direta do tesouro americano, autorizado pelo Congresso dos Estados Unidos. Isso significa em torno de dois bilhões de dólares ao ano nos últimos trinta anos pelo menos. Israel recebe o dobro, ainda que tenha um décimo da população egípcia.

Não é a primeira vez que as massas egípcias vão ás ruas e mesmo com as atuais dimensões (a manifestação do último dia 1º de fevereiro, terça-feira, atingiu dois milhões de pessoas, apesar da imprensa ocidental e brasileira falar em “alguns milhares”...). O povo já havia protestado contra a ocupação turca e depois britânica nos idos dos últimos anos da década de 1910 no século passado.


No entanto, as características atuais são completamente distintas.


O momento delicado que vive o Egito


Quero a seguir, com base na literatura internacional a que tivemos acesso, tecer diversas considerações sobre a realidade desse histórico e estratégico país, sob diversos aspectos, citando, sempre que possível, a fonte.

1. A economia do país – o Egito vive um modelo econômico de absoluta inspiração neoliberal. Privatizou praticamente metade das suas antigas 300 empresas estatais, em especial as estratégicas. É o chamado capitalismo financeiro, que engordou as contas das famílias e grupos rentistas do país em detrimento da pauperização das amplas massas árabes. Como diz Pepe Escobar em seu blog, é como se o vírus latino-americano contra o neoliberalismo tivesse contaminado o Egito e todo o OM. O desemprego é elevadíssimo e a renda per capita não cresce há anos. O FMI dizia para todo o mundo que o Egito era um “modelo de economia a ser seguido” (corte de gastos, juros altos, sem controle de câmbio, arrocho salarial... aliás, muito parecido com as primeiras medidas do governo brasileiro). Esse é o contexto econômico em que ocorreram as manifestações na Praça Tahrir (Praça da Liberdade);

2. A Questão política – o Egito e qualquer outro país árabe nunca foi exemplo de democracia. Não pelo menos nos moldes do que estamos acostumados no Ocidente e no Brasil desde a redemocratização em 1985. Não há liberdade de imprensa, nem liberdade partidária. No parlamento, o único partido consentido, a Irmandade Muçulmana, elegeu nas eleições parlamentares de 2005, 88 deputados de um total de 454 cadeiras (19,38%).

A parceria estratégica que o Egito mantém com os EUA tem diversos objetivos. O maior deles é o controle do Canal de Suez, por onde passam boa parte dos petroleiros e navios transoceânicos de luxo de todo o mundo. Boa parte da economia mundial depende dessa passagem que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo. O Canal era explorado pela Inglaterra, mas foi nacionalizado por Nasser em 1956, na mais firme e heroica atitude tomada por um dirigente árabe em toda a história.

Além disso, a mais estratégica passagem entre o Egito e a Faixa de Gaza, a cidade de Rafah, esta sob total controle do governo Mubarak. Para asfixiar Gaza e os palestinos, Mubarak mantém com mão de ferro o total controle dessa fronteira, fazendo o jogo de Israel, que lhe pede repressão maior a cada dia. O exército americano esta inclusive construindo uma muralha de aço para separar a fronteira egípcia e palestina.

Em recente declaração do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Bidden, este confessou em público o que todos sabem: afirmou com todas as letras que Mubarak não pode ser chamado de ditador. Que seria ele então?

O exemplo tunisiano e algumas imolações ocorridas também no Cairo foi a gota d’água para as manifestações. A imprensa insiste em vincular isso com a questão islâmica, mas isso é um equívoco. O levante é popular e não islâmico. Isso esta claro. São cidadãos egípcios que saem às ruas para pedir um basta à ditadura Mubarak, que até outro dia era chamado de “presidente” por essa mídia internacional e a brasileira, hipócrita como sempre.

O que vimos na imprensa ser chamada de Revolução Egípcia, pode sim ter características de revolução, a depender de quem a dirija e dos rumos que ela possa tomar de ora em diante. Não há como negar que os Estados Unidos lutam com todas as suas forças e armas, para ter o controle de um processo de transição que não faça com que o aliado histórico se afaste de sua órbita de influência (mais abaixo comentarei sobre Israel ainda). O próprio Lênin dava as características de uma situação que pode ser revolucionária, quando ele dizia que “os de cima não mais conseguem governar como antes e os de baixo já não aceitam mais ser governados como antes”. É o caso do Egito.

Ainda assim, a chamada revolução egípcia ainda não da sinais de que tem seu caráter antiamericano, anti-EUA. É sim, de forma clara, uma revolução anti um regime apoiado abertamente pelos Estados Unidos, mas isso é diferente. Sigo de acordo com a opinião da imensa maioria dos analistas internacionais a que pude ler seus despachos, qual seja, de que qualquer regime que suceda Mubarak, é muito pequena a probabilidade de que seja serviçal e dócil com os Estados Unidos. Nesse sentido e por si só, isso já representa uma derrota para o império norte-americano e sinalizam problemas para Obama, mais dos que ele os têm, tanto no front interno e externo. É como se Washington tentasse a todo custo, sequestrar a revolução egípcia, realizando uma transição pacífica e de colaboração que preserve o futuro de Mubarak e seus aliados e os interesses norte-americano e israelenses. E que o modelo neoliberal seja preservado.

Aqui, registro algumas observações:

• Não há uma animosidade contra os Estados Unidos; sintonizo o tempo todo ao vivo a TV Al Jazeera (veja o link http://english.aljazeera.net/watch_now/) e não vi uma bandeira norte-americana sendo queimada; tampouco vejo animosidade contra os estrangeiros em geral; os cartazes não me parecem ser antiamericanos;
• Como diz Fisk, os egípcios deram gargalhadas quando viram Barak Obama na TV “conclamar” que Mubarak “abrace a democracia”, depois desse ter servido fielmente com sua ditadura aos interesses estadunidenses;
• Soa profundamente hipócrita, segundo Borón, que tanto Obama como sua secretária Hilary Clinton, apelando para que um regime corrupto e repressivo como poucos no mundo inteiro, trilhe agora um caminho de reformas democráticas, econômicas e sociais;
• O movimento popular não mirou em nenhum momento, como seus alvos estratégicos, como diz Chossudóvsky, que poderiam ser simplesmente a embaixada norte-americana no Cairo, os escritórios nacionais do FMI e do Banco Mundial, e mesmo as bases americanas no Egito;
• Vive-se, na visão de Pepe Escobar, uma espécie de Intifada egípcia, nos moldes das duas que ocorreram na palestina, em 1987 e 2000;

3. Os que protestam – como dissemos, a oposição vivia momentos de quase total desmobilização; milhares de seus líderes encontram-se ainda encarcerados e muitos foram cooptados pelo próprio regime. A juventude toma, como sempre, a dianteira. No entanto, os repórteres que acompanham de perto as manifestações na Praça da Liberdade, registram que são, além de estudantes e desempregados em geral, operários, a classe média, advogados e juízes, médicos, professores, doutores da mais antiga universidade do mundo, a Al Azhar, camponeses, teólogos, jornalistas e tantas outras profissões. Quanto à sua religiosidade, temos muçulmanos em sua maioria, mas cristãos cooptas. Mas, em momento algum se viu um caráter religioso das manifestações.

Formam-se neste momento por todo o país, os chamados comitês populares. O Partido Comunista Egípcio emitiu nota contundente condenando toda a repressão, conclamando o “Fora Mubarak” e a formação de um governo de unidade nacional. O povo nas ruas grita que “exército e povo são aliados”. O slogan que mais se escuta nas manifestações é “não a outro mandato; não á uma república hereditária”, em uma alusão a possibilidade de Mubarak indicar seu filho, Gamal, para assumir o poder em setembro (em árabe La lil-tamdid; La lil-tawrith). Nas paredes pichadas, como que lembrando Maio de 1968, lê-se “Queremos derrubar o sistema”. Cidadãos comuns, unidos, carregam a bandeira egípcia com orgulho. Quiçá isso retorne e desemboque na volta do nacionalismo e o pan-arabismo das décadas de 1950 e 1960 do século passado. Ouve-se ainda “Mubarak, vá-se para sempre! Mubarak, mostre alguma dignidade! (em árabe isso até rima).

4. A oposição – como tem dito a grande imprensa, parece que a revolução egípcia não tem rosto, não têm líderes, os partidos quase não aparecem. Quero comentar aqui alguns deles:

• Associação Nacional pela Mudança – é liderada pelo ex-presidente da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohammed El Baradei, Prêmio Nobel da Paz. Baradei, um técnico de prestígio internacional e de carreira na ONU, passou quase 15 anos fora do país. Ninguém atinge um posto desse sem ter sido de confiança quase que absoluta dos EUA. No entanto, nos últimos dois anos de seu segundo mandato à frente da AIEA, Baradei desalinhou dos EUA quanto ao programa nuclear do Irã. Cumpriu um papel positivo, no sentido de afirmar ao mundo que os técnicos da agência não atestavam o programa iraniano com objetivos de fabricar a bomba. É claro, ele é um político moderado, independente. Mas, já esta tentando se cacifar pelo menos neste momento de transição e recebeu autorização de cinco partidos para tentar formar um gabinete de transição; pode emplacar ou não;
• Partido Al Ghad – de linha republicana, liderado por Ayman Nour, que disputou com Mubarak a presidência em 2005, sendo esmagado pela fraude eleitoral; de linha centrista;
• Partido Wafd – sob a liderança de Al Sayed Al Badawi, de linha liberal e moderada;
• Movimento “6 de Abril” – uma organização juvenil, de centro-esquerda;
• Kefaya – movimento laico, integrado por sindicalistas e intelectuais de classe média;
• Irmandade Muçulmana – disputam apenas o parlamento e nunca passam de 20% dos votos. Seu atual líder é Mohammad Badias. A Irmandade tem estado discreta nas manifestações, mas sabemos que participa ativamente. O Ocidente quer mostrar que é um pavor a tomada do poder pelos muçulmanos, mas isso apenas como forma de jogar terrorismo e preconceito na cabeça das pessoas. Ate porque esse agrupamento não propõe – assim como o Hamas na Palestina e o Hezbolláh no Líbano, nunca propuseram um estado islâmico (o Hamas na sua fundação propunha, mas mudou de posição). Essa Irmandade egípcia, que inspirou todas as outras nos países árabes, é na verdade uma organização moderada na política. Não falam em ruptura com o modelo capitalista e defendem a propriedade privada. É conservadora também do ponto de vista da moral e dos costumes. Presta mais serviços sociais de apoio à população pobre com baixa atuação na classe média de alta escolaridade e com intelectuais;
• Partido Comunista Egípcio – fundado em 1922, fará, tal qual o PCdoB, 89 anos. Atua na mais absoluta clandestinidade, tem influência em setores sindicais e estudantis. Possui muitos de seus quadros dirigentes encarcerados, mas atua na linha de frente das amplas manifestações deste janeiro.

Pelo fato da Irmandade ser o agrupamento mais importante na política egípcia, vale a pena saber quais seriam as suas propostas neste momento. Defendem a nomeação de um 1º Ministro interino e que uma comissão de juízes faça uma imediata revisão da constituição e que eleições livres e gerais sejam convocadas para o parlamento e para a presidência. Poderia aceitar o moderado do Baradei na linha de frente desse governo provisório de união nacional.

Mubarak ainda não deu sinais, apesar da pressão popular, da opinião pública e mesmo das pressões norte-americana para uma transição mais abreviada, ainda que controlada, de que vai deixar o poder. Para isso nomeou um vice-presidente. Não poderia ter sido pior, pois indicou um tenente-coronel do exército, vinculado ao setor de espionagem e informações, um homem avesso à democracia e ao processo de transição, conhecido torturador. Parece-nos que isso seria uma decisão parecida com a que tomou o Xá do Irã, Reza Pahlevi em 1978, um ano antes de sua queda e fuga para o mesmo Egito atual, quando indicou um 1º Ministro chamado Shapour Baktiar. Mas, tal manobra não surtiu efeito, pois a partir de março de 1979, uma insurreição popular, dirigida pelos setores mais progressista da sociedade iraniana, derrubou o governo despótico do Xá.

5. A cobertura da mídia – a mídia procurou esconder as manifestações iniciadas em Túnis, capital da Tunísia. De um modo geral, tanto no Brasil, como no mundo, o Oriente Médio é deturpado e mesmo desconhecido. Reforça-se um imenso preconceito contra esse povo e sua religião majoritária, o Islamismo. Estereótipos são reforçados, mostrando-se os muçulmanos como radicais e mesmo terroristas. A ombudsman da Folha, Susana Singer, em sua coluna de domingo, 30 de janeiro, criticou a cobertura do próprio jornal, dizendo que demorou para enviar correspondentes e nunca explicou bem aos seus leitores o significado daquela região do mundo. E agora, recebendo material e despachos das grandes agências, procura ficar na superficialidade e não mostra a questão central, política e ideológica.

Os jornalões brasileiros em particular, só despertaram para enviar correspondentes depois de quase um mês de manifestações e da queda do ditador tunisiano. Descobriram depois de 23 anos na Tunísia e 30 no Egito que ambos os países eram uma ditadura. Chamaram, até uma semana atrás, os respectivos ditadores Ben Ali e Mubarak de “presidente” (sic). E, mesmo quando enviaram correspondentes para a região, estes passaram a cobrir mais os que eles chamaram de atos de vandalismos e saques, desconsiderando o conteúdo político e mesmo revolucionário das manifestações.

Essa mesma imprensa, como diz Fisk, omite que tais saques e vandalismos são feitos por agentes e milicianos ligados ao governo Mubarak, chamados de battagi que em árabe quer dizer literalmente de “bandidos”. São, em sua maioria, ex-policiais, viciados em drogas. Como diz o competente jornalista Antônio Luiz Costa de Carta Capital, “a mídia Ocidental cobre os protestos do Cairo com muito menos entusiasmo do que os ocorridos em Teerã em 2009; protestos só interessam quando são pró-ocidentais e a democracia só convém quando a preferência dos eleitores coincide com os de Washington”. Uma conclusão correta e clara.

6. Ditadores e Legitimidade – ninguém gosta de ditadores. Mas, como disse em longa entrevista que concedi à Rádio CBN de notícias no último dia 30 de janeiro domingo (que o leitor pode ouvir por este link http://cbn.globoradio.globo.com/programas/revista-cbn/2011/01/30/MONARQUIAS-PRO-AMERICANAS-PODEM-SER-AFETADAS-POR-CRISE-NO-EGITO.htm) não se trata de escolher um ditador melhor que o outro. Todos sabem que Saddam Hussein, quando era amigo dos EUA, e bombardeou o Irã em uma guerra absurda em que morreram um milhão de pessoas de ambos os lados, era chamado pela imprensa norte-americana de “presidente” Saddam. Depois que passou a atacar os EUA, passou a ser “ditador” Saddam.

A legitimidade de um governo não provém e nem emana sempre das eleições ditas democráticas nos moldes que conhecemos no Ocidente. A prova disso é que a democracia norte-americana é uma farsa. Praticamente só dois partidos concorrem e só tem chance quem tem bilhões de dólares para pagar a propaganda nas mídias.

Gamal Abdel Nasser praticamente nunca foi eleito nos 16 anos que esteve á frente do governo do Egito. No entanto, era adorado pelos egípcios. As tarefas que ele executou, o conteúdo e o caráter de classe do Estado e do governo egípcios eram claramente antiimperialistas. Sua morte em 1970 levou um milhão de egípcios às ruas em seu funeral e outros milhões em todas as capitais árabes. Ele nunca foi chamado de ditador pela esquerda e pelo imprensa árabe.

Como diz Juan Cole em seu blog, o “estado nasserista com todos os seus problemas, teve legitimidade porque era visto como um estado para a grande massa dos egípcios, tanto para os de fora como os de dentro do país; o atual de Mubarak, é visto no Egito como um estado para os outros: EUA, Reino Unido, França e Israel e é um estado para poucos – os ricos e neoliberais”.

Isso vale para o presidente Bashar El Assad, da Síria. Ele “herdou” o governo de seu pai, Hafez El Assad, morto em 1999 (governava desde 1970). A Síria hoje é o país que mais enfrenta o imperialismo norte-americano, ao lado do Irã. Na sua capital, Damasco, grupos revolucionários, de esquerda, progressistas e patrióticos mantém livremente seus escritórios. É o país árabe que mais apoia a causa palestina. No entanto, as eleições ocorrem nos mesmos moldes que as egípcias. Não há comparação de um com o outro.

Na ciência política marxista costumamos dizer que o que assegura o caráter de classe de um estado pode ser respondida quando a seguinte questão estiver clara: contra quem (qual classe social) e a favor de quem age a máquina do estado. Respondido isso, sabe-se o caráter de classe de um estado. Não estou entre os que veem na democracia um valor universal.

Problemas para Israel. O fortalecimento do Irã

Também sobre isso não tenho a menor dúvida. Quem mais perde neste momento, nesta situação pré-revolucionária ou até mesmo revolucionária, a depender do andamento do processo, é Israel e seu governo reacionário de Benjamin Netanyahu. E essa opinião minha coincide com diversos analistas, em especial M. K. Bradakumar, do Asia Times. E ganha a República islâmica do Irã.

Mubarak é o principal parceiro de Israel. O Egito foi o primeiro país que assinou a paz em separado com Israel, seguido pela Jordânia. Nenhum outro assinou. Tecnicamente, Israel esta em guerra com a Síria e o Líbano, pois confiscou terras desses países (respectivamente as colinas de Golã e as fazendas chamadas de Shebaa). Entre os dias 27 de dezembro de 2008 e 22 de janeiro de 2009, Israel bombardeou sem pena nem dó a Faixa de Gaza. Matou a sangue frio 1,5 mil palestinos, dos quais dois terços crianças, mulheres e velhos, sob o pretexto de atacar o grupo Hamas, legitimo representante do povo palestino. Que fez Mubarak? Ao invés de abrir a fronteira de Gaza para deixar passar alimentos, remédios, materiais de construção pela cidade egípcia de Rafah, acabou fechando-a de uma vez, forçando milhares de palestinos a construir túneis na região de fronteira, reforçando o contrabando e encarecendo os preços.

Já temos notícias que dezenas de diplomatas israelenses e seus familiares já deixaram, há muito, o Cairo. Impera na chancelaria e em geral no governo israelense, um nervosismo excessivo. Isso foi registrado por diversos analistas. Israel sabe que um novo governo egípcio poderá romper o acordo de paz de 1979 e isso fará com que o estado judeu venha a ter que gastar muito mais em armamentos e despesas militares, pois há 32 anos ele desguarnece a fronteira Sul, com o Egito e concentra esforços com a front Norte do país, exatamente onde estão o Líbano, a Síria e Irã. Ruim para Israel isso.

Não tenho dúvidas que Israel vai ficando a cada dia mais isolado. E o Irã que não é um país árabe (é persa), se fortalece a cada dia. Senão, vejamos os motivos que elenquei:

• Papeis recentemente divulgado pelo WikiLeaks (Palestinian Papers), revelaram acordos e negociações secretas entre Israel e a ANP, do grupo Fatah, que fizeram enfraquecer ainda mais o grupo de Abbas e fortalecer novamente o Hamas, que tem apoio do Irã e da Síria;
• O Hezbolláh acaba de conseguir formar um governo de maioria no Líbano, derrubando o governo pró-EUA e Israel de Saad Hariri; registre-se que tal governo é chamado de Bloco Patriótico e é composto, além do Hezbolláh do sheik Hasan Nasralláh, mais o Movimento Patriótico Livre, do general cristão Michel Aoun, mais o grupo Amal, de orientação xiita, cujo líder é Nabi Berri, presidente do parlamento e pelo Partido Comunista Libanês;
• O Irã tem boa influência no governo do 1º ministro xiita do Iraque, Nur El Maliki;
• Desde os primeiros momentos, o Irã deu seu total apoio ao levante popular no Egito; Israel entrou em profundo mutismo e silêncio; reflete na verdade o seu imenso pavor de que todos os regimes árabes moderados e pró-Ocidente sejam derrubados no que alguns autores vêm chamando de Revolução de Jasmim ou Primavera Árabe;
• O Irã tem profundas ligações com a Fraternidade Muçulmana, que Israel tem pavor que assuma o comando do país (de meu ponto de vista esse agrupamento vai participar do novo governo, mas não defenderá um governo o islâmico; o Egito é fortemente laico);
• Todos os fracassos seguidos de Washington de barrar o programa nucelar iraniano para fins pacíficos – apoiado pelo Brasil inclusive – que agora deixa de ser o foco no OM; Israel perde seu discurso central;
• A questão palestina e seu estado nacional, a paz volta a ser o centro das negociações e Israel não vai ter como sair disso.


Conclusões preliminares


É um jogo ainda em andamento. As cartas estão na mesa e os jogadores se posicionando, articulando. Não se pode prever exatamente os resultados. Mas quero arriscar alguns palpites:

1. Obama perde nesse processo. Seu discurso do Cairo em julho de 2009, estendendo a mão para os muçulmanos provou-se uma farsa, uma hipocrisia. Não deu passo algum para respeitar os muçulmanos e os árabes em geral. Insiste em classificar, quase que à revelia da maioria dos países, os Partidos políticos Hamas e o Hezbolláh como “terroristas”; são movimentos de resistência e de libertação nacional;

2. Qualquer governo, por mais moderado que seja, não terá, jamais, as mesmas relações de subserviência com os norte-americanos como sempre teve Mubarak. O que tanto os Estados Unidos sempre tiveram pavor, poderá mesmo acontecer concretamente, que é a participação com destaque da Irmandade Muçulmana no futuro governo egípcio; isso não dará caráter religioso ao governo;

3. Israel sai profundamente derrotado e isolado. Perdeu seu discurso de que o maior inimigo é o Irã, que este precisaria ser derrotado e bombardeado e seu programa nuclear visa a construção da bomba atômica (fala como se ninguém soubesse que tem pelo menos 200 ogivas);

4. Ganham os palestinos, que devem se fortalecer na sua luta e na busca de seu estado nacional. Eu só lamento ainda a existência da divisão entre o Hamas e o Fatah e outras organizações. Espera-se até meados do ano eleições gerais, ou pelo menos municipais;

5. Um novo Oriente Médio será construído e isso é perfeitamente possível. O modelo neoliberal pode sofrer abalos. Deverá crescer a democracia mais ampla, os partidos terão maiores liberdades, bem como a imprensa. Eleições gerais devem ocorrer em curto prazo no Egito e na Tunísia. O OM nunca mais será o mesmo depois desse imenso tremor político ocorrido; mudanças profundas podem ocorrer inclusive nas monarquias da Arábia Saudita, Jordânia, Kuwait entre outras;

De minha parte, espero, com sinceridade que avancem as massas populares, no rumo de uma verdadeira revolução democrática, popular, patriótica e nacional. Que avancem os partidos comunistas e socialistas e de feições populares, independente da confissão religiosa de seus dirigentes. São todos árabes, sejam muçulmanos ou cristãos e mesmo judeus dos 22 países árabes.

Termino este artigo com uma frase de Helena Cobban, de seu blog, muito ferino contra os EUA: “no caso da política de Obama para o OM, são cegos guiando cego e cegos aconselhando cego no salão oval da Casa Branca”, em uma clara alusão a Bill Daley, Ben Rhodes, Tony Blinken, Denis McDorough, John Brennan e Robert Cardillo, assessores e conselheiros de diversos cargos de Obama, todos, indistintamente, militantes fanáticos pró-Israel e à serviço do lobbyie judaico. Como diz elas, que venham os arabistas de Washington.

PS: esclareço aos leitores que este é um típico artigo de Internet. Ele pode se dar ao luxo de ser longo, mas é datado, ou seja, vale para este momento histórico, em que a terra treme, no sentido político. De um dia para outro, a conjuntura pode ser alterada completamente.


_________



Sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa e da International Sociological Association e colunista da Revista Sociologia da Editora Escala.



Fonte: http://grabois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=8&id_noticia=4856

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A PAZ E O DIREITO DE RETORNO DOS REFUGIADOS PALESTINOS


La sempiterna cuestión de los refugiados palestinos

16-12-2010

The Guardian

Traducido del inglés para Rebelión por Beatriz Morales Bastos

Antes de su asesinato en 1948 Lord Folke Bernadotte, el primer mediador de la ONU en el conflicto israelo-árabe, afirmó: “Sería una ofensa contra los principios de la justicia más elemental si se negara el derecho a retornar a sus casas a estas inocentes víctimas [palestinas] mientras que los inmigrantes judíos fluyen a Palestina”. Lord Bernadotte pagó con su vida su franqueza ya que lo asesinaron siguiendo órdenes de Yitzhak Shamir, el hombre que más tarde se convertiría en primer ministro de Israel.



Menos de tres meses después de su muerte, mientras la guerra de 1948 se acercaba a su fin y las fuerzas israelíes habían desplazado a casi tres cuartas partes de toda la población [palestina] originaria, la ONU aprobó la Resolución 194 de la Asamblea General que exigía el retorno de los refugiados palestinos a sus hogares y que se les concedieran indemnizaciones por las pérdidas que habían padecido.

El sábado [11 de diciembre] habrán pasado 62 años sin que se implemente esta resolución histórica a pesar de que desde entonces ha contado con el apoyo de la ONU con un consenso casi universal. De hecho, la propia admisión de Israel como miembro de las Naciones Unidas estaba condicionada a que acatara los principios de la Resolución 194 de la Asamblea General, a lo que empezó a hacer caso omiso desde el mismo momento en que fue admitido como miembro de la ONU.

Contrariamente a lo que las figuras políticas israelíes quisieran que creyera el mundo, el problema de los refugiados palestinos no es una cuestión académica cuya solución se ha vuelto un tanto discutible con el paso del tiempo y debido a la creación de “hechos consumados” por parte de Israel. El desplazamiento de palestinos continúa hasta el día de hoy por medio de la revocación de los permisos de residencia, la confiscación de tierras, la demolición de casas y los desahucios. Al mismo tiempo, Israel ha prohibido a los palestinos desplazados entre 1947 y 1949, y otra vez en 1967 volver a sus casas o recibir indemnizaciones por la pérdida de sus propiedades, lo que ha convertido a los refugiados palestinos en la comunidad de refugiados más antigua y grande del mundo en la actualidad.

Está fuera de discusión que Israel es responsable de la creación de los refugiados. Aunque el Estado siga pidiendo que se olvide lo que hizo, los historiadores israelíes han desenmascarado el mito sionista tradicional y demostrado que antes de 1948 los dirigentes sionistas elaboraron planes para desplazar a la poblacion originaria palestina con el fin de crear un Estado con mayoría judía. Dicho Estado habría sido imposible sin la expulsión masiva de palestinos dado que estos constituían una vasta mayoría en cada distrito de la Palestina histórica antes de 1948 y también poseían el 90% de la tierra.

Aun aceptando el relato israelí de que los refugiados se fueron voluntariamente (relato que para la inmensa mayoría ha demostrado ser falso), no cabe la menor duda de que cuando los refugiados trataron de volver de acuerdo con el derecho legal que tenía a hacerlo se lo impidió una legislación israelí recién creada y fueron declarados infiltrados en sus propias propiedades.

Este periodo de desposesión, conocido por los palestinos como la Nakba o “la catástrofe”, es la experiencia fundamental palestina y fuente de nuestra identidad colectiva. De hecho, el actual presidente palestino, Mahmoud Abbas, también es un refugiado palestino desplazado de la ciudad de Safed durante la guerra de 1948 cuando sólo tenía 13 años de edad.

Hoy existen más de siete millones de refugiados palestinos reaprtidos por todo el mundo, el 70% de toda la población palestina. Si se ignoran sus legítimos derechos legales consagrados en el derecho internacional, los comprensibles motivos de sentirse agraviados por el prolongado desplazamiento y sus aspiraciones a volver a su patria sin lugar a dudas harían que cualquier acuerdo de paz firmado con Israel fuera completamente insostenible.

De acuerdo con los pasados acuerdos israelo-árabes basados en resoluciones de la ONU (el más significativo de los cuales es los Acuerdos israelo-egipcios de Camp David basados en la fórmula de la Resolución 242 de la ONU de tierra por paz) la Resolución 194 debe proporcionar la base para una resolución de la cuestión de los refugiados .

El remedio del retorno y restitución tiene un fuerte precedente internacional, por ejemplo, en el contexto de los Acuerdos de Dayton, a los que se llegó bajo los auspicios de Estados Unidos, se consideró que el retorno de los refugiados a sus hogares y la restitución de sus propiedades era un derecho “no negociable” que era fundamental para elaborar una solución duradera. Dirigentes estadounidenses, como la entonces secretaria de Estado Madeleine Albright, pidieron abiertamente a los refugiados bosnios musulmanes que retornaran en masa a sus antiguos lugares de residencia.

Tantio en Bosnia como en Palestina se ha considerado que el retorno de los refugiados es absolutamente necesario para la estabilidad de la paz. Se considera que cualquier acuerdo que no respete los derechos de los refugiados conlleva el germen de su inevitable fracaso.

Cuando una vez más se reinicien las negociaciones el mundo no debe abandonar a los refugiados palestinos ni tratar de coaccionar a sus representates para que lo hagan.

El reconocimiento por parte de Israel de los derechos de los refugiados palestinos y el hecho de que acepten proporcionar reparación y una opción significativa a los refugiados en el ejercicio de estos derechos no cambiará la realidad de Oriente Próximo de la noche a la mañana ni provocará a Israel una crisis existencial. Lo que sin duda hará es señalar el inicio de una nueva realidad que nuncá más estará arraigada en la represión, la negación de los derechos y la discriminación. En otras palabras, llevará a una paz duradera, el tipo de paz que concibió Lord Bernadotte y que deseó tanto para los palestinos como para los israelíes.

Fuente: http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2010/dec/10/israel-palestine-refugee-rights

...................................................................................................

The returning issue of Palestine's refugees

It's 62 years since the UN passed a resolution on the rights of Palestinian refugees – rights Israel


guardian.co.uk,














Palestinian president, Mahmoud Abbas, is a refugee displaced from the city of Safed during the 1948 war. Photograph: Khaled El Fiqi/EPA


Before his murder in 1948, Lord Folke Bernadotte, the first UN mediator to the Arab-Israeli conflict, stated: "It would be an offence against the principles of elemental justice if these innocent [Palestinian] victims of the conflict were denied the right to return to their homes, while Jewish immigrants flow into Palestine." Lord Bernadotte paid for his candour with his life as Jewish militants assassinated him under the direction of Yitzhak Shamir, the man who would later become prime minister of Israel.

Less than three months after his death, as the war of 1948 ground to a close, and nearly three-quarters of the entire indigenous Palestinian population had been displaced by Israeli forces, the UN passed general assembly resolution 194, calling for the return of Palestinian refugees to their homes and to be awarded compensation for their losses.

On Saturday, 62 years will have passed without this historic resolution being implemented despite being upheld by the UN with nearly universal consensus ever since. In fact, Israel's own admission as a member to the United Nations was contingent on its adherence to the principles of UNGA 194, something it proceeded to disregard once membership was granted.

Contrary to what Israeli political figures would like the world to believe, the issue of Palestinian refugees is not an academic matter, the solution of which is somehow rendered moot by the passage of time and by the creation of Israeli "facts on the ground." Palestinian displacement continues to this day through the revocation of residency cards, land confiscation, home demolitions and evictions. At the same time, Israel has barred Palestinians displaced between 1947 and 1949, and again in 1967, from returning to their homes or receiving restitution for their lost property, making Palestinian refugees the oldest and largest refugee community in the world today.

The fact that Israel bears responsibility for the creation of the refugees is beyond argument. Even if the state still claims amnesia for its deeds, Israeli historians have debunked the traditional Zionist mythology and shown how Zionist leaders prior to 1948 formulated plans to displace the indigenous Palestinian population in order to create a Jewish majority state. Such a state would have been impossible without the mass expulsion of Palestinians, given that Palestinians constituted a majority in every district of historic Palestine prior to 1948 and also owned over 90% of the land.

Even if we accept the Israeli narrative that refugees left voluntarily – which has been proven false for the vast majority – there is no doubt about the fact that when refugees attempted to return according to their legal right, they were blocked by newly drafted Israeli legislation and declared infiltrators on their own property.

This period of dispossession, known to Palestinians as al-Nakba or "the catastrophe", is the seminal Palestinian experience and source of our collective identity. In fact, the current Palestinian president, Mahmoud Abbas, is himself a refugee displaced from the city of Safed during the 1948 war when he was only 13-years-old.

Today, Palestinian refugees constitute more than 7 million people worldwide – 70% of the entire Palestinian population. Disregarding their legitimate legal rights enshrined in international law, their understandable grievances accrued over prolonged displacement, and their aspirations to return to their homeland, would certainly make any peace deal signed with Israel completely untenable.

In accordance with past Israeli-Arab agreements based on UN resolutions – most significantly the Egypt-Israeli Camp David Accords based on UN resolution 242's formula of land-for-peace – resolution 194 must provide the basis for a settlement to the refugee issue.

Return and restitution as the remedy of choice has a strong international precedent. For example, in the context of the Dayton Accords, concluded under the auspices of the United States, the return of Bosnian refugees to their homes and restitution of their property was considered a "non-negotiable" right that was critical to crafting a durable solution. American leaders such as Madeleine Albright, then the secretary of state, openly called on Bosnian Muslim refugees to return en masse to their former places of residence.

In Bosnia and in Palestine, the return of refugees has been considered absolutely necessary for the stability of peace. Any deal that does not respect the rights of refugees has been viewed as bearing the seed of its inevitable failure.
When negotiations resume once again, the world must not abandon the refugees of Palestine, nor attempt to coerce their representatives to do so either.

Israel's recognition of Palestinian refugee rights and its agreement to provide reparation and meaningful refugee choice in the exercise of these rights will not change the reality in the Middle East overnight, nor will it lead to an existential crisis for Israel. What it will certainly do is mark the beginning of a new reality that will no longer be rooted in repression, denial of rights, and discrimination. In other words, it will lead to a lasting peace – the kind of peace envisaged by Lord Bernadotte and hoped for by Palestinians and Israelis alike.

http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2010/dec/10/israel-palestine-refugee-rights



quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Facebook e a dignidade árabe


International Herald Tribune
Sid Bouzid
Na Tunísia
25/01/2011


É aqui que uma revolução árabe tem início; em um fim de mundo. Se o mundo moderno encontra-se dividido entre centros dinâmicos e uma periferia estática, Sidi Bouzid se encaixa perfeitamente nesta última. A cidade nunca apareceu sequer na previsão nacional do tempo.

A centelha foi um desentendimento em 17 de dezembro de 2010. Ela envolveu um jovem vendedor de frutas e verduras chamado Mohamed Bouazizi e uma policial bem mais velha do que ele chamada Faida Hamdy. O que exatamente ocorreu entre os dois – quem esbofeteou ou cuspiu em quem, que insultos foram usados – é algo que já entrou para o reino do mito revolucionário.

Pouco depois – este fato pelo menos não é contestado – Bouazizi colocou fogo no próprio corpo em frente ao moderno prédio do governo, onde os manifestantes atualmente se aglomeram em torno de retratos do mártir. Bouazizi viveria mais 18 dias. Àquela altura, uma ditadura árabe com um pedigree de 53 anos estava tremendo convulsivamente. Dentro de mais dez dias, ela desmoronou, naquela que talvez tenha sido a primeira revolução da história que não teve um líder.

Ou talvez o líder estivesse longe: Mark Zuckerberg, o criador do Facebook. O veículo da revolução foi a juventude da Tunísia, capaz de usar o Facebook para comunicação instantânea e dessa forma inspirar os seus pais.

Ander Colding-Jorgensen, um psicólogo dinamarquês, realizou uma experiência em 2009 na qual divulgou a notícia de que a Fonte Stork de Copenhague estava prestes a ser demolida e criou um grupo no Facebook para salvá-la. A ameaça era fictícia, mas o grupo logo passou a contar com dois novos membros por minuto.
A revolução tunisiana foi uma experiência similar, mas turbinada. Fidel Castro passou anos preparando a sua revolução na Sierra Maestra, no interior cubano; o Facebook levou a insurreição do interior para a capital tunisiana em 28 dias.

Como foi que uma briga por causa de peras e maçãs em um local desimportante e obscuro transformou-se em uma rebelião nacional? Nenhum jornal ou rede de televisão tunisiana cobriu o acontecimento. O Ocidente estava preocupado com o Natal. A Tunísia era o Luxemburgo do mundo árabe: lá nada jamais acontecia. A autoimolação de um garoto pobre jamais poderia quebrar um muro de silêncio. Ou pelo menos era essa a impressão que se tinha.

Naquele dia, 17 de dezembro, doze membros da furiosa família Bouazizi reuniram-se em frente ao prédio do governo. Eles sacudiram o portão e exigiram que o governador saísse para vê-los.

“A nossa família é capaz de aceitar tudo, menos a humilhação”, me disse Samia Bouazizi, a irmã do rapaz morto, sentada dentro de uma casa pequenina, iluminada por uma lâmpada fraca, perto de um cocho onde um carneiro come.

Humilhação é uma palavra importante nessa história. Foi o “hogra”, ou o desdém, da cleptocracia do ditador que acabaria unindo no ciberespaço uma população árabe.

Os protestos logo aumentaram. Usando telefones celulares, os participantes colocavam imagens em páginas do Facebook.

“A minha filha, Ons, que tem 16 anos de idade, passou a me mostrar o que estava acontecendo”, conta Hichem Saad, um empresário de Túnis.

A Al-Jazeera, a rede de televisão do mundo árabe, foi alertada através do Facebook. Nesse ínterim, Bouazizi, que não tinha sequer o segundo grau, metamorfoseou-se no ciberespaço em um frustrado indivíduo recém-formado na universidade: isso repercutiu em uma nação na qual tantas pessoas com diploma universitário estão desempregadas. Esse mito correu o mundo. Informações que se movem tão rapidamente assim são inspiradas pelos fatos, em vez de se ancorarem neles.

Quando Zine el-Abidine Ben Ali, o ditador que acaba de ser deposto, falou à nação, conforme faria três vezes, a fúria transmitida pelo Facebook foi a resposta. Ben Ali podia ter 1,5 milhão de membros no seu partido fantoche; mas ele em breve se deparou com dois milhões de usuários do Facebook.

A essa altura dizia-se que Faida Hamdy, a policial, havia esbofeteado Bouazizi. Talvez ela tenha feito isso. O primo dela me disse que foi o rapaz que esbofeteou Hamdy: mais fatos fugazes bons demais para se confirmar.

Hisham Ben Khamsa, que organiza um festival de cinema norte-americano em Túnis, observou a cena na companhia dos seus filhos quando Ben Ali fez o seu último discurso em 13 de janeiro. Agora, a fúria confrontadora do homem forte do país tinha desaparecido. Assim como o xá do Irã em 1978 – tarde demais – ele havia “entendido”. Ele sentiu a dor do povo. O preço do pão seria reduzido.

“Ele não entendeu nada”, me disse Ben Khamsa. “Tudo o que aconteceu dizia respeito a dignidade, e não a pão. Ele estava em estado de autismo político terminal. Imediatamente, todos faziam comentários sobre o discurso no Facebook”.

Na noite seguinte, Ben Ali fugiu, após passar 23 anos no poder. Menos do que o seu predecessor, que governou durante 30 anos. Dizem que a idade média de um tunisiano é de “um ditador e meio”. Esse pesadelo acabou.

Agora o novo ministro da Juventude, um ex-blogueiro de 33 anos de idade, manda mensagens via Twitter das suas reuniões de gabinete. Todos estão falando onde outrora todo mundo fazia silêncio. “Toda nação árabe está aguardando o seu Bouazizi”, me disse a irmã dele.

Algumas observações: primeiro, de acordo com uma antiga máxima, no mundo árabe as duas únicas opções possíveis são ditadores ou fundamentalistas islâmicos porque estas são as duas forças organizadoras. Não, as comunidades online são capazes de se organizar e enfrentar o poder estabelecido.

Segundo, essas comunidades não têm nenhuma ideologia formal, mas a luta delas visa a transformar humilhação em autoestima.

Terceiro, as rebeliões no ciberespaço têm resultados imprevisíveis: o Irã pairou sobre o fio da navalha em 2009; o regime da Tunísia caiu em 2011. Em ambas as sociedades o abismo que separa as autoridades e as sociedades de jovens conectados pela Internet é enorme. A diferença está provavelmente no grau de brutalidade sustentada que uma ditadura é capaz manter.

Quarto, a liberdade da Internet não é nenhuma panaceia. Regimes autoritários podem usá-la para identificar dissidentes; eles podem tentar suprimir o Facebook. Mas ela dá poder aos reprimidos, humilhados e distantes – sendo, portanto uma ameaça ao decadente status quo árabe.

O que aconteceu na Tunísia foi uma revolução Facebook. Mas eu prefiro usar uma expressão que ouvi em Túnis: “A Revolução da Dignidade”.

(Roger Cohen escreve a coluna “The Globalist” para o “International Herald Tribune”).
Tradução: UOL

............................................................................................................

Um movimento de contestação ganha o Egito



Os manifestantes reivindicam o exemplo tunisiano e enfrentam o regime do presidente Mubarak

27/01/2011





É aqui que uma revolução árabe tem início; em um fim de mundo. Se o mundo moderno encontra-se dividido entre centros dinâmicos e uma periferia estática, Sidi Bouzid se encaixa perfeitamente nesta última. A cidade nunca apareceu sequer na previsão nacional do tempo.

A centelha foi um desentendimento em 17 de dezembro de 2010. Ela envolveu um jovem vendedor de frutas e verduras chamado Mohamed Bouazizi e uma policial bem mais velha do que ele chamada Faida Hamdy. O que exatamente ocorreu entre os dois – quem esbofeteou ou cuspiu em quem, que insultos foram usados – é algo que já entrou para o reino do mito revolucionário.

Pouco depois – este fato pelo menos não é contestado – Bouazizi colocou fogo no próprio corpo em frente ao moderno prédio do governo, onde os manifestantes atualmente se aglomeram em torno de retratos do mártir. Bouazizi viveria mais 18 dias. Àquela altura, uma ditadura árabe com um pedigree de 53 anos estava tremendo convulsivamente. Dentro de mais dez dias, ela desmoronou, naquela que talvez tenha sido a primeira revolução da história que não teve um líder.

Ou talvez o líder estivesse longe: Mark Zuckerberg, o criador do Facebook. O veículo da revolução foi a juventude da Tunísia, capaz de usar o Facebook para comunicação instantânea e dessa forma inspirar os seus pais.

Ander Colding-Jorgensen, um psicólogo dinamarquês, realizou uma experiência em 2009 na qual divulgou a notícia de que a Fonte Stork de Copenhague estava prestes a ser demolida e criou um grupo no Facebook para salvá-la. A ameaça era fictícia, mas o grupo logo passou a contar com dois novos membros por minuto.

A revolução tunisiana foi uma experiência similar, mas turbinada. Fidel Castro passou anos preparando a sua revolução na Sierra Maestra, no interior cubano; o Facebook levou a insurreição do interior para a capital tunisiana em 28 dias.

Como foi que uma briga por causa de peras e maçãs em um local desimportante e obscuro transformou-se em uma rebelião nacional? Nenhum jornal ou rede de televisão tunisiana cobriu o acontecimento. O Ocidente estava preocupado com o Natal. A Tunísia era o Luxemburgo do mundo árabe: lá nada jamais acontecia. A autoimolação de um garoto pobre jamais poderia quebrar um muro de silêncio. Ou pelo menos era essa a impressão que se tinha.

Naquele dia, 17 de dezembro, doze membros da furiosa família Bouazizi reuniram-se em frente ao prédio do governo. Eles sacudiram o portão e exigiram que o governador saísse para vê-los.

“A nossa família é capaz de aceitar tudo, menos a humilhação”, me disse Samia Bouazizi, a irmã do rapaz morto, sentada dentro de uma casa pequenina, iluminada por uma lâmpada fraca, perto de um cocho onde um carneiro come.

Humilhação é uma palavra importante nessa história. Foi o “hogra”, ou o desdém, da cleptocracia do ditador que acabaria unindo no ciberespaço uma população árabe.

Os protestos logo aumentaram. Usando telefones celulares, os participantes colocavam imagens em páginas do Facebook.

“A minha filha, Ons, que tem 16 anos de idade, passou a me mostrar o que estava acontecendo”, conta Hichem Saad, um empresário de Túnis.

A Al-Jazeera, a rede de televisão do mundo árabe, foi alertada através do Facebook. Nesse ínterim, Bouazizi, que não tinha sequer o segundo grau, metamorfoseou-se no ciberespaço em um frustrado indivíduo recém-formado na universidade: isso repercutiu em uma nação na qual tantas pessoas com diploma universitário estão desempregadas. Esse mito correu o mundo. Informações que se movem tão rapidamente assim são inspiradas pelos fatos, em vez de se ancorarem neles.

Quando Zine el-Abidine Ben Ali, o ditador que acaba de ser deposto, falou à nação, conforme faria três vezes, a fúria transmitida pelo Facebook foi a resposta. Ben Ali podia ter 1,5 milhão de membros no seu partido fantoche; mas ele em breve se deparou com dois milhões de usuários do Facebook.

A essa altura dizia-se que Faida Hamdy, a policial, havia esbofeteado Bouazizi. Talvez ela tenha feito isso. O primo dela me disse que foi o rapaz que esbofeteou Hamdy: mais fatos fugazes bons demais para se confirmar.

Hisham Ben Khamsa, que organiza um festival de cinema norte-americano em Túnis, observou a cena na companhia dos seus filhos quando Ben Ali fez o seu último discurso em 13 de janeiro. Agora, a fúria confrontadora do homem forte do país tinha desaparecido. Assim como o xá do Irã em 1978 – tarde demais – ele havia “entendido”. Ele sentiu a dor do povo. O preço do pão seria reduzido.

“Ele não entendeu nada”, me disse Ben Khamsa. “Tudo o que aconteceu dizia respeito a dignidade, e não a pão. Ele estava em estado de autismo político terminal. Imediatamente, todos faziam comentários sobre o discurso no Facebook”.

Na noite seguinte, Ben Ali fugiu, após passar 23 anos no poder. Menos do que o seu predecessor, que governou durante 30 anos. Dizem que a idade média de um tunisiano é de “um ditador e meio”. Esse pesadelo acabou.

Agora o novo ministro da Juventude, um ex-blogueiro de 33 anos de idade, manda mensagens via Twitter das suas reuniões de gabinete. Todos estão falando onde outrora todo mundo fazia silêncio. “Toda nação árabe está aguardando o seu Bouazizi”, me disse a irmã dele.

Algumas observações: primeiro, de acordo com uma antiga máxima, no mundo árabe as duas únicas opções possíveis são ditadores ou fundamentalistas islâmicos porque estas são as duas forças organizadoras. Não, as comunidades online são capazes de se organizar e enfrentar o poder estabelecido.

Segundo, essas comunidades não têm nenhuma ideologia formal, mas a luta delas visa a transformar humilhação em autoestima.

Terceiro, as rebeliões no ciberespaço têm resultados imprevisíveis: o Irã pairou sobre o fio da navalha em 2009; o regime da Tunísia caiu em 2011. Em ambas as sociedades o abismo que separa as autoridades e as sociedades de jovens conectados pela Internet é enorme. A diferença está provavelmente no grau de brutalidade sustentada que uma ditadura é capaz manter.

Quarto, a liberdade da Internet não é nenhuma panaceia. Regimes autoritários podem usá-la para identificar dissidentes; eles podem tentar suprimir o Facebook. Mas ela dá poder aos reprimidos, humilhados e distantes – sendo, portanto uma ameaça ao decadente status quo árabe.

O que aconteceu na Tunísia foi uma revolução Facebook. Mas eu prefiro usar uma expressão que ouvi em Túnis: “A Revolução da Dignidade”.

(Roger Cohen escreve a coluna “The Globalist” para o “International Herald Tribune”).
Tradução: UOL

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2011/01/27/um-movimento-de-contestacao-ganha-o-egito.jhtm


........................................................................................................



Jovens egípcios encabeçam a revolta, deixando líderes para trás 

El País
Nuria Tesón
No Cairo (Egito)                            

27/01/2011

Milhares de egípcios desafiaram na quarta-feira a proibição expressa do governo, que havia advertido que não permitiria protestos, e voltaram a se lançar às ruas para pedir o fim do regime de Hosni Mubarak. A rede social Facebook foi novamente a ferramenta que os jovens do país empregaram para se mobilizar em várias localidades. Apenas algumas horas depois de protagonizar as maiores manifestações dos últimos 30 anos, a mensagem corria de terminal em terminal: "Filhos do Egito, tomem as ruas".

Desse modo, o grupo de oposição Jovens de 6 de Abril, um dos organizadores, animava a não perder o espírito que havia inflamado durante a jornada anterior, que denominaram "dia da ira". E assim também a juventude egípcia voltava a se situar na vanguarda da revolta, deixando para trás seus líderes políticos. O grande ausente da jornada de terça-feira foi Mohamed El Baradei.

O ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica defendeu desde seu regresso ao Egito, há um ano, uma corrente de oposição denominada Assembleia Nacional para a Mudança. Esse grupo, um dos promotores das manifestações de terça-feira, confirmou que o diplomata não só não participou dos protestos, os quais havia animado timidamente em seu Twitter, como nem sequer está no Egito.

Enquanto com o avanço do dia começavam a surgir pequenas explosões de protesto em diferentes partes do país, a tentativa do governo de desautorizar a revolta, argumentando que os islâmicos Irmãos Muçulmanos a estavam comandando, caía por seu próprio peso. Assim como os demais dirigentes políticos, esses ficaram em segundo plano diante da força dos egípcios comuns que seguem os jovens que defendem a mudança.

Uma mudança política e carente de lemas de tom islâmico, como pretendia contaminar o regime. "Abaixo Hosni Mubarak. Abaixo Gamal Mubarak", "Povo egípcio, levanta a voz, tem o direito de falar", "Ontem éramos todos tunisianos, hoje somos todos egípcios, amanhã seremos todos livres" - foram alguns dos lemas lançados diante dos sindicatos de advogados e dos jornalistas, nas imediações dos tribunais egípcios. Mais de 500 mil pessoas protagonizaram ali confrontos com a polícia.

Alguns manifestantes lançaram pedras contra a polícia antidistúrbios do telhado de um edifício para romper o cerco que afogava os que se encontravam embaixo cortando a central rua de Ramsés. A reação policial foi contundente e a chegada de reforços levou os manifestantes a dirigir-se por ruas laterais para a praça de Tahrir, perseguidos por policiais que disparavam balas de borracha e gás lacrimogêneo. A central praça da Libertação é o símbolo a conquistar desta revolta e durante todo o dia os cidadãos haviam tentado alcançá-la sem êxito.

Houve mais de 500 detenções, que se somam às mais de 200 registradas pela Rede Árabe para a Informação de Direitos Humanos (ANHRI) na última terça-feira. Entre elas está a de um cidadão egípcio, Mark Gamal, casado com uma espanhola que se encontra em paradeiro desconhecido. A ANHRI confirmou que tem mais de 200 nomes de detidos, mas considera que o número poderia chegar a 400. Seu diretor, o advogado Gamal Eid, explicou que a maioria foi detida durante a noite nos confrontos que ocorreram na citada praça e em perseguições por todo o centro do Cairo.

"Muitos deles foram golpeados e torturados. Alguns feridos foram sequestrados dos hospitais e levados para dois campos de detenção fora da cidade", explica Eid. A polícia egípcia é famosa pela tortura sistemática em delegacias e centros de detenção, fato que foi denunciado por organizações internacionais de direitos humanos. "Fizemos saber ao promotor geral que todas as detenções são ilegais, porque se realizaram em uma manifestação legal, e vão contra os direitos fundamentais. Isso é um crime", concluiu o advogado.

Ao anoitecer, milhares de pessoas enfrentaram a polícia, que não hesitou em dispersá-las com gás lacrimogêneo. "Por que está me batendo? Também estou lutando por seus direitos", recriminou um jovem ao policial que empunhava à sua frente um cassetete de quase um metro. O desconcerto durou apenas o que demorou para dar o próximo golpe.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

domingo, 23 de janeiro de 2011

AS MENTIRAS SIONISTAS, UMA DAS QUAIS, QUE EXISTE UM POVO JUDEU

Postdata: ¿un pueblo sin tierra, una tierra sin pueblo?
Algunas respuestas a mis críticos

Por: Shlomo Zand

“Y las diásporas que se disuelven al reagruparse en Israel todavía no constituyen un pueblo; (serían) simplemente una población y un grupo de seres humanos desparramados, sin lenguaje, educación o raíces, si es que no fueran alimentados por la visión de una nación.”
David Ben-Gurión – Renacimiento y destino de Israel. 1950


Escribí Cuándo y cómo se inventó el pueblo judío en idioma hebreo, y naturalmente las primeras críticas fueron hechas en ese idioma. La publicación del libro en francés y luego en inglés dio lugar a una ronda de respuestas adicionales, y no podré –en el contexto de estas páginas- presentar un espectro de argumentos y defensas suficientes para responder a todas.

En particular, me siento más bien desarmado ante el argumento de que todo lo que escribí es a la vez ya conocido y completamente falso. Por esta razón elegí enfocarme en ciertas objeciones claves que se hicieron a la meta-narrativa perturbadora esbozada en mi libro.

En primer lugar, y para esquivar malos entendidos: lejos de haber sido mi intención la de escribir una historia de los judíos, básicamente me lancé a criticar construcciones y conceptos historiográficos que han sido largamente prevalentes en esta área de estudio. Propuse entonces ciertos criterios que hacen posible definir el concepto de nacionalidad que sirvió de canción de cuna para el Estado de Israel, y a la cual los historiadores han contribuido tanto. La colonización sionista ciertamente no se pudo haber emprendido sin una preparación ideológica que diera lugar al florecimiento y cristalización de mitos. Es también necesario enfatizar que la construcción histórica que ha alimentado nuestros mitos nacionales no es especialidad de la empresa sionista, sino que forma una parte intrínseca de la formación de la conciencia colectiva a lo largo del mundo moderno. Todos saben hoy por hoy que una memoria nacional no puede nacer sin la devota participación de “conmemoradores certificados”.

“LOS JUDÍOS HAN EXISTIDO SIEMPRE COMO UN PUEBLO”

Recurrir al fluido término “pueblo” ha sido suficientemente común en la era moderna. Si en un distante pasado esta palabra fue aplicada a grupos religiosos tales como “el pueblo de Israel”, “el pueblo cristiano”, o “el pueblo de Dios”, en tiempos modernos ha servido más para designar colectivos humanos que tienen elementos laicos y lingüísticos en común. En un sentido general, antes del advenimiento de la imprenta, de los libros y de la educación estatal, es muy difícil usar el concepto de “pueblo” para definir a un grupo humano. Cuando las líneas de comunicación entre tribus o aldeas eran débiles y poco fiables, cuando la mezcla de dialectos variaba entre un valle y el próximo, cuando el restringido vocabulario disponible al agricultor o pastor abarcaba apenas un poco más que su trabajo y sus creencias religiosas, la realidad de la existencia de pueblos en este sentido puede ser seriamente cuestionada. El definir una sociedad de productores agrarios analfabetos como a un “pueblo”, siempre se me ha ocurrido como problemático y como portador del sello distintivo de un anacronismo perturbador.

Entonces, la definición del Reino Asmoneo como la de un Estado-Nación, como la encontramos en libros de texto de historia sionista, provoca una sonrisa. Una sociedad cuyos gobernantes hablaban arameo, mientras que la mayoría de sus súbditos se expresaban en una variedad de dialectos hebreos, y en la que los mercaderes del reino hacían sus negocios hablando la lengua griega koiné, de ninguna manera constituía una nación, y podemos seriamente cuestionar si es que puede ser definida como un pueblo.

Los historiadores -siempre dependientes de la palabra escrita, tal como ésta fue transmitida por los centros de poder intelectuales de una cierta época- se han visto inclinados precipitadamente a generalizar, y a aplicar a sociedades enteras las identidades de una delgada capa de “élites” cuyas acciones quedaron registradas en documentos escritos. En Reinos y Principados dotados de una lengua administrativa, el grado de identificación con el aparato administrativo bera -para la gran mayoría de sus súbditos- muy a menudo cercano a cero. Si alguna forma de identificación ideológica con el Reino pudo haber existido, ésta era la de los nobles con tierras y la de las élites urbanas que aceptaban a los gobernantes y les proveían una base a su poder.

Antes del advenimiento de la modernidad, no existía ninguna clase de individuos cuya misión fuera la de expresar o representar la opinión del “pueblo”. Con la excepción de los historiadores o cronistas de la monarquía, los únicos intelectuales preocupados por transmitir y desarrollar una identidad entre amplios estratos de la población eran los miembros del clero. El grado de relativa autonomía que estos últimos conseguían obtener en relación a los gobernantes dependía en la fortaleza de la fe religiosa y sus fundamentos. El poder de los “agentes” de la religión dependía tanto del nivel de solidaridad ideológica como de la intensidad de comunicación que existía entre ellos: por un lado ellos mantenían la fe, mientras que eran ellos por otro lado los únicos en transmitir y formar la memoria colectiva. Es por esto que los Berberiscos que se convirtieron al judaísmo en las Montañas Atlas sabían más acerca del Éxodo de Egipto y las Tablas entregadas a Moisés en el Sinaí que lo que sabían acerca del príncipe que los gobernó desde una capital
distante; igual que los campesinos del reino de Francia estaban más familiarizados con la historia de la Navidad que con el nombre de su propio rey.

Hace quinientos años no existía el pueblo francés; no más de lo que existía el pueblo italiano o vietnamita. Y de la misma manera, no existía un pueblo judío desparramado por todo el mundo. Ciertamente existía -fundada en ritos religiosos y fe- una importante identidad judía, de variable fortaleza de acuerdo al contexto y a las circunstancias. Cuanto más alejados de la práctica religiosa estaban los componentes culturales de esas comunidades, tanto más se asemejaban a las prácticas culturales y lingüísticas de su entorno no-judío.

Las considerables diferencias en la vida diaria de las distintas comunidades judías forzó a los historiadores sionistas a nfatizar un solo origen “étnico”: la mayoría de las poblaciones judías, si no todas, supuestamente derivaban de una sola fuente, aquella de los antiguos hebreos.

Ciertamente, la mayoría de los sionistas no creían en una raza pura; como expliqué en este libro, la religión judía no permitía tal idea. Y sin embargo casi todos estos historiadores se refirieron a un origen biológico común como el criterio decisivo de pertenencia a un solo pueblo. Así como los franceses fueron persuadidos de que sus ancestros fueron los galos, y los alemanes valoraban la idea de que ellos descendían directamente de los arios teutones, así los judíos tenían que saber que ellos eran los auténticos descendientes de los “hijos de Israel” que salieron de Egipto. Sólo este mito de ancestros hebreos pudo justificar el derecho que ellos reclaman sobre Palestina. Mucha gente está todavía convencida de esto aún hoy. Todos saben que –en el mundo moderno- pertenencia a una comunidad religiosa no otorga derechos a un territorio, mientras que un pueblo “étnico” siempre tiene una tierra que puede reclamar como su herencia ancestral.

Esta es la razón por la cual, en los ojos de los primeros historiadores sionistas, la Biblia dejó de ser un impresionante texto teológico y se transformó en historia secular, cuya enseñanza es todavía dispensada a todo alumno judío israelí en clases especialmente designadas, desde el primer año de escuela primaria hasta su graduación en la escuela secundaria. De acuerdo con estas enseñanzas, el pueblo de Israel no estaba ahora compuesto por aquellos elegidos por Dios, sino que se convirtió en una nación creada de la semilla de Abraham. Y entonces, cuando la arqueología moderna comenzó a mostrar que no hubo tal Éxodo de Egipto, y que la grandes, unificadas monarquías de David y Salomón nunca existieron, se encontró con una agria y vergonzosa reacción por parte del público laico israelí. Algunos ni siquiera se inmutaron al acusar a los “nuevos arqueólogos” de “negar la Biblia”.

EXILIO Y MEMORIA HISTÓRICA

La secularización de la Biblia fue conducida en paralelo con la nacionalización del “exilio”. El mito que recontaba la expulsión del “pueblo judío” por parte de los romanos se volvió la suprema justificación para reclamar derechos históricos sobre Palestina, a la cual la retórica sionista transformó en “la tierra de Israel”.

Tenemos acá un ejemplo particularmente pasmoso de moldeo de una memoria colectiva. Por lo tanto, a pesar de que todos los especialistas en historia hebrea antigua saben que los romanos no deportaron a la población de Judea (no hay ni siquiera el más mínimo trabajo de investigación histórica en este asunto), otros, individuos menos calificados, han estado –y por lejos continúan estando- convencidos de que el antiguo “Pueblo de Israel” fue desarraigado a la fuerza desu patria, como se declara solemnemente en la Declaración de Independencia del Estado de Israel.

Historiadores sionistas tomaron el término “exilio” (Golá o Galut en hebreo), el cual en la religión judaica expresaba un rechazo a la salvación cristiana, y le dieron un sentido físico y político. Con cierto estilo, transformaron la profunda polaridad metafísica y teológica de “exilio/redención” en “exilio/patria”. A lo largo de siglos, los judíos añoraron arduamente a Sión, su ciudad santa. Pero nunca se les ocurrió, ni siquiera a aquellos que vivían en las cercanías, el ir allí y establecerse en el curso de sus vidas terrenales (1). Es ciertamente difícil vivir en el corazón de un lugar santo, y lo es mucho más cuando la pequeña minoría que vivía allí estaba muy consciente de cómo ellos continuaban viviendo en el exilio: no debemos olvidar que sólo la venida del Mesías les permitiría alcanzar la Jerusalén metafísica, junto con todos los ya muertos.

Este es el punto en el que hay que hacer una aclaratoria: muy por el contrario a lo que varios críticos han reclamado, yo no escribí este libro a efectos de desafiar los derechos históricos de los judíos a Sión (2). Ingenuamente yo creía, hace unos años, que el Exilio había realmente tenido lugar en los tempranos años de la Era Cristiana. Pero nunca pensé que dos mil años de ausencia confirieran derechos sobre la tierra, mientras que mil doscientos años de presencia otorgaban ningún derecho a la población local.

A nadie se le ocurriría negar la existencia de los Estados Unidos porque pueblos indígenas fueron robados de sus tierras cuando la nación se formó. Nadie reclamaría que los conquistadores normandos deberían ser expulsados de las Islas Británicas, o que los árabes deberían ser traídos de regreso a España. Si queremos evitar transformar el mundo en un gigante hospital siquiátrico, debemos resistir el impulso de re-distribuir poblaciones de acuerdo a algún modelo histórico.

Israel puede hoy reclamar el derecho a existir simplemente con aceptar que un doloroso proceso histórico condujo a su creación, y que cada intento de desafiar este hecho va a producir nuevas tragedias.

¿SON LOS PALESTINOS DESCENDIENTES DE LOS ANTIGUOS JUDÍOS?

¿Qué pasó con la población de Judea si no fue sometida al exilio? Fui acusado de sostener que los palestinos de hoy son sus descendientes directos. Esta no es ciertamente una idea que se me ocurrió a mí. En mi libro cité las declaraciones de prominentes líderes sionistas, incluyendo David Ben-Gurión, Itzjak Ben-Zvi e Israel Belkind, quienes todos creían que los “felahs” que encontraron en los tempranos años de la colonización eran descendientes del antiguo pueblo judío, y que las dos poblaciones debían ser reunidas. Ellos sabían perfectamente que no hubo exilio en el primer siglo DC, y lógicamente concluyeron que la gran masa de judíos se había convertido al Islam con el arribo de las fuerzas árabes al comienzo del siglo VII. David Ben-Gurión más tarde llegó a expresar una posición completamente diferente -cuando ayudó a escribir el borrador de la Declaración de Independencia del Estado de Israel- sin explicar jamás su retractación.

De mi parte, yo creo que los palestinos de hoy derivan de una variedad de orígenes, tal como todos los pueblos contemporáneos. Cada conquistador dejó su marca en la región: egipcios, persas y bizantinos, todos fertilizaron a las mujeres locales, y muchos de sus descendientes deben estar todavía allí. Aun así (aunque esto no es tan importante en mi punto de vista), yo creo que el joven Ben-Gurión estaba en lo cierto –aunque impreciso: es muy probable que un habitante de Hebrón sea más cercano en su origen a los antiguos hebreos que lo que lo son la mayoría de aquellos en todo el mundo que se identifican a sí mismos como judíos.

EL ÚLTIMO RECURSO: UN ADN JUDÍO

Después de agotar todos los argumentos históricos, varios críticos han recurrido a la genética. La misma gente que mantiene que los sionistas nunca se refirieron a una raza, concluyen sus argumentos invocando un gen común judío. Su razonamiento puede ser resumido como sigue: “no somos una raza pura, pero somos igual una raza”.

En los años 1950 hubo en Israel investigaciones sobre huellas digitales judías características; y desde los ’70, biólogos en sus laboratorios (a veces incluso en EEUU) han buscado una marca genética común a todos los judíos. Yo comenté en mi libro su falta de datos, la frecuente evasividad de sus conclusiones y su ardor etno-nacionalista, el cual no tiene apoyo en ningún descubrimiento científico serio.

Este intento de justificar el sionismo a través de la genética es reminiscente de los procedimientos de antropólogos de finales del siglo XIX quienes se plantearon descubrir características específicas de los europeos.

Hasta hoy, ningún estudio basado en muestras de ADN anónimo ha tenido éxito en identificar una marca genética específica a los judíos, y no es probable que algún estudio alguna vez lo haga. Es una ironía amarga el ver a los descendientes de sobrevivientes del Holocausto plantearse encontrar una identidad biológica judía. ¡Hitler hubiera estado ciertamente satisfecho! Y es aún más repulsivo que este tipo de investigación se desarrolle en un Estado que durante años se halla emprendido en una política declarada de “judeización del país”, en el que aun hoy a un judío no le está permitido casarse con un no-judío.

CONVERSOS, JÁZAROS E HISTORIADORES

Casi ninguna crítica académica ha contradicho mi afirmación de que no hubo un exilio forzado de un pueblo judío en el primer o segundo siglo DC, y la mayoría de los críticos están perfectamente conscientes de que la Biblia no es un libro de historia.

Pero la sección de mi libro dedicada al tema de los Jázaros (o Khazarios) ha atraído muchos críticos: “todos leímos acerca de los Jázaros cuando niños…es un mito desgastado e infundado…el escritor antisemita Arthur Koestler lo inventó…los árabes lo han estado diciendo por mucho tiempo…”, etc. Lo que es particularmente impactante acerca de estas respuestas es que provienen de críticos quienes no tienen ni una palabra que decir acerca de las conversiones impuestas por los Asmoneos sobre sus vecinos, ni de las masivas conversiones realizadas en la antigüedad alrededor de la cuenca mediterránea (3), ni de Adiabena en la Mesopotamia, ni de la conversión del Reino Himyarita al sur de la península arábica, ni de los Berberiscos judaizados del norte de África.

Contrario a concepciones modernas, desde el siglo II AC, hasta los comienzos del siglo IV DC, el judaísmo era una religión proselitista, dinámica y en expansión, y no hay datos que puedan refutarlo. El retiro comunitario fue un fenómeno muy posterior, cuando la persistencia de minorías judías -dentro del ahora dominante mundo cristiano y musulmán- era condicional a la cesación de todo proselitismo judío. Pero en las religiones “paganas”, el judaísmo continuó atrayendo nuevos seguidores, lo cual nos lleva al asunto de los Jázaros.

El Reino Khazario fue el último en convertirse al judaísmo, muy probablemente en el siglo VIII DC. Hasta aquí esto no tiene disputas, pero la ira de los historiadores sionistas se desató con el intento de conectar la muy sustancial presencia judía en Europa oriental con el rompimiento del Reino Jázaro y la emigración de sus súbditos judíos hacia Ucrania, Rusia, Polonia y Hungría. Es importante tener en mente, de todas maneras, que la tesis que sostiene que la fuerte presencia demográfica judía en estas regiones sería incomprensible sin la existencia de un Reino Khazario judío, no fue inventada por Arthur Koestler, cuyo único problema fue que se demoró en publicar su libro The thirteen tribe. En riguroso hecho, a través de los años 1960 casi todos los historiadores, incluyendo los sionistas, apoyaban esta posición, y yo cito a algunos de éstos en mi libro(4).


Ben-Zion Dinur, el padre de la historiografía israelí, así como exministro de educación, llamó a Khazaria “la madre diáspora, la madre de uno de las diásporas más grandes, de Israel en Rusia, Lituania y Polonia”. De acuerdo con el historiador judío estadounidense Salo Baro, quien no escondía sus simpatías por Israel:
Antes y después de la conmoción mongólica, los Khazarios mandaron muchos vástagos hacia las ignotas tierras eslávicas, ayudando de última a construir los grandes centros judíos de Europa oriental…durante el medio milenio de su existencia (740-1250), sin embargo, y sus secuelas en las comunidades del Este de Europa, este notable experimento en Estatismo judío sin duda ejerció una influencia en la historia judía mayor de la que podemos todavía envisionar. Desde Khazaria los judíos comenzaron a dispersarse hacia las estepas de Europa oriental, tanto durante el período de prosperidad de su país como en el de su declinación.
Cuando el gran historiador Marc Bloch tuvo que adoptar una definición de los judíos, los describió como “un grupo de correligionarios originalmente reunidos desde cada rincón del mundo Mediterráneo, Turco-Khazario y Eslavo” (5). 

El trabajo más importante que demuestra que el origen de la mayoría de los judíos de Europa oriental descansa en las tribus Turcas y Eslavas del Reino Khazario es el de Abraham Polak, profesor y fundador del Departamento de Historia de Medio Oriente en la Universidad de Tel Aviv.

En lo que respecta al “problema Khazario”, la diferencia entre sionistas y no-sionistas es que los primeros adelantan la improbable tesis de que la masa de judíos en el Reino Khazario vinieron de “Eretz Israel”, y buscaron de preservar en su nueva tierra el principio de la descendencia de Abraham.

Tal vez todos estos historiadores están equivocados. Pero en todo caso, la conexión entre los judíos conversos del gran reino khazario y el desarrollo del “pueblo Idish” en Europa oriental no fue objeto de ningún estudio serio desde los escritos de Abraham Polak en los años 1940. Ningún descubrimiento histórico ha visto la luz, ninguna investigación se ha hecho desde entonces para mostrar o explicar cómo, de una pequeña minoría judía en Alemania occidental, una masiva emigración estuvo en posición de generar, a principios del siglo XVIII, una presencia de más de tres cuartos de millón de judíos solamente en la comunidad Polaco-Lituana (sin Rusia, Ucrania oriental, Rumania, Hungría y Bohemia). Un número enorme incluso anterior al repunte demográfico de los siglos XIX y XX.

Los cálculos de varios demógrafos sionistas sosteniendo que los judíos se multiplicaban diez veces más rápido que sus vecinos -en particular porque se lavaban las manos antes de cada comida- son totalmente carentes de basamento (6). Hasta que una nueva y creíble tesis venga a refutarlo, solamente la existencia en el Este de un reino judío medieval es capaz de explicar esta “explosión” demográfica, sin equivalente en ninguna otra región del mundo en ese tiempo. Además, investigaciones filológicas recientes han mostrado cómo los orígenes de la lengua Idish difieren de los del dialecto judeo-germano de los guetos de Alemania occidental.

Sin embargo, en tiempos de descolonización global y del ascenso del movimiento nacional palestino, mientras Israel mantenía el control sobre la totalidad del área entre el Mar Mediterráneo y el Valle del Río Jordán, no era posible dejar lugar a dudas sobre los orígenes de los conquistadores de Jerusalén: todos ellos, o por lo menos la gran mayoría de ellos, tenía que ser presentado como siendo descendientes de los reinos de David y Salomón. Y así los judíos Jázaros fueron expulsados de la historia dos veces: primero por la historiografía soviética después de la Segunda Guerra Mundial, y luego por la historiografía sionista luego de la guerra de Junio de 1967. En ambos casos, la necesidad ideológica reconstruyó la memoria nacional.

NEGANDO LA EXISTENCIA DE UN PUEBLO ISRAELÍ

Fui acusado de negar la existencia del pueblo judío (7), y tengo que reconocer que esta aseveración, aunque a menudo cargada con un evidente y ofensivo sesgo acusatorio que insinúa una equivalencia con la atrocidad que constituye la negación del Holocausto -no es totalmente infundada.

La pregunta que se debe hacer es: ¿acaso el lento surgimiento de líneas de comunicación más amplias y confiables que nunca, a través de las cuales poblaciones enteras comenzaron a forjarse a sí mismas como pueblos, en el contexto de reinos centralizadores y embrionarios Estados-Nación, crearon un pueblo judío? La respuesta es negativa.

Con la excepción de Europa oriental, donde el peso demográfico y la estructura excepcionalmente distintiva de la vida judía alimentaron una forma específica de cultura popular y lenguaje vernáculo, ningún pueblo judío –como única, cohesiva entidad- apareció nunca. El partido Bund, el cual representaba una de las expresiones “proto-nacionales” de la población judía de Europa oriental, entendió que las fronteras del pueblo cuyo representante y defensor se planteó ser coincidían con aquellas del idioma Idish.

Es interesante, por demás, notar que los primeros sionistas destinaron Palestina para los judíos del mundo de habla Idish, y no para ellos mismos; ellos buscaban por su parte ser propiamente Ingleses, Alemanes, Franceses o Americanos, e incluso se unieron apasionadamente en la guerra nacional de sus respectivos países.

Si no hubo una cosa llamada pueblo judío en el pasado, ¿tuvo éxito el sionismo en crearlo en tiempos modernos?

En todas partes del mundo donde las naciones se formaron; en otras palabras, donde grupos humanos reclamaron soberanía para ellos mismos o lucharon por preservarla, pueblos fueron inventados y dotados de largos antecedentes y distantes orígenes históricos. El movimiento sionista procedió de la misma manera.

Pero si el sionismo tuvo éxito en imaginar un pueblo eterno, no se las arregló para crear una nación judía mundial. Hoy, judíos en todas partes tienen la opción de emigrar a Israel, pero la mayoría de ellos ha elegido no vivir bajo soberanía judía, y prefiere retener tras nacionalidades.

Si el sionismo no ha creado un pueblo judío mundial, y aún menos una nación judía, ha dado, sin embargo, nacimiento a dos pueblos, e incluso a dos nuevas naciones que desafortunadamente rehúsa reconocer, considerándolos vástagos ilegítimos.

Existe hoy un pueblo palestino; creación directa del colonialismo, que aspira a su propia soberanía y lucha
desesperadamente por lo que queda de su patria. Asimismo existe un pueblo israelí dispuesto a defender con entrega total su independencia nacional. Este último, a diferencia del pueblo palestino hoy, no goza de ningún reconocimiento, a pesar de que tiene su propio lenguaje, su sistema general de educación, y una herencia artística en literatura, cine y teatro que expresa una vigorosa y dinámica cultura laica.

Los sionistas a lo largo del mundo hacen donaciones a Israel, y aplican presión sobre los gobiernos de sus países en apoyo a las políticas de Israel, pero más que a menudo no entienden el lenguaje de la nación que se supone es de ellos, se abstienen de unirse al “pueblo que ha emigrado a su patria”, y declinan de mandar a sus hijos a tomar parte en las guerras del medio oriente.

En momentos en que estas líneas son escritas, el número de inmigrantes israelíes a países occidentales es mayor que aquel de los sionistas asentándose en Israel.

Sabemos también que si hubieran podido escoger en su momento, la gran mayoría de judíos que dejaban la URSS hubiérase mudado directamente a los EEUU, tal como los judíos que hablaban Idish de Europa oriental hicieron un siglo antes. (Es más: ¿hubiera el Estado de Israel nacido si los Estados Unidos de Norteamérica no hubieran cerrado sus fronteras a los inmigrantes de Europa central y oriental en los años 1920, una política implacablemente mantenida durante la década siguiente contra los refugiados escapando la persecución nazi, y aún durante las postrimerías de la Segunda Guerra Mundial hacia los judíos que escapaban de Europa?).

El medio oriente es hoy probablemente la región más peligrosa del mundo para aquellos que se consideran a sí mismos judíos. Entre las razones de esto está la negación de los sionistas a la existencia de un pueblo israelí, a quien ellos consideran simplemente como una cabeza de puente de un “pueblo judío” ocupado en la colonización que debe continuar, y a quienes los sionistas prefieren envolver en una ideología etnocéntrica auto contenida.

NACIONALIDAD ÉTNICA Y EL ESTADO DE ISRAEL

A medida que dan sus primeros pasos, casi todas las nacionalidades son guiadas por el sueño de personificar la concientización y memoria de un pueblo “étnico”. La necesidad de definir a un grupo nacional dio origen a conflictos a lo largo del siglo XIX, algunos de los cuales continúan en varios lugares hoy. En la mayoría de los Estados-Nación liberaldemocráticos, una concepción civil y política de nacionalismo ha eventualmente triunfado, mientras que en otros, una definición etnocéntrica de pertenencia y de propiedad del Estado se ha mantenido dominante.

El sionismo, nacido en Europa central y oriental, de manera inequívoca asemeja las corrientes etno-biológicas y etnoreligiosas prevalentes en el ambiente de donde se origina.

Los contornos de la nación no son vistos como tendidos por el lenguaje, una cultura laica cotidiana, presencia en el territorio y un deseo político de integración en el colectivo. En cambio, el origen biológico, combinado con fragmentos de una religión “nacionalizada”, constituyen el criterio para la inclusión en el “pueblo judío”.

Y estos elementos originales están aún hoy en vigencia en Israel. Esta es la fuente verdadera del problema.

La colonización sionista reforzó esta forma de nacionalismo. En sus primeros estadios había realmente cierta vacilación acerca de los límites de la nación judía. Se previó en un momento incluir a los árabes presentes en Palestina, sobre la base de su propio origen “etno-biológico”. Pero tan pronto como los árabes comenzaron vigorosamente a oponerse a la colonización, la definición de la nación fue definitivamente re-enfocada bajo líneas etnocéntricas y religiosas. Criterios etnobiológicos no fueron mantenidos tan firmemente en todas las sociedades creadas a partir de colonización. (si este criterio dominó por largo tiempo las definiciones nacionales de la colonización de los puritanos en Norteamérica, los mismos fueron disueltos más rápidamente en las naciones establecidas en América Central y Sur, donde predominó el catolicismo) (8).

En Israel, los años 1960 vieron la expresión embriónica de una nacionalidad cívica. Pero luego de 1967, la posición subordinada de la totalidad de la población árabe entre el mar Mediterráneo y el valle del Jordán significó que la definición del “etnos” imaginario judío se volviera crecientemente estrecha.

El etnocentrismo judío ha continuado haciéndose más pronunciado en años recientes. El debilitamiento del mito territorial ha sido acompañado con el fortalecimiento del mito “étnico”. Los resultados de las últimas elecciones legislativas son una elocuente expresión de esta tendencia.

En paralelo, en el mundo occidental, la retirada de la clásica nacionalidad civil y el alza de formas cerradas de
comunitarianismo, ligadas con la globalización cultural y los trastornos de la inmigración, han envalentonado tendencias a un retiro hacia una exclusiva identidad judía. Ya sea religiosa o secular, tal identidad judía no es de ninguna manera censurable, y después de Hitler y el nazismo sería tonto e incluso sospechoso oponérsele.

Sin embargo, cuando esta identidad está vacía de experiencias espirituales, culturales o éticas, cuando conduce al aislamiento de los judíos de sus vecinos y conlleva la identificación de los mismos con el militarismo israelí y una política que tiende a la dominación de otro pueblo por la fuerza, hay lugar a preocupación.

Israel, en los albores del siglo XXI, se define a sí mismo como el Estado de los judíos y propiedad del “pueblo judío”. En otras palabras, de judíos viviendo en cualquier parte en el mundo, y no la posesión del conjunto de los ciudadanos israelíes viviendo sobre su tierra, por lo cual es apropiado definirlo como una etnocracia y no una democracia.

Los trabajadores foráneos y sus familias, despojados de ciudadanía, no tienen absolutamente ninguna posibilidad de ser integrados en el cuerpo social, incluso si han vivido en Israel por décadas; incluso si sus hijos han nacido allí y hablan solamente hebreo. Y respecto a esa cuarta parte de la población identificado por el Ministerio del Interior como “nojudío”, aunque tengan ciudadanía no pueden decir que Israel es “su” Estado.

Es difícil saber cuánto más los árabes israelíes, que representan el 20 por ciento de los habitantes del país, van a continuar tolerando ser vistos como extranjeros en su propia patria. Como el Estado es judío, y no israelí, cuanto más esos ciudadanos árabes se “israelizan” en términos de cultura y lenguaje, tanto más se vuelven anti-israelíes en sus posiciones políticas, un hecho que de ninguna manera es paradoxal.

¿Es realmente tan difícil imaginar que una de las próximas “intifadas” podría ocurrir, no en los territorios ocupados en la margen occidental del Jordán, que están sujetos a un régimen estilo apartheid, sino estallar en el mismo corazón de la etnocracia segregacionista, o sea, dentro de las fronteras israelíes de 1967?

Es todavía posible cerrar los ojos de uno a la verdad. Muchas voces van a continuar manteniendo que el “pueblo judío” ha existido por cuatro mil años, y que “Eretz Israel” siempre ha pertenecido a él.

Y sin embargo, los mitos históricos que una vez fueron -con la ayuda de una gran cantidad de imaginación- capaces de crear la sociedad israelí, son ahora fuerzas poderosas ayudando a elevar la posibilidad de su destrucción.

Shlomo Zand
Universidad de Tel Aviv, 2010

Traducción del inglés:
El negro Gómez
Coyoacán, México, 24 de diciembre del 2010


NOTAS


(1): Parece que Simón Schama, quien escribió que mi “libro fracasa en romper la conexión recordada entre la tierra ancestral y la experiencia judía”, malentendió mi análisis acerca de la afinidad histórica de los judíos con su Tierra Santa. Ver su comentario en el Financial Times, 13 de Noviembre, 2009.

(2): Ver por ejemplo Patricia Cohen, “Un libro llama al pueblo judío una invención”, New York Times, 24 Noviembre, 2009.

(3): Una excepción es Martin Goodman, quien ingenuamente adopta el mito sionista que explica el crecimiento demográfico de los judíos en la antigüedad sobre la base de que eran el único grupo que prohibía los abortos y no mataba a sus niños. Ver su comentario en “Secta and Natio”, Times Literary Suplement, 26 de febrero del 2010. Mucho más interesante acerca de este asunto es el artículo de Maurice Sartre “A-t-on inventé le peuple juif?”, Le Débat, Histoire, Politique, Société, 158, Enero 2010, 177-184.

(4) Esta es la razón por la que yo estuve bastante sorprendido por los críticos que me acusaron de ignorar el hecho de que académicos sionistas han conocido siempre y han escrito acerca de los Khazarios. Ver por ejemplo Israel Bartal, “Inventing an invention”, Haaretz, 6 de Julio 2008.

(5) Marc Bloch, Strange Defeat, New York: Norton, 1999,3.

(6) Ver la excelente crítica de Jits van Straten a los historiadores y demógrafos tales como Bernard D. Weinryb y Sergio DellaPergola en su artículo “Early Modern Polish Jewry: The Rhineland Hypothesis Revisited”, Historical Methods: A Journal of Quantitative and Interdisciplinary History Quarterly, 40:1 (2007), 39-50

(7) Ver, por ejemplo, Anita Shapira, “The Jewish People Deniers”, Journal of Israeli History, 28:1 (2009), 63-72



(8) En relación a que yo “ignoro la centralidad del nacionalismo de los colonos (judíos) para una comprensión del proyecto sionista israelí”, ver Gabriel Piterberg: “Converts to Colonizers?”, New Left Review, 2:59 (2009), 145-151

Seguidores: