terça-feira, 23 de abril de 2013

Missão brasileira avalia ocupação israelense da Cisjordânia

Em percurso pela Cisjordânia nesta segunda-feira (22), a 2ª Missão de Solidariedade ao Povo Palestino de entidades brasileiras da esquerda visitou o campo de refugiados de Aida, administrado pela agência da ONU para refugiados palestinos, encontrou-se com o governador da província de Hebron, um microcosmo da ocupação israelense, e foi recebida pelo embaixador do Brasil para a Palestina em Ramallah, Paulo Roberto França. 


Por Moara Crivelente, de Ramallah para o Portal Vermelho


Missão brasileira visitou o campo de refugiados de Aida - Palestina
A 2ª Missão de Solidariedade ao Povo Palestino visitou o campo de refugiados de Aida. Na foto,
menção à Resolução 194 da ONU, que reconhece o direito palestino ao retorno à seus lares e
propriedades, e desenhos de palestinos detidos em prisões israelenses. Foto: Moara Crivelente
A missão teve a oportunidade de conhecer o campo de refugiados de Aida, onde a Agência da ONU de Trabalhos e Assistência aos Refugiados palestinos (UNRWA, em inglês) administra, através de Ibrahim Issa Abu-Srour, a vida dos palestinos que tiveram de deslocar-se quando Israel foi estabelecido como Estado, em 1948. São os chamados “refugiados de 48”, provenientes das diversas vilas ocupadas ou destruídas pelo sionismo.

A UNRWA é quase tão antiga quanto a própria ONU, e lida especificamente com o caso palestino, seja na Cisjordânia, Faixa de Gaza, ou nos países vizinhos que recebem refugiados, como Líbano, Síria e Jordânia.

Abu-Srour falou do funcionamento administrativo do campo de refugiados, onde hoje vivem cerca de 5.000 pessoas em edifícios sólidos, e em que há 6.000 palestinos no total. Aida, que é um dos campos de refugiados mais antigos, oficializado pela UNRWA em 1953, fica a sete quilômetros de Jerusalém, separado da região pelo muro segregador construído pelo governo de Israel entre 2001 e 2003, e é vizinho de um dos maiores assentamentos judeus.

O campo sofre das mais básicas privações, desde a constante falta de água e eletricidade até o desemprego, que chega a 25% da população. Ainda assim, Abu-Srour fala das atividades culturais, das duas escolas, dos cursos profissionalizantes e outras práticas realizadas e organizadas pela pelos próprios habitantes.


We will return, sanaud, voltaremos - Palestina - Palestine
O símbolo da luta dos refugiados é a chave das casas que tiveram que deixar e o mapa da Palestina, com os nomes das vilas de onde são os refugiados que vivem em Aida. “Nós voltaremos”, dizem, referindo-se às vilas e terras de onde foram expulsos, em grupos que chegam a 1 milhão de pessoas, entre 1948 e 1953, de acordo com Abu-Srour.

As principais funções da UNRWA no campo são o fornecimento de produtos alimentícios, educação e saúde. Segundo o responsável, há cerca de 1.500 estudantes na escola, da 1ª à 9ª série. Para completar os estudos, conta Abu-Srour, os jovens têm de deixar a região.

Hebron ocupada


A província de Hebron é um detalhe separado nas negociações entre Israel e Palestina. De acordo com o Protocolo de Hebron, assinado no fim da década de 1990, a cidade ficou dividida em H1, em que vivem palestinos, sob a administração palestina, e H2, sob a administração e o controle militar israelense, em que vivem cerca de 400 colonos judeus, protegidos por 2.000 soldados do exército israelense.

Há postos de controle militar dentro da cidade, entre os bairros. São 18 deles no interior, e 102 em toda a província de Hebron, para o acesso à cidade, que obrigam os palestinos a serem revistados frequentemente. Ainda assim, há ruas que eles não podem acessar de carro, e outras em que não podem sequer caminhar.

Kamil Hmeid, governador da província (a maior da Palestina, com cerca de 700.000 habitantes), em encontro com a missão brasileira, falou da importância da visita aos territórios, já que esta realidade não é conhecida. “Há animais nas fazendas que são melhor tratados que os palestinos”, disse.

O governador falou do trabalho do seu governo, que consiste em “tentar fazer com que a vida dos palestinos seja menos difícil, proteger as crianças que vão para a escola, consertar coisas que os colonos destroem. Isso faz com que não haja progresso; para onde vamos, sob ocupação?”

A violência dos colonos judeus contra os palestinos foi ressaltada, para além dos postos de controle militar. Vários exemplos do confronto entre os habitantes palestinos e os moradores dos sete bairros ocupados pelos colonos foram citados, ainda que o controle militar seja imposto aos primeiros.

Apesar disso, o governador e membros do Comitê de Revitalização de Hebron mostraram à delegação brasileira o trabalho que fazem na cidade, reformando e revitalizando casas, praças e mercados, incentivando os palestinos que deixaram a região pela insegurança a voltar, reabrir suas lojas e viver em Hebron. De acordo com o governo, o número de habitantes na cidade chegou a reduzir-se a algumas centenas, mas volta a aumentar consideravelmente com essas medidas.

Embaixada brasileira


Em encontro com Paulo Roberto França, o embaixador brasileiro em Ramallah desde novembro de 2012, a missão de solidariedade falou das atividades que vem realizando durante a viagem à Cisjordânia, dos pedidos que ouviu das entidades palestinas com que se encontrou e das propostas para um apoio ainda mais efetivo ao povo palestino.

O embaixador falou das atividades realizadas pela iniciativa brasileira na Palestina, para além do apoio político enfático dado ao reconhecimento de um Estado palestino observador não-membro na Assembleia Geral da ONU em 2012.

Assim como as entidades palestinas com quem a missão encontrou-se, o embaixador ressaltou o papel do Brasil na diplomacia e nas conversações com diversos parceiros internacionais para que a votação pelo reconhecimento da Palestina fosse massiva, como ocorreu: mais de 130 países votaram a favor, na ONU.

Além disso, França falou do mais recente caso de detenção de um garoto palestino e brasileiro, cuja mãe é brasileira. Majd Hamad, de 15 anos, era procurado pelas forças israelenses por ser suspeito de atirar pedras contra um soldado judeu, durante uma manifestação contra a violência de colonos contra um agricultor palestino.


Embaixador brasileiro em Ramallah Paulo Roberto França
O garoto apresentou-se ao centro de delegacia israelense para prestar declarações, e foi acompanhado da mãe e do diplomata brasileiro João Marcelo Soares, mas acabou ficando detido para interrogatório sem a presença de advogados, da mãe ou do representante brasileiro, e corria o risco de ser enviado à prisão militar Ofer.

Entretanto, devido à interferência da embaixada brasileira, Hamad seria liberado ainda nesta segunda-feira (22), de acordo com o embaixador.

Neste sentido, o fortalecimento das relações entre o Brasil e a Palestina foi ressaltado na reunião com os representantes das entidades brasileiras que integram a missão de solidariedade.

 Por isso, o grupo comprometeu-se com a expansão dos comitês de solidariedade, para a construção de propostas concretas, desde iniciativas fundamentais como o maior apoio aos brasileiros palestinos que vivem na Cisjordânia até itens mais estruturais da agenda política internacional, que fundamentem a libertação da Palestina com a oficialização do seu Estado independente e soberano.

Leia tudo sobre a 2ª Missão de Solidariedade:









Leia, também, sobre a 1ª Missão de Solidariedade realizada em junho de 2012:







segunda-feira, 22 de abril de 2013

O Dia da Criança Palestina…

Por Rasem Shaban Mutlaq*

Israel tenta negar a existência da Palestina, afirmando que um povo sem terra chegou a uma terra sem povo, e tentando ignorar a existência do povo Palestino que vive ali há 10 mil anos. Israel pratica contra o povo palestino as mais brutais formas de discriminação racial e assassinatos sistemáticos, e não cumpre o direito internacional, as centenas de resoluções da ONU, as leis humanitárias, incluindo os direitos mais básicos das crianças. Israel, desde a sua criação em 1948, dá continuidade ao plano estratégico de limpeza étnica da Palestina, procurando eliminar o povo palestino e joga-lo fora de sua terra e de seu país.

A Unicef instituiu o dia 05 de abril de cada ano como o Dia da Criança Palestina. O objetivo é o de promover os direitos básicos das crianças de desfrutar da inocência de sua infância e do seu direito a vida. Nossas crianças são vitimas da violência israelense e nesta data renovam sua busca de viver com dignidade como todas as crianças do mundo.

Israel plantou horror e terror nos corações dos nossos filhos, eles crescem com ódio, como resultado das práticas da ocupação e opressão israelenses.Ao invés de mostrar boa intenção, trabalhar lado a lado com os palestinos, tentar conviver de forma pacífica,  Israel continua usurpando e ocupando com violência e crueldade as nossas terras.

Lembro-me de uma história que aconteceu com uma mulher palestina minha amiga, em 2002, quando Israel invadiu as cidades palestinas, causando destruição e assassinatos em massa. Ela estava ensinando seu filho, que tinha 4 anos, cálculos matemáticos de adição e subtração, ela pediu-lhe para identificar o tipo de operação, no montante de 2 +2, ele respondeu espontaneamente: Mãe, você quer dizer, uma operação Militar!


Batla, 4 anos, criança palestina vítima da ocupação israelense
Batla, 4 anos, o direito de desfrutar
da inocência de sua infância
Minha neta Batla, de 4 anos, levando a nacionalidade brasileira, que ganhou de sua mãe, que é a minha filha, estava em Ramallah, em 29 de novembro de 2012, Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, acompanhada de seus pais. Eles passaram por um policial palestino que ofereceu a Batla um pedaço de chocolate, ela perguntou ao pai: quem é este homem, Ele respondeu: Este é um policial que trabalha para nos proteger, ele é uma boa pessoa.

No caminho de volta para a casa, é obrigatória a passagem por um posto de controle israelense ilegal “Qalandia”, que separa os bairros palestinos de Jerusalém um dos outros. No posto de controle acontecia um evento pacífico para o fim da ocupação israelense dos territórios palestinos. Soldados israelenses dispararam bombas de gás lacrimogêneo em cidadãos desarmados, as bombas causaram azia e dor nos olhos, que por vezes pode levar à morte.

A fumaça do gás lacrimogêneo entrou no carro, apesar do fechamento de todas as janelas. Batla, a criança, não conseguiu resistir ao gás, seus olhos ficaram vermelhos e suas lágrimas foram escorrendo, sua respiração quase parou. Ela estava chorando e chorando, por causa da dor, seus gritos eram cada vez maiores, enquanto ela estava vendo os soldados atirando gás lacrimogêneo sobre os cidadãos e os carros que ali passavam. Ela perguntou a seu pai: por que você mentiu para mim, você disse que o policial é um bom homem. Seu pai estava abraçando-a, tentando aliviar sua dor, pensando consigo mesmo o que ele poderia responder a esta criança e como explicar as diferentes situações aqui e ali. Batla poderia entender o que  seu pai tem a dizer? Abdallah, pai de Batla, não teve como explicar o que aconteceu com sua filha, mas esta experiência dolorosa que ocorreu com Batla, o tempo não apagará de sua memória. Certamente, ela não esquecerá a cena de um soldado israelense apontando sua espingarda em direção a sua infância inocente!

Lembro-me também de uma caricatura de Carlos Latuff que retrata um diálogo entre uma criança palestina e uma criança israelense. A criança israelense conta que seu pai lhe disse que os árabes são maus, terrorista e animais. A criança palestina respondeu que seu pai não lhe disse nada, porque o pai da criança israelense o assassinou.


Charge de Carlos Latuff - crianças judia e palestina



O relatório preparado em 3 de abril 2013, pelo Movimento Global de Defesa da Criança na Palestina, destacou que a ocupação israelense continua  suas violações crescentes contra as crianças palestinas. Israel matou 42 crianças em 2012, incluindo 33 mortos durante o ataque das forças de ocupação contra a Faixa de Gaza.

O relatório aponta um aumento no número de crianças detidas, eram 223 crianças no mês de janeiro de 2013. Em fevereiro o numero se elevou para 236. As crianças são submetidas a várias formas de maus-tratos e tortura durante a detenção e interrogatório. 

Israel está trabalhando para tornar impossível a solução de dois Estados com a construção de novos assentamentos judaicos em terras palestinas e a expansão dos existentes, com a construção do Muro do Aparthied, com os bombardeios contra a população civil, com as execuções e assassinatos seletivos e  uma série de outras ações que violam abertamente o Direito Internacional, as Resoluções da ONU, a Declaração Universal dos Diretos Humanos e a Convenção de Genebra. Uma barbárie monumental se abate diariamente contra nosso povo e suas crianças!

A ocupação israelense é o principal obstáculo para a paz. A comunidade internacional deve cobrar e responsabilizar duramente Israel  por  suas ações e condutas como força de ocupação e tomar medidas urgentes para o fim dessa nefasta e criminosa ocupação. Israel deve cumprir as leis e tratados internacionais!

O povo palestino não pode permanecer refém nas mãos da ocupação israelense, é tempo de justiça e de paz. Em 29 de novembro de 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas admitiu o Estado da Palestina como membro observador da ONU. O próximo passo é o Estabelecimento do Estado da Palestina nos territórios palestinos e para isso a comunidade internacional precisa pressionar para que Israel cumpra com suas obrigações perante a humanidade, o povo palestino e as leis internacionais.

Israel deve se retirar dos territórios palestinos ocupados, a comunidade internacional deve fornecer proteção para a população civil palestina, especialmente as crianças, e deve considerar os comandantes do exército de Israel como criminosos de guerra e  processá-los no Tribunal Internacional.

“Que Deus termine com o sofrimento do povo palestino e traga justiça a essa sofrida terra e paz ao mundo todo.”


*Rasem Shaban Mutlaq é palestino e mestre em História pela Universidade da Jordânia.

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