sábado, 25 de janeiro de 2014

Palestina 2014, balanço e perspectivas


Palestina: Balanço do processo infinito e da ocupação permanente


A Autoridade Palestina e Israel voltaram às negociações em julho de 2013, com a mediação dos Estados Unidos. Embora sejam melhor classificados como parte no conflito do que como um mediadores, dado o respaldo incondicional e diverso a Israel, os EUA alegam um compromisso sério com a solução de mais de 60 anos da ocupação israelense sobre os territóriostinos. Mas, neste ano, as políticas que caracterizam esta condição continuaram vigentes.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho


Arafat, Rabin e Clinton - Acordo de Oslo
O então premiê israelense Yitzak Rabin e o presidente palestino, Yasser Arafat,
assinaram o 1º Acordo de Oslo, em 1993, com a mediação do presidente estadunidense,
Bill Clinton. As expectativas de conclusão dominavam o cenário político nos dois lados
Mais um processo de paz – ou a sua “retomada” – foi estabelecido através do agenciamento estadunidense, mas cinco dos nove meses propostos já se passaram sem qualquer avanço significativo. Anunciada em julho, a atual rodadas que a acompanham, deve durar até abril, segundo o acordo que a estabeleceu.


Entretanto, 2013 termina com um aumento da violência na Cisjordânia e em Jerusalém Leste e a iminência de uma terceira intifada, ou levante popular contra a ocupação, para muitos observadores. A expansão das colônias e as invasões contínuas das forças israelenses a casas e vilas palestinas são as únicas experiências do povo relativas a Israel; a violência da ocupação militar é a única realidade vivida por ele, inclusive em tempos de negociações

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, visitou a região cerca de 10 vezes durante o ano, e as equipes diplomáticas fizeram 20 reuniões. Até esta sexta (3), enquanto ele faz a sua décima visita, nenhuma proposta concreta foi avançada para a questão, cinco meses após a retomada das negociações. A estagnação diplomática tem consequências desastrosas para um povo que, além de sentir o cerco da ocupação fechar a cada dia que passa, ainda luta contra as consequências da opressão generalizada sob a qual vivem.

Análises não faltam sobre o resultado econômico desta situação com a pobreza disseminada, o desemprego, o crescimento e desenvolvimento sofridos e a dependência externa extrema sob a qual a Autoridade Palestina (AP) se encontra, financiada por ajuda internacional e pelas receitas das difíceis atividades de exportação, cujas taxas ainda são “filtradas” por Israel.

Em 2013, os 20 anos desde os Acordos de Oslo – que incluem a Declaração de Princípios, de 1993, e o Acordo Interino sobre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, de 1995 – também trouxeram estas análises à questão fundamental: a manutenção da ocupação.

O primeiro acordo tratou de um rascunho geral sobre a condução das negociações e seus princípios; o segundo instituiu a Autoridade Palestina – que funciona como um Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) – e dividiu a Cisjordânia em três zonas que deixaram a maior parte do território sob o controle militar e administrativo de Israel, por um período que deveria durar apenas cinco anos, mas ainda é vigente.

Desde o início, não só diversos setores da política e da sociedade palestina como também da israelense manifestaram o ceticismo fundamental sobre a vontade do governo de Benjamin Netanyahu de resolver a questão. Por outro lado, ressaltam as autoridades palestinas, a situação tem saída: caso um acordo não seja alcançado, os palestinos têm como recorrer ao Tribunal Penal Internacional para denunciar a expansão da ocupação, um crime de guerra reconhecido como tal pelo direito internacional.

                      Foto: NBC News
Negociação - Palestina, Israel e Estados Unidos
Ministra da Justiça israelense, Tzipi Livni, secretário de Estado norte-americano
John Kerry,e o chefe da equipe  palestina para as negociações Saeb Erekat,anunciam
a retomada das negociações no fim de julho, noDepartamento de Estado dos EUA.


Neste sentido, a unidade política buscada pelos palestinos tem também posição central. Apartados desde 2006, quando confrontos violentos dividiram a Cisjordânia e a Faixa de Gaza entre o Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, e o Hamas, respectivamente, os partidos islâmicos podem se juntar à OLP, uma frente ampla de 13 partidos diversos.

Assim como os membros da OLP, a liderança do Hamas disse esperar que 2014 seja o ano da “reconciliação nacional”, declarando um compromisso com a realização de eleições. À frente do governo de Gaza, no primeiro dia do novo ano, Ismail Haniyeh instou as diferentes representações palestinas a “fazerem o máximo para acabar com a divisão política e a unirem a Cisjordânia e a Faixa de Gaza ocupadas,” uma proposta feita reiteradamente também pela OLP.

Embora haja inúmeros céticos a respeito da reaproximação e diversos fatores regionais dificultando o processo – como o conflito na Síria e seu transbordamento a vizinhos como o Líbano –, a sua urgência reuniu representantes dos dois lados para conversações algumas vezes durante o ano de 2013, com a mediação do Egito e da Liga Árabe.

                      Foto: Abu Askar / PPO / Getty
Fatah e Hamas
Ismail Hanieh, à frente do governo da Faixa de Gaza, pelo Hamas, e o presidente Mahmoud Abbas,
líder do Fatah, à frente da Autoridade Palestina, encontram-se no Egito, ainda em 2007.


Violência generalizada


Segundo a organização israelense de defesa dos direitos humanos B’Tselem, as tropas de Israel mataram 44 palestinos em confrontos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, durante o ano. Entre eles estavam também um adolescente,Wajeeh Wajdi Wajeeh a-Ramahi, de 15 anos, do campo de refugiados de al-Jalazun, perto de Ramallah, e uma criança, Hala Ahmad Abu Sbeikhah, de dois anos, do campo de al-Maghazi, em Gaza. No fim de 2012, durante pouco mais de uma semana, a operação “Pilar de Defesa” israelense matou cerca de 170 residentes de Gaza. No mesmo território, o número sobre para 246, considerando-se o ano de 2012 inteiro, e oito na Cisjordânia.

A diretora executiva do B’Tselem, Jessica Montell, criticou o processo investigativo como “lento e complicado”. Ela disse que as decisões são feitas apenas anos depois das ocorrências, e que, assim, ninguém é demandado pela responsabilidade relativa às mortes dos palestinos, o que não contribui com a dissuasão da violência e “reflete desprezo pela vida humana”, de acordo com o jornal israelense Ha’aretz.

palestino protesta

Apesar da libertação de três dos quatro grupos de 104 prisioneiros palestinos no contexto das negociações, há ainda cerca de 5.000 palestinos nas prisões israelenses, entre os quais estão centenas deas - uma situação amplamente condenada pelo Unicef e outras organizações de defesa dos direitos humulamentações israelenses que violam os princípios civis internacionalmente reconhecidos inclui a lei da chamada “detenção administrativa” que, além de permitir a detenção de “suspeitos” sem acusação por períodos renováveis de seis meses, dirige o eventual julgamento a cortes militares. 

Neste trajeto, os detidos sofrem todo tipo de violação, entre torturas e negligência médica, como denunciaram os palestinos que fizeram greve de fome durante um longo período, neste ano. Samer Issawi, que fez o protesto por nove meses, acaba de ser liberado.

Na Faixa de Gaza, a continuação de um bloqueio caracterizado até mesmo pela ONU como "punição coletiva" - outro crime de guerra inaugurado em 2006, quando o Hamas assumiu o governo - tem mais ou menos os mesmos contornos, neste ano. O acosso e até o ataque contra pescadores em uma zona marítima ínfima e contra agricultores que se aproximem da barreira na fronteira com Israel, a limitação extrema das exportações e das importações - inclusive de bens essenciais e da ajuda humanitária -, o racionamento de energia pela maior parte do dia e, no fim do ano, uma crise extrema agravada pelas enchentes.

Tudo isso somado a - ou causa de - altas taxas de pobreza, de desemprego e de dependência da assistência da Agência das Nações Unidas para Assistência e Trabalhos para Refugiados da Palestina (UNRWA), neste que é um dos territórios mais densamente populados do mundo: uma faixa estreita à beira-mar, com quase dois milhões de habitantes, que ainda sofre ataques frequentes de Israel, apesar de um cessar-fogo teoricamente vigente.

Colonização e mais ocupação


Muro do Apartheid e colonias israelensesNo plano da colonização estrutural, o Parlamento israelense avalia uma proposta de anexação do Vale do Jordão, território agrícola da Cisjordânia palestina, com grande acesso à água. O anúncio da construção de mais casas nas colônias já existentes, principalmente na região de Jerusalém, é o principal motivo de revolta dos diplomatas palestinos envolvidos nas negociações. Neste sentido, o chefe da equipe, Saeb Erekat, e seu companheiro, Muhammad Shtayyeh, chegaram a pedir demissão em protesto pelo desrespeito e o descompromisso israelense com o processo. Os palestinos pedem justiça para o progresso das negociações.

Entre as inúmeras licitações para a construção de habitações nas colônias anunciadas pelo governo esteve o plano de 20.000 casas, divulgado em novembro. Neste caso, ficou conhecida a divisão feita pelas autoridades israelenses da chamada região Leste 1, que liga Jerusalém a uma das maiores colônias israelenses, Ma'ale Adumim. Sua ocupação cortaria o acesso palestino à cidade e impossibilitaria a efetivação do Estado da Palestina nas fronteiras atualmente aceitas pelo consenso internacional.

Para muitos observadores, Netanyahu, que compete apenas com o ex-premiê Ehud Barak no quesito “quem construiu mais colônias na Cisjordânia”, também faz estes anúncios para “apaziguar” os ânimos da grande representação de colonos no gabinete do governo, que apresenta ainda divisões internas fundamentais na questão.

Sua coalizão foi construída a duras penas no início do ano, e incluiu partidos como o Lar Judeu, do polêmico ministro da Economia, Naftali Bennett, incisivamente contrário às negociações e que já chegou a declarar que matou "árabes" e que se opõe completamente ao reconhecimento de um Estado da Palestina, durante uma reunião ministerial. Independente disso, o próprio partido de Netanyahu, Likud, coligado com o Yisrael Beitenu – de outra figura polêmica, a do ministro de Relações Exteriores, Avigdor Lieberman –, ambos de direita, já era suficiente para garantir o sionismo de Estado.


Muro do Apartheid, Muro da Vergonha, Muro do RacismoAs centenas de postos de controle militar na Cisjordânia – inclusive entre bairros, no caso da cidade de Hebron, por exemplo, e a construção do muro de segregação, chamado pelos israelenses de “barreira de segurança”, são expoentes crus da ocupação. Mais de 10 anos depois do início da sua construção, o muro tem oito metros de altura em diversos trechos, majoritariamente de concreto – as partes de arame virarão definitivas em breve, segundo o planejado – e já alcança mais de 600 quilômetros de extensão, anexando diversas porções de território palestino no processo de construção. 

Mas ele não acontece sem resistência: manifestações semanais e processos judiciais como os do comitê de resistência popular de Bil’in, entre outros, chegaram a trazer resultados, como a “redução da perda” de áreas agrícolas que seriam engolfadas.

No mesmo sentido, a denúncia da “gentrificação” – eliminação das características árabes para “judaizar” pontos históricos e religiosos importantes para muçulmanos e cristãos – tem sido reiterada frequentemente pela AP e por países como a Arábia Saudita e a Jordânia. Principal alvo desta política, Jerusalém é posta no centro das atenções pela urgência da sua proteção, já que propostas avançadas por judeus mais extremistas incluem a destruição da importante mesquita Al-Aqsa para a construção de um Templo Judeu que já teria existido no local, chamado por eles de “Monte do Templo”.

Sobre o “nome” das coisas, não são raras as análises, inclusive de ativistas israelenses, que ridicularizam a estratégia do governo sionista de tornar mais palatável a ocupação, principalmente para uma população em que inúmeros indivíduos não entendem o seu significado, ou não conhecem, simplesmente. O muro segregador chama-se “barreira de segurança” e as colônias são enquadradas também nas “zonas de segurança” – assim como as porções à volta do muro e de postos de controle – ou são chamadas de “comunidades”, ou “kibbutzim” – plural de “kibbuts”, fazendas comunitárias.

A Cisjordânia é nomeada de Judeia e Samaria, uma das ligações frequentes que o poder faz entre o território e as questões religiosas que manipula para legitimar a ocupação. No caso dos palestinos, são geralmente “árabes” – é ainda disseminada a busca por deslegitimá-los como um povo daquela terra, prática que data dos primórdios do sionismo aplicado, no fim do século 19 – ou até “terroristas”, termo moderno mais frequentemente empregado para os habitantes de Gaza.

Política interna e solidariedade internacional


Estado da Palestina
O mundo tem prestado mais atenção à Palestina. Desde o seu reconhecimento como Estado observador não membro da Organização das Nações Unidas (ONU), em novembro de 2012, e a sua integração a algumas agências internacionais, como a Unesco, os palestinos vêm ganhando mais espaço na esfera internacional jurídica. A sua adesão à Unesco custou à agência o boicote dos Estados Unidos, que suspendeu a sua contribuição financeira, mas rendeu aos palestinos o reconhecimento de importantes sítios arqueológicos e práticas agrícolas, por exemplo.

Como dizia o famoso acadêmico palestino, também de grande influência no Ocidente, Edward Said, a causa palestina é reconhecida e acolhida pelos movimentos de trabalhadores, autonomistas, independentistas e de luta pela autodeterminação, contra a opressão e o imperialismo em todo o mundo.

Neste sentido, assim como outros países do mundo, o Brasil já enviou à Cisjordânia, no início do ano, a Segunda Missão de Solidariedade ao Povo da Palestina, com representantes de diversas entidades sindicais, partidos políticos e membros da sociedade civil que foram acolhidos de forma entusiasmada, ainda que em tom de urgência, por autoridades, partidos e movimentos sociais palestinos.

Tem ganhado força, também, o movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções, principalmente contra instituições que tenham ligações com as colônias. Analistas israelenses têm ressaltado o fortalecimento desta iniciativa, que também tenta avançar no âmbito das regulamentações europeias relativas às parcerias com Israel. Personalidades como o físico e acadêmico mundialmente renomado Stephen Hawking e o ex-vocalista da banda Pink Floyd, Roger Waters, entre outros, aliaram-se à campanha de boicote, assim como a maior associação acadêmica dos EUA.


Manifestação contra a expulsão dos beduinos do NegevProtestos internacionais, inclusive das organizações políticas mais influentes, chamado Plano Prawer, que incluía a expulsão de milhares de beduínos do deserto de Negev, "a última fronteira do sionismo", de acordo com o primeiro premiê israelense, David Ben Gurion. 

O apoio incondicional ao sionismo tem rendido questionamentos crescentes da opinião pública, principalmente a palestina, sobre o papel dos EUA na resolução da questão e sobre a sua intenção de fazê-lo. Embora as autoridades palestinas mantenham-se comprometidas com a diplomacia, na prática, a sociedade demonstra não acreditar nesta opção, seja através de discursos na mídia – inclusive de partidos integrantes OLP – ou de manifestações de rua, tamanha a evidência do apoio estadunidense ao seu opressor.

Exemplo disso é a reivindicação estapafúrdia de Israel, transmitida em um "plano securitário" proposto por Kerry, de manutenção das suas tropas sobretudo no Vale do Jordão – próximo à fronteira com a Jordânia – em um Estado da Palestina a ser reconhecido, desmilitarizado, ainda sem fronteiras definidas.

Não é segredo que, para os EUA, as “preocupações securitárias” de Israel são prioridade, e a retirada das colônias nos territórios palestinos é posta como um problema político – dada à presença de peso dos grupos de colonos no governo e nas instituições públicas – e militar, já que as fronteiras de 1967, ou seja, as anteriores à ocupação e anexação de grandes porções do território palestino, são caracterizadas pelo establishment israelense como “indefensáveis”.

O retrato de um Israel vítima, ou alvo de reações regionais e o impulso aos discursos religiosos de pertença do povo judeu àquela terra – e da terra ao povo judeu – são as principais ferramentas destas agendas. Felizmente, porém, vozes dissonantes dentro da sociedade judia-israelense também são abundantes; resta esperar que ganhem força suficiente para quebrar um padrão persistente de governos de direita assentados na ideologia colonizadora e racista, o sionismo.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Participe da 3ª Missão de Solidariedade ao Povo Palestino

A ONU – Organização das Nações Unidas declarou 2014 como sendo o “Ano da Solidariedade com o Povo Palestino”.

Convidamos aos amigos e amigas, entidades da sociedade civil, apoiadores da causa palestina, a se engajarem de forma ativa na solidariedade com o povo palestino que vive a mais longa, brutal e criminosa ocupação de seus territórios, de sua terra natal. Israel nega-se a cumprir as leis internacionais e viola, diariamente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Convenção de Genebra.

O Comitê pelo Estado da Palestina Já, constituído de mais de 60 entidades nacionais, está organizando a 3ª Missão de Solidariedade ao Povo Palestino.

Convidamos todos a participarem dessa Missão!

FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil

Terceira Missão de Solidariedade ao Povo Palestino

Saiba como foi a 1ª Missão de Solidariedade ao Povo Palestino em 2012:



CONTATO: comitepalestinaja@globo.com


Reunião do Comite pelo Estado da Palestina - Brasil



terça-feira, 14 de janeiro de 2014

ONU declara 2014 o "Ano da Solidariedade com o Povo Palestino"

Resolução foi adotada pela maioria dos Estados-membros, com 110 votos a favor, 7 contra e 54 abstenções


Carlos Latuff/Opera Mundi


ONU declara 2014 o "Ano da Solidariedade com o Povo Palestino"


O cartunista e ativista Carlos Latuff é colaborador de Opera Mundi. Seu trabalho, que já foi divulgado em diversos países, é conhecido por se dedicar a diversas causas políticas e sociais, tanto no Brasil quanto no exterior. Para encontrar outras charges do autor, clique aqui.

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PARTICIPE:


3ª Missão Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino

Saiba como foi a 1ª Missão de Solidariedade ao Povo Palestino em 2012:


PARTICIPE:



Mulheres solidárias com o povo palestino

Mujeres palestinas, resistencia por detrás de los muros



Mujeres artistas del mundo en solidariedad a las mujeres palestinas en el Día Internacional de la Mujer y en el Año de Solidariedad al Pueblo Palestino.

Podrán participar de la exposición dibujantes e ilustradoras del sexo femenino, profesionales o amateurs, de cualquier nacionalidad.

 ENVIO DE TRABAJOS:

Podrán ser enviados cartones, dibujos e ilustraciones bidimensionales en cualquier técnica. Los trabajos deben estar digitalizados o elaborados en computadora. Resolución: 300 dpis. Formato A3 o 30 x 40 cm, modo RGB, jpg (calidad alta o media) límite máximo de 1,0 MB. Cada participante podrá inscribir hasta cuatro obras. El envío de los trabajos podrá ser realizado hasta el día 20 de febrero de 2014.

 Reglas, inscripción e informaciones: exposicionmujerpalestina@gmail.com

 Inauguración dde la exposición: día 8 de marzo de 2014.
 Museo de Humor Gráfico y Escrito Diogenes Taborda.
 Buenos Aires. Argentina.
 Página Web: www.museotaborda.org

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Por que o ‘ocidente’ errou tanto ao interpretar o Oriente Médio?

28/12/2013, Conflicts Forum, 13-20/12/2013


Conflict Forum - Fórum dos Conflitos





Qual é o ‘estado da nação’ – ou mais corretamente, da ‘nação’ do Oriente Médio árabe – no final de 2013?  Todos já sabemos que não é bom; e não queremos nos somar à (muitíssimo deslocada) melancolia, listando males (erosão dos seus vários modelos de governança – no Golfo, na Turquia, da Fraternidade Muçulmana (Ikhwani), etc.); a falência de estruturas de pensamento e de instituições nacionais; a implosão das identidades; a disfuncionalidade generalizada dos sistemas de estado; o rompimento do contrato social e o surgimento de insurreições anti-‘sistema’ de vários tipos. Queremos, isso sim, perguntar “O que se vê aqui?” E tentar descobrir por que o ‘ocidente’ errou tanto ao interpretar o Oriente Médio. 

É questão oportuna – sobretudo quando uma sucessão de notáveis figuras ‘ocidentais’, algumas delas institucionais[1] já dizem (depois de dois anos de guerra e sofrimentos) que a melhor solução na Síria, afinal, pode ser que o presidente Assad permaneça no poder.  Por que, afinal, tanta coisa foi tão mal interpretada, com tanta frequência, e com resultados tão danosos?

Para entender melhor o que acontece recentemente, devemos talvez relembrar um momento anterior do trauma regional. Não é comparação ponto a ponto com o que se tem hoje, mas ajuda a explicar, nos parece, a crise atual.

Aquele momento tem a ver com o que os historiadores chamam de “A Grande Transformação” que começou na Europa no século 17. Apoiou-se sobre uma filosofia moral que entendia que o bem-estar humano dependeria da operação eficiente dos mercados. Intimamente relacionada a essa ideia havia outra, tomada dos Puritanos Ingleses, com raízes profundas na história anglo-saxônica. E que via a “mão invisível” da Providência também em ação na política, como na economia; e essa “mão invisível” (se deixada operar por sua conta) interferiria para prover outro efeito ‘ideal’. Segundo essa noção, a luta e as disputas para contenção política entre as tribos anglo-saxônicas no início de suas sociedades, de algum modo deram origem a uma harmonia espontânea e à ordem política. (Mais mito, que verdade).

Mas foi dessa noção de ‘mercado’ político – onde a competição se tornaria ordeira e harmoniosa mediante a intrusão da “mão invisível”, que os Puritanos Ingleses tiraram a crença segundo a qual as instituições e as estruturas democráticas anglo-saxônicas representariam a culminação da liberdade pessoal e da justiça – e de que essas estruturas brotaram espontaneamente

Essas ideias foram integralmente trazidas para a América, e continuam influentes ainda hoje.

Esse modo de pensar enormemente poderoso dominou a política ‘ocidental’ por mais de 300 anos. E à altura dos anos 1920s, sua penetração no Oriente Médio já levara a região à ‘beira’ do desastre; a região já estava em crise, mantendo-se por um fio. Como na Europa, antes, o duro impacto da engenharia social e do deslocamento de populações, como aquele estilo de pensamento exigia (criar mercados eficientes), foi realmente traumático. A ênfase na industrialização e no deslocamento populacional foi de tal ordem que, no século 19, já havia levado a Europa a revoluções sangrentas. Essas ideias ocidentais, inclusive a noção de que a reforma econômica seria mais plenamente alcançada mediante a secularização, foram abraçadas com zelo de ‘convertidos’ pelos líderes da Turquia, Pérsia e Egito.

Aproximadamente cinco milhões de muçulmanos europeus foram arrancados das próprias casas entre 1821 e 1922, enquanto o ocidente prestigiava principalmente os cristãos nos estados-nações dominados por cristãos nas antigas províncias ocidentais otomanas. A determinação do [partido] Jovens Turcos [orig. Young Turks[2]] para implantar na Turquia uma cópia da modernização secular ‘de mercado’ custou preço terrível. Morreram 1 milhão de armênios e 250 mil assírios; e 1 milhão de anatolianos gregos ortodoxos foram expulsos. Suprimiu-se a identidade curda, e o Islã foi suprimido e demonizado por Kemal Ataturk. Instituições islâmicas foram fechadas e o califato, instituição que existia há 1.400 anos, foi abolido. Tudo isso para criar um estado-nação centralizado, suficientemente poderoso para implantar uma ‘moderna’ estrutura de mercado liberal.

Menos visível, mas também muito lesivo, foi o desenraizamento de homens e mulheres de suas comunidades, a desincorporação cultural, de laços e valores tradicionais. Desorientados, des-culturalizados e deixados à deriva, muitos deslizaram ou na direção do socialismo radical ou da revolução islâmica.

Reagrupando-se depois da 1ª Guerra Mundial (chamada então “Grande Guerra”, que só passou a chamar-se “primeira”, quando eclodiu a “segunda” [NTs]), as ‘grandes potências’ criaram sistemas de ‘blocos de poder em competição’ (demarcando diferenças étnicas, sectárias ou tribais e empurrando-as umas contra outras) por toda a região, para reforçar a influência europeia. Mas as ‘autoridades’ daí resultantes, sem qualquer base em qualquer coisa que se assemelhasse a alguma forma de contrato social, só puderam ser mantidas no poder mediante o uso massivo de forças de segurança e de repressão contra centros de poder rivais. Não surpreendentemente, nos anos 1920s muitos jovens buscavam pensamento novo – e tornaram-se ferozes opositores do ‘sistema’.

Ao longo dos últimos 30 terríveis anos, o ‘ocidente’ (e, outra vez) seus ‘interesses’ regionais aliados, permaneceram presa de um conjunto igualmente poderoso de ideias – a orientação neoliberal do conservadorismo norte-americano (e a orientação tradicional do conservadorismo norte-americano sempre foi principalmente isolacionista e não intervencionista).  Na última década, essas poderosas ideias, buscadas pelo ‘ocidente’ e seus aderentes na região, provaram-se altamente daninhas.  Não se trata só dos milhões de refugiados saídos do Afeganistão, Iraque, Palestina e Síria, nem das guerras e sofrimentos, mas, mais significativamente (e outra vez), o que se tem aí é um episódio do pensamento político segundo o qual as pessoas foram ‘individualizadas’, extraídas da comunidade, dos valores tradicionais, da conexão com o local, das respectivas identidades e, assim, foram separadas das fontes da autoestima.

Esse, de fato, sempre foi um dos principais objetivos da globalização: para conseguir alcançar uma ‘modernidade’ globalizada, os aderentes desse tipo de pensamento deixaram-se levar pelo ímpeto de fazer tabula rasa – varrer, ‘limpar’ –, e ‘dar um reset’ na psicologia humana, enfraquecer o condicionamento pela tradição, para preparar a humanidade para a ‘modernidade’: daí o interesse por ações de “choque e pavor” e pelos efeitos psicologicamente transformadores da crise.

Diferente do período 1820-1920, que foi mais estrutural e físico, essa ‘transformação’ mais recente (pela qual ainda estamos passando) não visava a ser tão física (embora ainda seja, para os milhões de refugiados), mas, mais, ‘uma marca feita a fogo’ na consciência, disparada por mudanças transformatórias, que mudam a vida (por exemplo, no Iraque) – e disparada também pela ‘narrativa’, com o uso dos meios e veículos da imprensa-empresa.

No caso do Oriente Médio, a narrativa preferencial passou a ser a da ‘democracia’ e da ‘liberdade’ (as duas ‘grandes ideias d’A Grande Transformação promovida pelos velhos puritanos europeus. Cromwell usou exatamente a mesma narrativa no Parlamento Inglês em 1658).

Mas um dos problemas aqui é que, naquele momento, as noções de ‘democracia’ e ‘liberdade’ foram rapidamente subsumidas dentro da ‘doutrina Carter’ (segundo a qual os EUA não admitiriam a emergência, no Oriente Médio, de governo não amigável). Assim, de fato, pouca coisa mudou: os oligarcas reinantes tipo Sykes-Picot simplesmente continuaram o serviço – sustentados por forças de segurança muito fortes (e partidarizadas).

Essencialmente, portanto – desde os anos 1920s – não há qualquer tipo de real contrato social entre povos e governantes, ou vice-versa. Mais que isso, não se viu qualquer esforço para organizar nações ou sociedades. Isso é especialmente verdade para o Golfo, onde a abundância de petrodólares faz as vezes, como arremedo, da construção da nação. Problemas resolvem-se com dinheiro, soluções compram-se. Assim, em toda a região, emergiu uma elite imensamente rica, que se separou, ela mesma, das raízes e comunidades nativas, para melhor mergulhar na comunidade ‘virtual’, desculturada, dos realmente ricos.  A clássica doutrina dos benefícios econômicos em cascata [orig. ‘trickle down’ economic benefit] simplesmente jamais sequer foi tentada, no Oriente Médio.

A experiência a partir da qual o presidente Putin da Rússia está desenvolvendo uma ideologia conservadora antissistema não é muito diferente dessa (resultado, lá, da própria experiência da Rússia, primeiro com uma ‘modernidade’ marxista desenraizadora; e, depois, com uma ‘modernidade’ neoliberal para o globalizamento). 

Em recente discurso ao Parlamento russo,[3] Putin falou da necessidade de um novo ‘conservadorismo’. Esse conservadorismo deve ser definido, numa nova abordagem, segundo Fyodor Lukyanov, com bases no “fato de que todo e qualquer progresso, hoje, trará necessariamente resultado negativo”. Em outras palavras: a busca da modernidade por abordagem neoliberal tornou-se daninha em todo e qualquer lugar – além de levar a resultados estrategicamente incoerentes.

Putin argumenta que a disparidade entre (a) os valores tradicionais [dos russos], um senso de ser [russo], de valores familiares herdados, de modos de criar os filhos; e (b) os novos ‘espaços de valores’ europeus que emanam hoje do ‘universalismo’ já é grande demais; e que os valores locais devem ser protegidos. Em outras palavras: cada nação e cada cultura é única, com seus valores; sobre tudo, a específica identidade.

De fato, Putin está sugerindo um novo conservadorismo estratégico que recusa o globalismo liberal – e que retoma a dimensão nacional em seus conceitos principais, de legitimidade e soberania. Chama esses valores de ‘conservadores’, mas não no sentido de que impeçam o progresso e, sim, como meio para impedir uma regressão, com queda do abismo moral.  ‘Progresso’ nessa definição não é o progresso da modernidade,[4] mas, mais, um desejo de voltar ao humano. Ou, como Baudelaire escreveu “Progredir, para eles, não é avançar, nem conquistar, mas voltar e encontrar [...] O progresso, pois, o único progresso possível, consiste em desejar reencontrar a Unidade perdida.”[5] (Em DeDefensa.org,[6] ofereço discussão mais completa sobre as implicações das ideias de Putin [em francês]).

Num certo sentido, Putin pôs o dedo na natureza da crise no Oriente Médio (apesar de estar falando sobre a Rússia).  Patrick Buchanan (‘conservador’ norte-americano, mas não da gangue dos neoconservadores neoliberais[7]), em artigo intitulado “Is Putin One of US?”[8], observa que [Putin] está procurando redefinir o conflito mundial futuro do “nós vs eles” – como conflito no qual os conservadores, tradicionalistas e nacionalistas de todos os continentes e países levantam-se para resistir ao imperialismo cultural e ideológico do que, como Putin o vê, é um ocidente em declínio, cujos valores de globalização provocam ‘desconforto’ em muitos locais.

“Não atacamos interesses de ninguém” – disse Putin. – “Nem queremos ensinar os outros a viverem a própria vida.” O adversário de Putin não é os EUA onde nascemos, mas os EUA onde vivemos” [Buchanan escreve], “que, para Putin, são EUA pagãos e progressistas selvagens. Sem nomear país algum, Putin atacou as “tentativas para impor modelos de desenvolvimento mais progressivos” a outras nações, que já levaram a “declínio, barbárie e muito sangue”: ataque direto às intervenções dos EUA no Afeganistão, Iraque, Líbia e Egito” – Buchanan sugere.[9]

Buchanan não chega a dizê-lo. Mas a formulação ‘conservadora’ de Putin é antipolar, antissistema – e será reconhecida por muitos na região como posição de resistência.

O presidente Assad ou Sayyed Hassan Nasrallah aplaudirão. Não é preciso pensar muito para ver o quanto essas ideias soarão significativas e atraentes no Oriente Médio: elas dão a base para uma nova plataforma regional em torno da qual os estados poderão reunir-se – e que darão direção clara à política russa.

Noutra direção, essas ideias ressoam desde já como um início precoce do debate do século 21: sobre como o Oriente Médio (ou os muçulmanos em geral) vivem no mundo contemporâneo, sem perder a própria comunidade, a localidade, seus valores, tradição e identidade. (Os levantes árabes foram profundamente focados na perda de valores na política e na economia, e nas consequências disso sobre o tecido social). É questão que também surgiu à tona na Europa, sobre a ‘grande transformação’ do sul da Europa, conhecida como ‘doutrina da austeridade’ (como o demonstram, por exemplo, os protestos antissistema que acontecem agora, na Itália.[10] Há ali, subjacente, o sentimento de que as elites europeias são responsáveis pela decomposição do contrato social europeu).

Ninguém tem respostas para isso (é mais fácil formular ‘um retorno ao modo de vida humano’, que apresentar essa noção como algo realmente político). Mas, ainda assim, a questão é essa.

O caminho à frente vem povoado de diferentes víboras. Alguns farão literalmente qualquer coisa, para preservar o status quo; alguns, para instituir um Islã assertivo; alguns, para instituir um secularismo assertivo; alguns, para instituir a revolução; e alguns para pôr fogo no sistema. É preciso coragem para sugerir que, disso tudo, brotarão a estabilidade e a ordem nos próximos anos.

A questão das ‘narrativas’: a questão da imprensa-empresa


Tudo isso considerado, por que o ‘ocidente’ erra tão frequentemente ao interpretar o Oriente Médio? Sugerimos aqui que o processo tenha a ver com “a narrativa” – a narrativa da ‘democracia’, a narrativa da ‘liberdade’ – ou, mesmo, com a narrativa de ‘a derrubada do presidente Assad não é questão de ‘se’: é questão de ‘quando’’.

Essas ‘narrativas’, como argumentamos, tem pedigree Puritano de vários séculos, profundamente enraizado. Mas o pensamento político da ala dos conservadores norte-americanos conhecida como ‘neoconservadores’ foi fortemente desestabilizado pela ambiguidade dos jovens americanos contra a guerra, desde a guerra dos EUA no Vietnã.

Retomando o pensamento originalmente articulado por Carl Schmitt, e, depois, pela Escola de Chicago, esses pensadores concluíram que nenhum estado que aspire a manter o poder e a posição que tenham pode suportar tal amplitude de ambiguidade moral: a resposta, concluíram então, seria ‘narrar o inimigo’ como tão completa e absolutamente ‘outro’, como tão completo e absoluto ‘mal’, que aquela ambiguidade moral se tornaria impossível. Daí a insistência numa narrativa única – sempre idêntica a ela mesma e sempre repetida.

A ‘narrativa’, desse ponto de vista, torna-se a mais poderosa arma de guerra (na que passou a ser chamada  ‘guerra de quarta geração’).[11] A ‘narrativa’ foi convertida em ‘a realidade’ que nós próprios ‘construímos’ (como se ouvia de alguns ‘conservadores’/neoliberais em 2003).

O poder dessa narrativa é imenso, sem dúvida (p.ex., veja-se a Síria), mas essa insistência numa narrativa simplória, simplista, ou branco ou preto (embora seja ferramenta efetiva de guerra psicológica), é faca de dois gumes.  Porque ela também elimina da paisagem do pensamento todos os demais aspectos de qualquer conflito. Eles são simploriamente desautorizados –  porque comprometem o sucesso de uma narrativa que não pode ser questionada. No frigir dos ovos, políticos, jornalistas e ‘especialistas’ passam a acreditar na própria narrativa (caem na sua própria armadilha) – até que os eventos (como na Síria) afinal, e dolorosamente, expõem a falsidade da própria narrativa.
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[3] 16/12/2013, “O Presidente, sobre o Estado da Nação: Vladimir Putin, à Assembleia Federal da Rússia” (trad. em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/12/o-presidente-sobre-o-estado-da-nacao.html)

[4] O ‘progresso’ da modernidade fica bem exemplificado, por contraste, na definição de Baden-Powell, o criador do escotismo (“Aquele adulto idiota, de calças curtas, sempre seguido de várias crianças idiotas, de calças curtas”, na definição de Millôr Fernandes): “Parar não ajuda ninguém. É preciso escolher entre progredir ou regredir. Assim, portanto, “SEMPRE AVANTE!” com um sorriso nos lábios” (em http://www.citations-celebres.com/citations.php?id_citation=1221). [NTs (risos, risos)]

[5] Orig. [P]rogresser, pour eux, ce n’est pas avancer, ni conquérir, mais revenir et retrouver… [...] Le progrès donc, le seul progrès possible, consiste à vouloir retrouver l’Unité perdue.” (Oeuvres posthumes et correspondances inédites / Charles Baudelaire ; précédées d'une étude biographique, par Eugène Crépet (...), Quantin (Paris)-1887 (http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k6106059x.r=Baudelaire+progresser.langPT) Trad. de trabalho, sem ambição literária, só para ajudar a ler [NTs].

[7] No Brasil não prosperou a palavra ‘neoconservadores’; em vez dela, sempre se usou aqui a palavra ‘neoliberais’. De fato, as duas palavras, no Brasil, designam, desde o primeiro governo FHC-Clinton, o mesmo grupo (PSDB + DEM + Ruralistas + Grande Finança Internacional + USP + imprensa-empresa).

Parece haver aí em operação um interessante ‘golpe narrativo’, que bem merece ser mais bem estudado (embora seja difícil identificar QUE BLOCO POLÍTICO-INTELECTUAL ATIVO NO BRASIL HOJE, teria interesse político em estudar e fazer-ver a ABSOLUTA identidade de pensamento, propostas e táticas, por aqui, entre “neoliberais”, “neoconservadores”, “fascistas” e 'éticos-ecológicos-bonzinhos', feito a INSUPORTÁVEL Marina Silva).

É essa absoluta identidade, aliás, que levou a imprensa-empresa, no Brasil, a apresentar como “neoliberais” alguns perfeitos, totais,  “fascistas”. A opção pela palavra “neoliberais”, no jornalismo de propaganda, reforça o traço economicista pseudo-liberal; e ajuda a esconder o traço conservador político fascistizante [NTs].


terça-feira, 7 de janeiro de 2014

No quinto aniversário da operação "chumbo fundido"


Massacre de crianças palestinas
Cidade de Gaza, 27 de Dezembro de 2008. É um sábado e pouco falta para o meio-dia. As crianças regressam da escola e as ruas estão repletas de pessoas. Poucos minutos mais tarde, mais de 200 estarão mortas e cerca de sete centenas estarão feridas. Israel acaba de desencadear o seu covarde ataque que baptiza de "Operação Chumbo Fundido". Dezenas de caças F-16, helicópteros Apache e veículos aéreos não tripulados bombardeiam, em simultâneo, mais de uma centena de locais em toda a Faixa de Gaza. Nos dias seguintes, continuam os bombardeamentos, culminando numa invasão terrestre em 3 de Janeiro de 2009. Quando termina a operação, em 18 de Janeiro, debaixo de forte pressão internacional e dois dias antes da tomada de posse de Barack Obama, deixa mais de 1400 mortos palestinos – entre os quais 138 crianças – e um enorme rasto de destruição que paralisa a vida de Gaza. 

A operação foi cuidadosamente planeada ao longo de meses e as vítimas civis não são "danos colaterais". São uma consequência da política de terror (doutrina Dahiya) que Israel tinha testado no Líbano em 2006 e que visa provocar o grau máximo de destruição e de sofrimento nas populações para as levar a revoltar-se contra os seus governantes. A população de Gaza estava ser punida por, em eleições internacionalmente reconhecidas como livres e democráticas, ter dado ao seu voto aos candidatos errados, na óptica de Israel e seus aliados.

Inquéritos conduzidos por investigadores internacionais isentos reunirem evidência de que Israel tinha cometido inúmeros crimes de guerra durante a "Operação Chumbo Fundido". Estão documentados, nomeadamente, os massacres das famílias Samouni e Al-Daya, o assassinato de portadores de bandeiras brancas, a utilização de bombas incendiárias de fósforo branco em áreas populacionais, a interdição de prestação de socorro a vítimas.

A "Operação Chumbo Fundido" chocou o mundo civilizado pela sua dimensão e brutalidade. Mas não podemos esquecer que, no prosseguimento da sua política de limpeza étnica da população palestina, que vem pondo em prática desde a sua fundação em 1948, o Estado de Israel, todos os dias, em maior ou menor escala, leva a cabo agressões contra palestinos, cerceando-lhes direitos humanos fundamentais, inviabilizando a constituição do Estado Palestino com total desrespeito pelo direito internacional e humanitário.

Ainda na semana passada, as forças armadas israelenses mataram um habitante de Gaza que procurava sucata dentro da "zona tampão de segurança" (esta "zona" estende-se entre 500 e 1500 metros dentro da Faixa de Gaza, ocupando cerca de 17% do território e 35% da terra arável, afectando a vida de mais de 100.000 habitantes de Gaza). Já esta semana, em Gaza, na terça-feira, uma criança de três anos foi morta e a sua mãe e irmão foram feridos num ataque retaliatório conduzido pela força aérea de Israel, e, na quinta-feira, novos ataques punitivos com mísseis feriram mais dois palestinos. Enquanto isto, Israel anuncia planos para construção de mais 1.400 casas de colonos, em Ramat Shlomo (Jerusalém Leste) e na Margem Ocidental, em claro desafio aos apelos dos Estados Unidos e da União Europeia para viabilizar o frágil processo de paz que John Kerry tenta pôr de pé.

Neste quinto aniversário da bárbara agressão contra a população indefesa de Gaza, evoquemos a memória das vítimas mas, conscientes de que só a solidariedade internacional pode reverter este estado de coisas, unamo-nos para exigir que, ao povo palestino, seja reconhecido o seu direito a viver em paz e liberdade no seu Estado soberano e independente, nos territórios que Israel ocupa desde 1967, com Jerusalém Leste como capital, e com uma solução justa para os direitos dos refugiados.

Lisboa, 27 de Dezembro de 2013

A Direcção Nacional do MPPM

[*] Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Oriente Médio

Fonte:   http://resistir.info/

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