DEBATE COM O EMBAIXADOR DA PALESTINA NO BRASIL
SÃO PAULO –QUARTA-FERIA -
22/JUL - 18:30 h
SINDICATO DOS JORANALISTAS – AUDITÓRIO VLADIMIR HERZOG
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Os tambores da guerra israelense já anunciavam uma ofensiva contra a Faixa de Gaza dias antes do seu lançamento, em 8 de julho de 2014. Há exatamente um ano, Israel inaugurou a “Operação Margem Protetora”, com 51 dias de bombardeios por ar, terra e mar contra 1,8 milhão de palestinos no território sitiado. Uma série de artigos analisará a terceira grande ofensiva de Israel contra Gaza em cinco anos e o desenrolar das denúncias de crimes de guerra.
Premiê Benjamin Netanyahu e o ministro da Defesa de Israel,
Moshe Yaalon.
GPO
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Importa é que a narrativa israelense para a opção por mais
uma guerra contra Gaza – a 12ª desde 1948, quando do estabelecimento do Estadode Israel, contabiliza o historiador francês Jean Pierre Filiu para um dossiê
do Journal of Palestine Studies – é paulatina e cuidadosamente construída pelos
oficiais e pela mídia massiva nacional e internacional. Pouco ou nenhum
questionamento é veiculado sobre os fatos repassados pelas fontes oficiais,
frequentemente do Exército ou do gabinete de segurança. Quando há
questionamento, disse o colunista Gideon Levy do diário Haaretz, em entrevista
por telefone, os próprios leitores, mobilizados por uma narrativa nacionalista
de guerra particular em Israel, acossam a dissidência.
Uma ofensiva contra a Cisjordânia precedeu em quase um mês o
ataque a Gaza, um estreito território litorâneo, o mais densamente habitado do
mundo, sitiado desde 2007. Gaza é, desde aquele ano, governada pelo Hamas,
taxado de “organização terrorista” por Israel e alguns dos seus aliados. Aí,
explica a jurista Lisa Hajjar, em artigo para o portal Jadaliyya, está a
explicação da permissão autoconcedida pelas autoridades israelenses para matar indiscriminadamente, segundo soldados israelenses que deram depoimentos à
organização de veteranos Breaking the Silence ("Quebrando o
Silêncio"), na série intitulada "This was How we Fought in Gaza"
("Foi assim que lutamos em Gaza").
A escola Sobhi Abu Karsh foi substancialmente atingida, na
Cidade de Gaza. 5 de agosto 2014. Foto: AFP
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A operação militar na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental –
denominada, com uma referência bíblica, “Guardião Fraterno” – fora lançada em12 de junho para buscar por três jovens colonos que haviam desaparecido. Desde
a partida, o Hamas foi acusado pelo sequestro de Eyal Yifrach, Gilad Shaar e
Naftali Fraenkel, residentes de Gush Etzion – um bloco de 22 colônias com mais
de 70 mil habitantes, entre Jerusalém e Belém, na Cisjordânia ocupada. Poucos
dias depois, os três adolescentes foram encontrados mortos.
Em 10 dias, as forças israelenses prenderam quase 350
palestinos e a violência, tanto por parte dos soldados quanto dos colonos,
consumou-se, hedionda. Em 2 de julho, o palestino Mohamed Abu Khdeir, de 16
anos de idade, foi sequestrado em Shufat (Jerusalém Oriental), espancado e
calcinado por colonos israelenses. Outros ataques seguiram-se motivados por
“vingança”, de acordo com os próprios perpetradores, que ficam, em grande
parte, impunes. Entre junho e agosto, 27 palestinos foram mortos, centenas foram
presos arbitrariamente e a retomada oficial das demolições de casas como
“medida punitiva” – mantida a nível informal – marcou a posição generalizada
das autoridades israelenses; 27 pessoas ficaram sem lar (inclusive 13
crianças), de acordo com a organização israelense de defesa dos direitos
humanos B’Tselem.
Nova guerra contra Gaza
Neste contexto, desde a Faixa de Gaza, brigadas palestinas
lançaram foguetes contra o território israelense. Como de costume,
a narrativa israelense explicava que, devido aos ataques
palestinos, totalmente removidos de contexto, o Exército – denominado “Forças
de Defesa de Israel” – decidira lançar uma grande ofensiva contra Gaza, para
“dissuadir” o Hamas de futuras ações armadas.
“Os ataques serão mais fortes”, dizia “um oficial” ao
Haaretz em 7 de julho, quando Israel já lançava mísseis contra o território.
“Cada dia que passa será pior para o Hamas. Vamos intensificar os ataques para
deixar claro para eles que é do seu interesse encerrar o lançamento de
foguetes.” Os túneis subterrâneos – muitas vezes usados para contornar o
bloqueio completo do território e importar bens essenciais e até possibilitar o
trânsito de pessoas, do contrário presas – foram retratados como grandes
ameaças ao povo israelense – “vítimas civis inocentes”, repetiam os
noticiários, enquanto os palestinos eram “terroristas”, “escudos humanos” do
Hamas ou outros termos que justificassem suas mortes.
De acordo com o relatório publicado em junho deste ano pela
comissão de inquérito do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que trabalhou
enfrentando as barreiras impostas pelas autoridades israelenses, decididas a
não cooperar com a investigação, 1.462 das cerca de 2.200 pessoas mortas pelos
bombardeios eram civis, inclusive mais de 500 crianças. Dos 72 israelenses
mortos, 66 eram oficiais ou soldados em combate e seis eram civis; um
trabalhador tailandês também foi morto.
Bombardeios por ar, terra e mar provocaram uma devastação
assombrosa, como mostra a gravação abaixo, feita em março deste ano por um drone.
Mais de 10 mil lares, mesquitas, igrejas, escolas, clínicas e cemitérios foram
destruídos, assim como a infraestrutura essencial para a sobrevivência. A única
planta de energia elétrica de Gaza foi atingida, deixando 1,8 milhão de
pessoas, em geral, com apenas três horas de energia por dia, dependentes de
geradores movidos a combustível escasso. Os palestinos de Gaza buscavam contarsua história, e o fizeram de forma instrumental para aqueles que se viam
confrontados com uma cobertura jornalística simplista, ou determinada pela
propaganda de guerra.
Hospitais abarrotados tampouco escaparam dos bombardeios,
contou o Dr. Belal Dabour, que atendeu à ligação para a entrevista desde o
telhado do hospital Al-Shifaa, o maior de Gaza, onde a equipe trabalhava, em
alerta, em turnos de 24 horas. Em 21 de julho, o número de vítimas fatais já
passava de 460 pessoas; as autoridades palestinas buscavam publicar listas com
seus nomes, idades e residência, para que não se tornassem apenas estatísticas.
Desde 1º de abril de 2015, o Estado da Palestina é membro efetivo do TPI e, mesmo que Israel não o seja, o caso já é avaliado, em “exames preliminares”, pela promotoria. Assim como o Conselho de Direitos Humanos da ONU, o TPI sofre represálias das autoridades israelenses e aliados. Os EUA, por exemplo, que tampouco integram a corte e tentaram impedir o estabelecimento da comissão de inquérito, com o único voto negativo durante a votação no Conselho dos Direitos Humanos, em julho de 2014, consideram a medida “contraprodutiva”. É preciso acompanhar e demandar que, desta vez, a histórica impunidade, na base de sustentação deste ciclo de massacre e devastação e da própria ocupação da Palestina, seja por fim interrompida.
Fim da impunidade?
Mustafa Barghouthi, da Iniciativa Nacional Palestina,
acompanhando o caso palestino diante do Tribunal Penal Internacional (TPI),
mostrou a uma delegação brasileira que visitou a Cisjordânia em abril deste ano
dezenas de fotos que evidenciam a devastação e o uso de “bombas de barril” –
que causam dano indiscriminado – pelas forças israelenses. Este é exemplo dos
crimes de guerra de que é acusado o Exército de Israel, uma vez que o princípio
de discriminação dos “alvos” é fundamental no Direito Internacional
Humanitário, aquele que regula a guerra.
Barghouthi (dir.) mostra à delegação brasileira imagens da
Faixa de Gaza logo após a ofensiva israelense. Foto: Moara Crivelente
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A juíza Mary McGowan Davis, chefe da comissão de inquérito,
considerou que “a extensão da devastação e o sofrimento humano em Gaza foram
inéditos e impactarão as gerações futuras.” Na semana passada, o Conselho de Direitos
Humanos da ONU aprovou uma resolução – com apenas um voto negativo, o dos EUA –
em consequência do relatório publicado em 22 de junho, sobre a situação na
Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Leste.
Todos os membros europeus do Conselho, inclusive o Reino
Unido, França e Alemanha, votaram a favor do documento, que enfatiza “a
necessidade de garantir-se que todos os responsáveis por violações do direito
internacional humanitário e dos direitos humanos internacionais sejam
responsabilizados, através de mecanismos de justiça penal apropriados,
imparciais e independentes, domésticos ou internacionais.”
Leia também:
*Moara Crivelente é cientista política, jornalista e membro
do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz),
assessorando a presidência do Conselho Mundial da Paz
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