quarta-feira, 25 de maio de 2011

É pouco provável que Obama enfrente as questões reais do Oriente Médio


19/5/2011, Robert Fisk, The Independent, UK

OK, então lá vai o que o presidente Barack Obama deveria dizer em discurso sobre o Oriente Médio: Vamos sair amanhã do Afeganistão. Vamos sair amanhã do Iraque. Vamos parar de dar apoio covarde incondicional a Israel. Os EUA forçarão os israelenses – e a União Europeia – a pôr fim ao sítio de Gaza. Suspenderemos todos os fundos que Israel espera receber de nós, até que acabe, completamente, sem condições, a construção de colônias em terras roubadas aos árabes que nunca pertenceram a Israel. Poremos fim a todos os negócios e cooperação com os ditadores viciosos do mundo árabe – seja saudita, sírio ou líbio – e apoiaremos a democracia também nos países nos quais os EUA têm interesses comerciais massivos. Ah! E, sim, conversaremos com o Hamás, claro.


Evidentemente o presidente Obama não dirá nada disso. Arrogante e covardemente, só falará sobre os “amigos” que o ocidente teria no Oriente Médio, sobre a segurança de Israel – e “segurança” é palavra que Obama jamais usou ao falar da Palestina – e enrolará e enrolará sobre a Primavera Árabe, como se, algum dia, tivesse dado algum apoio a alguma democracia no Oriente Médio (antes, claro, de os ditadores já estarem em fuga); como se – quando mais precisaram do apoio de Obama – Obama tivesse oferecido a ajuda moral de sua autoridade ao povo do Egito. E que ninguém duvide: Obama falará também muito sobre um grande Islã religioso (mas nunca muito grande, ou os Republicanos recomeçam a exigir a certidão de nascimento de Barack Hussein Obama). Temo que ouçamos também – ah, sim, temo! – um convite-comando para que viremos a página de Bin Laden, para “dar o assunto por encerrado” e “seguir avante” (convite-comando que, também temo, o Talibã não aceitará).

Mr. Obama e sua igualmente desfribrada secretária de Estado não têm ideia do que enfrentam no Oriente Médio. Os árabes perderam o medo. Estão fartos de nossos “amigos” e enojados de nossos inimigos. Breve, os palestinos de Gaza marcharão sobre as fronteiras de Israel e exigirão o direito de “voltar para casa”.

No domingo, já se viram sinais disso nas fronteiras da Síria e do Líbano. O que farão os israelenses? Matarão palestinos aos milhares? E o que dirá então Mr. Obama? (Claro, exigirá “contenção dos dois lados”, frase que aprendeu do seu torturante predecessor).

Penso que os norte-americanos sofrem do mesmo mal que os israelenses: acreditam cegamente nos seus próprios argumentos de autoengano. Os norte-americanos continuam a falar da bondade do Islã; os israelenses, de como entendem “a mente árabe”. Mas não entendem coisa alguma. 

O Islã, como religião, nada tem a ver com isso, como tampouco o Cristianismo (palavra que não tenho ouvido nos últimos tempos) tem algo a ver com isso, ou o Judaísmo. Trata-se agora de dignidade, honra, coragem, direitos humanos – qualidades que, noutras circunstâncias, os EUA sempre elogiam –, que os árabes entendem agora que também lhes cabem. E estão certos. 

É hora de os norte-americanos livrarem-se do medo que lhes inspiram os lobbyistas  pró-Israel – de fato, são lobbyistas pró-Likud – e a repugnante acusação de antissemitismo que repetem contra qualquer um que se atreva a criticar Israel. É hora de os norte-americanos aprenderem a ter coragem, como a valente comunidade de judeus norte-americanos que protestam contra as injustiças cometidas por Israel e líderes árabes.


Mas nosso presidente favorito jamais dirá em seu discurso qualquer dessas verdades. Podem esquecer. Não passa de presidente bico-doce, que diz qualquer coisa, e que deveria ter devolvido – esquecemos? – seu Prêmio Nobel, porque nem Guantánamo conseguiu fechar; imaginem se conseguirá construir alguma paz! 

E o que disse ele no discurso do Nobel? Que ele, Barack Obama, tinha de viver no mundo real; que não é Gandhi... Como se – e honra ao The Irish Times, por ter sabido ler – Gandhi não tivesse combatido contra o império britânico! Assim sendo, seremos como sempre ensaboados pelas análises de sempre nos EUA, que elogiarão a fala do presidente, essa conversa fiada miserável.


Depois, virá o fim de semana em que Mr. Obama falará à conferência anual do AIPAC, o mais poderoso “amigo” de Israel nos EUA. E começará tudo outra vez, segurança, segurança, segurança; rápida – se acontecer – referência às colônias israelenses na Cisjordânia; e, isso eu garanto, muitas e muitas referências a terrorismo, terrorismo, terrorismo, terrorismo, terrorismo, terrorismo, terrorismo. E, sim, mencionará o assassinato (para não usar a palavra execução) de Osama bin Laden.

Mas o que Mr. Obama não entende – e Mrs. Clinton, essa, então, não faz nem ideia – é que, no novo mundo árabe, já não se trata de confiar em ditadorezinhos e seus asseclas. Que basta de bajulação. A CIA deve andar carregando malas cheias de dinheiro para distribuir, mas suspeito que poucos árabes se animarão a tocar nesse dinheiro. 

Os egípcios não mais tolerarão o sítio de Gaza. Nem, creio, os palestinos. Nem, tampouco, os libaneses, e nem os sírios, depois que se livrarem dos chefetes que os governam. Os europeus perceberão antes que os norte-americanos – estamos, afinal de contas, mais próximos do mundo árabe –, e duvido que continuem a admitir que a vida de todos continue a ser guiada pela indiferença acovardada com que os norte-americanos insistem em não ver o roubo de terras de que os israelenses fizeram meio de vida.


Tudo isso, claro, será como deslocamento vertiginoso de placas tectônicas para os israelenses – que deveriam estar elogiando e congratulando-se com os vizinhos árabes e com os palestinos, por se terem reunificado e unificado a causa; e que deveriam estar demonstrando solidariedade e amizade aos vizinhos árabes, em vez de medo. 

Faz tempo que minha bola de cristal partiu-se. Mas lembro bem do que Winston Churchill disse em 1940: “o que o general Weygand chamou de batalha pela França, acabou. Começa agora a batalha pela Grã-Bretanha.”



Traducao: Coletivo Vila Vudu

sábado, 21 de maio de 2011

Ex Agente da CIA em carta a Obama: discurso nao basta, salvemos Gaza!


Obama, diga a Netanyahu: não mexa com a Flotilha que vai pra Gaza.


Nota do Editor: O Barco dos Estados Unidos, "The Audacity of Hope" (Audácia da Esperança) partirá de Gaza no mês que vem com 50 a  bordo, incluindo Ray McGovern, que escreveu esta carta aberta ao presidente Barack Obama depois de assistir seu discurso quinta-feira sobre o Oriente Médio. Falando pelos passageiros e tripulantes, McGovern pede ao Presidente que interceda  junto ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, sexta-feira, tornando-o responsável por garantir a segurança da viagem.

May 19, 2011

Dear Mr. President:

Seu discurso sobre o Oriente Médio, hoje cedo, encoraja-me a reivindicar sua proteção, já que estabelecemos tornar concreta a sua retórica . Cinquenta dos seus concidadãos  irão velejar no "The Audacity of Hope" rumo a Gaza em Junho.

Você falou eloquentemente hoje sobre "momentos no curso da história quando as ações dos cidadãos comuns desencadeiam  movimentos de mudanças que  falam de  um desejo de liberdade que vem sendo construído há anos. E lamentou "a falha para falar com as aspirações mais amplas das pessoas comuns".

Nós, os passageiros e a tripulação do "A Audácia da Esperança", navegando para Gaza, juntamente com a 2 ª Flotilha Internacional da Liberdade , representamos os norte americanos comuns determinados a falar com as aspirações dos 1,5 milhões dos habitantes comuns de Gaza que anseiam em serem livres.

Nós estaremos entregando milhares de cartas de apoio e amizade de outros norte americanos comuns que estão convencidos, como Dr. King, que "a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todos os lugares".

Escrevo para solicitar a garantia do seu apoio e proteção à medida que tentamos incorporar a sua retórica. Você salientou que "os Estados Unidos apóiam um conjunto de direitos universais", e que este apoio dos EUA "não é um interesse secundário." É, sim, "uma prioridade que deve ser traduzido em ações concretas".

Palavras de coragem. Com relação à situação em Gaza, no entanto, talvez você concordará que não basta lamentar o destino de um "palestino que perdeu três filhas no bombardeiros israelenses em Gaza" — que, como você diz, tem o "direito de sentir raiva".

Esse palestino e suas filhas mortas são quatro. Mas as forças israelenses mataram 1.400 moradores de Gaza  em dezembro de 1998 a janeiro de 1999 - e 1,5 milhões de habitantes de Gaza continuam privados dos direitos universais dos quais você falou.

Gaza está isolada, uma prisão abarrotada ao ar livre, na qual Israel mantém "presos" em um nível de subsistência da existência. Isso equivale ao tipo de punição coletiva proibido pelo direito internacional e é aplicada por bloqueio israelense naval, igualmente ilegal.

Muitos norte-americanos há tempos estão intrigados que você escolheu dispensar  os moradores de Gaza de suas preocupações sobre direitos universais e, francamente, ficamos cansados de esperar por uma explicação convincente. Então pedimos a você que atente para a nossa viagem a Gaza como a nossa tentativa de implementar a sua retórica sobre o que o cidadão comum pode fazer - não apenas para "falar", mas também agir para satisfazer as aspirações mais amplas das pessoas comuns de Gaza.

Em 20 de maio, você terá a oportunidade de informar o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de nossa intenção de navegar para Gaza no próximo mês. Você provavelmente já foi informado sobre a vasta ofensiva diplomática e publicitária de Israel para evitar que o nosso barco e os outros barcos da flotilha internacional embarquem em Gaza.

Os israelenses, determinados a fazer valer o seu bloqueio ilegal, podem sentirem-se encorajados pela falta de resposta à morte de nove passageiros - incluindo um cidadão norte-americano – na flotilha de 2010 e o ferimento de dezenas de passageiros pacíficos. Esta é sua chance de desiludir os israelenses da noção de que eles podem atacar civis desarmados com impunidade. Este ano nós esperamos que você fale por nós de antemão.

E por favor não tente fingir que US $3 bilhões de nossos impostos — nosso presente anual para Israel — não pode ser convertido num tipo de influencia que poupará "The Audacity of Hope" de danos nas mãos das "Forças de Defesa de Israel".

Finalmente, permita-me sugerir pontos de discussão susceptíveis de não estarem incluídos nos seus documentos informativos. Esses pontos transcendem a retórica e originam-se de uma herança de fé que você compartilha com Netanyahu. Eles lidam com o fazer justiça - a preocupação dos profetas da tradição judaico-cristã.

Antes da reunião com Netanyahu, tenha um olhar para o que diz Isaías sobre "anunciar liberdade aos cativos e libertação aos prisioneiros" e como Jesus de Nazaré repete isso, palavra por palavra, oito séculos mais tarde. Por favor, reflita a sério sobre isso, e esteja preparado para colocar a justiça acima da política.

E, por favor, deixe-nos – e o mundo- saber como anda essa discussão.

Atenciosamente,

Ray McGovern


*Ray McGovern trabalha no  Tell the Word (Informe ao Mundo), o braço editorial da Igreja Ecuménica do Salvador, em Washington, DC. Durante sua carreira como analista da CIA, ele preparou e informou o Relatório Diario do Presidente e presidiu a Estimativa Nacional de Inteligência. Ele é membro do Grupo de Coordenação do Veteran Intelligence Professionals for Sanity (VIPS) (Profissionais Veteranos da Inteligencia pela Razão).


Traducao: Emir Mourad

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Leiam o artigo de junho de 2010 quando Israel assassinou os pacifistas a bordo de um dos barcos da Primeira Flotilha Internacional de Solidariedade a Gaza:


ATAQUE A FROTA PACIFISTA: PURO TERRORISMO DE ESTADO

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