sábado, 9 de agosto de 2014

Acordo entre governo do RS e empresa de armas israelense pode ser cancelado

07 de agosto de 2014

 Jornalismo B - Alexandre Haubrich

O acordo entre o governo do estado do Rio Grande do Sul e a AEL, subsidiária da israelense Elbit, tem boas chances de ser cancelado, de acordo com fontes de dentro do governo consultadas pelo Jornalismo B.

A Elbit Systems é uma das principais empresas de armas de Israel, e foi a responsável pela construção do muro na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel. Prejudicado pela perda de um edital no valor de R$ 2,4 bilhões da Finep, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e pela pressão social após os ataques israelenses à Faixa de Gaza, o acordo poderá ser enterrado nas próximas semanas.

Governo pode cancelar acordo com empresa de armas israelense


Segundo as fontes consultadas pelo Jornalismo B, o acordo entre o governo gaúcho e a AEL havia nascido de um objetivo concreto, a disputa do edital da Finep chamado “Inova Aerodefesa”. Como não houve a conquista do edital, cujo resultado saiu ainda no ano passado – sem grande divulgação para não atrapalhar um possível avanço do acordo – o que sobra é a questão política. Com a atual ofensiva israelense em Gaza, a pressão de lado a lado aumentou.

O acordo dava conta da construção de um polo de pesquisas aeroespacial, em uma parceria que incluía também universidades gaúchas. O programa aeroespacial gaúcho tem outros projetos, inclusive com a Universidade Federal de Santa Maria, o que não tornaria necessário insistir em um acordo que pode ser prejudicial politicamente e trazer pouca vantagem econômica. A gravidade dos acontecimentos na Palestina e a pressão da comunidade palestina e de movimentos de solidariedade fortaleceram a tese de cancelar o acordo.


Enquanto isso, em reunião realizada na tarde desta quinta-feira entre o governador Tarso Genro e o embaixador palestino Ibrahim Al Zeben, ficou definido que o governo iniciará uma campanha de solidariedade aos refugiados com coleta de alimentos, remédios e recursos para a reconstrução de Gaza.
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07/08/2014




11/08/2014



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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Judaísmo não é sionismo

“Não é ser antissemita negar aos grupos dominantes do sionismo o direito de cometer crimes de limpeza étnica… “

Israel, sionismo, judaismo e antissemitismo
                                                                                                         Em primeiro plano, na montagem, Bibi Netanyahu


O Conversa Afiada reproduz artigo enviado por Breno​ Altman:


O presidente da Confederação Israelita do Brasil, Claudio Lottenberg, publicou nesta Folha um artigo instigante. O título embute uma premissa fundamental: “Antissionismo é antissemitismo”. Trata-se de conveniente cláusula para interdição do debate: não seria possível confrontar as ideias de Theodore Herzl sem se confundir com os que levaram seis milhões de judeus ao extermínio.

Tal escudo moral, amparado na vitimização, resvala para o cinismo. Sucessivos governos sionistas, afinal, transformaram Israel em país ocupante de territórios alheios, impedindo a soberania de outro povo, o palestino. Os requintes de brutalidade para manter essa dominação colonial, nos últimos anos, ofendem a comunidade internacional. O álibi do Holocausto, nessas circunstâncias, constitui insulto à humanidade e à memória judaica.

Lottenberg nem sequer se refere ao massacre de Gaza, mesmo diante dos corpos de mulheres e crianças. Prefere apresentar versão edulcorada do sionismo, que seria “a expressão moderna da autodeterminação nacional judaica”. Não faz qualquer questão de se diferenciar dos bandos mais reacionários, como o Likud de Benjamin Netanyahu.

O autor vai ainda mais longe. Para ele, os judeus “definem-se por uma religião (o judaísmo), uma língua (o hebraico) e uma terra (Israel)”. De uma penada, expurgou, por exemplo, os judeus que são ateus, aqueles cuja língua é a do país no qual vivem e os que não consideram primordial a existência de Israel.

Atualmente hegemônico entre os judeus, o sionismo é apenas uma corrente de opinião, que se caracteriza por abordagem nacionalista. Não equivale a eventual código histórico-cultural dos povos judeus. Trata-se tão somente de uma orientação político-ideológica fundida à religião e ao Estado.

O epicentro de seu discurso sempre foi a criação de uma “pátria judaica”. Vários dos fundadores do sionismo eram agnósticos, mas selaram aliança com chefes religiosos para reforçar seu poderio, ainda que às custas de construir o Estado de Israel como entidade confessional.

Ao contrário da autodeterminação dos negros na África do Sul pós-Mandela, forjando uma república laica e não racial, o nacionalismo sionista pressupõe supremacia judaica e religião estatal. Essa concepção levou a uma nação com tripla personalidade: democracia para judeus, cidadania de segunda classe para árabes-israelenses e regime de apartheid para palestinos dos territórios ocupados.

Nem todos os sionistas, é verdade, são defensores do colonialismo. Muitos, como o próprio Lottenberg, são partidários da solução dos dois Estados e da retirada para as fronteiras anteriores a 1967. Constitui manobra repulsiva, porém, afirmar que seja antissemitismo a contraposição ao sionismo. Essa é a lógica que dirigentes sionistas sempre quiseram impor aos críticos da política belicista e expansionista de Israel.

Não é ser antissemita negar aos grupos dominantes do sionismo o direito de cometer crimes de limpeza étnica, discriminação e agressão armada contra o povo palestino.

Não são definitivamente antissemitas os judeus que, honrando longa história de participação nas lutas pela emancipação dos povos e pela paz, se apresentam para combater a doutrina supremacista que rege o Estado de Israel.

BRENO ALTMAN, 52, jornalista, é diretor do site Opera Mundi

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