segunda-feira, 15 de maio de 2017

Al Nakba, a catástrofe palestina: 69 anos


 15 DE MAIO DE 1948

Há 69 anos, mais de 750 mil palestinos foram expulsos de suas terras e lares. A catástrofe continua hoje como mais de 7 milhões  de refugiados palestinos que tem o direito de retornar negado por Israel. 


69 anos da catástrofe palestina



FILME “SANAÚD – VOLTAREMOS “  SEGUIDO DE DEBATE

20/maio – sábado – 16 h - Esporte Clube Sírio – Entrada franca

Av. Indianópolis, 1192 - Planalto Paulista, São Paulo – SP


Com Emir Mourad – Editor do Blog Sanaúd e ex-secretário geral da FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil


Filme Sanaúd (Voltaremos) – 30 minutos

Em abril de 1980, uma delegação brasileira - formada por membros da Comissão de Justiça e Paz, deputados, jornalistas, líderes sindicais, historiadores, representantes da UNE (União Nacional de Estudantes) e da comunidade negra - viajou para o Oriente Médio. No Líbano, foram recebidos por Yasser Arafat, líder da OLP (Organização pela Libertação da Palestina) e acompanharam os conflitos entre israelenses e palestinos que já dizimou milhares de pessoas. Documentário produzido por uma equipe de cinema independente, nos campos de refugiados palestinos da Síria e do Líbano.
Direção e roteiro: JOSÉ ANTONIO DE BARROS FREIRE
Fotografia: JORGE BOUQUET


Embaixada do Estado da Palestina no Brasil convida




15 de maio de 1948: A guerra que não terminou


Vinicius Valentin Raduan Miguel* 


Todos os anos, nesta data, é relembrado o que os árabes/palestinos chamam de Al'Nakba (A Catástrofe) ou o que os judeus-israelenses comemoram como a Guerra de Independência, quando o Estado de Israel foi criado.

Uma problemática acompanhou a criação do Estado de Israel: Israel é um projeto que prega a exclusividade étnica e lingüística de um grupo (judeu/hebraico) em detrimento de todos os outros. A questão posta nos anos iniciais da colonização era "como lidar com a população árabe que lá vivia?". A solução encontrada foi uma deliberada e metódica eliminação física e cultural dos povos tradicionais, uma prática que encontra seu conceito jurídico na definição de "limpeza étnica". Desta forma, no ano de 1948, 531 vilas, 11 áreas urbanas e 30 cidades foram totalmente destruídas. No total, aproximadamente 800.000 pessoas (mais do que metade da população na época) foram expulsas (1) formando a atual massa de quatro milhões de refugiados que habitam os países vizinhos.

Refugiados palestinos - Al Nakba
Palestinos expulsos carregando seus pertenencias durante a Nakba, en 1948.  Foto: Fred Csasznik

Relembrar este dia é fundamental, pois marca uma data que tragicamente não terminou. A Guerra de 1948 não terminou por duas razões: (a) Israel se recusa a reconhecer o crime que cometeu e, desta maneira, aceitar as responsabilidades advindas de sua prática, como aceitar o retorno dos refugiados e/ou indenizar os sobreviventes expulsos de suas terras e; (b) o fator ideológico que motivou a guerra persiste. Em outras palavras, o projeto de Israel enquanto Estado sem árabes continua e a prática de limpeza étnica é um fantasma constante.

A analogia com o apartheid (2) é evidente: um Estado de brancos sem negros é inaceitável, mas um Estado de judeus sem árabes é permissível. Esta é a origem de todos os conflitos na região - muito além da concepção reducionista de embate apocalíptico-religioso em que uma aliança "Européia/Ocidental/Cristã" da "bondade" enfrenta os "malvados" "Orientais/Muçulmanos/Anti-Cristãos"3. Mas contestar esta prática racista é violência e a violência do fraco, mesmo que injustificada e em resposta a uma prévia violência, é terrorismo. Em contrapartida, a violência do poderoso se justifica e apresenta-se como legítima defesa!

Falar em enfrentamento entre Israel e Palestina esconde ainda outros problemas, não menos sutis. Mascara-se propositalmente que Israel é um Estado e a Palestina não existe enquanto tal. A Palestina persiste em um limbo jurídico definido como "territórios ocupados", uma condição em que a potência ocupante é responsável de fato pela administração. É sob estes fatos ignorados e falsificados pela mídia que é preciso entender os últimos acontecimentos na região, como a guerra em 2006 contra o Líbano e o recente massacre em Gaza, iniciado em dezembro de 2008.

A violência israelense, como todas as agressões colonialistas são desproporcionais. Na Guerra de 2006 contra o Líbano, por exemplo, são 44 civis israelenses mortos contra 1191 civis libaneses; na Guerra de 2008-2009 contra Gaza foram (3) civis israelenses contra 926 civis palestinos. Mas não só de nefastas estatísticas que se faz a desproporcionalidade. A cobertura histórica também é desproporcional e são poucas as menções feitas à tragédia árabe-palestina de 1948, contribuindo para seu "apagamento".

Neste sentido, a maior eliminação provocada por este verdadeiro crime de limpeza étnica foi a supressão do acontecimento da História, de maneira que ninguém sequer menciona este outro holocausto (4). Contra isso, celebrar o Dia da Catástrofe é lembrar. É um projeto educativo denunciando a limpeza étnica da Palestina como um projeto inacabado de Israel. Lembrar os métodos e práticas israelenses que se arrastam do passado até os dias de hoje devem servir para impedir que o plano de eliminação da Palestina se concretize. Repetindo o mantra que já nos acostumamos a ouvir: Nunca mais!

(1) PAPPE, Ilan. The ethnic cleansing of Palestine. Oneworld Publications, Oxford: 2007.

(2) Para mais informações, o website http://ApartheidNaPalestina.blogspot.com/ possui uma valiosa coletânea de artigos sobre o assunto.

(3) Não esquecer que existem outros grupos religiosos entre os palestinos, como cristãos
.
(4) Existem projetos de leis no parlamento israelense que buscam inclusive proibir manifestações lembrando o dia!



*Vinicius Valentin Raduan Miguel é cientista social pela Universidade Federal de Rondônia e mestrando em Ciência Política pela Universidade de Glasgow, Escócia. 


Nota do Blog: Este artigo foi publicado em 2009 e mantém a sua atualidade, pois Israel continua ocupando a Palestina,  realizando a limpeza étnica e negando/impedindo o direito de retorno dos refugiados à seus lares e sua terras.

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DOCUMENTÁRIO: A HISTÓRIA SIONISTA (THE ZIONIST STORY)

Do autor Renen Berelovich:   "Recentemente concluí um documentário independente, A história Sionista, no qual quero apresentar não apenas a história do conflito Israel/Palestina, mas também as razões centrais do mesmo: a ideologia sionista, seus objetivos (passados e atuais) e seu firme controle não somente da sociedade israelense mas também, e de modo crescente, da percepção que os ocidentais têm do Oriente Médio.”

O autor combina com êxito imagens de arquivo com comentários próprios e de outros, como Ilan Pappe, Jeff Halper, Terry Boullata e Alan Hart.




A LIMPEZA ÉTNICA DA PALESTINA E OS MITOS DA CRIAÇÃO DE ISRAEL

Assista a entrevista (legendada em português) com o historiador israelense ILAN PAPPE, onde discorre sobre como o sionismo, de forma planejada, executou e continua executando a limpeza étnica da Palestina: ocupação e roubo da terra, eliminação física e expulsão dos palestinos, apagamento da cultura e da história palestina. O mito da "guerra de defesa" de 1948. O mito que os palestinos abandonaram seus lares e terras. . A lógica sionista do massacre de Deir Yassin. O mito da democracia israelense. As perspectivas para o futuro.A perseguição que sofreu na Universidade Uma entrevista de um judeu que foi em busca da verdade e enfrentou todas as pressões com altivez e coragem.




A INVENÇÃO DA TERRA DE ISRAEL

Nesta conferência, o historiador israelense Shlomo Sand expõe a essência de seu novo livro, A invenção da terra de Israel, e debate com o público presente as ideias por ele desenvolvidas nesta obra e em seu livro anterior (A invenção do povo judeu).

Com sua costumeira contundência, Shlomo Sand desconstroi por completo a mitologia erguida pelos sionistas através da manipulação de citações bíblicas. O propósito de tal manipulação é de tentar justificar com argumentos religiosos a ocupação da Palestina e a expulsão de grande parte dos habitantes autóctones para, em seu lugar, assentar os contingentes de pessoas de ascendência judaica (majoritariamente oriundos da Europa oriental) que o sionismo conseguiu levar para lá.


PARTE 1









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SAIBA MAIS SOBRE A NAKBA:













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terça-feira, 9 de maio de 2017

Palestina: "Freud anteviu a catástrofe"

Freud, que manteve uma correspondência com Einstein sobre a guerra e as pulsões que levam os homens a matar e exterminar seus semelhantes, nunca defendeu o sionismo.


Leneide Duarte-Plon, de Paris* - Carta Maior


Palestinian loss of land - 1946 to 2005


Pelo que vemos se desenhar no horizonte com a nova aliança Trump-Netanyahu - que no encontro de ontem, em Washington, prepararam o mundo para o fim do sonho de criação do Estado Palestino - a caixa de Pandora está prestes a ser aberta. Em Israel, uma multidão de fundamentalistas fanáticos prega a demolição da Mesquita de Al-Acqsa, em Jerusalém, para a construir no local o novo Templo de Salomão.

Ora, essa mesquita é o terceiro lugar mais sagrado do Islã e foi construída no século VII, onde Maomé teria sido arrebatado ao céu.

O roteiro do apocalipse pode estar começando a ser escrito, uma vez que os países muçulmanos não vão ver a destruição da mesquita Al-Acqsa de braços cruzados. Sem falar do projeto de Trump de transferir a embaixada americana para Jerusalém. Como se sabe,  a parte Leste da cidade, hoje ocupada por Israel, seria a capital do sempre adiado Estado Palestino.

Freud, que manteve uma correspondência com Einstein sobre a guerra e as pulsões que levam os homens a matar e exterminar seus semelhantes, nunca defendeu o sionismo.

Ao contrário, manifestou-se contra a criação de um Estado para os judeus na Palestina. Uma carta na qual ele expressa claramente sua pouca simpatia pelo projeto sionista foi escondida deliberadamente durante décadas pelos defensores da causa sionista.

As cartas de Freud são um capítulo à parte na sua obra. A maior parte delas é conhecida e estudada exaustivamente. Um terço das cartas, classificadas como confidenciais por seus descendentes e herdeiros, faz parte do “Arquivo Freud” e encontra-se na Biblioteca do Congresso, em Washington.

A carta em que Freud faz restrições ao sionismo foi escrita em 26 de fevereiro de 1930 e endereçada a Chaim Koffler, membro da Fundação para a Reinstalação dos Judeus na Palestina (Keren Hayesod). Koffler havia pedido a Freud, como a outros intelectuais judeus, um texto de apoio à causa sionista.

Traduzida por Jacques Le Rider para o francês, ela foi publicada pela revista Le Nouvel Observateur em dezembro de 2004, depois de ter sido revelada pelo jornal italiano Corriere della Sera, em julho de 2003.  Em 1978, fora citada em inglês num artigo dedicado a Freud e a Herzl e em 1991, depois de ter sido mencionada em uma revista semanal argelina para mostrar que Freud não tinha simpatia pelo sionismo, ela foi finalmente traduzida em inglês pelo psicanalista americano Peter Loewenberg, para provar que Freud fora vencido pela História.

Nenhum olho humano deve ler essa carta


O texto da carta mostra o quanto Freud era cético em relação ao projeto sionista de reinstalação dos judeus na Palestina. Por isso mesmo, ela foi cuidadosamente escondida por tanto tempo para cumprir a promessa de Abraham Schwadron a Koffler de que “nenhum olho humano a veria”. Dada a autoridade moral do autor, a carta poderia ser uma pedra no caminho dos que construíam o projeto sionista.

Em um dos trechos, Freud diz: “não penso que a Palestina possa vir a tornar-se um Estado judaico”. Como lembra a historiadora da psicanálise Elisabeth Roudinesco, Freud combatia todas as formas de religião, inclusive o judaísmo. “Ele aceitava dificilmente a idéia de um Estado judaico viável, pois tal Estado feito por e para os judeus não poderia ser, no seu entender, um Estado secular”.

No final da carta, Freud fala do sionismo como de “uma esperança injustificada” e diz que não se sente capaz de exercer o papel de consolador de um povo “perturbado” por essa esperança.

Eis o texto que traduzo para o português a partir da tradução francesa de Le Rider:

Viena, 19 Berggasse,
         26 de fevereiro de 1930.
Senhor Doutor,

Não posso fazer o que o senhor deseja. Minha dificuldade em despertar o interesse do público por minha personalidade é impossível de superar e as circunstâncias críticas atuais não me parecem favorer essa empreitada. Quem quer influenciar o maior número de pessoas deve ter algo de empolgante a dizer, e isso meu julgamento pouco entusiasmado pelo sionismo não me permite. Tenho com certeza os melhores sentimentos de simpatia pelos esforços consentidos livremente, sinto-me orgulhoso pela nossa universidade de Jerusalém e me regozijo da prosperidade dos estabelecimentos dos nossos colonos. Mas, por outro lado, não penso que a Palestina possa vir a tornar-se um Estado judaico nem que o mundo cristão, como o mundo islâmico, possam um dia estar dispostos a confiar seus lugares santos aos cuidados dos judeus. Me pareceria mais sensato fundar uma pátria judaica sobre um solo não conotado historicamente; decerto, sei que para um objetivo tão racional, jamais seria possível suscitar a exaltação das massas nem a cooperação dos ricos. Admito também, com pesar, que o fanatismo irrealista de nossos compatriotas tenha sua parte de responsabilidade no despertar da desconfiança dos árabes. Não posso ter a mínima simpatia por uma piedade mal interpretada que faz de um pedaço do muro de Herodes uma relíquia nacional e por causa dela desafie os sentimentos dos habitantes da região.

Julgue o senhor mesmo se, com um ponto de vista tão crítico, eu posso ser a pessoa certa para fazer o papel de consolador de um povo perturbado por uma esperança injustificada. Freud.

Dezessete anos depois de escrita a carta, o Estado de Israel deixou de ser um sonho dos sionistas para se tornar realidade.

Lugares santos no centro da querela


Mas quem pode dizer que Freud não anteviu a catástrofe?

Elisabeth Roudinesco assinala que “Freud teve a intuição magistral de que a questão da soberania dos lugares santos estaria um dia no centro de uma querela quase insolúvel, entre os três monoteísmos. Ele temia, com razão, que “uma colonização abusiva acabasse por opor, em torno de um pedaço de muro idolatrado, os árabes fanáticos e anti-semitas aos judeus fundamentalistas e  racistas”.

Num magnífico artigo publicado no jornal Le Monde de 18 de agosto de 2006, o filósofo Etienne Balibar e o físico Jean-Marc Lévy-Leblond percorrem a história de Israel para analisar a atualidade política do Oriente Médio e todas as ameaças que pesam sobre o mundo, em função do barril de pólvora em que se transformou a região.

No terceiro parágrafo do brilhante texto, os dois intelectuais escrevem: “A segunda guerra mundial foi um ponto de ruptura: ela trouxe o enfraquecimento do império britânico e levou à Palestina centenas de milhares de pessoas que escaparam à exterminação dos nazistas. O que conferiu ao Estado de Israel, criado pela “partilha” de 1947, uma nova legitimidade moral, sancionada pelo reconhecimento internacional quase unânime e pela admissão às Nações Unidas. O que não impede que o Estado que se proclamou como “Estado judaico” (apesar da presença em seu seio de uma grande minoria árabe muçulmana e cristã) e se deu por missão reunir no seu solo o maior número possível de judeus religiosos ou leigos do mundo inteiro (imigrantes recentes ou assimilados há muitos anos em seus países respectivos, vindos de culturas diversas e sendo vítimas de anti-semitismo em graus muito diferentes) tenha nascido na guerra e mesmo no terrorismo. Isso por causa da hostilidade irredutível (ao menos até a iniciativa do presidente Sadat) dos Estados árabes que o cercavam, por causa do próprio nacionalismo e panarabismo ascendente que os levavam a recusar a instalação de Israel na Palestina, depois a desejar sua destruição e padecer sua intenção simétrica, mais ou menos confessada, de expulsar a população árabe autóctone.

Balibar e Lévy-Leblond continuam: “A frase de Golda Meir: ‘uma terra sem povo para um povo sem terra’ – em total contradição com a realidade – trazia em si uma lógica de eliminação, que continha em germe os elementos da catástrofe atual. Essa lógica de eliminação foi imediatamente denunciada por certos intelectuais (como Einstein, Buber, Arendt ou o fundador da universidade hebraica de Jerusalém, Judah Magnes)”. 


* Leneide Duarte-Plon é autora de « A tortura como arma de guerra-Da Argélia ao Brasil : Como os militares franceses exportaram os esquadrões da morte e o terrorismo de Estado » (Editora Civilização Brasileira, 2016)».



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