O Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela
Paz (Cebrapaz) soma-se aos movimentos mundiais solidários à luta do povo
palestino no repúdio às ações criminosas do regime de Israel. Além disso,
reitera seu apoio ao povo palestino na luta contra a opressão e a ocupação
sionista. A escalada da violência pelos soldados israelenses em Jerusalém
Oriental e na Cisjordânia após os bombardeios da Faixa de Gaza sitiada resultou
em mais uma vítima fatal, o ministro Ziad Abu Ein, figura histórica da
resistência palestina e que tinha entre suas principais lutas a denúncia do vergonhoso
muro de segregação construído por Israel na Cisjordânia.
Neste Dia dos Direitos Humanos, recebemos a triste e
ultrajante notícia do seu assassinato. Abu Ein foi nomeado para a Comissão
Contra o Muro e as Colônias ilegais israelenses na Cisjordânia. Antes disso,
foi subsecretário do Ministério dos Prisioneiros, dedicado à luta contra as
detenções arbitrárias e massivas por parte do regime israelense. Ele também
esteve preso em cárceres israelenses e, antes, nos Estados Unidos, que os
entregaram a Israel em 1981, apesar de várias resoluções específicas sobre o
seu caso e que demandavam sua libertação.
A resolução 36/171 da Assembleia Geral deplorava a decisão
do governo estadunidense de “extraditar” Ziad Abu Ein a Israel, enquanto
reafirmava a "legitimidade da luta pela independência, pela integridade
territorial, a unidade nacional e a libertação da dominação colonial e
estrangeira ou subjugação estrangeira através de todos os meios
disponíveis."
Mesmo assim, o ministro foi morto por soldados israelenses
que o agrediram e que mais uma vez reprimiram uma manifestação com bombas de
gás lacrimogênio, balas de metal revestidas de borracha e outros métodos
brutais frequentemente empregados pelos soldados, durante um protesto contra o
muro da vergonha, no contexto do Dia dos Direitos Humanos. Seu assassinato
demonstra mais uma vez o completo desrespeito e a sistemática violação dos
princípios mais básicos da Carta das Nações Unidas, do Direito Internacional
Humanitário e da Declaração Universal dos Direitos Humanos por parte do regime
agressor e ocupante de Israel.
O Cebrapaz soma-se às entidades e movimentos sociais de todo
o mundo que apelam veementemente pelo fim da impunidade israelense, da ocupação
criminosa e da opressão sistemática dos palestinos, com violações flagrantes
dos seus direitos humanos mais básicos. Afirmamos nossa solidariedade ao povo
palestino em sua justa causa pela autodeterminação, por um Estado livre e
soberano, e pela responsabilização do regime sionista e criminoso de Israel.
Socorro Gomes,
Presidenta do Cebrapaz
BREVE BIOGRAFIA DO MINISTRO PALESTINO ASSASSINADO POR ISRAEL
RAMALLAH 10/12/2014 – ZIAD ABU EIN MOHAMMED AHMED é mais um
mártir na infindável lista de mártires assassinados por Israel. Nascido em 22/11/1959, deu provas, logo cedo,
de que seria um grande líder, ao ser preso, pela primeira vez, em 04/11/1977,
antes de completar 18 anos, por integrar a Resistência Palestina. Com menos de
vinte anos foi preso pela segunda vez (21/08/1979), tendo sido libertado
somente em 20/05/1985, para logo em seguida ser detido pela terceira vez
(30/07/1985).
Na primeira INTHIFADA, quando Israel adotou, contra a
população civil palestina que guerreava com pedras, a chamada “política da mão
de ferro”, em que as crianças, adolescentes e jovens palestinos, quando
apanhados pelos soldados de ocupação, tinham seus membros fraturados com golpes
de pedras ou armas, foi ele, ZIAD ABU EIN, o primeiro palestino a ser preso
pelo regime sionista. Libertado, acabou sendo novamente detido, agora pela
quarta vez, administrativamente (prisão sem acusação ou direito a defesa),
permanecendo muitos anos no cárcere do ocupante israelense.
Novamente posto em liberdade, foi impedido de viajar e seus
movimentos foram vigiados sistematicamente, sempre com o objetivo de impedi-lo
de ir e vir ou de exercer vida política normal. E assim permaneceu até que, em
2002, quando da 2ª. INTHIFADA, foi novamente preso, para mais uma vez cumprir
prisão administrativa.
Devido a sua envergadura política na Resistência Palestina,
amplamente reconhecida, ZIAD ABU EIN acumulou inúmeras funções e cargos no seio
da Resistência e da Administração Palestina, dentre elas destacando-se: membro
da União dos Industriais Palestinos (1991); Diretor Geral da Autoridade de
Supervisão, na Cisjordânia (1994); diretor do órgão de controle interno no
movimento Al Fatah na Cisjordânia (1993); Diretor da Associação de Veteranos,
integrada pelos revolucionários palestinos (1996): membro do Bureu Político
Supremo do Al Fatah (1995); Responsável pelo Comitê dos Prisioneiros Palestinos
(2003-2007); subsecretário do Ministério para Assuntos dos Prisioneiros (2006);
e atualmente era Ministro da Pasta para Assuntos da Ocupação e encarregado do
dossiê da luta contra o MURO, bem como da resistência ao confisco de terras
palestinas e sua colonização ilegal (2014). Além disso, foi eleito para o
Conselho Revolucionário do Al Fatah.
Sua proeminência para a Resistência Palestina e para seu
povo pode ser medida por algumas das passagens de sua vida. Ele passou, por
exemplo, 13 anos preso em cárceres israelenses, tendo sido um dos palestinos
aprisionados diretamente pelos EUA, talvez o único real aliado de Israel nos
dias de hoje. Importante destacar que ele foi o primeiro preso palestino a ser
entregue pelos EUA para Israel, no ano de 1981. Isto levou a ONU a emitir 7
Resoluções pedindo sua soltura, dentre elas a 36/171, de 16/12/1981, na qual as
Nações Unidas expressaram lamento e preocupação com a iniciativa dos EUA de
extraditá-lo para Israel, quando foi condenado à prisão perpétua, o que lhe
valeu o título de primeiro palestinos da Cisjordânia ocupada a sofrer tal
condenação.
Sua prisão jamais obteve o reconhecido da comunidade
internacional. Nesta ocasião, ZIAD ABU EIN invocou a Resolução 194, da ONU, que
exige de Israel acatamento do DIREITO DE RETORNO dos Palestinos expulsos entre
1947 e 1949, quando da LIMPEZA ÉTNICA que resultou na expulsão ou morte de mais
de 60% da população palestina da época, que perfazem hoje os 5,5 milhões de
refugiados espalhados pelo Oriente Médio, parte dos quais em campos de
refugiados em Gaza e Cisjordânia.
Resulta de sua lavra, também, a iniciativa popular pelo
DIREITO AO RETORNO, de 2008, quando defendeu, também, a coexistência pacífica
entre palestinos e israelenses, conquanto houvesse o reconhecimento dos
direitos nacionais palestinos, bem como civis e humanitários, no âmbito da
criação do Estado Palestino, soberano e seguro.
Além de suas contribuições na resistência e na vida política
enquanto membro de Al Fatah e do Governo Palestino, ZIAD ABU EIN tem vasta
contribuição intelectual ao pensamento palestino contemporâneo.
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