Do Jornal do Iguassu
Foz do Iguaçu - PR - Jihad Ahmad Abu Ali nasceu em Foz do Iguaçu. Estudou na Jordânia de 1991 até 2003. Aos 33 anos de idade, é casado com Sarah Atari, e tem um filho. Iniciou sua atividade em defesa do povo palestino em 2008, quando participou do Palestinian Youth Network (PYN ), um congresso internacional de jovens palestinos, representando o Brasil. Atualmente é Presidente da Sociedade Árabe Palestina Brasileira de Foz do Iguaçu, membro da FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil e membro do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz – CEBRAPAZ, do Paraná.
Foz do Iguaçu - PR - Jihad Ahmad Abu Ali nasceu em Foz do Iguaçu. Estudou na Jordânia de 1991 até 2003. Aos 33 anos de idade, é casado com Sarah Atari, e tem um filho. Iniciou sua atividade em defesa do povo palestino em 2008, quando participou do Palestinian Youth Network (PYN ), um congresso internacional de jovens palestinos, representando o Brasil. Atualmente é Presidente da Sociedade Árabe Palestina Brasileira de Foz do Iguaçu, membro da FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil e membro do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz – CEBRAPAZ, do Paraná.
Apesar de sua descendência árabe, de sua árvore genealógica
palestina e de ser presidente da Sociedade Palestina de Foz do Iguaçu, Jihad
Abu Ali não teve o seu ingresso, tampouco sua saída da Palestina, facilitados
pelas autoridades israelenses. Assim ele começa o seu relato sobre a missão de
solidariedade ao país ocupado:
“Começo a relatar a partir de minha entrada na Palestina.
Estávamos o vereador Paulo Porto (PCdoB de Cascavel), que tem cara de europeu;
o vereador Bobato, com cara de brasileiro; e eu, com nome revelando a
descendência árabe. Com esse relato quero mostrar como o Estado de Israel é um
estado racista. Só pelo fato do Porto ter aparência de europeu, falaram para
ele: ‘Vá logo!’ (Go, go, go! – em inglês) e carimbaram rapidamente seu
passaporte. Para o vereador Bobato já fizeram algumas perguntas, como se tinha
dinheiro, cartão de crédito, passagem de retorno, e o que foi fazer no país.
Mas eu, pelo fato de meu nome ser evidentemente árabe, sem ao menos saberem
minha origem, se sou palestino ou não, já pediram para eu aguardar e colaram
uma etiqueta em meu passaporte brasileiro escrito ‘segurança’, para ser
revistado”, conta o presidente da Sociedade Palestina em Foz do Iguaçu.
Segundo Jihad, essa forma segregacionista de tratar qualquer
um que tenha descendência árabe, sem importar se é brasileiro de pai e mãe,
independente de raça ou cor, é uma constante. Assim começou a entrada da
delegação de Foz na Palestina, que foi através do porto, porque para entrar na
Palestina tem que passar pelo controle de Israel. Jihad foi retido para ser
interrogado e os vereadores seguiram viagem, porque essa foi a orientação que
receberam. Porto e Bobato voltaram duas vezes com a intenção de o liberar,
porém, sem sucesso. “Infelizmente, você se sente refém na mão do inimigo. Não
consegue fazer nada”, disse Jihad.
Os vereadores seguiram viagem, ingressando na Palestina, e
se encontraram com o prefeito de Jericó, enquanto o integrante de origem árabe
da delegação permaneceu por 5 horas nas mãos dos israelenses sendo interrogado.
O controle de Israel queria saber o que ele foi fazer lá e qual o objetivo da
visita. “Eu expliquei tudo, falei a verdade, até porque não havia o que
esconder”, explica Jihad. Porto e Bobato chegaram a acionar os governos
brasileiro e palestino, mas não houve muito o que fazer. “Lamentável! Eles
deveriam facilitar o meu acesso, por eu ser palestino. Essa é uma de lutas
nossas, dentro das medidas das Nações Unidas, que é o direito de retorno, que
nos foi tirado. Quem saiu do território palestino até 1967 não tem mais o
direito de retornar, não tem documento palestino”, relata Abu Ali.
O presidente da Sociedade Palestina em Foz do Iguaçu só
conseguiu entrar na Palestina no final da noite, quando encontrou com a
delegação e continuou a viagem. No retorno, o mesmo problema. Enquanto a saída
de outras pessoas não foi dificultada, mais uma vez Jihad foi o último a ser
autorizado a sair da Palestina, no sábado. Ou seja, ele foi o último a entrar
no dia 14 de novembro e o último a sair no dia 20, só pelo fato de ter um nome
de origem árabe.
DENÚNCIA. Prefeito de Beitunia fazendo denúncia sobre a
proibição imposta por Israel aos agricultores palestinos, os impedindo de
acessar as suas terras
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JORNAL DO IGUASSU – Jihad, dê-nos uma visão geral sobre essa
viagem.
Jihad Abu Ali - É muito difícil resumir uma cidade como
Jericó, que tem 10 mil anos, numa visita de seis dias. São 10 mil anos de
história e você não consegue conhecer em todos os detalhes. Foi uma visita com
uma agenda muito pesada, com aproximadamente 18 horas de trabalhos por dia. Os
vereadores trabalharam muito, com compromissos políticos, encontros com
ex-prisioneiros palestinos para contarem suas histórias, e muita coisa foi
registrada. O importante é que o povo palestino sentiu que tem gente do outro
lado do mundo que escuta a história deles, e está compromissado e comprometido
em divulgar e explicar o que ocorre na Palestina para o outro lado do mundo.
Isso foi notável. A gente percebeu que a importância e o carinho deles pela
delegação foi muito grande, porque sabem que a voz deles estava chegando para o
outro lado do mundo.
JI – Você vislumbra uma solução para essa opressão?
Jihad – O Estado de Israel tem que abrir mão da ocupação e
deixar os territórios invadidos, porque está ocupando um espaço que não é dele,
isso é visível. Os Palestinos que moram lá estão a 100, 200, 300 anos na terra.
Eu tenho tio, avô, bisavô, sepultados lá, a 20, 30, até 50 anos. Meus
familiares já estão ali a 300 anos. Então Israel está ocupando a nossa terra e
a cada dia tomam mais terras. Buscam colonos de qualquer lugar do mundo e
plantam dentro dos territórios para contaminar as regiões. Além de colocar os
invasores nas nossas áreas, alegam que vão proteger esses invasores e fazem um
cerco militar armado, dizendo que aquilo é uma área de segurança máxima, e
dificultando os palestinos de circular de um bairro a outro. Isso acontece
diariamente.
Jihad Abu Ali, apesar das dificuldades impostas para sua
entrada na Palestina, classifica que a missão foi cumprida, e que para o
sucesso da expedição foi fundamental a colaboração dos embaixadores do Brasil e
da Palestina. O Presidente da Sociedade Palestina de Foz do Iguaçu encerrou com
o sentimento de que a luta de seu povo está chegando no fim: “Sou palestino,
morei muito tempo lá, conheço a realidade. Mas, a experiência que vivemos,
minuto a minuto, dia-a-dia, lá, me mostrou que o povo palestino é um povo
feliz. Já o povo de Israel é medroso, se esconde atrás de armas, de cercas.
Este é o povo que está permanentemente com medo de ser atacado, enquanto o povo
palestino está todos os dias em pé, trabalhando, buscando sua sobrevivência. A
luta continuará. Já estamos a 68 anos ocupados, e essa ocupação está perto de
acabar. A história comprova que nenhuma ocupação durou mais de cem anos, então
está faltando um terço do tempo. Vamos ganhar essa luta, porque ela é a luta de
um povo justo”, afirma Jihad.
O vereador Nilton Bobato, que é professor, fez uma avaliação
da situação, e falou sobre os motivos que levaram Israel e Palestina a chegar
no grau de intolerância que há hoje, que se iniciou em 1948 e se agravou em
1967, fornecendo elementos para enriquecer essa narrativa tão educativa e
emocionante: “A Palestina é um país, uma terra que sempre existiu. Está ali há
milhares de anos. É onde nasceu Jesus Cristo, onde Maomé pregou, onde se gerou
boa parte da cultura ocidental. Em 1948, para resolver a questão da hegemonia
nazista, foi criado o Estado de Israel, que foi colocado em um território que já
existia. Foi colocado ali um outro país, não respeitando aquelas pessoas que lá
já estavam. Apesar disso, em 1967 houve uma reocupação desse território, a
partir desse estado criado. Desde então, eles ocupam todos os dias uma parte a
mais desse território. Israel não cumpre nenhum dos acordos internacionais que
foram firmados para desistirem daquele espaço. Então, todo aquele discurso de
que os dois Estados precisam existir, depende de um respeitar a soberania do
outro. Para entrar da Palestina precisa de autorização de Israel, isto é um
absurdo. A Palestina é um estado ocupado por Israel, e a cada dia colocam mais
gente dentro do território palestino. A ideia de Israel hoje, é acabar com a
Palestina. Esse é o princípio chamado limpeza étnica. É isso o que está
acontecendo na Palestina. Inclusive a produção agrícola é usurpada. Por
exemplo, 80% do território da cidade de Beitume hoje é ocupado por colonos
israelenses e os palestinos, para poderem produzir em suas próprias terras,
precisam de autorização de um policial de Israel, até mesmo para abrir o portão
da propriedade e colher as azeitonas produzidas em suas próprias oliveiras. A
única solução é o mundo entender que Israel precisa cumprir leis, tirar os seus
homens do território ocupado após 1948, que na época foi determinado pela ONU
que seria dividido entre as duas nações”.
Jihad também observa os mesmos aspectos apontados por Bobato
e entende que só há uma solução prática para a solução do conflito, que é o
Estado de Israel devolver a soberania do Estado Palestino.
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Importante Missão de Solidariedade que Jihad, Paulo Porto e Nilton Bobato fizeram. Esperamos logo poder fazer uma palestra com os três em Curitiba.
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