Do Brasil 247 - por Plínio Zúnica*
O trabalho doméstico é, por si, um absurdo. Em Israel,
porém, o absurdo ganha sempre novos limites, principalmente quando envolve a
exploração de minorias étnicas, e com o trabalho doméstico não poderia ser
diferente. Agora, na "única democracia do oriente médio", o valor da
exploração do trabalho doméstico de uma mulher é tabelado por origem étnica.
"Precisa de uma empregada? Está cansado de ser multado
por contratar imigrantes ilegais? Não quer contratar uma faxineira árabe por
questões de segurança? Está cansado de seguir a lei e depois ser processado por
empregados temporários?"
Esse é o texto no cabeçalho de um folheto publicitário que
vem sendo distribuído nas vias mais movimentadas do norte de Tel Aviv, a cidade
"mais progressista" de Israel. No dia 05 de fevereiro, a blogueira
israelense Tal Schneider recebeu este panfleto e denunciou a empresa, que
oferece serviços de diaristas e empregadas domésticas com valores diferenciados
de acordo com a sua etnia.
A empresa oferece a "solução" para as aflições dos
cidadãos israelenses, com um cardápio variado de mulheres para atender as
necessidades e níveis de racismo de cada cliente. De acordo com o flyer, a
empresa reconhece oficialmente que a carne mais barata do mercado é a carne
negra, uma vez que contratar uma empregada doméstica vinda de países africanos
custa 49,00 NIS (Shekel israelense, cuja cotação atual é de 1 para 1 com o
Real). Uma empregada do Leste Europeu sai por 52,00 NIS por hora. Já a hora de
trabalho uma empregada da parte ocidental da Europa custa 69,00 NIS, ou seja,
uma mulher do "mundo civilizado" vale 40% mais do que uma africana.
O jornal israelense Mako entrou em contato com a empresa,
que declarou que o anúncio é verdadeiro, que não há nenhum mal entendido, e que
em Israel não é ilegal pagar salários diferentes por motivos raciais.
Infelizmente, eles têm razão. A discriminação racial é legalizada em Israel, e
casos como este não são nenhuma novidade na nação mais racista e xenófoba do
planeta.
Não é nenhuma novidade que o apartheid racial é legalizado e
amplamente normalizado na sociedade sionista. Um exemplo das leis que garantem
o direito israelense de ser racista é o fato de que todo proprietário pode se
recusar a alugar imóveis para não-judeus, e é muito comum que árabes e negros
sejam considerados vizinhos indesejáveis. Pra além das medidas de racismo
governamental, existem as práticas cotidianas de uma sociedade profundamente
embriagada com a ideia de sua superioridade racial, como nos mostra o caso
recente de dois palestinos que foram expulsos de um voo porque cerca de setenta
israelenses se enfureceram com a ideia de dividir o seu precioso espaço com
árabes. Ou podemos citar o caso de outubro de 2015, quando uma reportagem do
Channel 2 de Israel revelou que os hotéis da rede Crown Plaza alertavam seus
clientes israelenses de que, infelizmente, teriam que passar pelo inconveniente
de terem que dividir as áreas comuns do hotel com árabes. Os exemplos são
infinitos.
O racismo israelense não é novidade, porém é muito comum que
se pense que o preconceito sionista seja apenas islamofóbico ou anti-palestino.
A propaganda de doutrinação sionista costuma usar, muito desonestamente, a
existência de judeus etíopes para alegar que não existe preconceito contra
negros em Israel. O caso desta empresa, no entanto, é apenas mais um dos
inúmeros exemplos que provam que a sociedade israelense não é apenas paranoica
com "questões de segurança" e "terroristas muçulmanos".
Israel é uma sociedade xenófoba e higienista, que não vê problemas em tabelar o
valor de mulheres de acordo com a cor de sua pele e origem étnica, da mesma
maneira que não vê problemas na existência de Holot, um campo de concentraçãono deserto do Negev, construído para encarcerar ilegalmente negros refugiados e
depois deportá-los à força para destinos aleatórios. Afinal, colonização,
racismo e exploração do trabalho são elementos indissociáveis, e o sionismo
moderno não é nada mais do que a perpetuação do colonialismo europeu.
Para saber mais sobre o racismo israelense contra povos
africanos, recomendo o site (em inglês) do jornalista David Sheen, que compila
reportagens e relatórios de ataques sionistas contra populações negras.
*Plínio Zúnica - Estudante de Letras, viveu no Egito e na
Palestina. Escreve também os blogs Descolonizações e Bebendo Blues. Contato:
zuni.plinio@gmail.com
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