Dez/2011
Por Abdel Latif*
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"Não posso vê-lo mais, é um mentiroso", disse o presidente francês sobre primeiro-ministro de Israel
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Em uma conversa reservada entre Sarkozy e Obama, o presidente francês acusou o primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de ser mentiroso. Vários políticos têm a mesma opinião sobre o israelense.
O porta voz da Casa Branca no governo Clinton, Joe Lockhart, em seu livro “A verdade sobre Camp David”, chamou Netanyahu de “mentiroso e enganador, um dos seres mais destestáveis que alguém pode conhecer”. “Quando ele abre a boca, pode ter certeza de que nada de verdadeiro sairá de lá” afirmou Lockhart.
Netanyahu não é apenas mentiroso, mas sobretudo criminoso e aqueles que o acusam de mentiroso, têm no ajudado a acobertar os crimes cometidos por ele e seu Estado.
A ocupação israelense da Palestina, os crimes cometidos diariamente contra o povo palestino e árabes em geral - matança de civis; destruição de casas, poços, olivais; construção de assentamentos exclusivos para colonos judeus em terras confiscadas dos palestinos e sírios; estado de guerra permanente no Oriente Médio – tudo isso é silenciado pelos governos americano e europeus!
O apoio incondicional oferecido para o Estado Judeu é tão criminoso quanto as políticas daquele Estado.
Há três meses, o próprio Netanyahu discursou na 66ª Assembléia Geral da ONU. Seu discurso pode ser resumido em um amontoado de mentiras, mas nenhum político europeu ou americano teve coragem de apontar as mentiras de Netanyahu.
Acusar alguém de mentiroso e ter atos políticos de quem engole as mentiras é sintoma de patologia a ser tratada. Trata-se de desvio moral reflexo do passado colonialista.
Entre as muitas mentiras no discurso do primeiro-ministro israelense, citam-se algumas:
1) “Em Israel, nossa esperança de paz nunca diminui. Nossos cientistas, médicos, inovadores usam seu talento para melhorar o mundo de amanhã” afirmou Netanyahu.
Os fatos desmentem Netanyahu.
Os médicos israelenses são acusados de participar na tortura de presos políticos palestinos. A tortura contra árabes é legalmente autorizada em Israel (país civilizado?).
Israel ocupa o 4º lugar na exportação de armas no mundo. Vários grupos criminosos, traficantes, regimes opressoras usaram e usam as armas de fabricação israelense.
De fato, os cientistas israelenses usam seu talento para criar armas, ou seja formas de subjugar através de mais e mais sofrimento ao ser humano. Isso nada tem de paz.
Médicos, rabinos e cientistas são parte da máfia do tráfico ilegal de órgãos no mundo, patrocinado pelo governo israelense.
Religiosos israelenses publicam livros racistas, patrocinados pelo Ministério da Educação, “justificando” a matança de crianças palestinas e inferioridade dos não-judeus.
Políticos que fazem parte do governo de Netanyahu descrevem os árabes como animais, cobras, que devem ser eliminados.
O mundo de amanhã sonhado por Netanyahu opõe-se aos sonhos do resto da humanidade.
2) “Vim aqui para falar a verdade. A verdade é que Israel quer paz, a verdade é que eu quero paz. A verdade é que até agora, os palestinos se recusaram a negociar”.
Discursou Netanyahu por mais de 40 minutos e conseguiu nenhuma verdade falar.
Israel não quer paz. Paz significa justiça, respeito às resoluções da ONU, não expansão, fronteiras definidas. Israel quer continuar pirata, à margem do Direito Internacional. Quer a submissão dos árabes, “a ralé de joelhos”, a muralha de ferro.
Israel atacou, matou e causou destruição em todos os países e povos vizinhos: palestinos, jordanianos, libaneses, sírios, egípcios. Atacou países distantes, Iraque e Tunísia, sem estado ou declaração de guerra.
Israel massacrou centenas de milhares de civis árabes, afundou o Liberty americano, cometeu atos de pirataria contra outros países, sequestrou avião etc
Todos os atos de Israel demonstram que o que Israel quer é a submissão, a dominação dos povos da região, a favor do sionismo e imperialismo.
Os palestinos estão negociando com Israel há mais de 20 anos e Israel cada vez mais engole o território palestino, degola a economia palestina e piora as condições de vida dos palestinos.
A fórmula aceita pela comunidade internacional para uma paz minimamente justa na região é simples: a retirada de Israel dos territórios ocupados em 1967, a criação do Estado palestino livre, independente com Jerusalém oriental como capital e uma solução justa, conforme o Direito Internacional e resoluções da ONU, para a questão dos refugiados.
Netanyahu fala “paz”, mas declarou repetidas vezes que Israel não se retirará para as fronteiras de 1967, que Jerusalém inteira pertence só aos judeus, oriental e ocidental para Israel. Recusa-se a discutir a questão dos refugiados. O direito de retorno é para os judeus (supostamente de dois mil anos atrás), nada de retorno aos não-judeus refugiados de 60, 40 anos atrás .
O que Netanyahu chama de paz nada tem a ver com o conceito que o restante da humanidade tem de paz.
3) “O Estado judeu de Israel sempre protege os direitos de todas as suas minorias, incluindo os mais de um milhão de cidadãos árabes de Israel”.
Em Israel, há mais de 30 leis para garantir os privilégios dos judeus contra a população árabe. O um milhão e meio de palestinos são 22% da população do Estado judeus (fronteiras de 1967), mas através de confiscos do Estado judeu, são donos de apenas 3% das terras.
Israel confiscou a terra árabe, destruiu aldeias e cidades palestinas.
Desde 1948, nenhuma aldeia ou cidade foi construída ou ao menos reconstruída para a população árabe, apesar do crescimento natural dessa população, que quase decuplicou.
No entanto, centenas de aldeias e cidades foram construídas nas terras confiscadas dos palestinos, para uso exclusivo dos judeus. Os palestinos são proibidos de morar ou mesmo alugar casas nessas cidades.
Os árabes são proibidos de comprar, alugar ou até trabalhar nas terras do Estado (90% da terra em Israel, confiscada dos árabes, é terra estatal, para uso exclusivo dos judeus).
Esses “cidadãos árabes” de Israel são considerados ameaça e são constantemente chamados de “câncer a ser extirpado”, “quinta coluna”, “bomba relógio “ .
Há declarações de políticos e religiosos judeus sobre a necessidade de “transfer”, expulsá-los de lá e são discursos rotineiros!
As palavras de Netanyahu sobre o direito das minorias em Israel é uma grande farsa, mais uma na sua coleção de mentiras.
4. “Em 1947, na organização (ONU), com a resolução para a criação de dois Estados: judeu e árabe, os judeus aceitaram a resolução”.
Não é verdade que os judeus aceitaram a partilha da ONU, não aceitaram porque nunca respeitaram seus limites. Comemoram como o início, já tanto que logo expandiram seu território, desrespeitando os limites da partilha da ONU.
Netanyahu é membro da extrema direita sionista, chamados historicamente de revisionistas. Para eles, a terra de Israel jamais seria os 53% da Palestina Histórica definidos pela resolução da ONU; ao revés, a terra de Israel englobaria toda a Palestina histórica e a atual Jordânia, isso sem falar no Golan sírio.
O slogan dos revisionistas era bem conhecido: o rio Jordão tem duas margens, uma nossa e a outra, também!
O ex-primeiro ministro israelense Menahem Begin escreveu o seguinte sobre o plano da partilha de 1947: “A partilha da Palestina é ilegal. Nunca será reconhecida. Jerusalém foi e para sempre será devolvida ao povo de Israel. Toda ela e para sempre” (Begin, The revolt, p. 433)
Mesmo os sionistas chamados pragmáticos, como Bem Gurion, consideravam a resolução apenas um ponto de partida, posto que o objetivo final era a ocupação de toda a Palestina e a construção de um Estado exclusivamente judeu, após a expulsão da população nativa.
Os judeus comemoraram a resolução da partilha como seu ponto de partida, mas nunca a respeitaram. Se aceitassem, não teriam ocupado 25% a mais do que foi destinado para o Estado judeu, não teriam expulsado as centenas de milhares de palestinos de suas terras, violando a resolução que alegam terem aceitado.
Israel nunca respeitou ou aceitou as mais de 70 resoluções da ONU e do Conselho de segurança em relação ao conflito árabe-sionista.
5. “Não somos estrangeiros nessa terra. Essa é nossa pátria histórica”
A alegação de Netanyahu de que a Palestina é pátria histórica dos judeus modernos é desmentida pelos dados históricos, arqueológicos e sociológicos.
A maciça maioria dos estudiosos reconhecem que os judeus de hoje são descendentes de povos e tribos convertidos ao judaísmo (em especial, khazares europeus) e sem laços genéticos com os judeus, hebreus ou israelitas bíblicos que habitavam uma parte da Palestina junto com outros povos.
Apenas os nazistas (além dos sionistas) afirmavam que os judeus em qualquer país onde vivem são estrangeiros que devem voltar para sua pátria imaginária.
Aliás, essa não é a única semelhança entre nazistas e sionistas.
Os palestinos reconhecem Israel nas fronteiras definidas pelo Direito Internacional, mas exigir deles que reconheçam a Palestina como pátria histórica dos judeus é uma tentativa de fazer com que neguem a História e em especial, sua história. Isso nunca acontecerá.
Em 1919, uma comissão americana King-Crane foi enviada à Palestina para investigar a situação no país. Concluiu tal comissão que “a alegação sionista que eles tem “direito” à Palestina, baseado na ocupação de dois mil anos atrás, não pode ser levada a sério”.
Essas palavras são verdadeiras hoje, também.
6. “No meu gabinete em Jerusalém, há um selo antigo. É o timbre de um oficial judeu da época bíblica. O nome do oficial era Netanyahu. Esse é o meu sobrenome”
O nome verdadeiro do pai de Netanyahu é Benzion Mileikowsky. Os nomes dos avós são Nathan Mileikowsky e Sarah Lurre, nomes judeus comuns entre os judeus europeus, antes do sionismo.
A família Mileikowsky, descendentes de europeus, assim como muitos outros europeus, em uma tentativa de se fazerem passar por semitas e descendentes dos judeus bíblicos, adotaram o nome Netanyahu, após emigrarem para a Palestina em 1920.
Mileikowsky, descendente de colonos europeus, que emigraram para a Palestina, com intenção de ocupar com exclusividade aquela terra e expulsar os palestinos, verdadeiros donos, mudou de nome, adotou nome semita, que não era seu.
Os palestinos não trocam seus nomes e sobrenomes, não mentem sobre a História, sobre suas origens, tampouco abandonarão sua fé e determinação de libertar sua pátria.
As palavras do primeiro-ministro israelense sobre Jerusalém e Palestina como pátria histórica dos judeus não apenas mostram suas mentiras, mas também a ideologia que ele representa e que cada vez mais fica evidente – o caráter fraudulento e racista do sionismo.
Há mais de um século, os sionistas mentem e cometem crimes contra a humanidade.
É hora de responderem por suas mentiras e seus crimes!
*Abdel Latif Hasan Abdel Latif, médico palestino