quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A Palestina reimaginada na poesia brasileira


Mesquita de Omar ou Cúpula da Rocha - Jerusalém, Palestina

A cultura árabe-palestina é uma das mais antigas do Oriente Médio, destacando-se por suas realizações na arquitetura, música, dança, literatura e artes visuais. A Mesquita de Omar (foto), com sua cúpula dourada, construída no centro histórico de Al-Quds (Jerusalém) no século VII, durante a dinastia omíada, foi reconhecida pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade.


Por Claudio Daniel*


A dança típica conhecida como dabke, acompanhada por alaúde (oud), tambor (tabla), pandeiro (daff) e instrumentos de sopro (mijwiz e arghul), é outro cartão-postal da Palestina. Executada em celebrações especiais, como festas de casamento, rituais de circuncisão, para comemorar o regresso de viajantes ou a libertação de prisioneiros, possui vários estilos, entre eles a As-Samir, em que os dançarinos, agrupados em duas fileiras, em paredes opostas, fazem uma competição de poesia popular, com versos improvisados, incluindo gracejos e insultos recíprocos – algo similar aos “desafios” dos nossos poetas de cordel, tradição cuja origem remonta à tençon dos trovadores medievais, cultores por excelência das cantigas de escárnio e de mal-dizer. A poesia também está presente nos diwáns, eventos performáticos que reúnem declamação, música e dança tradicionais, que preservam a língua, história, lendas e folclore dos povos árabes, fortalecendo sua identidade cultural.

No Ocidente, a palavra diwán é conhecida desde o século XVIII graças a Johann Wolfgang von Goethe, autor do livro Diwán ocidental-oriental, obra precursora do fascínio europeu pela poesia árabe e persa, que alcançaria seu ápice na poesia de Federico Garcia Lorca, autor do Divã do Tamarit (1940), que reúne poemas que dialogam com a forma clássica da cassida.

A poesia árabe moderna, que assimilou influências do verso livre, da poesia social, do surrealismo e de outras tendências estéticas, é bastante rica e variada, e nela se destaca a obra do palestino Mahmoud Darwish (1942-2008), reconhecido como um dos mais expressivos autores da língua árabe do século XX. Nascido na aldeia palestina de Birwa, nos arredores de Akka (Acre), imigrou com sua família para o Líbano quando tinha apenas seis anos de idade, após a destruição de seu vilarejo pelos sionistas, episódio que integra a infame história da Nakba (“catástrofe”, em árabe), que levou à destruição de mais de 400 aldeias palestinas e provocou o êxodo de 750 mil palestinos, proibidos até hoje de retornarem a suas terras e lares (o número atual de refugiados e seus descendentes é calculado em cinco milhões).

Darwish destacou-se como poeta, jornalista e militante político, sendo o autor da Declaração de Argel, também conhecida como a “Declaração da Independência Palestina”, lida publicamente por Yasser Arafat, em 1988, quando o líder da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) declarou unilateralmente a criação do Estado Palestino.

A poesia de Darwish abandona a métrica e as formas de composição da poesia árabe clássica, como a cassida e o gazal, adota o verso livre e um estilo de dicção coloquial, em que o eu lírico funciona, muitas vezes, como um eu coletivo – a comunidade palestina, em especial a que vive no exílio, tema que comparece com frequência em sua obra poética. Outros temas recorrentes são a natureza, o amor, a poesia, a sensação de estranhamento, causada pela vivência no exterior, e o desejo de retorno à pátria (a busca de uma origem, real ou imaginada, é um tema caro a autores da literatura moderna, como Joyce, Celan e Kozer).

No Brasil, os poemas de Mahmoud Darwish foram apresentados pela primeira vez ao público brasileiro na antologia Poesia palestina de combate (Rio de Janeiro: Achiamé, 1981), organizada por Abdellatif Laâbi e traduzida por Jaime W. Cardoso e José Carlos Gondim. O livro, apesar de algumas incorreções (a tradução não foi feita a partir do árabe, mas de outras traduções para línguas ocidentais), tem o valor inegável de oferecer, pela primeira vez ao leitor brasileiro, uma amostragem da poesia palestina contemporânea, em que se destacam, além de Darwish, vozes singulares como as de Fádua Tuqan, Tawfik Az-Zayad e Samih Al Qassim. Como o próprio título da coletânea indica, a seleção dos poemas foi feita de acordo com critério temático: estão reunidas aqui canções de combate, que expressam a epopeia de um povo que resiste, há quase sete décadas, à brutal tentativa de genocídio humano e cultural perpetrada pelo estado sionista. Apesar dessa delimitação, que obedece a um viés político (justificável em seu contexto histórico), o resultado estético apresenta alguns ótimos resultados, como podemos verificar nas seguintes composições:

Os lábios cortados


Eu poderia ter contado
a história do rouxinol assassinado
poderia ter contado
a história...
se não me tivessem cortado os lábios.
(Samih al Qassim)

Provérbios


Segundo nosso primeiro antepassado
disseram nos provérbios
“Como uma raposa
que engole uma foice”
“O que o vento traz
a tempestade leva”
“Quem rouba os outros
vive sempre
com medo”.
(Tawfik Az- Zayad)

O primeiro poema, de Samih al Qassim (nascido em 1939), concentra sua força expressiva em apenas cinco linhas, numa estrutura similar à do haicai; porém, ao contrário do terceto japonês, não apresenta uma ação, e sim uma possibilidade, a partir da justaposição de duas breves imagens, a do rouxinol e a dos lábios cortados. O poema remete à hipótese de uma ação, que teria ocorrido se o narrador não tivesse sofrido a violência da mutilação. É uma peça ao mesmo tempo sutil e impactante, que recorda os poemas breves de Maiakovski (“come ananás, mastiga perdiz / teu dia está prestes, burguês”, na tradução de Augusto de Campos) e de Bertolt Brecht (“Escapei aos tigres / Nutri os percevejos / Fui devorado / Pela mediocridade”, em versão de Haroldo de Campos), e ainda a “poesia-pílula” de Oswald de Andrade (“Venceu o sistema de Babilônia / e o garção de costeleta”).

O segundo poema, de Tawfik Az- Zayad (1929-1954), também é construído de acordo com uma técnica de montagem, mas, desta vez, de provérbios populares árabes, retirados de seu campo habitual de referências e recontextualizados para a crítica à ocupação israelense (“Quem rouba os outros / vive sempre / com medo”). A incorporação de provérbios na poesia (e na prosa) de alto repertório é verificada em diversos autores da modernidade, como James Joyce, Guimarães Rosa e Paulo Leminski, geralmente com sentido irônico, subvertendo o sentido original dos ditos populares, que é alterado e ampliado, pela paródia. No caso da poesia lírica árabe, que se alimenta há séculos de imagens e ditos tradicionais, a subversão é ainda mais violenta. Em ambas composições, o eu lírico fala em solilóquio, mas, na peça de Tawfik Az- Zayad, o “outro” israelense também é retratado, de forma enviesada: aquele que oprime é o que sente medo, pois “O que o vento traz / a tempestade leva”. Um terceiro poema que merece breve comentário é Refugiado, de Salim Jabran (nascido em 1947):

Refugiado


O sol atravessa as fronteiras
sem que os soldados atirem
o rouxinol canta manhã e tarde
e dorme em paz
com todos os pássaros dos kibutz
um asno extraviado
pica o pasto
em paz
sobre a linha de fogo
sem que os soldados atirem nele
e eu
teu filho exilado
- Ó terra de minha pátria
entre meus olhos e teus horizontes
a muralha das fronteiras
(Salim Jabran)

A composição, desenvolvida em linguagem narrativa, sobrepõe quatro imagens: a do sol, a do rouxinol, a do asno e a do refugiado, que é o próprio eu lírico do poema. Nas três primeiras imagens, nada acontece: os elementos da natureza não são perturbados pelos soldados da fronteira, que não atiram. A quarta imagem, porém, é inconclusiva: entre os olhos do narrador e a vastidão da terra há uma muralha – e, o que o poema não diz: guaritas do exército de ocupação israelense, com soldados que disparam naqueles que cruzam a fronteira. Assim como nos poemas de Samih al Qassim e Tawfik Az- Zayad, estamos aqui no território do oculto: nada é dito claramente, o leitor deve interpretar os poemas a partir das pistas e sugestões deixadas pelos autores. Diferente estratégia textual é adotada por Mahmoud Darwish, discípulo de Whitman e de Maiakovski, que prefere o discurso retórico, evitando paráfrases, metáforas e imagens abstratas. Seu vocabulário, simples e direto, traduz o cotidiano da ocupação em versos de alto impacto como estes:

Carteira de identidade

(fragmento)

Toma nota!
Sou árabe.
Número da identidade: 50 mil
Número de filhos: oito
E o nono... já chega depois do verão.
E vais te irritar por isso?

Toma nota!
Sou árabe
Trabalho numa pedreira
Com meus companheiros de dor
Pra meus oito filhos
O pedaço de pão
As roupas e os livros
Arranco da rocha...
Não mendigo esmolas à tua porta,
Nem me rebaixo
No portão do teu palácio
E vais te irritar por isso?

Este poema – talvez o mais conhecido da literatura palestina do século XX – sugere o diálogo de um habitante dos territórios ocupados com um soldado israelense, em tom de desafio (1). A tradução, assinada por Paulo Farah, professor de língua e literatura árabes na Universidade de São Paulo, integra o volume A terra nos é estreita e outros poemas (São Paulo: Bibliaspa, 2012), primeira coletânea individual de Darwish publicada no Brasil (2), que inaugura um novo patamar nas relações – ainda tímidas – entre a poesia palestina e a brasileira. Em resenha que escrevemos sobre esse livro, publicada na revista eletrônica Mallarmargens (3), afirmamos que a poesia de Darwish emprega imagens simples, extraídas do cotidiano: o girassol, o cavalo, a oliveira, a rosa, o prego, a chuva. A simplicidade do vocabulário, porém, muitas vezes faz referências à história universal, à geografia do Oriente Médio, à tradição literária e religiosa, como ocorre na curiosa composição Como nun na Surata do Clemente, que dialoga com textos do Corão e com imagens mitológicas, como a da fênix grega. Já no livro Salmos, encontramos uma série de poemas sobre Jerusalém, com referências intertextuais aos livros proféticos do Antigo Testamento, em que a cidade, transformada em personagem, fala na primeira pessoa – recurso poético conhecido como prosopopéia. O exílio do povo hebreu relatado nos textos bíblicos é usado por Darwish como metáfora do êxodo e do sofrimento do povo palestino, e o retorno à terra perdida sinaliza uma utopia ao mesmo tempo pessoal e coletiva: é a recuperação do país, que tem sua própria história e cultura, mas também uma reapropriação de sua infância, de suas lembranças, de suas ligações familiares, enfim, de sua vida. Na poesia de Darwish, encontramos com frequência o diálogo, à maneira de um teatro poético, como acontece na composição A eternidade do cacto:

— Para onde me levas, pai?
— Em direção ao vento, meu filho...


Este recurso, que permite a construção de uma pequena cena, com o pano de fundo da história palestina a partir de 1948, recorda por vezes as composições de Bertolt Brecht, embora em Darwish o tom épico esteja quase ausente: é um poeta lírico e elegíaco, que observa o heroísmo presente em pequenas situações, como lavar pratos, fazer café, ouvir o rádio, ações convertidas em formas de resistência: o simples fato de existir, de perpetuar sua língua, seus costumes, sua memória, já faz do palestino um combatente do sionismo, que procura apagar todos os vestígios da existência desse povo, demolindo suas aldeias, mudando os nomes das ruas, reescrevendo a história. A poesia, para Darwish, é uma forma de resistência: é a afirmação de uma identidade, pessoal e coletiva, e a reconstrução de um país pela palavra poética.

A terra nos é estreita foi publicada no Brasil em momento histórico auspicioso: em dezembro de 2012 aconteceu o Fórum Social Mundial Palestina Livre, em Porto Alegre (RS), que reuniu milhares de ativistas de movimentos populares, do Brasil e do exterior, para uma série de debates e atividades culturais relacionadas à solidariedade com o povo palestino. A Bibliaspa, uma das entidades participantes do Fórum, promoveu também o lançamento do romance Noite Grande, do palestino-brasileiro Permínio Asfora, autor ainda pouco conhecido de nossa literatura, que mereceu, no entanto, o elogio de Guimarães Rosa. A revista Zunái – que organizou, em parceria com a Federação Árabe Palestina (Fepal) a mostra fotográfica Palestina: a ferida aberta, para relembrar os 30 anos do massacre de Sabra e Chatila, também esteve no Fórum. Participamos de uma mesa temática sobre a arte de resistência, ao lado do célebre cartunista Latuff, e realizamos a distribuição da plaquete Poemas para a Palestina, publicação semi-artesanal com textos de 15 autores brasileiros, que expressaram, em diferentes estilos – do soneto à elegia, do poema minimalista ao neobarroco – a solidariedade a um povo que busca reencontrar o seu lugar na história. A plaquete, de poucas páginas e pequena tiragem, foi acrescida de novos textos e traduzida para o idioma árabe por Kháled Mahassen, em um volume bilíngue que será publicado em breve pela editora Patuá, de São Paulo – parte da tiragem será enviada à Cisjordânia, por ocasião da III Missão de Solidariedade à Palestina, em 2014. É nossa intenção que essa obra seja uma semente de diálogo e cooperação entre os poetas palestinos e brasileiros. Como breve amostragem do volume, apresentamos aqui algumas das composições:

Jonatas Onofre

Faixa de Gaza

Como pode ser
esta veia sem sutura?

Este campo de destroços
em hemorragia?

A ausência das harpas
ainda verga os galhos
do salgueiro.

Mas o sol, imunda fera,
lambe um ossuário
de crianças no deserto.

.....................................

Andréia Carvalho

Judah


ouço teu passo - irmão
manso de sandálias
emplastradas
sondo teus olhos
dois campos pardos
concentrados

e não te escuto o nome
abatido
e não te ouço os cânticos
pelos dentes afiados

branca munição
teu sorriso cúspide
tudo que me cospe
tudo que me cala

não mais te coagulam pontes
no mar vermelho do sangue

teus frutos amordaçados
com a fome de um jardim
suspenso
lamentam a polpa
de tua febre

não te entendo o êxodo
fantástico
na fissura dos mapas

antes da promessa
era terra à vista
teu deserto mágico

antes da mesquita
era o filho do cosmos
era autêntico, o livro branco
de neve

tu te lanças sobre muralhas
inventadas
desenhos bombardeados

e mutilas em seis
o que te deram
em sete

hamurabi coração
dilacerado e cego
oro por ti

escarificado

.....................................

Lígia Dabul

Palestina


Despenca o medo.
A primeira pessoa
atravessa o que
pretendo.
Não
esqueço a fúria
da visita. De novo
a pior de todas
as viagens.
Terrenos
interditos e
barbárie
aberta,
vã,

acusam
o direito da
resposta.

.....................................

Khaled Fayes Mahassen

Gaza da morte


O grito da morte
Gaza
Fronteiras fechada
saídas cerradas
Gaza da morte

Gaza da morte
quem faz a sorte?
A lua é triste,
a vida é triste
o sol! O sol é muito triste,
a Morte!
Ah! A morte é triste.

Gaza da Morte,
Aos olhos do mundo
casa caída
vida destruída,
criança que morre
na gaza da morte

Aos olhos do mundo
ao protesto surdo.

Oh!
O grito forte
da Gaza da morte.

Sorte?

Paz! Que Paz?
Paz com braço forte
com espada que corte
com povo unido
com governo unido
e o mundo decidido
a mudar a sorte

Gaza
Gaza da morte
Gaza da morte
Gaza
Gaza da morte.

Mudará , mudará a sorte!

.....................................

Claudio Daniel

Fósforo branco


Fósforo branco ácido ilumina escombro escárnio nos céus do Líbano.
Talhos retalhos de torsos retorcidos
ossos negrume carcaças.
Corpos enfileirados peles requeimadas
de carne sucata
nos campos de refugiados
em Sabra e Chatila.
Esta é a hora do morticínio.
Farpas fiapos nacos de membros desmembrados
e o aroma escuro escuro da hora lenta lenta de um dia que nunca nunca termina.
Nenhum Kaddish (4) para os filhos da escrava Agar
nenhuma lágrima para Ismael.
Apenas o silêncio de talhos retalhos peles farpas fiapos
e o escuro escuro.
Esta é uma história
exilada da história
que eu e você não devemos saber:
por isso cala o escombro cala o negrume cala a sucata do morticínio.
É preciso calar
a matraca dos jornais;
sim é preciso fechar os livros fechar para sempre os livros
e condenar os mortos à perene desmemória
(em algum sítio
mefistofáustico
de Tel Aviv
que moveu a macabra máquina da morte
a estrela de David
se converte
em nova suástica).
Porém eu e você não nos calamos
eu e você não iremos esquecer
eu e você somos o cedro do Líbano a oliveira da Palestina
o pão fresco nas mesas da Síria.
Houve aqui uma página infame da história
mas eu e você recusamos o silêncio
recusamos o esquecimento
recusamos o perdão.

2013 - dedicado a Emir Mourad


Notas

1) Conforme Paulo Farah, “A poesia e o envolvimento político de Darwish foram uma fonte contínua de conflito com as autoridades. Em 1962, ele foi acusado de incitamento à revolução por recitar um poema sobre Gaza em um festival de poesia. Nos anos seguintes, foi preso diversas vezes”.

2) Convém citar também as notáveis traduções de Darwish realizadas por Michel Sleiman, poeta e professor de língua e literatura árabe na USP, publicadas na revista Zunái, na página http://www.revistazunai.com/editorial/23ed_mahmouddarwish.htm.

3) Artigo publicado na página http://www.mallarmargens.com/2013/01/poeta-palestino-mahmoud-darwish-e.html

4) Prece recitada por um enlutado durante 11 meses após o falecimento de seu pai ou mãe. Em caso de falecimento de um irmão, irmã, esposa, marido ou filho (a) é recitado por apenas um mês.

Claudio Daniel é poeta, curador de literatura e poesia no Centro Cultural São Paulo e editor da revista CULT.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Palestina 2014, balanço e perspectivas


Palestina: Balanço do processo infinito e da ocupação permanente


A Autoridade Palestina e Israel voltaram às negociações em julho de 2013, com a mediação dos Estados Unidos. Embora sejam melhor classificados como parte no conflito do que como um mediadores, dado o respaldo incondicional e diverso a Israel, os EUA alegam um compromisso sério com a solução de mais de 60 anos da ocupação israelense sobre os territóriostinos. Mas, neste ano, as políticas que caracterizam esta condição continuaram vigentes.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho


Arafat, Rabin e Clinton - Acordo de Oslo
O então premiê israelense Yitzak Rabin e o presidente palestino, Yasser Arafat,
assinaram o 1º Acordo de Oslo, em 1993, com a mediação do presidente estadunidense,
Bill Clinton. As expectativas de conclusão dominavam o cenário político nos dois lados
Mais um processo de paz – ou a sua “retomada” – foi estabelecido através do agenciamento estadunidense, mas cinco dos nove meses propostos já se passaram sem qualquer avanço significativo. Anunciada em julho, a atual rodadas que a acompanham, deve durar até abril, segundo o acordo que a estabeleceu.


Entretanto, 2013 termina com um aumento da violência na Cisjordânia e em Jerusalém Leste e a iminência de uma terceira intifada, ou levante popular contra a ocupação, para muitos observadores. A expansão das colônias e as invasões contínuas das forças israelenses a casas e vilas palestinas são as únicas experiências do povo relativas a Israel; a violência da ocupação militar é a única realidade vivida por ele, inclusive em tempos de negociações

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, visitou a região cerca de 10 vezes durante o ano, e as equipes diplomáticas fizeram 20 reuniões. Até esta sexta (3), enquanto ele faz a sua décima visita, nenhuma proposta concreta foi avançada para a questão, cinco meses após a retomada das negociações. A estagnação diplomática tem consequências desastrosas para um povo que, além de sentir o cerco da ocupação fechar a cada dia que passa, ainda luta contra as consequências da opressão generalizada sob a qual vivem.

Análises não faltam sobre o resultado econômico desta situação com a pobreza disseminada, o desemprego, o crescimento e desenvolvimento sofridos e a dependência externa extrema sob a qual a Autoridade Palestina (AP) se encontra, financiada por ajuda internacional e pelas receitas das difíceis atividades de exportação, cujas taxas ainda são “filtradas” por Israel.

Em 2013, os 20 anos desde os Acordos de Oslo – que incluem a Declaração de Princípios, de 1993, e o Acordo Interino sobre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, de 1995 – também trouxeram estas análises à questão fundamental: a manutenção da ocupação.

O primeiro acordo tratou de um rascunho geral sobre a condução das negociações e seus princípios; o segundo instituiu a Autoridade Palestina – que funciona como um Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) – e dividiu a Cisjordânia em três zonas que deixaram a maior parte do território sob o controle militar e administrativo de Israel, por um período que deveria durar apenas cinco anos, mas ainda é vigente.

Desde o início, não só diversos setores da política e da sociedade palestina como também da israelense manifestaram o ceticismo fundamental sobre a vontade do governo de Benjamin Netanyahu de resolver a questão. Por outro lado, ressaltam as autoridades palestinas, a situação tem saída: caso um acordo não seja alcançado, os palestinos têm como recorrer ao Tribunal Penal Internacional para denunciar a expansão da ocupação, um crime de guerra reconhecido como tal pelo direito internacional.

                      Foto: NBC News
Negociação - Palestina, Israel e Estados Unidos
Ministra da Justiça israelense, Tzipi Livni, secretário de Estado norte-americano
John Kerry,e o chefe da equipe  palestina para as negociações Saeb Erekat,anunciam
a retomada das negociações no fim de julho, noDepartamento de Estado dos EUA.


Neste sentido, a unidade política buscada pelos palestinos tem também posição central. Apartados desde 2006, quando confrontos violentos dividiram a Cisjordânia e a Faixa de Gaza entre o Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, e o Hamas, respectivamente, os partidos islâmicos podem se juntar à OLP, uma frente ampla de 13 partidos diversos.

Assim como os membros da OLP, a liderança do Hamas disse esperar que 2014 seja o ano da “reconciliação nacional”, declarando um compromisso com a realização de eleições. À frente do governo de Gaza, no primeiro dia do novo ano, Ismail Haniyeh instou as diferentes representações palestinas a “fazerem o máximo para acabar com a divisão política e a unirem a Cisjordânia e a Faixa de Gaza ocupadas,” uma proposta feita reiteradamente também pela OLP.

Embora haja inúmeros céticos a respeito da reaproximação e diversos fatores regionais dificultando o processo – como o conflito na Síria e seu transbordamento a vizinhos como o Líbano –, a sua urgência reuniu representantes dos dois lados para conversações algumas vezes durante o ano de 2013, com a mediação do Egito e da Liga Árabe.

                      Foto: Abu Askar / PPO / Getty
Fatah e Hamas
Ismail Hanieh, à frente do governo da Faixa de Gaza, pelo Hamas, e o presidente Mahmoud Abbas,
líder do Fatah, à frente da Autoridade Palestina, encontram-se no Egito, ainda em 2007.


Violência generalizada


Segundo a organização israelense de defesa dos direitos humanos B’Tselem, as tropas de Israel mataram 44 palestinos em confrontos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, durante o ano. Entre eles estavam também um adolescente,Wajeeh Wajdi Wajeeh a-Ramahi, de 15 anos, do campo de refugiados de al-Jalazun, perto de Ramallah, e uma criança, Hala Ahmad Abu Sbeikhah, de dois anos, do campo de al-Maghazi, em Gaza. No fim de 2012, durante pouco mais de uma semana, a operação “Pilar de Defesa” israelense matou cerca de 170 residentes de Gaza. No mesmo território, o número sobre para 246, considerando-se o ano de 2012 inteiro, e oito na Cisjordânia.

A diretora executiva do B’Tselem, Jessica Montell, criticou o processo investigativo como “lento e complicado”. Ela disse que as decisões são feitas apenas anos depois das ocorrências, e que, assim, ninguém é demandado pela responsabilidade relativa às mortes dos palestinos, o que não contribui com a dissuasão da violência e “reflete desprezo pela vida humana”, de acordo com o jornal israelense Ha’aretz.

palestino protesta

Apesar da libertação de três dos quatro grupos de 104 prisioneiros palestinos no contexto das negociações, há ainda cerca de 5.000 palestinos nas prisões israelenses, entre os quais estão centenas deas - uma situação amplamente condenada pelo Unicef e outras organizações de defesa dos direitos humulamentações israelenses que violam os princípios civis internacionalmente reconhecidos inclui a lei da chamada “detenção administrativa” que, além de permitir a detenção de “suspeitos” sem acusação por períodos renováveis de seis meses, dirige o eventual julgamento a cortes militares. 

Neste trajeto, os detidos sofrem todo tipo de violação, entre torturas e negligência médica, como denunciaram os palestinos que fizeram greve de fome durante um longo período, neste ano. Samer Issawi, que fez o protesto por nove meses, acaba de ser liberado.

Na Faixa de Gaza, a continuação de um bloqueio caracterizado até mesmo pela ONU como "punição coletiva" - outro crime de guerra inaugurado em 2006, quando o Hamas assumiu o governo - tem mais ou menos os mesmos contornos, neste ano. O acosso e até o ataque contra pescadores em uma zona marítima ínfima e contra agricultores que se aproximem da barreira na fronteira com Israel, a limitação extrema das exportações e das importações - inclusive de bens essenciais e da ajuda humanitária -, o racionamento de energia pela maior parte do dia e, no fim do ano, uma crise extrema agravada pelas enchentes.

Tudo isso somado a - ou causa de - altas taxas de pobreza, de desemprego e de dependência da assistência da Agência das Nações Unidas para Assistência e Trabalhos para Refugiados da Palestina (UNRWA), neste que é um dos territórios mais densamente populados do mundo: uma faixa estreita à beira-mar, com quase dois milhões de habitantes, que ainda sofre ataques frequentes de Israel, apesar de um cessar-fogo teoricamente vigente.

Colonização e mais ocupação


Muro do Apartheid e colonias israelensesNo plano da colonização estrutural, o Parlamento israelense avalia uma proposta de anexação do Vale do Jordão, território agrícola da Cisjordânia palestina, com grande acesso à água. O anúncio da construção de mais casas nas colônias já existentes, principalmente na região de Jerusalém, é o principal motivo de revolta dos diplomatas palestinos envolvidos nas negociações. Neste sentido, o chefe da equipe, Saeb Erekat, e seu companheiro, Muhammad Shtayyeh, chegaram a pedir demissão em protesto pelo desrespeito e o descompromisso israelense com o processo. Os palestinos pedem justiça para o progresso das negociações.

Entre as inúmeras licitações para a construção de habitações nas colônias anunciadas pelo governo esteve o plano de 20.000 casas, divulgado em novembro. Neste caso, ficou conhecida a divisão feita pelas autoridades israelenses da chamada região Leste 1, que liga Jerusalém a uma das maiores colônias israelenses, Ma'ale Adumim. Sua ocupação cortaria o acesso palestino à cidade e impossibilitaria a efetivação do Estado da Palestina nas fronteiras atualmente aceitas pelo consenso internacional.

Para muitos observadores, Netanyahu, que compete apenas com o ex-premiê Ehud Barak no quesito “quem construiu mais colônias na Cisjordânia”, também faz estes anúncios para “apaziguar” os ânimos da grande representação de colonos no gabinete do governo, que apresenta ainda divisões internas fundamentais na questão.

Sua coalizão foi construída a duras penas no início do ano, e incluiu partidos como o Lar Judeu, do polêmico ministro da Economia, Naftali Bennett, incisivamente contrário às negociações e que já chegou a declarar que matou "árabes" e que se opõe completamente ao reconhecimento de um Estado da Palestina, durante uma reunião ministerial. Independente disso, o próprio partido de Netanyahu, Likud, coligado com o Yisrael Beitenu – de outra figura polêmica, a do ministro de Relações Exteriores, Avigdor Lieberman –, ambos de direita, já era suficiente para garantir o sionismo de Estado.


Muro do Apartheid, Muro da Vergonha, Muro do RacismoAs centenas de postos de controle militar na Cisjordânia – inclusive entre bairros, no caso da cidade de Hebron, por exemplo, e a construção do muro de segregação, chamado pelos israelenses de “barreira de segurança”, são expoentes crus da ocupação. Mais de 10 anos depois do início da sua construção, o muro tem oito metros de altura em diversos trechos, majoritariamente de concreto – as partes de arame virarão definitivas em breve, segundo o planejado – e já alcança mais de 600 quilômetros de extensão, anexando diversas porções de território palestino no processo de construção. 

Mas ele não acontece sem resistência: manifestações semanais e processos judiciais como os do comitê de resistência popular de Bil’in, entre outros, chegaram a trazer resultados, como a “redução da perda” de áreas agrícolas que seriam engolfadas.

No mesmo sentido, a denúncia da “gentrificação” – eliminação das características árabes para “judaizar” pontos históricos e religiosos importantes para muçulmanos e cristãos – tem sido reiterada frequentemente pela AP e por países como a Arábia Saudita e a Jordânia. Principal alvo desta política, Jerusalém é posta no centro das atenções pela urgência da sua proteção, já que propostas avançadas por judeus mais extremistas incluem a destruição da importante mesquita Al-Aqsa para a construção de um Templo Judeu que já teria existido no local, chamado por eles de “Monte do Templo”.

Sobre o “nome” das coisas, não são raras as análises, inclusive de ativistas israelenses, que ridicularizam a estratégia do governo sionista de tornar mais palatável a ocupação, principalmente para uma população em que inúmeros indivíduos não entendem o seu significado, ou não conhecem, simplesmente. O muro segregador chama-se “barreira de segurança” e as colônias são enquadradas também nas “zonas de segurança” – assim como as porções à volta do muro e de postos de controle – ou são chamadas de “comunidades”, ou “kibbutzim” – plural de “kibbuts”, fazendas comunitárias.

A Cisjordânia é nomeada de Judeia e Samaria, uma das ligações frequentes que o poder faz entre o território e as questões religiosas que manipula para legitimar a ocupação. No caso dos palestinos, são geralmente “árabes” – é ainda disseminada a busca por deslegitimá-los como um povo daquela terra, prática que data dos primórdios do sionismo aplicado, no fim do século 19 – ou até “terroristas”, termo moderno mais frequentemente empregado para os habitantes de Gaza.

Política interna e solidariedade internacional


Estado da Palestina
O mundo tem prestado mais atenção à Palestina. Desde o seu reconhecimento como Estado observador não membro da Organização das Nações Unidas (ONU), em novembro de 2012, e a sua integração a algumas agências internacionais, como a Unesco, os palestinos vêm ganhando mais espaço na esfera internacional jurídica. A sua adesão à Unesco custou à agência o boicote dos Estados Unidos, que suspendeu a sua contribuição financeira, mas rendeu aos palestinos o reconhecimento de importantes sítios arqueológicos e práticas agrícolas, por exemplo.

Como dizia o famoso acadêmico palestino, também de grande influência no Ocidente, Edward Said, a causa palestina é reconhecida e acolhida pelos movimentos de trabalhadores, autonomistas, independentistas e de luta pela autodeterminação, contra a opressão e o imperialismo em todo o mundo.

Neste sentido, assim como outros países do mundo, o Brasil já enviou à Cisjordânia, no início do ano, a Segunda Missão de Solidariedade ao Povo da Palestina, com representantes de diversas entidades sindicais, partidos políticos e membros da sociedade civil que foram acolhidos de forma entusiasmada, ainda que em tom de urgência, por autoridades, partidos e movimentos sociais palestinos.

Tem ganhado força, também, o movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções, principalmente contra instituições que tenham ligações com as colônias. Analistas israelenses têm ressaltado o fortalecimento desta iniciativa, que também tenta avançar no âmbito das regulamentações europeias relativas às parcerias com Israel. Personalidades como o físico e acadêmico mundialmente renomado Stephen Hawking e o ex-vocalista da banda Pink Floyd, Roger Waters, entre outros, aliaram-se à campanha de boicote, assim como a maior associação acadêmica dos EUA.


Manifestação contra a expulsão dos beduinos do NegevProtestos internacionais, inclusive das organizações políticas mais influentes, chamado Plano Prawer, que incluía a expulsão de milhares de beduínos do deserto de Negev, "a última fronteira do sionismo", de acordo com o primeiro premiê israelense, David Ben Gurion. 

O apoio incondicional ao sionismo tem rendido questionamentos crescentes da opinião pública, principalmente a palestina, sobre o papel dos EUA na resolução da questão e sobre a sua intenção de fazê-lo. Embora as autoridades palestinas mantenham-se comprometidas com a diplomacia, na prática, a sociedade demonstra não acreditar nesta opção, seja através de discursos na mídia – inclusive de partidos integrantes OLP – ou de manifestações de rua, tamanha a evidência do apoio estadunidense ao seu opressor.

Exemplo disso é a reivindicação estapafúrdia de Israel, transmitida em um "plano securitário" proposto por Kerry, de manutenção das suas tropas sobretudo no Vale do Jordão – próximo à fronteira com a Jordânia – em um Estado da Palestina a ser reconhecido, desmilitarizado, ainda sem fronteiras definidas.

Não é segredo que, para os EUA, as “preocupações securitárias” de Israel são prioridade, e a retirada das colônias nos territórios palestinos é posta como um problema político – dada à presença de peso dos grupos de colonos no governo e nas instituições públicas – e militar, já que as fronteiras de 1967, ou seja, as anteriores à ocupação e anexação de grandes porções do território palestino, são caracterizadas pelo establishment israelense como “indefensáveis”.

O retrato de um Israel vítima, ou alvo de reações regionais e o impulso aos discursos religiosos de pertença do povo judeu àquela terra – e da terra ao povo judeu – são as principais ferramentas destas agendas. Felizmente, porém, vozes dissonantes dentro da sociedade judia-israelense também são abundantes; resta esperar que ganhem força suficiente para quebrar um padrão persistente de governos de direita assentados na ideologia colonizadora e racista, o sionismo.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Participe da 3ª Missão de Solidariedade ao Povo Palestino

A ONU – Organização das Nações Unidas declarou 2014 como sendo o “Ano da Solidariedade com o Povo Palestino”.

Convidamos aos amigos e amigas, entidades da sociedade civil, apoiadores da causa palestina, a se engajarem de forma ativa na solidariedade com o povo palestino que vive a mais longa, brutal e criminosa ocupação de seus territórios, de sua terra natal. Israel nega-se a cumprir as leis internacionais e viola, diariamente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Convenção de Genebra.

O Comitê pelo Estado da Palestina Já, constituído de mais de 60 entidades nacionais, está organizando a 3ª Missão de Solidariedade ao Povo Palestino.

Convidamos todos a participarem dessa Missão!

FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil

Terceira Missão de Solidariedade ao Povo Palestino

Saiba como foi a 1ª Missão de Solidariedade ao Povo Palestino em 2012:



CONTATO: comitepalestinaja@globo.com


Reunião do Comite pelo Estado da Palestina - Brasil



terça-feira, 14 de janeiro de 2014

ONU declara 2014 o "Ano da Solidariedade com o Povo Palestino"

Resolução foi adotada pela maioria dos Estados-membros, com 110 votos a favor, 7 contra e 54 abstenções


Carlos Latuff/Opera Mundi


ONU declara 2014 o "Ano da Solidariedade com o Povo Palestino"


O cartunista e ativista Carlos Latuff é colaborador de Opera Mundi. Seu trabalho, que já foi divulgado em diversos países, é conhecido por se dedicar a diversas causas políticas e sociais, tanto no Brasil quanto no exterior. Para encontrar outras charges do autor, clique aqui.

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PARTICIPE:


3ª Missão Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino

Saiba como foi a 1ª Missão de Solidariedade ao Povo Palestino em 2012:


PARTICIPE:



Mulheres solidárias com o povo palestino

Mujeres palestinas, resistencia por detrás de los muros



Mujeres artistas del mundo en solidariedad a las mujeres palestinas en el Día Internacional de la Mujer y en el Año de Solidariedad al Pueblo Palestino.

Podrán participar de la exposición dibujantes e ilustradoras del sexo femenino, profesionales o amateurs, de cualquier nacionalidad.

 ENVIO DE TRABAJOS:

Podrán ser enviados cartones, dibujos e ilustraciones bidimensionales en cualquier técnica. Los trabajos deben estar digitalizados o elaborados en computadora. Resolución: 300 dpis. Formato A3 o 30 x 40 cm, modo RGB, jpg (calidad alta o media) límite máximo de 1,0 MB. Cada participante podrá inscribir hasta cuatro obras. El envío de los trabajos podrá ser realizado hasta el día 20 de febrero de 2014.

 Reglas, inscripción e informaciones: exposicionmujerpalestina@gmail.com

 Inauguración dde la exposición: día 8 de marzo de 2014.
 Museo de Humor Gráfico y Escrito Diogenes Taborda.
 Buenos Aires. Argentina.
 Página Web: www.museotaborda.org

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Por que o ‘ocidente’ errou tanto ao interpretar o Oriente Médio?

28/12/2013, Conflicts Forum, 13-20/12/2013


Conflict Forum - Fórum dos Conflitos





Qual é o ‘estado da nação’ – ou mais corretamente, da ‘nação’ do Oriente Médio árabe – no final de 2013?  Todos já sabemos que não é bom; e não queremos nos somar à (muitíssimo deslocada) melancolia, listando males (erosão dos seus vários modelos de governança – no Golfo, na Turquia, da Fraternidade Muçulmana (Ikhwani), etc.); a falência de estruturas de pensamento e de instituições nacionais; a implosão das identidades; a disfuncionalidade generalizada dos sistemas de estado; o rompimento do contrato social e o surgimento de insurreições anti-‘sistema’ de vários tipos. Queremos, isso sim, perguntar “O que se vê aqui?” E tentar descobrir por que o ‘ocidente’ errou tanto ao interpretar o Oriente Médio. 

É questão oportuna – sobretudo quando uma sucessão de notáveis figuras ‘ocidentais’, algumas delas institucionais[1] já dizem (depois de dois anos de guerra e sofrimentos) que a melhor solução na Síria, afinal, pode ser que o presidente Assad permaneça no poder.  Por que, afinal, tanta coisa foi tão mal interpretada, com tanta frequência, e com resultados tão danosos?

Para entender melhor o que acontece recentemente, devemos talvez relembrar um momento anterior do trauma regional. Não é comparação ponto a ponto com o que se tem hoje, mas ajuda a explicar, nos parece, a crise atual.

Aquele momento tem a ver com o que os historiadores chamam de “A Grande Transformação” que começou na Europa no século 17. Apoiou-se sobre uma filosofia moral que entendia que o bem-estar humano dependeria da operação eficiente dos mercados. Intimamente relacionada a essa ideia havia outra, tomada dos Puritanos Ingleses, com raízes profundas na história anglo-saxônica. E que via a “mão invisível” da Providência também em ação na política, como na economia; e essa “mão invisível” (se deixada operar por sua conta) interferiria para prover outro efeito ‘ideal’. Segundo essa noção, a luta e as disputas para contenção política entre as tribos anglo-saxônicas no início de suas sociedades, de algum modo deram origem a uma harmonia espontânea e à ordem política. (Mais mito, que verdade).

Mas foi dessa noção de ‘mercado’ político – onde a competição se tornaria ordeira e harmoniosa mediante a intrusão da “mão invisível”, que os Puritanos Ingleses tiraram a crença segundo a qual as instituições e as estruturas democráticas anglo-saxônicas representariam a culminação da liberdade pessoal e da justiça – e de que essas estruturas brotaram espontaneamente

Essas ideias foram integralmente trazidas para a América, e continuam influentes ainda hoje.

Esse modo de pensar enormemente poderoso dominou a política ‘ocidental’ por mais de 300 anos. E à altura dos anos 1920s, sua penetração no Oriente Médio já levara a região à ‘beira’ do desastre; a região já estava em crise, mantendo-se por um fio. Como na Europa, antes, o duro impacto da engenharia social e do deslocamento de populações, como aquele estilo de pensamento exigia (criar mercados eficientes), foi realmente traumático. A ênfase na industrialização e no deslocamento populacional foi de tal ordem que, no século 19, já havia levado a Europa a revoluções sangrentas. Essas ideias ocidentais, inclusive a noção de que a reforma econômica seria mais plenamente alcançada mediante a secularização, foram abraçadas com zelo de ‘convertidos’ pelos líderes da Turquia, Pérsia e Egito.

Aproximadamente cinco milhões de muçulmanos europeus foram arrancados das próprias casas entre 1821 e 1922, enquanto o ocidente prestigiava principalmente os cristãos nos estados-nações dominados por cristãos nas antigas províncias ocidentais otomanas. A determinação do [partido] Jovens Turcos [orig. Young Turks[2]] para implantar na Turquia uma cópia da modernização secular ‘de mercado’ custou preço terrível. Morreram 1 milhão de armênios e 250 mil assírios; e 1 milhão de anatolianos gregos ortodoxos foram expulsos. Suprimiu-se a identidade curda, e o Islã foi suprimido e demonizado por Kemal Ataturk. Instituições islâmicas foram fechadas e o califato, instituição que existia há 1.400 anos, foi abolido. Tudo isso para criar um estado-nação centralizado, suficientemente poderoso para implantar uma ‘moderna’ estrutura de mercado liberal.

Menos visível, mas também muito lesivo, foi o desenraizamento de homens e mulheres de suas comunidades, a desincorporação cultural, de laços e valores tradicionais. Desorientados, des-culturalizados e deixados à deriva, muitos deslizaram ou na direção do socialismo radical ou da revolução islâmica.

Reagrupando-se depois da 1ª Guerra Mundial (chamada então “Grande Guerra”, que só passou a chamar-se “primeira”, quando eclodiu a “segunda” [NTs]), as ‘grandes potências’ criaram sistemas de ‘blocos de poder em competição’ (demarcando diferenças étnicas, sectárias ou tribais e empurrando-as umas contra outras) por toda a região, para reforçar a influência europeia. Mas as ‘autoridades’ daí resultantes, sem qualquer base em qualquer coisa que se assemelhasse a alguma forma de contrato social, só puderam ser mantidas no poder mediante o uso massivo de forças de segurança e de repressão contra centros de poder rivais. Não surpreendentemente, nos anos 1920s muitos jovens buscavam pensamento novo – e tornaram-se ferozes opositores do ‘sistema’.

Ao longo dos últimos 30 terríveis anos, o ‘ocidente’ (e, outra vez) seus ‘interesses’ regionais aliados, permaneceram presa de um conjunto igualmente poderoso de ideias – a orientação neoliberal do conservadorismo norte-americano (e a orientação tradicional do conservadorismo norte-americano sempre foi principalmente isolacionista e não intervencionista).  Na última década, essas poderosas ideias, buscadas pelo ‘ocidente’ e seus aderentes na região, provaram-se altamente daninhas.  Não se trata só dos milhões de refugiados saídos do Afeganistão, Iraque, Palestina e Síria, nem das guerras e sofrimentos, mas, mais significativamente (e outra vez), o que se tem aí é um episódio do pensamento político segundo o qual as pessoas foram ‘individualizadas’, extraídas da comunidade, dos valores tradicionais, da conexão com o local, das respectivas identidades e, assim, foram separadas das fontes da autoestima.

Esse, de fato, sempre foi um dos principais objetivos da globalização: para conseguir alcançar uma ‘modernidade’ globalizada, os aderentes desse tipo de pensamento deixaram-se levar pelo ímpeto de fazer tabula rasa – varrer, ‘limpar’ –, e ‘dar um reset’ na psicologia humana, enfraquecer o condicionamento pela tradição, para preparar a humanidade para a ‘modernidade’: daí o interesse por ações de “choque e pavor” e pelos efeitos psicologicamente transformadores da crise.

Diferente do período 1820-1920, que foi mais estrutural e físico, essa ‘transformação’ mais recente (pela qual ainda estamos passando) não visava a ser tão física (embora ainda seja, para os milhões de refugiados), mas, mais, ‘uma marca feita a fogo’ na consciência, disparada por mudanças transformatórias, que mudam a vida (por exemplo, no Iraque) – e disparada também pela ‘narrativa’, com o uso dos meios e veículos da imprensa-empresa.

No caso do Oriente Médio, a narrativa preferencial passou a ser a da ‘democracia’ e da ‘liberdade’ (as duas ‘grandes ideias d’A Grande Transformação promovida pelos velhos puritanos europeus. Cromwell usou exatamente a mesma narrativa no Parlamento Inglês em 1658).

Mas um dos problemas aqui é que, naquele momento, as noções de ‘democracia’ e ‘liberdade’ foram rapidamente subsumidas dentro da ‘doutrina Carter’ (segundo a qual os EUA não admitiriam a emergência, no Oriente Médio, de governo não amigável). Assim, de fato, pouca coisa mudou: os oligarcas reinantes tipo Sykes-Picot simplesmente continuaram o serviço – sustentados por forças de segurança muito fortes (e partidarizadas).

Essencialmente, portanto – desde os anos 1920s – não há qualquer tipo de real contrato social entre povos e governantes, ou vice-versa. Mais que isso, não se viu qualquer esforço para organizar nações ou sociedades. Isso é especialmente verdade para o Golfo, onde a abundância de petrodólares faz as vezes, como arremedo, da construção da nação. Problemas resolvem-se com dinheiro, soluções compram-se. Assim, em toda a região, emergiu uma elite imensamente rica, que se separou, ela mesma, das raízes e comunidades nativas, para melhor mergulhar na comunidade ‘virtual’, desculturada, dos realmente ricos.  A clássica doutrina dos benefícios econômicos em cascata [orig. ‘trickle down’ economic benefit] simplesmente jamais sequer foi tentada, no Oriente Médio.

A experiência a partir da qual o presidente Putin da Rússia está desenvolvendo uma ideologia conservadora antissistema não é muito diferente dessa (resultado, lá, da própria experiência da Rússia, primeiro com uma ‘modernidade’ marxista desenraizadora; e, depois, com uma ‘modernidade’ neoliberal para o globalizamento). 

Em recente discurso ao Parlamento russo,[3] Putin falou da necessidade de um novo ‘conservadorismo’. Esse conservadorismo deve ser definido, numa nova abordagem, segundo Fyodor Lukyanov, com bases no “fato de que todo e qualquer progresso, hoje, trará necessariamente resultado negativo”. Em outras palavras: a busca da modernidade por abordagem neoliberal tornou-se daninha em todo e qualquer lugar – além de levar a resultados estrategicamente incoerentes.

Putin argumenta que a disparidade entre (a) os valores tradicionais [dos russos], um senso de ser [russo], de valores familiares herdados, de modos de criar os filhos; e (b) os novos ‘espaços de valores’ europeus que emanam hoje do ‘universalismo’ já é grande demais; e que os valores locais devem ser protegidos. Em outras palavras: cada nação e cada cultura é única, com seus valores; sobre tudo, a específica identidade.

De fato, Putin está sugerindo um novo conservadorismo estratégico que recusa o globalismo liberal – e que retoma a dimensão nacional em seus conceitos principais, de legitimidade e soberania. Chama esses valores de ‘conservadores’, mas não no sentido de que impeçam o progresso e, sim, como meio para impedir uma regressão, com queda do abismo moral.  ‘Progresso’ nessa definição não é o progresso da modernidade,[4] mas, mais, um desejo de voltar ao humano. Ou, como Baudelaire escreveu “Progredir, para eles, não é avançar, nem conquistar, mas voltar e encontrar [...] O progresso, pois, o único progresso possível, consiste em desejar reencontrar a Unidade perdida.”[5] (Em DeDefensa.org,[6] ofereço discussão mais completa sobre as implicações das ideias de Putin [em francês]).

Num certo sentido, Putin pôs o dedo na natureza da crise no Oriente Médio (apesar de estar falando sobre a Rússia).  Patrick Buchanan (‘conservador’ norte-americano, mas não da gangue dos neoconservadores neoliberais[7]), em artigo intitulado “Is Putin One of US?”[8], observa que [Putin] está procurando redefinir o conflito mundial futuro do “nós vs eles” – como conflito no qual os conservadores, tradicionalistas e nacionalistas de todos os continentes e países levantam-se para resistir ao imperialismo cultural e ideológico do que, como Putin o vê, é um ocidente em declínio, cujos valores de globalização provocam ‘desconforto’ em muitos locais.

“Não atacamos interesses de ninguém” – disse Putin. – “Nem queremos ensinar os outros a viverem a própria vida.” O adversário de Putin não é os EUA onde nascemos, mas os EUA onde vivemos” [Buchanan escreve], “que, para Putin, são EUA pagãos e progressistas selvagens. Sem nomear país algum, Putin atacou as “tentativas para impor modelos de desenvolvimento mais progressivos” a outras nações, que já levaram a “declínio, barbárie e muito sangue”: ataque direto às intervenções dos EUA no Afeganistão, Iraque, Líbia e Egito” – Buchanan sugere.[9]

Buchanan não chega a dizê-lo. Mas a formulação ‘conservadora’ de Putin é antipolar, antissistema – e será reconhecida por muitos na região como posição de resistência.

O presidente Assad ou Sayyed Hassan Nasrallah aplaudirão. Não é preciso pensar muito para ver o quanto essas ideias soarão significativas e atraentes no Oriente Médio: elas dão a base para uma nova plataforma regional em torno da qual os estados poderão reunir-se – e que darão direção clara à política russa.

Noutra direção, essas ideias ressoam desde já como um início precoce do debate do século 21: sobre como o Oriente Médio (ou os muçulmanos em geral) vivem no mundo contemporâneo, sem perder a própria comunidade, a localidade, seus valores, tradição e identidade. (Os levantes árabes foram profundamente focados na perda de valores na política e na economia, e nas consequências disso sobre o tecido social). É questão que também surgiu à tona na Europa, sobre a ‘grande transformação’ do sul da Europa, conhecida como ‘doutrina da austeridade’ (como o demonstram, por exemplo, os protestos antissistema que acontecem agora, na Itália.[10] Há ali, subjacente, o sentimento de que as elites europeias são responsáveis pela decomposição do contrato social europeu).

Ninguém tem respostas para isso (é mais fácil formular ‘um retorno ao modo de vida humano’, que apresentar essa noção como algo realmente político). Mas, ainda assim, a questão é essa.

O caminho à frente vem povoado de diferentes víboras. Alguns farão literalmente qualquer coisa, para preservar o status quo; alguns, para instituir um Islã assertivo; alguns, para instituir um secularismo assertivo; alguns, para instituir a revolução; e alguns para pôr fogo no sistema. É preciso coragem para sugerir que, disso tudo, brotarão a estabilidade e a ordem nos próximos anos.

A questão das ‘narrativas’: a questão da imprensa-empresa


Tudo isso considerado, por que o ‘ocidente’ erra tão frequentemente ao interpretar o Oriente Médio? Sugerimos aqui que o processo tenha a ver com “a narrativa” – a narrativa da ‘democracia’, a narrativa da ‘liberdade’ – ou, mesmo, com a narrativa de ‘a derrubada do presidente Assad não é questão de ‘se’: é questão de ‘quando’’.

Essas ‘narrativas’, como argumentamos, tem pedigree Puritano de vários séculos, profundamente enraizado. Mas o pensamento político da ala dos conservadores norte-americanos conhecida como ‘neoconservadores’ foi fortemente desestabilizado pela ambiguidade dos jovens americanos contra a guerra, desde a guerra dos EUA no Vietnã.

Retomando o pensamento originalmente articulado por Carl Schmitt, e, depois, pela Escola de Chicago, esses pensadores concluíram que nenhum estado que aspire a manter o poder e a posição que tenham pode suportar tal amplitude de ambiguidade moral: a resposta, concluíram então, seria ‘narrar o inimigo’ como tão completa e absolutamente ‘outro’, como tão completo e absoluto ‘mal’, que aquela ambiguidade moral se tornaria impossível. Daí a insistência numa narrativa única – sempre idêntica a ela mesma e sempre repetida.

A ‘narrativa’, desse ponto de vista, torna-se a mais poderosa arma de guerra (na que passou a ser chamada  ‘guerra de quarta geração’).[11] A ‘narrativa’ foi convertida em ‘a realidade’ que nós próprios ‘construímos’ (como se ouvia de alguns ‘conservadores’/neoliberais em 2003).

O poder dessa narrativa é imenso, sem dúvida (p.ex., veja-se a Síria), mas essa insistência numa narrativa simplória, simplista, ou branco ou preto (embora seja ferramenta efetiva de guerra psicológica), é faca de dois gumes.  Porque ela também elimina da paisagem do pensamento todos os demais aspectos de qualquer conflito. Eles são simploriamente desautorizados –  porque comprometem o sucesso de uma narrativa que não pode ser questionada. No frigir dos ovos, políticos, jornalistas e ‘especialistas’ passam a acreditar na própria narrativa (caem na sua própria armadilha) – até que os eventos (como na Síria) afinal, e dolorosamente, expõem a falsidade da própria narrativa.
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[3] 16/12/2013, “O Presidente, sobre o Estado da Nação: Vladimir Putin, à Assembleia Federal da Rússia” (trad. em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/12/o-presidente-sobre-o-estado-da-nacao.html)

[4] O ‘progresso’ da modernidade fica bem exemplificado, por contraste, na definição de Baden-Powell, o criador do escotismo (“Aquele adulto idiota, de calças curtas, sempre seguido de várias crianças idiotas, de calças curtas”, na definição de Millôr Fernandes): “Parar não ajuda ninguém. É preciso escolher entre progredir ou regredir. Assim, portanto, “SEMPRE AVANTE!” com um sorriso nos lábios” (em http://www.citations-celebres.com/citations.php?id_citation=1221). [NTs (risos, risos)]

[5] Orig. [P]rogresser, pour eux, ce n’est pas avancer, ni conquérir, mais revenir et retrouver… [...] Le progrès donc, le seul progrès possible, consiste à vouloir retrouver l’Unité perdue.” (Oeuvres posthumes et correspondances inédites / Charles Baudelaire ; précédées d'une étude biographique, par Eugène Crépet (...), Quantin (Paris)-1887 (http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k6106059x.r=Baudelaire+progresser.langPT) Trad. de trabalho, sem ambição literária, só para ajudar a ler [NTs].

[7] No Brasil não prosperou a palavra ‘neoconservadores’; em vez dela, sempre se usou aqui a palavra ‘neoliberais’. De fato, as duas palavras, no Brasil, designam, desde o primeiro governo FHC-Clinton, o mesmo grupo (PSDB + DEM + Ruralistas + Grande Finança Internacional + USP + imprensa-empresa).

Parece haver aí em operação um interessante ‘golpe narrativo’, que bem merece ser mais bem estudado (embora seja difícil identificar QUE BLOCO POLÍTICO-INTELECTUAL ATIVO NO BRASIL HOJE, teria interesse político em estudar e fazer-ver a ABSOLUTA identidade de pensamento, propostas e táticas, por aqui, entre “neoliberais”, “neoconservadores”, “fascistas” e 'éticos-ecológicos-bonzinhos', feito a INSUPORTÁVEL Marina Silva).

É essa absoluta identidade, aliás, que levou a imprensa-empresa, no Brasil, a apresentar como “neoliberais” alguns perfeitos, totais,  “fascistas”. A opção pela palavra “neoliberais”, no jornalismo de propaganda, reforça o traço economicista pseudo-liberal; e ajuda a esconder o traço conservador político fascistizante [NTs].


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