O filme “5 Câmeras Quebradas” (Five Broken Cameras, em inglês, e Khamas Kameeraat Muhaṭamah, em árabe), dirigido pelo palestino Emad Burnat e pelo israelense Guy Davidi, ganhou o prêmio de melhor documentário no Emmy Awards. A produção registra parte da infância do filho de Emad, Gibreel, e a resistência da vila de Bil’in contra a ocupação.
Emad Burnat e a produtora Christine Camdessus, no Emmy Awards. (Reuters) |
Durante a 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, em agosto, Emad Burnat concedeu uma entrevista para a Revista Contexto, sobre a resistência palestina, os protestos no Brasil e sua ligação com o país.
- Você tem uma relação bastante forte com o Brasil, não? Você ficou sabendo dos protestos que começaram em junho? O que achou deles?
É, eu tenho essa relação com o Brasil, minha esposa é brasileira. Eu fiquei sabendo nas manifestações contra o governo, e li bastante sobre as que foram contra a Copa, porque eu estava assistindo à Copa das Confederações. Eu acompanhei tudo isso e acho que, em todos os lugares, as pessoas têm o direito de protestar, têm o direito de buscar os seus direitos, de que a vida deles seja respeitada. Não tenho nada específico contra o governo daqui, mas acredito que os brasileiros tenham de lutar por seus direitos, educação, saúde, tudo isso.
- O que há de comum entre os brasileiros e os palestinos?
Nós temos uma ligação muito forte. Eu sei que o Brasil apoia a nossa causa, o governo brasileiro apoia a Palestina. E claro que nós gostamos do futebol brasileiro, torcemos para o time na Copa do Mundo, a maioria dos palestinos adora. E também temos uma ligação forte porque muitos familiares nossos estão no Brasil, gostamos dessa mistura entre os dois países… Eu, pessoalmente, tenho família aqui, minha esposa tem família aqui, meus filhos têm passaporte brasileiro. Eu sinto que tenho uma segunda casa, e essa segunda casa é o Brasil.
- Durante as filmagens, você chegou a sentir receio?
Olha, eu nunca pensei que poderia parar de filmar, eu sabia que era o meu dever. Eu era o único que tinha uma câmera em toda a vila, tive de arcar com essa responsabilidade, pelo meu povo, pela minha terra. Eu tinha de fazer isso, era a minha parte na luta, com a minha câmera, com esse filme. Nunca pensei que o filme fosse ser exibido em tantos lugares ou teria tanto público, mas eu acredito nisso. Acredito no poder de mostrar a verdade, de mostrar a nossa realidade – mais do que qualquer evento político, qualquer acordo nos últimos trinta anos.
Emad com sua esposa Soraya e o filho Gibreel. (AFP) |
- E a sua família, o que achou da sua ideia de fazer o filme? Eles apoiaram?
Eles sempre me apoiaram, desde o começo, porque eles fazem parte da nossa luta. Eles sofriam, assim como as outras pessoas da vila, e nós sofremos juntos por conta da situação na nossa terra. Eu falo disso sempre com meus filhos e tentou ensiná-los a fazer isso, a filmar, gravar, fazer filmes sobre o que vivemos em Bil’in. Tenho que ensiná-los a fazer parte de uma geração que lute pelo país deles, que participe e lute pela nossa terra.
- Você mencionou, depois da exibição, que pretende fazer mais filmes. Já tem planos para o próximo?
Eu penso em um outro projeto, mas ainda estou nesse processo, não vou colocar em prática por enquanto, por conta do sucesso deste filme (5 Câmeras Quebradas, ou 5 Broken Cameras, em inglês). Não tive tempo de planejar tudo para o próximo, ainda.
- Você acha que algo mudou, na Palestina, desde que começou as filmagens?
Acho que meu filme tem ajudado a abrir um pouco a cabeça das pessoas, mas tenho em mente que não vou conseguir mudar a realidade da ocupação. Só espero que faça com que as pessoas conheçam mais sobre a Palestina – e tivemos bastante sucesso quanto a isso. Pouco a pouco, com o filme, as pessoas conheceram mais sobre a nossa terra, sobre os nossos esforços, e isso tem ajudado a divulgar informações sobre a situação na Palestina.
Eles sempre me apoiaram, desde o começo, porque eles fazem parte da nossa luta. Eles sofriam, assim como as outras pessoas da vila, e nós sofremos juntos por conta da situação na nossa terra. Eu falo disso sempre com meus filhos e tentou ensiná-los a fazer isso, a filmar, gravar, fazer filmes sobre o que vivemos em Bil’in. Tenho que ensiná-los a fazer parte de uma geração que lute pelo país deles, que participe e lute pela nossa terra.
- Você mencionou, depois da exibição, que pretende fazer mais filmes. Já tem planos para o próximo?
Eu penso em um outro projeto, mas ainda estou nesse processo, não vou colocar em prática por enquanto, por conta do sucesso deste filme (5 Câmeras Quebradas, ou 5 Broken Cameras, em inglês). Não tive tempo de planejar tudo para o próximo, ainda.
- Você acha que algo mudou, na Palestina, desde que começou as filmagens?
Acho que meu filme tem ajudado a abrir um pouco a cabeça das pessoas, mas tenho em mente que não vou conseguir mudar a realidade da ocupação. Só espero que faça com que as pessoas conheçam mais sobre a Palestina – e tivemos bastante sucesso quanto a isso. Pouco a pouco, com o filme, as pessoas conheceram mais sobre a nossa terra, sobre os nossos esforços, e isso tem ajudado a divulgar informações sobre a situação na Palestina.
Fonte: Revista Contexto
Nota do Blog: Priscila Bellini é
estudante de Jornalismo idealizadora da revista Contexto, e apaixonada por
língua e cultura árabe.