Desde a Faixa de Gaza, os jovens palestinos continuam lutando por sonhos, saltando o bloqueio e alcançando o mundo. É assim que Mohammed Assaf, o jovem cantor que venceu o concurso Ídolo Árabe, fez ressoar a voz e a causa do seu povo e chegou ao Brasil, onde cantou no Congresso da Fifa, às vésperas da Copa do Mundo. Nesta quarta-feira (11), Mohammed também falou da sua trajetória e do seu papel enquanto representante da juventude palestina.
Por Moara Crivelente, do Portal Vermelho
Foto: Moara Crivelente / Portal Vermelho
Mohammed falou da sua trajetória e do seu papel enquanto representante da juventude palestina. |
Mohammed começou a cantar aos cinco anos de idade, logo após voltar à Faixa de Gaza com a sua família. O jovem nasceu refugiado, na Líbia, mas voltou para a sua terra e cresceu em Khan Younis, onde estudou nas escolas da Agência das Nações Unidas para Assistência e Trabalhos para os Refugiados Palestinos (UNRWA). Depois de enfrentar os obstáculos impostos pelo bloqueio israelense, Mohammed chegou aos testes do concurso "Arab Idol", que acabou por vencer em junho de 2013, levando a voz dos palestinos para outros cantos do globo.
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Na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, Mohammed contou, em um pequeno encontro com a imprensa, como se tornou cantor, falou sobre a sua apresentação no dia anterior, no 64º Congresso da Fifa e sobre a causa do seu povo e da sua terra, a Palestina. Um dos grandes sucessos de Mohammed é a música Ally Al-Kufiyyeh, do compositor iraquiano Jamal Al-Najjar, e que ele cantou aos 11 anos de idade, em 2005. “Ela se tornou quase um hino para os palestinos,” conta o jovem. “Não só na Palestina, ela é conhecida em todo o mundo árabe. Vejo isso porque, quando começo a cantá-la, o público continua e eu paro.”
Mohammed conta sobre a sua infância no território ocupado, os sonhos da juventude bloqueada e os planos que passam sempre, em primeiro lugar, pelos meios possíveis e pelos obstáculos a serem transpostos. “Pobreza,” diz ele, quando se refere à realidade do território completamente cercado e enclausurado. E os soldados estão sempre lá.
Em seus 24 anos de idade, Mohammed já viu períodos intensos da violência de Israel contra os palestinos: em 2008-2009, durante a Operação Chumbo Fundido, em que mais de 1.400 residentes de Gaza foram mortos – e houve denúncias não só da destruição disseminada, como também do uso de armas químicas como o fósforo branco em áreas habitadas – e durante a Operação Pilar de Defesa, que deixou quase 200 mortos, em 2012. Em ambos os casos, Mohammed conta ter perdido amigos e parentes.
“Todos viram como foi desumano e horroroso”, diz o jovem, que também lembra a Segunda Intifada (“levante” contra a ocupação), impulsionada no início dos anos 2000, “quando respondíamos com pedras” aos ataques israelenses. “Coisas que não se podem ver nem em filmes, eu vi, ao vivo”, enfatiza; “foi uma infância difícil, com pobreza, problemas políticos e uma vida quase inexistente. Mas apesar disso tudo, somos um povo que continua vivendo, continua existindo, com alegria.”
Mohammed conta sobre a sua infância no território ocupado, os sonhos da juventude bloqueada e os planos que passam sempre, em primeiro lugar, pelos meios possíveis e pelos obstáculos a serem transpostos. “Pobreza,” diz ele, quando se refere à realidade do território completamente cercado e enclausurado. E os soldados estão sempre lá.
Em seus 24 anos de idade, Mohammed já viu períodos intensos da violência de Israel contra os palestinos: em 2008-2009, durante a Operação Chumbo Fundido, em que mais de 1.400 residentes de Gaza foram mortos – e houve denúncias não só da destruição disseminada, como também do uso de armas químicas como o fósforo branco em áreas habitadas – e durante a Operação Pilar de Defesa, que deixou quase 200 mortos, em 2012. Em ambos os casos, Mohammed conta ter perdido amigos e parentes.
“Todos viram como foi desumano e horroroso”, diz o jovem, que também lembra a Segunda Intifada (“levante” contra a ocupação), impulsionada no início dos anos 2000, “quando respondíamos com pedras” aos ataques israelenses. “Coisas que não se podem ver nem em filmes, eu vi, ao vivo”, enfatiza; “foi uma infância difícil, com pobreza, problemas políticos e uma vida quase inexistente. Mas apesar disso tudo, somos um povo que continua vivendo, continua existindo, com alegria.”
Mohammed cita um censo realizado pela Liga dos Estados Árabes segundo o qual o povo palestino é o que mais estuda, mais inventivo e destacado nas ciências, por exemplo. “Este é o segredo do povo palestino”, diz o jovem, “persistir.” Para ele, manter a esperança é fundamental, e declara, como mensagem aos jovens da sua idade: “Se há um objetivo, um sonho de chegar a algum lugar, o jovem precisa lutar até conseguir”.
O cantor empolga-se ao falar de música, mas ainda mais de futebol. Ele conta que é um jogador federado, arriscando palpites sobre a Copa: torcerá pela Argélia, único time árabe classificado, mas diz que o Brasil é certamente o favorito para vencer. Sobre sua apresentação no Congresso da Fifa, que já considera ter sido uma grande oportunidade, afirma, sem entrar em detalhes, que “contornos foram feitos” para que ele, enquanto árabe e palestino, não cantasse na abertura da Copa do Mundo no Brasil, como foi planejado antes.
Solidariedade à causa palestina
No contexto da crescente conscientização global sobre a situação dos palestinos, quase dois anos após o reconhecimento do Estado da Palestina por mais de 130 países, a Organização das Nações Unidas declarou 2014 como o Ano Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. “Isso prova que ainda há humanismo na defesa dos direitos neste mundo”, diz Mohammed. O jovem ressaltou a importância do apoio à causa palestina e saudou, em mensagem de vídeo, a solidariedade do Comitê pelo Estado da Palestina, que agrega mais de 80 entidades brasileiras. Assista a seguir:
Apesar da maior presença na mídia mundial, após vencer o concurso, Mohammed ressalva, “continuo sendo palestino”, e continua sendo difícil tanto viver quanto sair de Gaza, apesar de algumas facilidades, desde que se tornou embaixador regional da juventude pela UNRWA. Ainda que apresentando o passaporte emitido pela ONU, Mohammed é interpelado, quando tenta deixar o território: “Mas você é palestino”, disse em uma das vezes o agente israelense no posto de controle da fronteira. “Há muitos que carregam este passaporte e limpam banheiros”, o soldado provocou.
“Força de ocupação, é força de ocupação”, afirma Mohammed. “É algo imundo, sujo, até as coisas belas e tranquilas a ocupação tenta aniquilar. Isso é natural para eles, estão acostumados com isso.” Por isso, diz o cantor, “deixo a ocupação com a minha música, porque a arte é uma mensagem civilizacional”.
Mohammed dá grande importância para o seu papel enquanto embaixador regional da juventude pela UNRWA. “Enquanto alguém que representa mais de cinco milhões de palestinos, esta é uma grande responsabilidade. Qualquer coisa relacionada à causa palestina me alegra muito.” O jovem participa de muitos congressos e reuniões com associações beneficentes para apoiar os palestinos e os trabalhos da UNRWA em educação, saúde e alimentação, uma assistência prestada há cerca de 70 anos. “Estou satisfeito em realizar este esforço, e continuo devendo, pois esta é uma missão enorme.”
A “justa causa” do povo palestino, continua o cantor, torna-se conhecida. “O mundo inteiro sabe dos problemas enfrentados pelo povo palestino, temos o direito de ter um Estado independente. De qualquer forma, queremos o que a comunidade internacional quer: conviver de forma pacífica, harmoniosa. Queremos nossa autodeterminação, viver em paz e em tranquilidade.” Mohammed também gravou mensagens de solidariedade e agradeceu, em vídeo, ao ativo Comitê pelo Estado da Palestina, brasileiro, pelo apoio à causa do seu povo.
Fonte: Portal Vermelho