09/03/2012
Por Yuri martins Fontes - Política Operária
A disparidade de meios militares entre o Estado de Israel (apoiado pelos EUA) e o povo palestiniano, sem exército, dispondo apenas de arcaicas armas caseiras, transformou o conflito num lento genocídio.
O terror chegou a tal ponto que são várias as vítimas do Holocausto que começam a denunciar publicamente a semelhança das práticas do governo sionista com as do regime hitleriano. Tortura, uso de seres humanos como cobaias e racismo são práticas comuns do governo de Tel Aviv, que se estão a agravar devido a um factor – a elevada taxa de natalidade dos palestinianos, muito superior à dos israelitas. Este facto vai em poucos anos obrigar Israel, para manter os privilégios dos seus habitantes, a abandonar os últimos resquícios de "Estado democrático", limitando o direito de voto aos cidadãos não-judeus ou, ainda pior, expulsar ou assassiná-los, realizando uma limpeza étnica.
Este aparente absurdo institucional está perto de se tornar realidade. Basta atentar nos dados divulgados pelos organismos internacionais. E é, paradoxalmente, a representação diplomática do líder da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), Mahmoud Abas, na ONU que, ao defender a solução de "dois Estados" oferece ao povo judeu a única solução para evitar tão bárbaro rumo.
CRIMES DE GUERRA, COBAIAS HUMANS E CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO
Recordemos os dados mais recentes do terrorismo israelita: no último bombardeamento massivo de Gaza (2008/2009), a desproporção de forças foi tal que, por cada israelita morto, foram assassinados 100 palestinianos. Dois terços das 1300 vítimas eram civis, a maioria delas crianças.
Conforme a análise do sociólogo Emir Sader, da Universidade do Rio de Janeiro, a matança "foi uma das piores que o mundo conheceu nos últimos tempos". Sob a premissa de que "não há inocentes em Gaza", esta zona de alta densidade populacional foi bombardeada como se de um campo de tiro a céu aberto se tratasse. Foram lançados sobre o território mil toneladas de bombas, que destruíram o pouco que ainda restava das infra-estruturas públicas – hospitais, fábricas e escolas – numa zona das mais pobres do mundo e onde se amontoam milhão e meio de pessoas.
Segundo a Cruz Vermelha e a ONU, os comandos israelitas ordenaram o uso de armas químicas, em clara violação das leis internacionais de guerra. Os documentos referem que os pára-quedistas lançaram pelo menos 20 bombas de fósforo branco sobre o campo de refugiados de Biet Lahaiya. O fósforo branco é uma substância altamente inflamável, que reage ao oxigénio e causa graves queimaduras. Ao explodir, as bombas pulverizam o fósforo, que é lançado a grandes distâncias e se pega à pele, continuando a arder depois de a penetrar.
Mais, os médicos noruegueses da ONG Norwac, Mads Gillbert e Erik Fosse, denunciaram o uso de uma nova arma conhecida como Explosivo de Metal Denso. Trata-se de uma pequena munição envolta em carbono, com uma cobertura de ferro, cuja explosão num fluxo de poucos metros "corta um corpo ao meio". Ao experimentar estas armas nunca usadas, nem pelos EUA, os israelitas fizeram dos palestinianos cobaias, repetindo uma prática abominável dos tempos de Adolf Hitler.
O ÓDIO QUE SE SEMEIA
Desde então realizaram-se diversas manifestações israelitas de protesto. Norman Finkelstein, filho de sobreviventes do Holocausto e autor de A indústria do Holocausto, afirmou que as acções israelitas contra os árabes "são comparáveis às dos nazis contra os judeus". E como exemplo lembrou a expulsão dos palestinianos, depois da guerra de 1948, quando os israelitas ocuparam – com a ajuda do exército – imensos territórios árabes dizendo serem "abandonadas". O autor, depois de visitar o Sul do Líbano, que esteve sob domínio israelita durante duas décadas, declarou: "Era um campo de concentração".
Outra significativa denúncia dos crimes israelitas partiu de uma judia que fugiu da Alemanha e cujos pais morreram em Auschwitz. Para Hedy Epstien, as acções do governo israelita mostram que não aprenderam nada: "Como podem fazer aos palestinianos o mesmo que os nazis?", declarou à BBC, acrescentando: "Estas acções horríveis aumentam o anti-semitismo".
DA PRÁTICA DO TERROR À SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO
Michel Warschawski, director do Centro de Informação Alternativa de Jerusalém, considera "particularmente significativo" que um sector da direita já tenha percebido que a "democracia israelita está em perigo". Israel converteu-se num Estado fundamentalista e poderá caminhar para o fascismo. Um quinto da sua população é árabe e é a parte mais pobre de uma sociedade em que a concentração de riqueza é das maiores do mundo. Vários analistas vêm referindo que a "solução de dois Estados" é a que mais convém a Israel porque, como explica o professor de Relações Internacionais da Universidade Hebraica, Arye Katzovich, "se Israel não permitir a independência dos territórios ocupados, o país não poderá sobreviver como 'Estado judeu e democrático', já que a população árabe-israelita em poucos anos superará a judia – devido às altas taxas de natalidade e o não acesso à informação sobre planeamento familiar.
Os árabes-israelitas são 19,4% numa população de quase oito milhões. Porém, têm uma taxa demográfica duas vezes superior à dos judeus. Se os sionistas impedirem a criação de um Estado palestiniano para onde possam 'deportar os árabes', só restam duas possibilidades: ou os árabes acabam por controlar o Estado ou, à semelhança do apartheid, haverá necessidade de um regime autoritário e segregacionista que permita manter o poder nas mãos da minoria judia".
No limite, poderá acontecer algo semelhante ao extermínio nazi – sempre em nome da manutenção do Estado do "povo eleito". Henri Lefebvre, filósofo de meados do século XX, já tinha notado a semelhança: "Os ideólogos hitlerianos tomaram do antigo judaísmo a ideia de um povo eleito e de uma raça, a qual aperfeiçoaram recorrendo a considerações biológicas discutíveis". Agora, os novos membros do povo eleito, depois do débil optimismo da experiência liberal, parecem querer voltar ao pessimismo do fundamentalismo político-religioso baseado no terror.