Por Rasem Shaban Mutlaq*
Israel tenta negar a existência da Palestina, afirmando que um povo sem terra chegou a uma terra sem povo, e tentando ignorar a existência do povo Palestino que vive ali há 10 mil anos. Israel pratica contra o povo palestino as mais brutais formas de discriminação racial e assassinatos sistemáticos, e não cumpre o direito internacional, as centenas de resoluções da ONU, as leis humanitárias, incluindo os direitos mais básicos das crianças. Israel, desde a sua criação em 1948, dá continuidade ao plano estratégico de limpeza étnica da Palestina, procurando eliminar o povo palestino e joga-lo fora de sua terra e de seu país.
A Unicef instituiu o dia 05 de abril de cada ano como o Dia da Criança Palestina. O objetivo é o de promover os direitos básicos das crianças de desfrutar da inocência de sua infância e do seu direito a vida. Nossas crianças são vitimas da violência israelense e nesta data renovam sua busca de viver com dignidade como todas as crianças do mundo.
Israel plantou horror e terror nos corações dos nossos filhos, eles crescem com ódio, como resultado das práticas da ocupação e opressão israelenses.Ao invés de mostrar boa intenção, trabalhar lado a lado com os palestinos, tentar conviver de forma pacífica, Israel continua usurpando e ocupando com violência e crueldade as nossas terras.
Lembro-me de uma história que aconteceu com uma mulher palestina minha amiga, em 2002, quando Israel invadiu as cidades palestinas, causando destruição e assassinatos em massa. Ela estava ensinando seu filho, que tinha 4 anos, cálculos matemáticos de adição e subtração, ela pediu-lhe para identificar o tipo de operação, no montante de 2 +2, ele respondeu espontaneamente: Mãe, você quer dizer, uma operação Militar!
Batla, 4 anos, o direito de desfrutar da inocência de sua infância |
No caminho de volta para a casa, é obrigatória a passagem por um posto de controle israelense ilegal “Qalandia”, que separa os bairros palestinos de Jerusalém um dos outros. No posto de controle acontecia um evento pacífico para o fim da ocupação israelense dos territórios palestinos. Soldados israelenses dispararam bombas de gás lacrimogêneo em cidadãos desarmados, as bombas causaram azia e dor nos olhos, que por vezes pode levar à morte.
A fumaça do gás lacrimogêneo entrou no carro, apesar do fechamento de todas as janelas. Batla, a criança, não conseguiu resistir ao gás, seus olhos ficaram vermelhos e suas lágrimas foram escorrendo, sua respiração quase parou. Ela estava chorando e chorando, por causa da dor, seus gritos eram cada vez maiores, enquanto ela estava vendo os soldados atirando gás lacrimogêneo sobre os cidadãos e os carros que ali passavam. Ela perguntou a seu pai: por que você mentiu para mim, você disse que o policial é um bom homem. Seu pai estava abraçando-a, tentando aliviar sua dor, pensando consigo mesmo o que ele poderia responder a esta criança e como explicar as diferentes situações aqui e ali. Batla poderia entender o que seu pai tem a dizer? Abdallah, pai de Batla, não teve como explicar o que aconteceu com sua filha, mas esta experiência dolorosa que ocorreu com Batla, o tempo não apagará de sua memória. Certamente, ela não esquecerá a cena de um soldado israelense apontando sua espingarda em direção a sua infância inocente!
Lembro-me também de uma caricatura de Carlos Latuff que retrata um diálogo entre uma criança palestina e uma criança israelense. A criança israelense conta que seu pai lhe disse que os árabes são maus, terrorista e animais. A criança palestina respondeu que seu pai não lhe disse nada, porque o pai da criança israelense o assassinou.
O relatório preparado em 3 de abril 2013, pelo Movimento Global de Defesa da Criança na Palestina, destacou que a ocupação israelense continua suas violações crescentes contra as crianças palestinas. Israel matou 42 crianças em 2012, incluindo 33 mortos durante o ataque das forças de ocupação contra a Faixa de Gaza.
O relatório aponta um aumento no número de crianças detidas, eram 223 crianças no mês de janeiro de 2013. Em fevereiro o numero se elevou para 236. As crianças são submetidas a várias formas de maus-tratos e tortura durante a detenção e interrogatório.
Israel está trabalhando para tornar impossível a solução de dois Estados com a construção de novos assentamentos judaicos em terras palestinas e a expansão dos existentes, com a construção do Muro do Aparthied, com os bombardeios contra a população civil, com as execuções e assassinatos seletivos e uma série de outras ações que violam abertamente o Direito Internacional, as Resoluções da ONU, a Declaração Universal dos Diretos Humanos e a Convenção de Genebra. Uma barbárie monumental se abate diariamente contra nosso povo e suas crianças!
A ocupação israelense é o principal obstáculo para a paz. A comunidade internacional deve cobrar e responsabilizar duramente Israel por suas ações e condutas como força de ocupação e tomar medidas urgentes para o fim dessa nefasta e criminosa ocupação. Israel deve cumprir as leis e tratados internacionais!
O povo palestino não pode permanecer refém nas mãos da ocupação israelense, é tempo de justiça e de paz. Em 29 de novembro de 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas admitiu o Estado da Palestina como membro observador da ONU. O próximo passo é o Estabelecimento do Estado da Palestina nos territórios palestinos e para isso a comunidade internacional precisa pressionar para que Israel cumpra com suas obrigações perante a humanidade, o povo palestino e as leis internacionais.
Israel deve se retirar dos territórios palestinos ocupados, a comunidade internacional deve fornecer proteção para a população civil palestina, especialmente as crianças, e deve considerar os comandantes do exército de Israel como criminosos de guerra e processá-los no Tribunal Internacional.
Israel deve se retirar dos territórios palestinos ocupados, a comunidade internacional deve fornecer proteção para a população civil palestina, especialmente as crianças, e deve considerar os comandantes do exército de Israel como criminosos de guerra e processá-los no Tribunal Internacional.
“Que Deus termine com o sofrimento do povo palestino e traga justiça a essa sofrida terra e paz ao mundo todo.”
*Rasem Shaban Mutlaq é palestino e mestre em História pela Universidade da Jordânia.