sexta-feira, 7 de junho de 2013

As crianças palestinas apanham como gente grande


crianças palestina são presas por Israel

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Anualmente, 700 menores de idade palestinos, entre 12 e 17 anos são presos pelo exército e a polícia de Israel na Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Dá uma média de 2 por dia.



É o cálculo apresentado em recente relatório da UNICEF.

Vale até dezembro de 2012.

Neste ano, parece que esse número será maior. Segundo a Ong Defence por Child Inrernational, no primeiro trimestre, os israelense já tinham prendido 350 meninos, 17% a mais do que no mesmo período no ano passado.

Veja bem, a maioria desses meninos não era de delinquentes; seus crimes foram jogar pedras nos soldados ou veículos militares; distribuir panfletos, participar de manifestações ou pregar cartazes contra a ocupação; tentar atravessar as fronteiras da Cisjordânia; entrar em assentamentos judaicos; coisas assim.

Diz o relatório da UNICEF que os menores palestinos presos sofrem “o que representa tratamento ou punição cruel, desumana ou degradante, de acordo com os Direitos da Crianças e a Convenção Contra Torturas,” ratificados por Israel.

A UNICEF afirma ainda que esta violência “parece ser generalizada, sistemática e institucionalizada” durante a detenção, interrogatório, processo e eventual condenação e pena de prisão.

Comparando a situação dos meninos palestinos presos com a dos meninos israelenses, o relatório mostra que estes últimos são privilegiados.

Enquanto o menino israelense preso é levado a um juiz em até 12 horas, o palestino é obrigado a ficar esperando até 4 dias.

O israelense fica 2 dias sem poder chamar um advogado. Já o palestino só poderá chamar o seu num prazo de 90 dias. Isso se os policiais o avisarem de que tem direito a um advogado, coisa que não são obrigados a fazer.

O menino israelense pode ficar preso 40 dias sem acusação; o menino palestino, 60 dias.

Com 12 anos ou menos, o israelense não pode ficar detido até o dia do julgamento. Suas chances de absolvição antes do julgamento começar são de 80%. Já o palestino pode ficar preso durante 18 meses. E tem poucas chances de sair livre antes do julgamento: apenas 13%.

A lei de Israel não permite pena de prisão para meninos israelenses com menos de 14 anos. Sob as leis militares, meninos palestinos entre 12 e 14 anos não tem esse privilégio.

Estas informações do relatório da UNICEF foram confirmadas por uma comissão formada por 9 conceituados juristas ingleses, liderados por um ex-juiz da mais alta corte, sir Stephen Sadley.

Em estudo denominado “Crianças Sob Custódia Militar,” eles relatam as agressões físicas e verbais que as crianças palestinas sofrem quando presas.

E observam: “Cada ano, centenas de crianças palestinas ficam traumatizadas, às vezes irreversivelmente…e vivem sob risco constante de punições mais rudes no caso de voltarem a serem presas.”

Crianças confinadas em prisão solitária por longos espaços de tempo foi um fato constatado, o que, segundo o relatório, é considerado tortura pela Convenção dos Direitos da Criança, da ONU.

A justificação desta e das outras violências feita por um procurador militar, chocou os juristas ingleses: “Cada criança palestina é um terrorista potencial.”

A denúncia do que o exército vem fazendo contra as crianças palestinas foi feita também por soldados israelenses.

Eles criaram um movimento de veteranos, o “Quebrando o Silêncio” (Breaking The Silence).

Publicaram 850 relatos de soldados sobre ações violentas do exército israelense nos territórios ocupados.

Yehuda Shaul, ativista do movimento, informou que os documentos foram reunidos para mostrar a realidade do tratamento habitual imposto pelos soldados aos palestinos, particularmente crianças.

Um sargento de paraquedistas, que regularmente levava sob custódia meninos de 12/14 anos, por tentarem cruzar a fronteira com Israel, foi instruído a tratá-los não como crianças, mas como terroristas.

Ele também relatou um caso em que fez parte de um grupo de soldados encarregado de atirar com balas de borracha contra civis, à saída de uma mesquita. Caso alguma criança jogasse pedras neles, deveriam usá-las como escudos humanos.

“Você seguira o garoto, empurra sua arma contra o corpo dele. Ele não pode fazer um só movimento, fica totalmente petrificado. Apenas grita: no army, no army!”

Um veterano que serviu em Hebron, em 2010, conta como era o contato com as crianças palestinas presas: “Você nunca conversava com elas, elas sempre choravam, defecavam nas calças…”

Era o que acontecia muitas vezes:”Eu me lembro de ouvir o som delas evacuando nas calças…Eu me lembro, também,quando alguma urinava nas calças. Eu ficava indiferente a isso.”

Comentando esses fatos, Gerald Horton, da Ong Defense For Children International, declarou : “Não são incidentes isolados ou uma questão de umas poucas maçãs podres. É a consequência natural e previsível da política do governo.”

Leia-se: governo Netanyhau.

Falta alguém em Haia, no banco dos réus do Tribunal Criminal Internacional.


Publicado em 25/05/2013 no Olhar O Mundo

terça-feira, 14 de maio de 2013

Al Nakba: 65 anos da tragédia palestina

Os palestinos de Israel - Al Nakba

15 de maio de 1948: A guerra que não terminou

Vinicius Valentin Raduan Miguel*

Todos os anos, nesta data, é relembrado o que os árabes/palestinos chamam de Al'Nakba (A Catástrofe) ou o que os judeus-israelenses comemoram como a Guerra de Independência, quando o Estado de Israel foi criado.


Uma problemática acompanhou a criação do Estado de Israel: Israel é um projeto que prega a exclusividade étnica e lingüística de um grupo (judeu/hebraico) em detrimento de todos os outros. A questão posta nos anos iniciais da colonização era "como lidar com a população árabe que lá vivia?". A solução encontrada foi uma deliberada e metódica eliminação física e cultural dos povos tradicionais, uma prática que encontra seu conceito jurídico na definição de "limpeza étnica". Desta forma, no ano de 1948, 531 vilas, 11 áreas urbanas e 30 cidades foram totalmente destruídas. No total, aproximadamente 800.000 pessoas (mais do que metade da população na época) foram expulsas (1) formando a atual massa de quatro milhões de refugiados que habitam os países vizinhos.

Relembrar este dia é fundamental, pois marca uma data que tragicamente não terminou. A Guerra de 1948 não terminou por duas razões: (a) Israel se recusa a reconhecer o crime que cometeu e, desta maneira, aceitar as responsabilidades advindas de sua prática, como aceitar o retorno dos refugiados e/ou indenizar os sobreviventes expulsos de suas terras e; (b) o fator ideológico que motivou a guerra persiste. Em outras palavras, o projeto de Israel enquanto Estado sem árabes continua e a prática de limpeza étnica é um fantasma constante.

A analogia com o apartheid (2) é evidente: um Estado de brancos sem negros é inaceitável, mas um Estado de judeus sem árabes é permissível. Esta é a origem de todos os conflitos na região - muito além da concepção reducionista de embate apocalíptico-religioso em que uma aliança "Européia/Ocidental/Cristã" da "bondade" enfrenta os "malvados" "Orientais/Muçulmanos/Anti-Cristãos"3. Mas contestar esta prática racista é violência e a violência do fraco, mesmo que injustificada e em resposta a uma prévia violência, é terrorismo. Em contrapartida, a violência do poderoso se justifica e apresenta-se como legítima defesa!

Falar em enfrentamento entre Israel e Palestina esconde ainda outros problemas, não menos sutis. Mascara-se propositalmente que Israel é um Estado e a Palestina não existe enquanto tal. A Palestina persiste em um limbo jurídico definido como "territórios ocupados", uma condição em que a potência ocupante é responsável de fato pela administração. É sob estes fatos ignorados e falsificados pela mídia que é preciso entender os últimos acontecimentos na região, como a guerra em 2006 contra o Líbano e o recente massacre em Gaza, iniciado em dezembro de 2008.

Palestinos expulsos carregando seus pertenencias durante a Nakba, en 1948.
Foto: Fred Csasznik


A violência israelense, como todas as agressões colonialistas são desproporcionais. Na Guerra de 2006 contra o Líbano, por exemplo, são 44 civis israelenses mortos contra 1191 civis libaneses; na Guerra de 2008-2009 contra Gaza foram (3) civis israelenses contra 926 civis palestinos. Mas não só de nefastas estatísticas que se faz a desproporcionalidade. A cobertura histórica também é desproporcional e são poucas as menções feitas à tragédia árabe-palestina de 1948, contribuindo para seu "apagamento".

Neste sentido, a maior eliminação provocada por este verdadeiro crime de limpeza étnica foi a supressão do acontecimento da História, de maneira que ninguém sequer menciona este outro holocausto (4). Contra isso, celebrar o Dia da Catástrofe é lembrar. É um projeto educativo denunciando a limpeza étnica da Palestina como um projeto inacabado de Israel. Lembrar os métodos e práticas israelenses que se arrastam do passado até os dias de hoje devem servir para impedir que o plano de eliminação da Palestina se concretize. Repetindo o mantra que já nos acostumamos a ouvir: Nunca mais!

(1) PAPPE, Ilan. The ethnic cleansing of Palestine. Oneworld Publications, Oxford: 2007.

(2) Para mais informações, o website http://ApartheidNaPalestina.blogspot.com/ possui uma valiosa coletânea de artigos sobre o assunto.

(3) Não esquecer que existem outros grupos religiosos entre os palestinos, como cristãos
.
(4) Existem projetos de leis no parlamento israelense que buscam inclusive proibir manifestações lembrando o dia!


*Vinicius Valentin Raduan Miguel é cientista social pela Universidade Federal de Rondônia e mestrando em Ciência Política pela Universidade de Glasgow, Escócia.


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A limpeza étnica da Palestina e os mitos da criação de Israel


Assista a entrevista (legendada em português) com o historiador israelense ILAN PAPPE, onde discorre sobre como o sionismo, de forma planejada, executou e continua executando a limpeza étnica da Palestina: ocupação e roubo da terra, eliminação física e expulsão dos palestinos, apagamento da cultura e da história palestina. O mito da "guerra de defesa" de 1948. O mito que os palestinos abandonaram seus lares e terras. . A lógica sionista do massacre de Deir Yassin. O mito da democracia israelense. As perspectivas para o futuro.A perseguição que sofreu na Universidade Uma entrevista de um judeu que foi em busca da verdade e enfrentou todas as pressões com altivez e coragem.




Leia também:

O massacre de Deir Yassin e a limpeza étnica da Palestina


64 anos do Nakba: A limpeza étnica da Palestina e as responsabilidades ocidental e brasileira


A Nakba: A limpeza étnica e o nascimento de Israel



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