sábado, 1 de março de 2014

Relator da ONU acusa Israel de praticar APARTHEID e LIMPEZA ÉTNICA


Retratos da Resistência por Leandro Taques. Palestina, 19/04/2013

Imagem da série: “Retratos da resistência – Um povo que luta para não desaparecer”. Nesse processo de opressão realizado pelo invasor israelense, contra o povo palestino, os que mais sofrem são os pequenos. Violência física e psicológica. Fotografar crianças, em geral, é só sorriso. Na Palestina, nem sempre. Bil’in, Palestina, 19/04/2013. Leandro Taques.


Israel pratica apartheid na palestina, diz Richard Falk


Publicado em 02/25/2014 por Fabio Bacila

Para aqueles que estão mais familiarizados com a realidade da região, talvez não seja surpreendente a afirmação contundente de Richard Falk, relator especial designado pela ONU para averiguar a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel, desde 1967. Mas, uma coisa é ouvir isso de estudiosos ou mesmo de lideranças árabes, palestinas, ativistas e políticos das esquerdas. Situação bem diferente é constar essa afirmação em um relatório oficial da Organização das Nações Unidas.

Falk, em seu último relatório investido da relatoria especial pela ONU, critica a imobilidade da Corte Internacional de Justiça e assume parcialmente a tarefa que seria da competência dessa instância máxima, requerida desde 2007 a “analisar se as alegações de apartheid na Palestina Ocupada são bem fundamentadas”.

Para desempenhar essa missão, o humanista judeu e relator especial se utiliza de documentação pregressa da ONU, dos instrumentos internacionais que tipificam apartheid, colonialismo e limpeza étnica e de relatórios produzidos por diferentes organizações de direitos humanos – muitas delas israelenses. Falk reúne diversas evidências que Israel desrespeita uma série de direitos da população palestina vivendo sob ocupação, como direito à vida, liberdade, igualdade, trabalho, educação, movimentação, residência, opinião, expressão e associação. Se em Gaza as violações de direitos humanos são praticadas via bloqueio e controle exercido à distância, na Cisjordânia o ocupante instituiu um sistema legal duplo e uma segregação espacial entre colonos judeus e a população árabe.

Acercando-se da conclusão drástica de que Israel pratica o apartheid, Falk afirma no parágrafo setenta e um que “parece incontestável que as medidas israelenses de fato dividem a população dos Territórios Palestinos Ocupados com base em critérios raciais, criam reservas separadas para os palestinos e expropriam sua terra. Mais adiante, no parágrafo setenta e sete, sintetiza sua argumentação: as violações de direitos humanos refletem “políticas, leis e práticas israelenses sistemáticas e discriminatórias, que determinam onde nos territórios ocupados os palestinos podem ou não viajar, viver e trabalhar”. Como conclusão, o relator ressignifica a palavra hebraica hafrada (separação) e a utiliza como sinônimo do termo africâner apartheid para definir a situação nos territórios palestinos: “os efeitos combinados das medidas formulados para garantir a segurança dos cidadãos israelenses, para facilitar e expandir os assentamentos e, ao que parece, para anexar terras, é hafrada, discriminação e opressão sistemática do povo palestino e domínio sobre ele”.

Essa conclusão relativamente tardia, haja vista o acúmulo de indícios que a sustentam na documentação da própria ONU sobre o caso, remeto-nos a um desentendimento entre as lideranças sul-africanas e israelenses nos anos 1970. Na ocasião, um representante oficial do apartheid acusava seu colega israelense de hipocrisia quando este tentava se desvencilhar da proximidade ideológica e concreta com o regime de segregação africano.

Esse reconhecimento oficial de Richard Falk reforça ainda mais o isolamento de Israel, que caminha a passos largos para a “saída da civilização”, como mencionou um parlamentar contrário à ocupação no Knesset, referindo-se ao governo atual e aos pronunciamentos de seus apoiadores na casa legislativa. Essa constatação do relator especial faz coro com a diretriz da União Europeia, que ano passado decidiu começar a verificar a documentação de empresas israelenses para se certificar que essas não tinham vínculos com os territórios ocupados antes de permitir a venda de seus produtos na Europa. Avança a opressão e, agora sim é possível afirmar, o apartheid, mas concomitantemente Israel vai se complicando e se isolando ao permitir que suas alas da direita persigam o anacrônico sonho de um Estado judeu em toda a Palestina histórica.




Manifestação de boicote ao apartheid de Israel


O relator especial da ONU, Richard Falk, acusa Israel de promover uma “limpeza étnica”

Publicado em 02/24/2014 por Fabio Bacila


Em seu último relatório como relator especial da ONU para averiguar as violações de direitos humanos nos Territórios Ocupados por Israel [territórios palestinos], o judeu Richard Falk argumentou que a “ocupação opressiva … parece delineada para encorajar os residentes a deixar a Palestina, o que é consistente com os objetivos ‘anexionistas’, colonialistas e de limpeza étnica de Israel.

Em seu relatório, Falk sugeriu que a ONU tem um papel crucial a desempenhar, naquilo que chamou de guerra de legitimidade contra Israel. Falk descreveu esta “guerra” como “uma luta mundial para ganhar controle sobre o debate a respeito dos benefícios legais e propriedades morais no conflito apoiado por um movimento de solidariedade mundial que começou a influenciar a opinião pública.” Ele encorajou a ONU para substituir a palavra ‘ocupação’ por ‘ambições coloniais’, bem como ‘anexação’ de modo a reforçar a urgência de enfrentar a situação.

Falk foi tão longe ao ponto de redefinir a palavra hebraica hafrada – separação -, atribuindo a ela um uso literal como a tradução da palavra africâner “apartheid”, literalmente o estado de estar separados. Em seu parágrafo final da seção perguntando se Israel é culpado de apartheid, Falk escreveu que “o efeito combinado das medidas destinadas a garantir a segurança dos cidadãos israelitas, para facilitar e expandir os assentamentos, e, ao que parece, para anexar terras, é hafrada, discriminação e opressão sistemática de e dominação sobre o povo palestino.
Em suas recomendações, Falk chamou mais uma vez a Corte Internacional de Justiça para emitir opiniões consultivas sobre o estatuto jurídico da ‘ocupação prolongada da Palestina, agravada pelas transferências proibidas de grande número de pessoas da potência ocupante e pela imposição de um sistema administrativo duplo e discriminatório na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental “.

Falk também sugeriu que Israel desmantele as colônias, realoque os colonos e ofereça compensações para os palestinos da Cisjordânia, bem como “levante o bloqueio ilegal de Gaza, cesse as incursões militares, permita aos moradores de Gaza usufruir plenamente dos seus recursos naturais situados dentro de suas fronteiras ou na costa de Gaza, e se responsabilize pela situação de emergência em Gaza “.

Fonte: Urgente Palestina






Nelson Mandela fala sobre o apartheid israelense



Direito ao retorno dos palestinos



Israel pratica apartheid, Charge "Eu sou palestina" de Carlos Latuff




Muro do Apartheid construído por Israel nos territórios palestinos
Muro do Apartheid construído por Israel nos territórios palestinos ocupados.
Tem mais de 700 km, separando famílias, confiscando terras. 
Foi declarado ilegal pela Corte Internacional.




Mae palestina e mão sul africana chora a dor. Apartheid, por Latuff



sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Existir é resistir: entrevista com Emad Burnat

O filme “5 Câmeras Quebradas” (Five Broken Cameras, em inglês, e Khamas Kameeraat Muhaṭamah, em árabe), dirigido pelo palestino Emad Burnat e pelo israelense Guy Davidi, ganhou o prêmio de melhor documentário no Emmy Awards. A produção registra parte da infância do filho de Emad, Gibreel, e a resistência da vila de Bil’in contra a ocupação.


O Filme "5 Cameras Quebradas" de Emad Burnat
Emad Burnat e a produtora Christine Camdessus, no Emmy Awards. (Reuters)


Durante a 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, em agosto, Emad Burnat concedeu uma entrevista para a Revista Contexto, sobre a resistência palestina, os protestos no Brasil e sua ligação com o país.

- Você tem uma relação bastante forte com o Brasil, não? Você ficou sabendo dos protestos que começaram em junho? O que achou deles?

É, eu tenho essa relação com o Brasil, minha esposa é brasileira. Eu fiquei sabendo nas manifestações contra o governo, e li bastante sobre as que foram contra a Copa, porque eu estava assistindo à Copa das Confederações. Eu acompanhei tudo isso e acho que, em todos os lugares, as pessoas têm o direito de protestar, têm o direito de buscar os seus direitos, de que a vida deles seja respeitada. Não tenho nada específico contra o governo daqui, mas acredito que os brasileiros tenham de lutar por seus direitos, educação, saúde, tudo isso.

- O que há de comum entre os brasileiros e os palestinos?

Nós temos uma ligação muito forte. Eu sei que o Brasil apoia a nossa causa, o governo brasileiro apoia a Palestina. E claro que nós gostamos do futebol brasileiro, torcemos para o time na Copa do Mundo, a maioria dos palestinos adora. E também temos uma ligação forte porque muitos familiares nossos estão no Brasil, gostamos dessa mistura entre os dois países… Eu, pessoalmente, tenho família aqui, minha esposa tem família aqui, meus filhos têm passaporte brasileiro. Eu sinto que tenho uma segunda casa, e essa segunda casa é o Brasil.

- Durante as filmagens, você chegou a sentir receio?

Olha, eu nunca pensei que poderia parar de filmar, eu sabia que era o meu dever. Eu era o único que tinha uma câmera em toda a vila, tive de arcar com essa responsabilidade, pelo meu povo, pela minha terra. Eu tinha de fazer isso, era a minha parte na luta, com a minha câmera, com esse filme. Nunca pensei que o filme fosse ser exibido em tantos lugares ou teria tanto público, mas eu acredito nisso. Acredito no poder de mostrar a verdade, de mostrar a nossa realidade – mais do que qualquer evento político, qualquer acordo nos últimos trinta anos.

Emad Burnat e família
Emad com sua esposa Soraya e o filho Gibreel. (AFP)

- E a sua família, o que achou da sua ideia de fazer o filme? Eles apoiaram?

Eles sempre me apoiaram, desde o começo, porque eles fazem parte da nossa luta. Eles sofriam, assim como as outras pessoas da vila, e nós sofremos juntos por conta da situação na nossa terra. Eu falo disso sempre com meus filhos e tentou ensiná-los a fazer isso, a filmar, gravar, fazer filmes sobre o que vivemos em Bil’in. Tenho que ensiná-los a fazer parte de uma geração que lute pelo país deles, que participe e lute pela nossa terra.

- Você mencionou, depois da exibição, que pretende fazer mais filmes. Já tem planos para o próximo?

Eu penso em um outro projeto, mas ainda estou nesse processo, não vou colocar em prática por enquanto, por conta do sucesso deste filme (5 Câmeras Quebradas, ou 5 Broken Cameras, em inglês). Não tive tempo de planejar tudo para o próximo, ainda.

- Você acha que algo mudou, na Palestina, desde que começou as filmagens?

Acho que meu filme tem ajudado a abrir um pouco a cabeça das pessoas, mas tenho em mente que não vou conseguir mudar a realidade da ocupação. Só espero que faça com que as pessoas conheçam mais sobre a Palestina – e tivemos bastante sucesso quanto a isso. Pouco a pouco, com o filme, as pessoas conheceram mais sobre a nossa terra, sobre os nossos esforços, e isso tem ajudado a divulgar informações sobre a situação na Palestina.



Nota do Blog: Priscila Bellini é estudante de Jornalismo idealizadora da revista Contexto, e apaixonada por língua e cultura árabe.

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