15/05/2015 – Opera Mundi – por Breno Altman
O anúncio do Vaticano, de que reconhecerá oficialmente o
Estado da Palestina em novo tratado, provocou muxoxos e esperneios do governo
liderado por Benjamin Netanyahu.
A razão é simples, embora pareça apenas simbólica em alguns
aspectos.
O estatuto atual da Autoridade Palestina, inferior ao de
nação plenamente estabelecida, favorece chantagem exercida pela aliança entre Israel
e Estados Unidos.
Ou os palestinos aceitam exigências draconianas apresentadas
pela direita sionista ou verão seu futuro nacional adiado para as calendas
gregas: tais são os termos praticados por Tel Aviv, com a benção da Casa
Branca.
Quando este cerco é rompido, através do estabelecimento de
relações diplomáticas integrais, tanto por países quanto por fóruns
internacionais, entra em crise a política de asfixia e protelação contra a
Palestina.
Não é à toa a reação intempestiva protagonizada por Netanyahu
desde 2011, quando Mahmoud Abbas, presidente da AP, solicitou condição de
membro pleno na Organização das Nações Unidas.
Os Estados Unidos ameaçaram vetar, no Conselho de Segurança
da instituição, qualquer decisão favorável a esta demanda. Acabou-se por
atribuir o título de Estado observador à Palestina.
Algumas agências da ONU, no entanto, acataram a proposição
de Abbas, como foi o caso da Unesco, imediatamente punida com o corte das
contribuições devidas pelos norte-americanos à entidade.
A belicosidade sionista ficou ainda mais exacerbada no mês
passado, quando os palestinos passaram a participar do Tribunal Penal
Internacional, sediado em Haia.
A medida permite que crimes cometidos nos territórios
ocupados por Israel desde 1967 possam ser julgados nessa corte, incluindo o
massacre de civis na Faixa de Gaza, levado a cabo em 2014, durante a chamada
Operação Margem Protetora.
Vários países e parlamentos seguiram a mesma senda, entre
esses o Brasil e diversas outras nações sul-americanas. O papa Francisco agora
se soma, oficialmente, ao bloco que pretende esvaziar o jogo sujo patrocinado
pelos piores setores do sionismo.
A chancelaria israelense não tardou a demonstrar seu
desagrado, em nota oficial: “Esse passo não faz avançar o processo de paz e põe
os líderes palestinos ainda mais distantes de um retorno às negociações diretas
e bilaterais.”
A redação cifrada não esconde o gosto amargo da derrota
diplomática: a cada avanço na recepção incondicional da Palestina em organismos
da comunidade internacional, mais se deslegitima o garrote racista de Israel.
A posição do Vaticano também atinge o plano simbólico, ao
fixar comunhão entre católicos e muçulmanos a respeito da questão palestina.
Este movimento dificilmente provocará recuos importantes no
comportamento de Israel, mas colabora para criar um novo ambiente, de crescente
isolamento, no qual podem se multiplicar operações de boicote e pressão capazes
de dobrar a coluna vertebral do colonialismo sionista, forçando-o a um acordo
de paz justo e permanente.
O medo de Tel Aviv é viver, mais cedo ou mais tarde, sufoco
semelhante ao da África do Sul na era do apartheid, tratada como pária pela
maioria das nações até bater a mão na lona.
A preocupação não é despropositada, embora longínqua. A
atitude do papa Francisco, nessa lógica, aproxima a hora da verdade para
Netanyahu e seus aliados.
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