Islam Hamed, 32 anos; Sultan Hijaz, 17 anos; Mujahed Hamed, 23 anos e Yussef barghouthi, 22 anos |
Membros do Conselho de Cidadãos Brasileiros na Palestina se encontram com Raed Issa Abdel Aziz, 22 anos, libertado em 22/01/16.
O Conselho de Cidadãos Brasileiros na Palestina emitiu relatório
onde descreve a situação de humilhação e maus tratos dos quatro brasileiros presos em
Israel e seus familiares.
Solicitamos às autoridades brasileiras, ao Itamaraty, que
interceda junto às autoridades israelenses para que libertem os
brasileiros-palestinos, imediatamente!
Israel ocupa ilegalmente territórios do Estado da Palestina
e contraria todas as Convenções de Genebra, o Direito Internacional e as
resoluções da ONU sobre a questão da Palestina.
Todos os prisioneiros políticos e seus familiares que lutam pela libertação de seus filhos dos cárceres do apartheid israelense merecem todo nosso apoio e
solidariedade.
Conclamamos a sociedade civil brasileira e os movimentos
sociais a compartilhar esse pedido de libertação e envidar esforços para que
ações concretas, por parte do governo brasileiro, sejam implementadas até a
libertação dos prisioneiros brasileiros.
05/03/2016
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Conselho de Cidadãos Brasileiros na Palestina (CCBP)
Segundo relatório sobre a situação dos brasileiros
detidos por Israel
28 de fevereiro de 2016
Este relatório foi elaborado após a visita realizada pelo
Conselho às famílias dos cidadãos brasileiros-palestinos detidos pelo Exército
israelense na Palestina.
Além de todas as arbitragens cometidas pelo Exército
israelense contra os detidos palestinos, violações do Direito Internacional e
de Direitos Humanos, pudemos perceber, durante o acompanhamento das detenções
dos brasileiros-palestinos e suas
audiências, o tratamento desrespeitoso e desumano do Exército israelense para
com os detidos e seus familiares.
O apartheid
israelense imposto aos palestinos vai muito além da imaginação, principalmente
com relação aos direitos dos detidos em cárceres israelenses. Os
brasileiros-palestinos também são vítimas deste apartheid.
Não bastassem tantas violações, estas prisões tornaram-se
empresas em que se gera um grande lucro para o governo israelense. As prisões
geram milhares de empregos para israelenses, o consumo de produtos de colônias
israelenses pelos prisioneiros; além disso, os julgamentos também impõem
altíssimas multas a cada prisioneiro.
Os familiares dos prisioneiros têm uma despesa de 1.200,00 a
1.400,00 shequels mensalmente (cerca de R$ 1.423,00 – ou US$ 360,00 – em
cotação de 1º de março de 2016), pois são proibidos de levar a maioria dos
produtos necessários aos detidos para dentro das prisões, onde devem
comprá-los. Entre esses produtos estão cobertores, sapatos, escovas de dentes,
cigarro e até mesmo comida e água mineral. Os produtos são vendidos nas prisões
pelo dobro do preço comercializado nos territórios palestinos.
Atualmente temos ainda quatro brasileiros-palestinos
encarcerados; um dos prisioneiros contabilizados no relatório anterior foi
posto em liberdade no mês de janeiro. Todos os prisioneiros
brasileiros-palestinos foram detidos em seus lares, em territórios palestinos
ocupados pelo Estado de Israel. São eles:
Nome do detido: Islam Hamed
Idade: 32 anos
Cidade: Silwad – Ramalá
Número de detenções: três vezes (a primeira por Israel, a
segunda pelas autoridades palestinas e a terceira, novamente, por Israel, após
ter sido posto em liberdade pelas autoridades palestinas). Sua terceira
detenção se deu em 24/10/2015.
Acusações: Ainda não determinadas pelos tribunais do
Exército israelense.
O Exército israelense invadiu a casa dos pais de Islam Hamed
em janeiro – relata Nadia Hamed, mãe de Islam Hamed. Soldados invadiram sua
casa às 00h30 e só saíram às 3h00 da madrugada, deixando muitos estragos. Nesta
mesma noite fizeram revistas em várias outras casas da cidade, alegando terem
recebido denúncias da existência de armamentos, mas nenhum foi encontrado.
Islam ainda não foi condenado e Nadia sempre se faz presente
em suas audiências. Ela demonstra preocupação, pois seu filho não está bem de
saúde e tem sentido fortes dores em seu rim direito. A esposa, o pai e o irmão
de Islam são proibidos de visitá-lo – a permissão só é dada à mãe. Além dela,
Islam tem tido a visita frequente dos agentes do Escritório de Representação
Brasileira na Palestina.
Sua próxima audiência se dará no dia 06/03/2016.
Nome do detido: Sultan Hijaz
Idade: 17 anos
Cidade Mazra Sharquiya
– Ramalá
Acusações: Atirar pedras e bombas caseiras (coquetéis
"Molotov") contra o Exército israelense.
A mãe de Sultan, Yusra Ahmad, assistiu a sua audiência em
25/12/2015, onde foi revistada de forma brutal e grosseira. Quando passava pelo
detector de metais, o aparelho soou um alerta, mas não havia absolutamente nada
visível que ela pudesse tirar para que o sinal parasse. Neste momento foi agressivamente revistada e constatou-se que a
alça de seu sutiã tinha um pequeno metal. Ela disse ter tido muito medo e,
quando já dentro da sala de audiências, ao ver seu filho, tentou abracá-lo,
quando foi brutalmente afastada dele e acusada de ter tentado dar uma faca a
Sultan, ainda que tivesse sido revistada antes da sua entrada. A primeira
visita que Yusra pôde fazer ao filho, à parte das audiências, foi em
06/01/2016, dois meses após a sua detenção. Sultan não tinha advogado devido à
situação financeira da familia, mas um cidadão brasileir ( anonimo ), por
solidariedade, pagou um advogado para defendê-lo.
Yusra afirma que, quando acompanhados dos agentes do
Escritório de Representação Brasileira na Palestina, o tratamento é diferente.
As despesas de seu filho dentro da prisão são muito altas, pois não é permitida
levar-lhe nada: tudo deve ser comprado da própria prisão. Sultan tem tido
acompanhamento dos agentes do Escritório de Representação Brasileira em Ramala em
suas audiências.
Sultan ainda não foi condenado e sua próxima audiência
acontece em 02/03/2016. Os tribunais militares do Exército israelense pediram
uma condenação a 10 meses de prisão e uma multa de 3.000,00 shequels (por volta
de R$ 3.046,00 – ou US$ 800,00 – em cotação de 1º de março de 2016).
Nome do detido: Mujahed Hamed
Idade: 23 anos
Cidade: Silwad – Ramalla
Numero de detenções: Três vezes
Acusações: Atirar pedras contra o Exército israelense; tentativa
de matar colonos israelenses lançando pedras (as autoridades israelenses dizem
ter chego à acusação através de teste de impressão digital na pedra, mas nada
foi comprovado); entrar em territórios de Israel sem a devida permissão.
A última vez que Widad Hamed visitou seu filho foi no dia
08/02/2016. Durante esta visita, Mujahed informou-lhe que seriam proibidas as
visitas nos próximos dois meses devido a uma revista surpresa feita no presídio
durante a madrugada. A revista deu-se sob a alegação de suspeitas de que havia
celulares dentro das celas e correu, como sempre, com muita violência. Como
Mujahed reagiu à violência, recebeu como punição dois meses sem a visita de sua
mãe. Com isso, Widad fez um novo pedido de visita para o mês de fevereiro e a
permissão foi dada para o dia 24. Entretanto, quando Widad foi visitar seu filho na data agendada,
foi impedida de entrar, sob a alegação de “motivos de segurança”.
Os agentes do Escritório de Representação Brasileira na
Palestina tranquilizaram Widad dizendo ter visitado Mujahed; felizmente, ele se
encontra bem.
Mujahed terá audiência em 15/03/2016, mas ainda não se sabe
se ele será julgado ou se o julgamento
será novamente adiado.
Nome do detido: Yussef Barghouthi
Idade: 22 anos
Cidade: Der Abu-Mishal – Ramalla
Numero de detenções: Primeira vez
Acusações: Jogar pedras contra o Exército israelense e fabricar
“coquetéis Molotov”.
Detido
em 04/09/2014, em sua casa, às 2h00 da madrugada, Yussef foi lavado para
Maskubiya para interrogatório. Não confessou qualquer das acusações e ainda não
foi condenado.
Durante
seu interrogatório, o Exército israelense diz que Yussef assinou uma declaração
admitindo as acusações, mas o documento está escrito em hebraico; também não é
permitida a presença de advogados durante o tempo de interrogatórios, que podem
levar até 90 dias. Segundo a família de Yussef, ele assinou um documento sem
saber do que se tratava.
Yussef
tem tido acompanhamento dos agentes do Escritório de Representação Brasileira
em Ramalá. Sua última audiência aconteceu em 20/01/2016, sem julgamento, e foi
suspensa até o dia 15/03/2016. O tribunal militar de Israel pede uma condenação
para Yussef, com a pena de sete anos e meio de prisão e uma multa de 7.000,00
shequels (R$ 7.107,00 – ou US$ 1.802,00 em cotação de 1º de março de 2016).
Nome do detido: Raed Issa Abdel Aziz
Idade: 22 anos
Cidade: Mazra Sarquiya
Tempo de detenção: 2 anos e 3 meses
Multa: 2.600,00 shequels (R$ 2.640,00 – ou US$ 670,00 na
cotação de 1º de março de 2016).
Acusações: Entrar em contato com representantes do Hamas na
Jordânia após visitar um amigo que havia saído da prisão e atirar pedras contra
o Exército israelense.
Raed
foi posto em liberdade em 22/01/2016, 50 dias antes da data prevista
(11/03/2016). Raed diz que agentes penitenciários o informaram que ele sairia
antes da data prevista devido à superlotação dos presídios. Ele deixou a prisão
de Ofar em Betúnia – Ramala, mas ficou à espera do processo por mais de três
horas, sem comer ou beber água. Foi posto em liberdade com outros prisioneiros
e teve de auxiliar um jovem palestino de apenas 14 anos a andar até o portão,
pois o adolescente havia sido baleado na perna (uma bala perdida do Exército
Israelense). Ainda assim, o jovem ficou detido por dois meses sem direito a uma
muleta para andar até o portão do qual sairiam, para encontrar seus familiares
que ali estavam à espera.
Raed conta
sobre as abusos cometidas pelo Exército
Israelense contra os prisioneiros como “animalescas”. As revistas feitas
durante a madrugada são sempre violentas, a falta de atendimento médico ou até
mesmo a negação de remédios a pessoas com câncer e outras doenças graves, maus
tratos e humilhações são cotidianos.
Raed tambem apontou que tudo deve ser
comprado dentro da prisão, onde tudo é muito caro. Só é permitida a entrada de
roupas de algodão, de três em três meses, o que não é suficiente para o inverno
rigoroso, especialmente dentro das prisões.
Raed disse que ficava muito
feliz em saber que receberia a visita da mãe “e, ao mesmo tempo muito triste,
pois sabia que seria cansativo para ela, tanto física quanto psicologicamente.
Por isso, pedi várias vezes que ela não viesse me visitar, principalmente
quando estive na prisão de Nakkab, que fica muito longe e tem condições
deploráveis.”
Raed
ficou noivo antes de ser posto em liberdade. Nunca foi visitado por sua noiva
enquanto detido. Apesar de estar noivo, ele diz que seu maior sonho continua
sendo o de ver seu país, a Palestina, livre da ocupação Israelense e poder ver
todos os prisioneiros palestinos em liberdade.
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