Domingo- 28/06 - Israel, em mais um ato de pirataria e terrorismo de Estado,
interceptou, em águas internacionais, um dos 4 barcos da “3ª Flotilha da Liberdade” que se dirigia ao
litoral de Gaza. O barco foi desviado para um porto israelense. Os outros três
barcos regressaram ao porto de origem.
A Flotilha levava ajuda humanitária ao povo palestino,
tentando assim, romper o cerco por ar, mar e terra, imposto, desde 2006, pelas
tropas de ocupação israelense, transformando a população palestina em
prisioneiros a céu aberto e gerando uma grave crise econômica e social.
No barco interceptado, Marianne, de bandeira sueca, viajavam
18 personalidades, entre elas, o Ex Presidente da Tunísia Moncef Marzuki, Ana
Miranda , Deputada no parlamento europeu e Bassel Ghattas, Deputado árabe no
parlamento israelense.
A Flotilha foi interceptada ontem, domingo, 28/06, vejam as
noticias:
Em 2010, Israel invadiu as águas internacionais, em claro
ato de pirataria, ocupou os barcos da primeira flotilha e matou 9 ativistas:
http://goo.gl/AT67IJ
Leia também sobre a carta que um ex agente da CIA envia uma
carta para Obama, onde pede que ele diga a Netenhayu: não mexa com a Flotilha
que vai pra Gaza: http://goo.gl/y3O2df
O Marianne levava ajuda humanitária aos palestinos de Gaza
Jovem Aeham Ahmad, que teve de deixar o conservatório após a
eclosão da guerra civil* síria, anda com seu piano pelas ruas do campo de
refugiados de Yarmouk
Todos os dias Aeham Ahmad, um jovem palestino de 27 anos,
leva seu velho piano para as ruas do campo de refugiados de Yarmouk, em
Damasco, e, em meio aos escombros do que ainda resta da cidade síria, toca
canções para “lembrar as pessoas que ainda existe beleza no mundo, mesmo em
meio a tanta dor e sofrimento”. Acompanhado pela orquestra de amigos The Youth
Troupe Yarmouk, ou por um coro infantil, Ahmad quer novamente dar esperança aos
que vivem no campo como ele.
Reprodução
O palestino Aeham Ahmad, 27, vive na Síria; após a eclosão
da guerra civil, teve que abandonar o conservatório onde estudava música
A música sempre esteve presente em sua vida. Filho de um
tocador de acordeon, cresceu em meio a instrumentos musicais. Formado em piano
clássico, entrou no curso de educação artística, do Conservatório de Damasco,
mas com a guerra que minou o país, teve que interromper os estudos. “Deixei o
conservatório por causa desse conflito, mas não sai daqui”, diz, em entrevista
via internet a Opera Mundi, que o contatou através de sua página no Facebook.
Ele conta que começou a tocar pelas ruas porque o campo foi invadido por um
silêncio estarrecedor. “De repente, todos as pessoas que eu conhecia não
estavam mais lá, fugiram ou morreram. Os ruídos, as risadas e os sons que
ocupavam as estradas desapareceram. Comecei a tocar piano para trazer de volta
o movimento das ruas, porque não conseguia manter a calma e percebi que só a
música me tranquilizava”.
No início no conflito, Ahmad se isolou da música e vendeu
falafel por seis meses, mas percebeu que deveria fazer algo. Pegou o velho
piano, o fixou em um carrinho de entregas de um tio e começou a tocar entre as
ruas deprimentes do campo. Se apropriou da música como forma de resistência à
guerra e enfrentou de peito aberto tanto as correntes proibicionistas do islã
que veem na música o pecado, quanto os milicianos que o ameaçaram. “Disseram
que quebrariam os ossos das minhas mãos caso continuasse tocando, ai eu tocava
somente pela manhã, enquanto eles dormiam. Me certifico que a rua esteja livre
antes de sair com o piano", relata.
Com uma trilha sonora inspiradora, toca desde jazz árabe a
músicas da resistência palestina e síria, além de ser autor de canções
próprias, como Não lembro o meu nome. [assista abaixo]
O campo de Yarmouk
O jovem palestino vive com sua família em Yarmouk: o pai
cego e doente, a mulher e o filho. Ahmad conta que apesar do garoto ter dois anos,
não diz uma palavra, a não ser 'bum bum bum'. “Ele não entende o que acontece
no campo e é aterrorizado pelos sons das bombas. Tem medo de tudo,
principalmente de aviões, e se esconde entre as pernas de minha mulher ou
embaixo das cobertas”.
Yarmouk é o maior campo de refugiados palestinos na Síria.
Localizado a cerca de 8 quilômetros do centro de Damasco, se transformou, ao
longo dos anos, em um destino para a diáspora palestina, chegando a abrigar
cerca de 150 mil pessoas. A partir de 2011, com o início da guerra civil na
Síria, esse número foi diminuindo até chegar aos atuais 18 mil. Segundo as
Nações Unidas, hoje o campo vive em escassez constante de alimentos, remédios e
outras necessidades básicas; a ONU definiu Yarmouk como uma "cidade fantasma"
onde "a devastação é inacreditável e não há um edifício habitável".
Ahmad, assim como seu filho, nasceu no campo. Seus
antepassados chegaram lá em 1948 em virtude da hospitalidade que o povo sírio
oferecia. Hoje a realidade é outra. Após três anos de guerra e destruição, a
vida ficou extremamente difícil; falta tudo: água, luz, comida, roupas,
cobertas, etc. “ O inverno é muito rígido e sem poder se cobrir as pessoas
acabam morrendo de frio, além de fome e sede. Outro problema é o estado
psicológico das pessoas, que vem se deteriorando rapidamente”, diz ele.
A violência do conflito sírio é causada por vários grupos
armados. O país está dividido: uma parte está nas mãos do Exército de Bashar Al
Assad, outra nas mãos do Estado Islâmico e uma outra ainda nas mãos dos
opositores do Exército Sírio Livre, que lutam para derrubar o governo Assad.
“Há mortes sistemáticas de civis em todas as partes”, relata o pianista.
Escapar da violência não é possível. Fugir de Yarmouk é muito arriscado, pois o
campo é isolado e sitiado por opositores e pelo Exército sírio. “Eu quero sair
deste lugar, mas não posso. Existem obstáculos. Aqui escolhemos entre a morte
ou a pena de morte. Então procuro contribuir para melhorar as condições de
sobrevivência no campo”, diz.
Reprodução/UNRWA
Fila para receber comida de entidades de
assistência humanitária no campo de refugiados de Yarmouk
Sonhos
Mesmo vivendo entre escombros, o jovem palestino nunca
deixou de sonhar. “Quando a guerra acabar, gostaria de abrir uma escola de
música para as crianças de Yarmouk, onde também possa ensinar mensagens de paz,
de esperança e não de ódio”. Sua história poderia ser confundida com a de
Wladyslaw Szpilman, o pianista judeu polonês que sobreviveu ao gueto de
Varsóvia durante a Segunda Guerra Mundial e cuja biografia inspirou o cineasta
Roman Polanski a produzir o filme O Pianista, em 2002. Ahmad viu o filme, mas
não poderia imaginar que faria a mesma vida de Szpilman. Ainda que sonhando ele
mantém os pés no chão porque sabe que a guerra e sua carga de morte (falta de
alimentos, remédios e bens primários), em Damasco, não dão trégua.
A história de resistência da Ahmad chegou à Bienal de Artes
de Veneza deste ano. A mostra “The Bridges of Graffiti”, um dos eventos
colaterais da 56° edição, juntou dez nomes da arte de rua. Eron, um dos
artistas, dedicou sua intervenção ao pianista de Yarmouk. Em um grande muro são
projetadas imagens de Ahmad tocando seu piano que são sobrepostas à escrita
“The World’s Future”.
Assista a outro vídeo do pianista palestino
Ahmad:
* Nota do Blog: o governo sírio contesta que a guerra seja de natureza civil: