domingo, 8 de maio de 2011

Israel e as revoluções árabes: o estado sionista começa a incomodar os EUA?


Israel e as revoluções árabes

Carta Maior - 02/05/2011


Em entrevista ao jornal suíço solidaritéS, Michel Warschawski, fundador do Centro Alternativo de Informação, fala sobre como a súbita irrupção dos povos árabes no cenário político do Oriente Médio e norte da África representou um elemento que desestabilizou completamente os analistas e políticos israelenses. Para Warschawski, os levantes na região árabe podem levar os EUA a considerar que existe uma emergência e que o governo direitista de Israel começa a incomodar e precisa se adaptar à nova realidade rapidamente.

Daniel Süri - Solidarités

Em meados de março, Michel Warschawski, militante anti-sionista e fundador do Centro Alternativo de Informação israelense-palestino de Jerusalém e Beit Sahour, participou de várias assembléias públicas na Suíça ocidental dedicadas a acabar com a impunidade dos crimes de guerra cometidos em Gaza, ao lado de Stéphane Hessel.


Ao ler a imprensa israelense, tem-se a sensação de que Israel nega qualquer legitimidade aos movimentos populares nos países árabes. Isso é assim mesmo?


Completamente. Diria mesmo que vai além de negar esta legitimidade. É simplesmente um fator que não existe. Israel conhece estados, governos, exércitos, pode fazer a guerra, negociar, fazer a paz, mas isso acontece sempre ao nível dos estados. Quando se trata dos povos árabes, torna-se uma espécie de massa, identificada com o terrorismo, com um perigo para Israel. Por definição, as massas árabes são anti-israelenses ou mesmo anti-semitas. E a súbita irrupção das massas como ator representou um elemento que desestabilizou completamente os analistas e os políticos israelenses.


Assim, a reação de Israel não se baseia apenas no medo de perder o recurso que o tratado de paz com o Egito representaria, mas também na sua recusa de tomar em consideração as massas árabes?


Sim, mas mais que uma recusa é um verdadeiro sentimento de ameaça. A paz com o Egito existe desde há várias décadas e nunca foi um sentimento profundo, compartilhado, que fosse um dado adquirido para Israel. E agora, de modo quase cômico diria eu, põem-se de repente perguntas, faz-se de conta que se descobre que “sim, esta é uma questão”, etc. Mas Israel não tem feito nada para manter esta paz. Não fez nada, por exemplo, para fortalecer o governo egípcio que tinha feito a paz, ou simplesmente para ouvir o que ele disse. Várias vezes o presidente Moubarak advertiu Israel para a sua política no Líbano ou em Gaza. A resposta foi um pouco do tipo “mas quem é este Moubarak?”. E de repente descobre-se agora o processo de paz, e perguntamo-nos o que vai acontecer. De alguma forma, ganha significado, negativamente.


Por que foi posto em perigo?


Não, não está em perigo, mas quem parecia ser o seu garante já não está lá.


Este sentimento de ameaça explicaria também as declarações de Shimon Peres a Angela Merkel, segundo as quais a democracia estaria de alguma forma reservada àqueles que se reconhecem na civilização ocidental, mas seria preciso usá-la com parcimônia com os outros?


Isso é tipicamente o olhar colonial de Israel, e especialmente o de Shimon Peres, que tem uma visão binária do mundo, com uma face civilizada dum lado, a dos que pertencem à tradição judaico-cristã, e do outro a dos selvagens. E esses, é preciso saber governá-los. Isso está também profundamente enraizado na opinião israelense e é por isso que não tiveram nem um pingo da alegria que se encontrou em todo o mundo que dizia «há uma primavera árabe!». Aí era mais outono...


Precisamente, essa atitude é própria das esferas governamentais ou é partilhada pela população israelense?


É amplamente partilhada pelo povo e pelos meios de comunicação. Certamente, existem opiniões e comentários que são mais espertos e mais abertos relativamente a esta mudança imensa no mundo árabe, mas de maneira geral é uma opinião partilhada pela grande maioria dos meios de comunicação e, portanto, da opinião pública.


A política externa israelense não vai então mudar? Vai continuar a sua linha de “defesa de um estado sitiado” à espera do retorno dos republicanos a Washington?


Efetivamente. Bem antes dos eventos regionais que conhecemos, Obama foi sempre visto como um parêntesis, um mau parêntesis. É preciso esperar que o parêntesis se feche para voltar à normalidade, e a normalidade tem um nome: George W. Bush. Mesmo que não seja ele, essa normalidade declina-se no passado, na guerra global, permanente e preventiva, numa estratégia de recolonização do mundo. Benjamin Nethanyau [atual primeiro-ministro] foi um dos pais desta estratégia 30 anos atrás. Para ele, o reinado de Bush e a sua estratégia permitiram a realização de todos os seus objetivos. A saída de Bush, que se seguiu ao fracasso desta estratégia de guerra global, que foi um fiasco para os americanos, foi percebida principalmente em Israel como um parêntesis antes dum regresso próximo à normalidade.


Podemos esperar, com base nos avanços do movimento democrático e social na região, uma mudança na opinião pública israelense ou será que a situação está completamente rígida?


Isso será mediado por Washington. Se a política americana mudar em função duma nova interpretação da realidade no Médio Oriente, irá forçar a mão para uma mudança na política israelense, da opinião pública israelense e, possivelmente, do governo. Com um problema, que é não temos um governo de reserva. "Tzipi" Livni e o Kadima? [dirigente e principal partido da oposição]. Talvez. Mas isso só se fará através de Washington. Tal como no passado, quando cada viragem na política israelense se seguiu a uma viragem na política americana e foi por assim dizer imposta ou conduzida por esta. Não haverá nenhuma tomada de consciência autônoma; ela será forçada, de certa forma.


Mas terá Washington meios para fazê-lo? A política israelense de continuação da colonização fez-se contra a resistência e as críticas dos Estados Unidos, não haverá certa autonomia do governo israelense?


Há certamente uma grande autonomia do governo israelense. Ele não é uma marionete que se manipula a partir de Washington e se você me tivesse posto a questão há dois meses, eu teria dito “não haverá nenhuma mudança”. Os norte americanos estão conscientes – e é isso que explica o recuo de Obama após o discurso no Cairo, que dava a entender muitas coisas e que foi rapidamente “esquecido” – de que precisam fazer grandes pressões para fazer recuar o governo de extrema-direita atual e a opinião pública israelense, bastante direitista. Já não é uma discussão política amigável do tipo “vocês têm de se acalmar, vocês excedem-se e isso cria-nos problemas...”. Aí vai ser preciso forçar a mão. Forçar a mão, quer dizer enfraquecer Israel, portanto enfraquecer também os norte americanos. O que explica o recuo dos Estados Unidos e não de forma alguma a suposta ação de vários lobbies pró-Israel.

Washington foi confrontado com esta escolha: Israel teria de mudar de política, mas se nós dermos os meios para fazê-la mudar, enfraquecemo-nos. Dilema, portanto, uma vez que em ambos os casos, estamos fracos. E da mesma forma que em Israel se espera o fim da presidência de Obama, nos EUA espera-se o fim do governo de direita atual e o regresso dum governo mais moderado. Esta é a resposta que eu teria dado há dois meses. Os levantes na região árabe poderiam, contudo levar os norte americanos a considerar que existe uma emergência e que Israel começa a incomodar; eles poderiam achar que os interesses americanos exigem a Israel que se adapte e fazer com que as autoridades israelenses compreendam isso firmemente.


Declarações recolhidas por Daniel Süri, publicado no jornal suíço SolidaritéS, n°185 (31/03/2011), fonte: npa2009.org

Tradução de Paula Sequeiros para Esquerda.net



sábado, 7 de maio de 2011

Federação Palestina denunciou a revista Veja! As baixas começaram!


Federação Palestina denuncia difamação dos árabes

Na folha da CIA?


Carta Capital
Leandro Fortes, 6 de maio de 2011 às 15:53h

Delegado Daniel Lorenz
O delegado Daniel Lorenz deixou a Secretaria de Segurança do Distrito Federal sob a suspeita de integrar um esquema para difamar a comunidade árabe. Foto: Carlos Moura/CB/D.A Press


Ao pedir demissão do cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, em 19 de abril, o delegado federal Daniel Lorenz alegou não suportar “interferências políticas” na sua pasta. Lorenz estava havia apenas quatro meses no cargo. Fora indicado ao governador Agnelo Queiroz, do PT, pelo ex-diretor-geral da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa. O governador petista não se mexeu, é fato, para impedir que o trabalho de Lorenz, ex-chefe do Serviço Antiterrorismo (Santer) e ex-diretor de Inteligência da PF, fosse atrapalhado pelo histórico conflito corporativo das polícias Civil e Militar de Brasília, nem pelas bancadas policiais que se digladiam na Câmara Distrital. Deixou o secretário cair de podre, mas tinha um motivo para tanto.

Lorenz não sabia, mas logo depois de indicado para o cargo, aliados petistas e da base do governo federal no Congresso Nacional fizeram chegar a Queiroz uma série de informações sobre as ligações do delegado com a CIA e com o ex-governador José Roberto Arruda, defenestrado do cargo, em 2009, por ter se metido no maior esquema de corrupção já documentado na história do Brasil.

Queiroz foi avisado tardiamente que em 2008, também por indicação de Corrêa, Arruda havia tentado se blindar de investigações federais ao nomear o delegado federal Valmir Lemos, atual superintendente da PF no Rio de Janeiro, para a secretaria. À época, o ex-governador estava apavorado por conta da Operação Satiagraha, de julho daquele ano, na qual imaginava ter sido filmado e grampeado em conversas com Durval Barbosa, o delator do esquema de corrupção brasiliense apanhado na Operação Caixa de Pandora, realizada a partir de uma investigação do Ministério Público Federal, um ano depois. Mesmo sob suspeita, Arruda caiu nas graças de Corrêa ao dar posse a um subordinado do ex-diretor-geral. Eleito Queiroz, o ex-diretor da federal correu para emplacar Lorenz. Ao saber das relações anteriores de Corrêa, o governador petista ficou desconfiado.

Mas a gota d’água foi a publicação, em 6 de abril, de uma “reportagem” na revista Veja sobre uma suposta rede de terrorismo na região de Foz do Iguaçu, no Paraná. Lorenz é o principal -suspeito de ter vazado os documentos da PF relativos a uma investigação na região, de 2009, tocada pela Divisão de Inteligência, então chefiada por ele. Suspeita-se que Lorenz também tenha sido a fonte que vazou à Folha de S.Paulo a existência de uma investigação contra o banqueiro Daniel Dantas. O vazamento obrigou o delegado Protógenes Queiroz a apressar o que viria a ser a Satiagraha. O secretário deixou a pasta na semana seguinte à publicação da “reportagem” da Veja.

Em 17 de abril, dois dias antes de Lorenz pedir demissão, cerca de mil pessoas fizeram uma manifestação em Foz do Iguaçu, na sede da Sociedade Beneficente Islâmica, em repúdio ao texto da semanal da Editora Abril. O ato contou com a presença das principais lideranças islâmicas da região, entre elas o xeque sunita Mohsin Al-Husseini e o xeque xiita Mohamed Khalil. Ambos condenaram a tentativa de demonização da comunidade árabe no Brasil e nos países vizinhos e apontaram a CIA como a principal fomentadora desse movimento, sobretudo na mídia brasileira.

A comunidade árabe afirma que a CIA reservou 1 bilhão de dólares para financiar o sistema de difamação da religião islâmica desde os atentados de 11 de setembro de 2001. Para o Brasil, de acordo com levantamento feito pela Federação Árabe-Palestina, apenas em 2011, a verba prevista para a mídia local, vinda dos cofres da agência de inteligência dos Estados Unidos, seria de 120 milhões de dólares.

Teoria conspiratória? De acordo com documentos da diplomacia dos EUA vazados recentemente pelo WikiLeaks, o Departamento de Estado norte-americano montou uma poderosa estratégia de financiamento da mídia para difamar a religião muçulmana e, em outra linha, garantir a impunidade daqueles que o fizerem. Para tal, diz o despacho, seria necessária “uma campanha mais intensa pela mídia e mobilizando comunidades religiosas a favor de não se punir quem difame religiões”. E, mais adiante, aponta parceiros: “Grandes veículos de imprensa, como O Estado de S. Paulo e O Globo, além da revista Veja, podem dedicar-se a informar sobre os riscos que podem advir de se punir quem difame religiões-, sobretudo entre a elite do País”.

Um segundo despacho reforça a suspeita da comunidade árabe: “Essa embaixada tem obtido significativo sucesso em implantar entrevistas encomendadas a jornalistas, com altos funcionários do governo dos EUA e intelectuais respeitados”. Além disso, propõe que visitas ao Brasil de “altos funcionários do governo dos EUA seriam excelente oportunidade para pautar a questão para a imprensa brasileira”. À época desse comunicado, a Organização das Nações Unidas estava para votar uma resolução que condenava a difamação de religiões. Os Estados Unidos eram contra. No dia 26 de março de 2009, a ONU aprovou a resolução e considerou o ato como uma violação dos direitos humanos.

Em abril do mesmo 2009, Lorenz, então chefe da Inteligência da PF, foi a uma audiência pública na Câmara dos Deputados para revelar a suposta existência de terroristas na Tríplice Fronteira. Aos deputados ele acusou o libanês Khaled Hussein Ali, dono de uma lan house em São Paulo, que chegou a ser preso sob a acusação de “propagar ideias racistas” na internet, de ter ligações com a Al-Qaeda. Segundo Lorenz, Ali utilizava a rede para recrutar e treinar militantes em outros países, além de dar apoio logístico e fazer reconhecimento de potenciais alvos terroristas. Curiosamente, Ali é o personagem principal da capa recente da Veja, onde aparece como coordenador da Jihad Media Battalion, que seria uma espécie de serviço de divulgação de comunicados da Al-Qaeda. Lorenz havia se referido ao mesmíssimo tema na audiência pública na Câmara.

A obsessão do delegado com terroristas árabes só se iguala a seu alinhamento com as doutrinas antiterroristas disseminadas pela CIA e pelo FBI mundo afora. Antes de sair da secretaria do DF, ele havia firmado um acordo de cooperação com o Grupo Especial de Operações da Espanha, tropa de elite de combate ao terrorismo, para treinar 20 policiais brasilienses. Outros 20 policiais foram escalados para treinamentos nos EUA, em Israel e na Colômbia, onde, aliás, Lorenz ocupou o posto de adido policial antes de assumir a secretaria.

“Não há terroristas entre a comunidade árabe brasileira, mas, sim, dentro de setores da imprensa”, dispara o hoje deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP). Queiroz fez parte da equipe da Divisão de Combate ao Crime Organizado (Decoi) da Polícia Federal que atuou, entre 2000 e 2001, na Tríplice Fronteira. Segundo ele, havia uma miscelânea permanente de serviços de inteligência na região, entre os quais a CIA, o Mossad (de Israel), agências de países do Oriente Médio e a Agência Brasileira de Inteligência. Mas nunca foi provada a existência de terroristas.

O parlamentar acaba de aprovar na Câmara uma Proposta de Fiscalização e Controle (PFC) para começar a investigar como funciona, e quem financia, o combate ao terrorismo no Brasil. Crime, aliás, que nem sequer é tipificado, apesar de intenso lobby do governo americano a favor. Ele quer saber se a CIA continua a irrigar os cofres da PF com dinheiro, como acontecia até 2009, a partir de depósitos em contas pessoais de delegados e sem nenhum tipo de prestação de contas. A PFC tem a mesma natureza jurídica de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, mas é pouco conhecida no Congresso. Ao contrário de uma CPI, pode ser conduzida apenas por um parlamentar, no caso o próprio Queiroz, com amplos poderes de investigação.

O deputado do PCdoB poderá investigar todas as contas da PF envolvidas no combate ao terrorismo no Brasil, como elas são utilizadas, quem se beneficia desses recursos, quais operações foram feitas ou estão em andamento, e quem são os investigados. Ele foi nomeado para a função pelo presidente da Câmara, Marcos Maia (-PT-RS-), dentro das atribuições da Comissão de Combate ao Crime Organizado. O parlamentar, que sofre 32 processos administrativos na PF por ter comandado a Satiagraha, todos abertos na gestão de Corrêa, poderá convocar o ex-diretor-geral para prestar informações no Congresso. O mesmo deverá acontecer com Lorenz.

Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor, autor dos livros Jornalismo Investigativo, Cayman: o dossiê do medo e Fragmentos da Grande Guerra, entre outros. Mantém um blog chamado Brasília eu Vi. http://brasiliaeuvi.wordpress.com

http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/na-folha-da-cia-2


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BRASIL – ENVIOU AO GOVERNO FEDERAL SOBRE AS DIFAMAÇÕES CONTRA AS

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