domingo, 4 de agosto de 2013

Acordo de paz ou jogada de marketing?

Por Marino Boeira*

Um acordo de paz permanente entre palestinos e judeus é uma meta que deve ser desejada por todos, mas as novas conversações entre Israel e a Autoridade Palestina, promovidas pelo Secretário de Estado Norte-Americano, John Kerry, parecem mais uma jogada de marketing político do governo Obama do que realmente um esforço para superar as antigas divergências que separam os dois povos.

A partir de 1993, em Oslo, sob o patrocínio de outro presidente americano, Bill Clinton, judeus e palestinos começaram uma série de reuniões que terminaram em setembro de 1995, com os chamados acordos Oslo II, que permitiriam a criação de um Estado Palestino, ainda que fragmentado, cinco anos mais tarde, nas regiões da Cisjordânia e Faixa de Gaza.

Sob pressão americana, o dirigente histórico da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat, foi obrigado a assinar um acordo pelo qual a Palestina era dividida em três áreas. A Zona A, sob total controle da ANP, representava 3% dos territórios ocupados e 20% da população, enquanto a Zona B (controle militar israelense e civil palestino) compreendia 24% do território e 68% da população (os territórios das Zonas A e B são completamente fragmentados, sem continuidade). A Zona C, incluindo Jerusalém Oriental, com 73% do território e 12% da população, permanecia sob total controle israelense e nela se intensificou a construção de colônias judaicas e rodovias estratégicas

Outras reivindicações históricas dos palestinos desde a criação do Estado de Israel, em 1948, como a volta às fronteiras existentes até 1967, o retorno dos palestinos expulsos de suas terras e a questão da divisão de Jerusalém, sequer foram discutidas.

Mesmo com todas estas concessões, Israel nunca cumpriu o que prometera em Oslo. Yitzhak Rabin, que assinou o acordo de paz com Arafat, seria assassinado por extremistas judeus de direita cinco semanas após e o seu governo de centro esquerda, substituído, mais adiante, por outro formado por uma coalizão de direitistas e partidos religiosos, para os quais nenhuma concessão deveria ser feita aos palestinos.

Na visão estratégica dos fundadores e dos principais líderes do Estado de Israel, como David Bem-Gurion, Golda Meir, Moshe Dayan e Menachen Begin, a paz com os árabes nunca foi uma perspectiva aceitável, muito menos a consolidação de um Estado Palestino na região. Na visão militarizada desses líderes, a sobrevivência de Israel, além do permanente apoio material dos Estados Unidos, só seria possível com apropriação das terras e dos mananciais de água dos palestinos. Por isso, a guerra, muito mais do que a paz, sempre esteve entre seus principais objetivos.

Com algumas nuances pouco marcantes, esta foi sempre a estratégia dos governos de Israel. Quando a pressão internacional era muito grande, eram feitas algumas concessões aos palestinos, mas no essencial a política de ocupação das terras árabes por colonos judeus nunca foi interrompida.

Sem perspectivas de alcançar algum sucesso pelas vias políticas, os palestinos, também estimulados pela expulsão dos judeus do sul do Líbano, lançaram a segunda Intifada (guerra das pedras) contra os soldados e os colonos israelenses nas regiões ocupadas, a partir do ano 2.000, causando em seis anos mais do que 5 mil mortos, a maioria palestinos.

No final do ano passado, a ONU aprovou o pedido da Autoridade Palestina para se tornar um Estado observador nas Nações Unidas por 138 votos a favor, inclusive com o voto do Brasil, 9 contra e 41 abstenções. Na prática, porém, pouco mudou e o que mudou foi para pior: os fundos de auxílio dos Estados Unidos à Autoridade Palestina foram congelados pelo Congresso Americano e Israel bloqueou o repassemensal de US$ 100 milhões em taxas alfandegárias e impostos sobre vendas, a que a Autoridade Palestina tem direito sobre o seu comércio com outros países.

Com isso, a dívida da Autoridade Palestina chegou a 2 bilhões de dólares e o governo praticamente quebrou, tornando-se incapaz de continuar mantendo sua estrutura administrativa. Nessa situação, tornou-se impossível para o presidente da ANP, Mahamoud Abbas, recusar o convite americano para voltar a negociar com Israel, mesmo sabendo que obterá poucas concessões e verá ainda tornar-se mais tensa sua relação com o Hamas, que controla a Faixa de Gaza e não aceita negociar com Israel nas condições propostas pelos americanos.

Há semanas atrás, antecedendo à vista de Kerry, Obama esteve na Palestina para negociar a realização da chamada Conferência de Paz. Primeiro, anunciou que o atual acordo de ajuda militar a Israel, que terminaria em 2017, será ampliado por mais 10 anos a um custo de 3 bilhões de dólares anuais. Depois, garantiu o repasse imediato de 200 milhões de dólares à Autoridade Palestina e mais 500 milhões nos próximos dias, dos fundos que estavam congelados.

Satisfeitas as necessidades financeiras dos palestinos e militares dos israelenses, foi possível a Obama assumir o papel de mediador no processo de paz.

Para mostrar colaboração, Israel libertou 140 presos políticos palestinos.

Armado o circo, John Kerry anunciou que a gestação do acordo de paz deve durar nove meses, assim como acontece com os seres humanos.

Vamos esperar que não seja parido um monstro, embora a negociadora israelense, a ministra Tzipi Livni, já tenha antecipado poucas esperanças de sucesso na empreitada.

Disse ela: ”Temos ministros que não querem chegar a um acordo, nem ouvir falar da ideia de dois Estados, temos outros ministros que são indiferentes, mas que esperam que nenhum resultado seja alcançado, e outros membros do governo que desejam alcançar o fim do conflito”.

Ela fazia referência aos ministros da ala radical do Likud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e do nacionalista Lar Judeu, que são hostis à criação de um Estado palestino.

Livni também fez referência ao partido de centro-direita Yesh Atid de Yair Lapid, o ministro das Finanças, que até o momento não considera que o processo de paz seja uma prioridade

Enquanto isso quem vai ganhar ou perder nesses nove meses?

Em primeiro lugar, ganha o Presidente Obama, pelo menos enquanto durar a conferência entre palestinos e judeus.

Depois, os israelenses, que poderão continuar com suas políticas expansionistas sobre terras palestinas sem a ameaça de maiores represálias.

Ganha o governo da Autoridade Palestina, que terá alguns meses de desafogo financeiro.

Quem perde?

Como sempre aconteceu até agora, serão os palestinos na sua esperança de construir um estado nacional, independente, moderno e democrático.

* Marino Boeira é professor universitário

Fonte: Sul2

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'É normal o ceticismo quanto à paz', diz negociador palestino DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM

Saeb erekat sobre as negociações de pas entre palestina e Israel
Mike Theiler - 30.jul.13/Efe  - Negociador Saeb Erekat, ao lado do secretário
de Estado dos EUA, John Kerry; para ele, ceticismo sobre paz é normal


Não é de surpreender que as pessoas ao redor do mundo estejam céticas a respeito do processo de paz, diz o negociador-chefe palestino Saeb Erekat à Folha.

Afinal, duas décadas de negociações, desde os Acordos de Oslo, "trouxeram mais colonos, mais assentamentos e mais extremistas".

Erekat irá liderar as conversas com autoridades israelenses durante os nove meses de processo de paz. "Não quero que meus filhos passem pelo que estou passando. Queremos ser como qualquer outro povo no mundo", diz ele.


sábado, 20 de julho de 2013

“Reconhecimento da Palestina e condenação do apartheid de Israel são logros dos últimos anos”

Secretário geral da Federação Árabe Palestina do Brasil, Emir Mourad destaca papel de Lula na luta pela paz e por uma nova ordem mundial.


Escrito por: Leonardo Severo, de São Bernardo
18/07/2013


Conferência Nacional 2003-2013 Uma nova Política Externa
Carlos de Oliveira, Paulo Farah, Emir Mourad e
Salem Nasser

A mesa de debate sobre o Oriente Médio da “Conferência Nacional 2003-2013 Uma nova Política Externa” destacou o protagonismo da diplomacia brasileira nestes dez anos em torno a uma “cultura de diálogo e de paz” na região, ecoando uma sonora condenação à política de apartheid movida por Israel contra o povo palestino. Ao mesmo tempo, foi denunciado o papel alienante e manipulador dos conglomerados de comunicação que, atrelados ideológica e financeiramente aos Estados Unidos, identificam as vítimas como agressores com o intuito de justificar a presença militar e o assalto às imensas riquezas petrolíferas da região.

Coordenado por Paulo Farah, diretor da Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul-Países Árabes (Bibliaspa), o debate teve lugar na Universidade Federal do ABC, nesta quarta-feira à tarde, reunindo o secretário geral da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Emir Mourad; o chefe da Divisão Oriente Médio do Itamaraty, Carlos Oliveira, e o professorde Direito Internacional da Escola de Direito de São Paulo (FGV), Salem Nasser.

Mourad assinalou o protagonismo desempenhado pelo ex-presidente Lula, que reconheceu o Estado Palestino e “fez uma severa crítica ao muro do apartheid”. “São mais de 700 quilômetros de um muro que cerca, divide e rouba terras árabes. O atual estado palestino corresponde a apenas 22% do território original e Israel insiste em manter a divisão em cantões, em bantustões, como no regime de segregação racial da África do Sul”, condenou Emir, denunciando que Israel não pode continuar como um Estado acima da lei.

“Eventos como esse ampliam a denúncia e a pressão para que o governo israelense dialogue com base no direito internacional, para que se chegue a uma paz justa e duradoura”, disse o dirigente da Fepal, saudando a iniciativa de unir estudiosos das relações internacionais, movimentos sociais e governo para debater um tema tão relevante quanto invisibilizado.

O dirigente da Fepal rechaçou “o absurdo reducionismo e a mitologia negativa com que a grande mídia apresenta o povo árabe, e especialmente o povo palestino, como bárbaro e terrorista”. Diferente desta compreensão, esclareceu, “o que estamos afirmando aqui é a política da multilateralidade, do diálogo, do respeito à soberania, à cultura, à tolerância com o diferente”.

Emir Mourad lembrou que o idioma português conta com mais de três mil palavras de origem árabe, citando várias delas cuja primeira sílaba é “al”: como alecrim, almoxarifado e algodão. “São precedentes da presença árabe em Portugal, que colonizou o Brasil”, recordou, frisando que a própria navegação pelo Atlântico até as nossas costas só foi possível por um invento árabe: o astrolábio.

CONTRA A DESINFORMAÇÃO E O PRECONCEITO

Nos últimos dez anos, destacou o diplomata Carlos Oliveira, além de haver uma estruturação do relacionamento com os países árabes, foram estreitados os vínculos com um arcabouço jurídico apropriado para assegurar a sua continuidade. Para dar esses passos, o representante do Ministério das Relações Exteriores lembrou que foi preciso enfrentar uma enorme carga de desinformação e preconceito. “Havia perguntas do tipo ‘O que o Brasil está fazendo no Oriente Médio?’ Como se a matriz árabe não fosse uma das grandes matrizes da nossa formação, uma visão falsa de que não temos nada com a região”, explicou.

Oliveira lembrou que foi no Iraque – no período anterior à invasão estadunidense – “onde as nossas empresas aprenderam a exportar serviços, com a atuação das grandes construtoras”, e que a aproximação brasileira com a região abriu um processo exponencial, de relações duradouras, altamente frutífero para o conjunto dos nossos países. “Nós atuamos respeitando as características culturais de cada povo, não interferindo, não impondo venda de armas, sem jogar um contra o outro para especular com o seu petróleo”, declarou o diplomata, frisando que a concepção do Itamaraty “não é a de doutrinar nem catequisar”, mas de partilhar experiências. “É assim que superamos diversos obstáculos”.

Professor de Direito Internacional da Escola de Direito de São Paulo (FGV), Salem Nasser defendeu a necessidade de que a justiça tenha um papel central nas relações entre os países, condenando o fato de milhões de palestinos continuarem sendo vítimas da ocupação ilegal de seu território. “Ter uma política externa progressista e de esquerda significa apoiar a causa palestina”, afirmou Salem. Na sua avaliação, “se houvesse uma liga do futebol das relações internacionais, estaria no Oriente Médio o grande jogo”.

Paulo Farah enfatizou a relevância de Lula como presidente do Brasil, “que é a maior comunidade árabe fora dos países árabes”, ter feito uma gira pela região - que só havia sido visitada por Dom Pedro II. A promoção do multilateralismo, com vistas à intensificação de relações diplomáticas e econômicas consistentes, acredita, deve ser nossa prioridade.

Ao encerrar os trabalhos, o coordenador da mesa exortou a todos os presentes que “acreditam na educação como poder de transformação”, a se dedicarem ao “combate à discriminação”, lutando para que a política externa brasileira continue “ativa e altiva” na construção de relações internacionais justas, essenciais para a consolidação de nações soberanas.


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Em nome da FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil, entidade que representa a comunidade palestina no Brasil, quero parabenizar todos os idealizadores e organizadores da Conferencia pelo sucesso do evento.

Ao expor o tema Relações Externas e juntar representantes da academia, governo e sociedade civil a Conferencia traçou mais um novo rumo da politica externa, onde a conjunção e participação de todos deve fortalecer cada vez mais o Brasil e sua tomada de decisões nos principais temas internacionais e na inclusão do Brasil, cada vez mais forte, no mundo..

Parabenizo também a Universidade Federal do ABC, estudantes, professores e reitoria, pela brilhante organização e participação ativa nos debates.

Um carinhosa e especial saudação aos alunos da Universidade e de outras Universidades do Brasil que se fizeram presentes, pela sua participação engajada e interessada. Vocês foram o brilho mais importante desse sucesso.

Saudações fraternas,

Emir Mourad
Secretário Geral


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Conferência Nacional 2003-2013 Uma nova Política Externa - Lula
    Alunos da Universidade Federal do ABC e de outras Universidades com Lula após a sua apresentação de encerramento da Conferencia ( Vejam aqui o discurso de encerramento de Lula)


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