segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Israel sem máscaras: brasileira desvenda a “única democracia” no Oriente Médio

Desmontando a farsa da democracia isralense



Israel sem máscaras, por uma feminista brasileira


Vigilância permanente. Proibição de atividades políticas. Espancamentos. Censura. Por trás dos rótulos de “única democracia do Oriente Médio” e “país libertário” esconde-se uma ditadura perfeita




Relato de viagem de Berenice Bento*


Qual a maior peça publicitária do Estado de Israel? Ser a única democracia do Oriente Médio. Os Estados têm suas estratégias para produzir imagens positivadas, mesmo que não tenham nenhum fundamento empírico, a exemplo do mito perverso da democracia racial brasileira. Desmontar as farsas, meticulosamente construídas por Estados, demanda uma energia considerável.

Estive duas vezes na Palestina e em Israel. A primeira em agosto de 2015 para participar de um evento científico em Ramallah, capital da Cisjordânia. A segunda, de novembro de 2016 a janeiro de 2017. Foram 66 dias de imersão na realidade da “única democracia” do Oriente Médio. Tenho um longo diário de viagem com as histórias de perseguição do Estado aos/às palestinos/as e aos/às “árabes israelenses”, identidade fictícia produzida por Israel para negar a identidade palestina. Decidi, neste curto artigo, contar a minha própria experiência.

Em algum momento, na fase de preparação da primeira viagem, fui deslocada no tempo. Percebi que teria que utilizar técnicas de simulação para conseguir entrar em Israel, próximas àquelas que acionava para fugir da repressão na época da ditadura civil militar no Brasil. A suposta “democracia israelense” foi ficando cada vez mais borrada quando comecei a ter contato com diversas organizações de direitos humanos e humanitárias que têm suas sedes em Jerusalém Oriental (ocupada por Israel). Todas vivem em uma situação de clandestinidade ou de semiclandestinidade. Quando eu perguntava por que não denunciam abertamente a situação política ditatorial a que são submetidas, a resposta não alterava substancialmente: se assumirmos que estamos fazendo ativismo de direitos humanos aqui, somos deportados. A expressão chave é “low profile” (discrição). Nome chique e gringo para dizer: aqui corremos perigo, precisamos ter cuidado, ser discretos.

Organizei o relato de minha experiência em quatro partes: preparação, chegada, estadia e partida.


Preparação

Era a primeira vez que estava indo para o Oriente Médio. Foram meses de preparação. Quando tudo estava quase pronto, escrevi para a organização querendo saber se eles poderiam me passar algum contato de algum brasileiro/a que iria participar do evento. Talvez pudéssemos nos ajudar mutuamente com trocas de informações. A página do evento era pobre, não havia quase nenhuma informação sobre os trabalhos aprovados, tampouco os nomes dos/as pesquisadores/as. Aliás, não tinha nenhum nome pessoal na página. O que antes sugeria descuido começou a ter outros sentidos depois que recebi a resposta ao meu pedido: “não podemos fornecer nomes por questões de segurança”.

Iria escutar a mesma explicação outras vezes. Conforme o evento se aproximava, recebia orientações que seriam fundamentais para que eu conseguisse passar pelo controle de segurança no aeroporto em Tel Aviv. As mais importantes: 1) não diga que está indo para Ramallah, 2) mesmo que você vá direito para Ramallah, faça uma reserva em um hotel em Jerusalém Oriental (ocupada por Israel), 3) diga, preferencialmente, que está indo fazer turismo religioso, 4) apague de seu computador TODAS as mensagens que tenham o nome Palestina, 5) não tenha em sua bagagem pesada ou de mão nenhum livro ou matéria com as cores da bandeira ou/e o nome Palestina.

Na segunda viagem, estas mesmas orientações foram reforçadas por colegas de ONGs humanitárias (ainda agora, ao escrever este relato, me dou conta da situação absurda. Não posso citar nomes para não colocá-los/as em risco, uma vez que eles continuam trabalhando em Jerusalém Oriental e nos Territórios Ocupados por Israel). Afirmavam ser imperativo retirar todo material publicado nas minhas redes sociais em que eu fizesse referência à Palestina. Por uma semana retirei meus artigos do meu blog, apaguei fotos em que apareço com algum símbolo que me identificasse como apoiadora da luta pela autodeterminação do povo palestino. Despendi um tempo considerável limpando mensagens e saindo de grupos de whatsapp, fiz um roteiro fictício de peregrinação religiosa. Um último conselho de um amigo: vá bem vestida. Os militares que controlam a entrada no país gostam de gente que chega com roupas de marca e têm certo ar europeu (este último conselho tornou-se impossível seguir).

No aeroporto Ben Gurion

Há duas filas no aeroporto, uma para os estrangeiros e outra para os nacionais, considerado nesta categoria qualquer judeu de qualquer parte do mundo. Nas duas vezes, fui submetida a um pequeno interrogatório. Estas foram algumas das questões: É sua primeira vez? O que você vem fazer aqui? Conhece alguém? Por que você está sozinha (esta pergunta foi feita três vezes)? Onde ficará hospedada? Qual sua profissão? Quais as disciplinas que você ensina? Onde? Você tem um roteiro de sua visita? Você só tem reserva para poucos dias, e depois? (Recomendo o TedTalk Ramallah no Youtube de Alice Walker, escritora de A cor púrpura, no qual narra a sua entrada em Israel).

Eu tentava manter a calma e até esboçar um sorriso discreto para aparentar segurança, mas tinha certeza de que eu iria para o “room”, local onde os militares fazem os interrogatórios. Quase podia sentir meus joelhos tocando-se de tão trêmula. Para me acalmar, repetia um mantra enquanto via a fila diminuir: não tem problema, Berenice, se você não entrar, você tem para onde voltar. Pense nos/as palestinos/as, refugiados/as em seu próprio país. Pense nos/as exilados/as palestinos/as que não podem voltar para o seu país. Olhava a outra fila, não sabia quem era israelense ou judeu oriundo de outro país. Não sei porque, mas lembrei-me de um amigo judeu de esquerda que me disse: jamais vou pisar naquele aeroporto. Sinto vergonha.

Conheci muitas histórias de colegas que já tinham sido encaminhados para o “room”. Depois de horas de espera, e um interrogatório com níveis diferenciados de profundidade, a pessoa, finalmente, terá a permissão para entrar no país ou será deportada. Ainda não consigo entender o que o Brasil faz quando um/uma brasileiro/a tem a entrada negada por Israel. No entanto, não tenho notícia de nenhum/nenhuma israelense impedido/a de entrar no Brasil, o que sugere certa desproporcionalidade nas relações diplomáticas.

Os motivos alegados para a deportação geralmente são: parentes palestinos, sobrenome árabe, participação em manifestações de apoio ao povo palestino no Brasil e, o novo fantasma do Estado de Israel, apoiar ou participar do movimento de Boicote, Desinvestimentos e Sanções a Israel como forma de exigir o fim das políticas de apartheid impostas ao povo palestino.


Estadia

Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo. A cidade está cercada de fora a fora por um monstro de concreto. Ninguém entra ou sai sem permissão de Israel. Os muros gigantes, no entanto, estão em todas as partes e não apenas em Gaza. E como fazer para entrar/sair? É necessário passar pelo controle militar, os chamados checkpoints. Para me deslocar, por exemplo, de Jerusalém Oriental (ocupada por Israel) para Ramallah eu tinha que atravessar o checkpoint Qalândia. Nestas ocasiões o soldado, geralmente, pegava meu passaporte e anotava meus dados no computador. Algumas vezes me perguntava: o que você está fazendo aqui? Se eu estivesse fazendo trabalho voluntário, por exemplo, em algum dos muitos campos de refugiados de palestinos que tiveram suas casas e terras roubadas pelo Estado de Israel, eu teria, mais uma vez, que mentir.

De forma geral, a orientação que recebi de ativistas e acompanhantes ecumênicos que têm mais experiência é simples: falar o mínimo possível, não dar informações desnecessárias, não ter na bolsa material identificado com ativismo político. Utilizei a mesma estratégia de décadas passadas, quando lutei contra a ditadura civil militar no Brasil: escondia dentro do casaco o livro ou fazia uma capa falsa. Qual livro eu levava? Geralmente, textos produzidos pela OCHA (Office for the Coordination of Humanatarian Affairs – Nações Unidas) com dados sobre a forma contemporânea que o Estado de Israel rouba as terras dos/as palestinos/as, os assentamentos. Estes mesmos assentamentos que o Conselho de Segurança da ONU definiu como ilegais.

Em Jerusalém Oriental (ocupado por Israel) há dezenas e dezenas de ONGs atuando. Isto não seria uma contradição com o que eu afirmei no início deste artigo de que a democracia em Israel é uma farsa? Na segunda viagem que fiz tive oportunidade de conhecer várias destas ONGs e Programas Humanitários e conversei com vários funcionários. Todos repetiam o mesmo: não podemos atuar abertamente. Temos que atuar “low profile”. Diante de minha pergunta/exclamação (“isso é uma ditadura?!”), a concordância era imediata. E por que os ativismos não denunciam abertamente o que acontece? A resposta também se repetia: se fizermos isso, o escritório fecha e os estrangeiras serão todos deportados.

Não estaria este “acordo” de silêncio, de discrição, contribuindo para que Israel continue vendendo a mentira de que é um país democrático, embora se saiba que ali reina o império do medo? É um crime perfeito. Ainda não tenho certeza, mas não sei até que ponto os ativismos globais e programas humanitários que não denunciam abertamente o que acontece não estão, de certa forma, sendo cúmplices com a reprodução do discurso de democracia, principal mecanismo utilizado para justificar as atrocidades que o Estado de Israel faz há décadas contra o povo palestino.


A partida

Antecipei meu retorno para o Brasil. Tornou-se insuportável ficar clandestina. Se tinha uma manifestação em Sheikh Jarrah, bairro palestino, eu, como internacional, fui orientada a não entrar na manifestação. Se acontecia algum conflito de rua entre os soldados e os/as palestinos/as (o que acontece quase todos os dias), eu deveria aumentar ainda mais a discrição. Esta última viagem foi importante também para conhecer os meus próprios limites em lidar com a minha dor e como reagir “diante da dor do outro” (título de um dos livros de Susan Sontag). Não sou tão forte quanto pensei.

Um dia vi um soldado chutando um palestino na hora da prece. Estava no Qalândia esperando para atravessar para Jerusalém Oriental (ocupada por Israel). De repente, vários trabalhadores palestinos se ajoelharam e começaram a rezar. O soldado gritava em hebraico alguma coisa e chutava um destes trabalhadores. Senti meus nervos vibrando, minha garganta seca e não contive as lágrimas.

Em outro dia conversei com duas crianças de 11 anos que foram presas por soldados (acusação: jogar pedras nos soldados). Não conseguia dormir. Foram noites iguais a esta que me levaram a antecipar minha volta. Tornou-se insuportável ver famílias que tiveram suas casas demolidas, conhecer histórias de crianças que são julgadas por tribunais militares.

Recomecei o ritual de preparação para meu retorno: mandar fotos para a nuvem, retirar todos os e-mails com referência à Palestina e, principalmente, mandar pelos Correios os livros, os textos, e os presentinhos que tinham escrito o nome Palestina. No aeroporto a bagagem é controlada por um serviço de segurança específico, antes de fazermos o check-in na companhia aérea. As malas nem sempre são abertas, mas sempre há a possibilidade e os relatos de confisco de computadores, câmeras, livros eram abundantes para eu arriscar.

Decisão tomada, malas prontas, de volta ao Ben Gurion. Fui conversando com o taxista sobre a minha experiência. Ele escutava e balançava a cabeça. Em determinado momento, começou a me dizer como deveria me comportar na entrada do aeroporto. Me avisou: “com você não tem problema. Eles vão fazer perguntas e uma busca no meu carro. Eles não param os carros israelenses, mas eu serei parado.” Contou-me sua história. Bisneto, neto, filho de palestinos/as nascidos/as em Jerusalém, em 1967 quanto Israel invadiu Jerusalém, eles perderam a cidadania. Oficialmente não é considerado palestino, mas árabe com residência permanente (embora, o “permanente” seja outra mentira. Ele pode perder este status e ser expulso de Jerusalém).

Chegamos no aeroporto. Ele desceu do carro, passou pelo controle de metais e o carro foi totalmente revistado. Continuei sentada dentro do carro. O soldado, do lado fora, pegou meu passaporte e me fez várias perguntas que tinham, claramente, o objetivo de saber se eu já conhecia o motorista. Desapareceu com o meu passaporte. Voltou minutos depois e fez as mesmas perguntas. Enquanto isso, o motorista tinha seu corpo escaneado. Entrou no carro e me disse que estava tudo ok. Ficamos alguns segundos em silêncio. Num tropeço de língua, lhe perguntei: “Como é possível uma vida assim?”. “Não é possível”, me respondeu.

Conforme nos aproximávamos, ele me avisou: “tá vendo aquele passageiro ali? Não é um passageiro. É um soldado à paisana. Eles estão por toda parte.” De fato, ele não poderia ser um passageiro. Nós temos uma relação de quase simbiose com nossas malas. Ele estava de braços cruzados, óculos escuros, corpo reto como uma tábua e a mala estava com ares de objeto perdido. Era um soldado.


Apertei com calor a mão do motorista. Trocamos um olhar cúmplice, uma faísca. Enquanto ele tirava minha bagagem, escrevi rapidamente, ainda dentro do carro, na nota de cem shelkes: free Palestine.


*Berenice Bento é Doutora em Sociologia e Professora da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)


Fonte: Outras Palavras

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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Federação Palestina: a política de Trump é um desastre para a humanidade

NOTA DA FEPAL – FEDERAÇÃO ÁRABE PALESTINA DO BRASIL

Federação Palestina: a política de Trump é um desastre



A POLITICA DE TRUMP É UM DESASTRE PARA A HUMANIDADE




Ao erguer muros e fechar fronteiras em clara discriminação, racismo e segregação contra imigrantes, refugiados e muçulmanos, o presidente dos EUA, Donald Trump, se coloca em oposição a valores que unem a humanidade: a solidariedade com os mais necessitados e a Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada e consagrada por todos os países.

Como brasileiros, filhos de palestinos e seus descendentes, filhos de refugiados e imigrantes, sabemos o que significa ser refugiado precisando do apoio e solidariedade de todos que tem condição de estender sua mão, de todos os países que recebem com fraternidade os refugiados e prestam a assistência necessária para que possam prosseguir suas vidas com segurança e esperança.

Os muçulmanos são seres humanos e merecem todo o respeito e consideração. Os que querem marcar os muçulmanos como os nazistas marcaram os judeus estarão afrontando toda a humanidade, estarão unindo povos e países para se contrapor a esta politica neonazista, a politica da barbárie. 

Declaramos nosso total repudio às politicas segregacionistas, xenófobas e islamofóbicas de Trump. Apoiamos todas as manifestações de contestação à estas politicas que afrontam a honra e a dignidade humana.


Porto Alegre, 31 de janeiro de 2017.


Elayyan Aladdin - Presidente


Emir Mourad - Secretário Geral




Fonte: FEPAL

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sábado, 28 de janeiro de 2017

Livro: Uma história dos povos árabes

LIVRO OBRIGATÓRIO PARA ENTENDER O PASSADO E O PRESENTE DO MUNDO ÁRABE  




Livro de Albert Hourani: Uma história dos povos árabes


Com erudição, sensibilidade histórica e um estilo de exemplar clareza, Albert Hourani, durante décadas professor em Oxford, escreveu um livro obrigatório não apenas para os interessados nas raízes da atual crise internacional, mas para todos aqueles que têm curiosidade por uma cultura de extraordinária riqueza, cuja importância em termos mundiais só tende a aumentar.

Saiba mais e compre aqui: https://goo.gl/D9H5t3


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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Presidente da Palestina é recebido pelo Papa Francisco e inaugura embaixada no vaticano

Francisco recebe Presidente palestino Abbas no Vaticano


Papa Francisco recebe líder palestino


Cidade do Vaticano (RV) – Na manhã de sábado (14/01), o Papa recebeu no Vaticano Mahmoud Abbas, Presidente do Estado da Palestina.

No encontro, foram destacadas as boas relações entre Santa Sé e Palestina, estabelecidas no Acordo global de 2015, que abrange aspectos essenciais da vida e da atividade da Igreja na sociedade palestina. Neste contexto, foi recordada também a importante contribuição dos católicos em favor da promoção da dignidade humana e na ajuda aos mais carentes, especialmente nos campos da educação, saúde e assistência.

Os dois Chefes de Estado se detiveram ainda sobre o processo de paz no Oriente Médio, esperando que as negociações diretas entre as partes se reiniciem e resultem no fim da violência, que tem causado sofrimentos inaceitáveis às populações civis.

Comunicado informa sobre o conteúdo do encontro

Como afirma um comunicado divulgado após o encontro, o Papa e Abbas contam com o apoio da comunidade internacional no sentido de tomar medidas que favoreçam a confiança recíproca e contribuam para criar um clima que permita decisões corajosas em favor da paz.

Enfim, os dois ressaltaram a importância de salvaguardar o caráter sagrado dos Lugares Santos para as três religiões monoteístas e dedicaram atenção aos outros conflitos que afligem a região.

Entre os presentes trocados, Mahmud Abbas ofereceu a Francisco uma pedra da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, de acordo com Greg Burke, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.






Histórico

A audiência privada foi o terceiro encontro entre o Papa e Abbas depois da visita em 2014 do Pontífice a Israel e aos Territórios palestinos ocupados e da vinda do líder palestino ao Vaticano em 2015 para a canonização de duas religiosas palestinas, Mariam Bawardi (1846-1878) e Marie-Alphonsine Ghattas (1843-1927).

Ao sair do Vaticano, Abbas inaugurou a embaixada palestina junto à Santa Sé, na Via di Porta Angelica. A representação diplomática está localizada em um edifício que já abriga as embaixadas do Peru e Burkina Faso junto à Santa Sé.


(CM)

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Palestinos: Uma bofetada no rosto da política de Israel

Presidente do Estado da Palestina, Mahmud Abbas
Mahmoud Abbas, presidente palestino


A direção palestina festejou neste sábado (24) a recente resolução 2334 adotada pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU que exige o fim dos assentamentos ilegais israelenses em territórios palestinos ocupados.

Na ocasião de sua mensagem de Natal, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, qualificou a decisão da ONU de ‘uma bofetada no rosto da política de Israel’.

Constitui, afirmou o dirigente, uma condenação absoluta aos ilegais assentamentos israelenses em terras palestinas, bem como um apoio (internacional) unânime à solução de dois Estados (Palestina e Israel).

Na Faixa de Gaza, Fawzi Narhoum, porta-voz do movimento palestino Hamas, no poder nessa região, destaca o fato de que a comunidade internacional representada no Conselho de Segurança ‘rechaçou as políticas agressivas israelenses de assentamentos (na Cisjordânia ocupada e Jerusalém oriental).

Por sua vez, a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), ao mesmo tempo em que celebrava a votação no Conselho de Segurança, alertou sobre a previsível reação israelense.

Tel Aviv e seus aliados farão todo o possível por impedir a implementação da resolução, destaca a FPLP em comunicado.

Na sexta-feira (23), Saeb Erekat, secretário geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), descreveu o dia como ‘um dia de vitória para o direito internacional, para a linguagem civilizada e a negociação, e de rejeição total das forças extremistas de Israel’.

A comunidade internacional, explicou à imprensa, tem expressado ao povo de Israel que o caminho para a segurança e a paz não vai ser materializado mediante a ocupação, mas pela paz, o fim da ocupação e o estabelecimento de um Estado palestino para conviver junto ao de Israel a partir das fronteiras de 1967.

Também a Jihad Islâmica palestina, nas palavras de seu porta-voz, Daud Shihab, qualificou a resolução 2334 de ‘uma clara condenação às políticas de ocupação (de Israel) e suas agressões contra o povo palestino’.

O documento aprovado no Conselho de Segurança, apresentado pela Nova Zelândia, Malásia, Senegal e Venezuela, exige que ‘Israel cesse imediata e completamente os assentamentos nos territórios palestinos ocupados, incluindo Jerusalém Oriental’.

Realça assim que as colônias israelenses, consideradas pela ONU como ilegais, ‘põem em perigo a viabilidade da solução dos dois Estados’.


Fonte: Resistência


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domingo, 11 de dezembro de 2016

Israel já tenta controlar tecnologia militar brasileira


No vácuo aberto por crise da Odebrecht, Elbit domina fornecimento de drones e sistemas de comunicação das Forças Armadas


Breno Costa - The Intercept - set/2016

Relaçao militar Brasil-Israel-Odebrech
Odebrecht é acusada de seguidas violações de Direitos Humanos na Palestina. / Reprodução


A crise financeira gerada pelas descobertas da Operação Lava Jato sobre os negócios do grupo Odebrecht acaba de provocar um efeito secundário preocupante: o crescimento expressivo, dentro do Brasil, da principal fabricante mundial de drones de uso bélico e alvo de fortes críticas de organizações de direitos humanos.

No último dia 5, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou a venda dos negócios de comunicação militar da Mectron Engenharia, empresa da área de defesa do grupo Odebrecht, para a Elbit Systems. Essa companhia é responsável pela fabricação de quase todas as aeronaves não tripuladas usadas por Israel em bombardeios na Faixa de Gaza, além de ter papel preponderante na vigilância que envolve o muro erguido pelos israelenses para separar o país do território palestino. Na última ofensiva de Israel, em 2014, a organização Defense for Children International relatou que 164 crianças foram mortas em ataques executados por drones fabricados pela Elbit.

A Elbit é a maior companhia privada da área militar dentro de Israel. Somente com a produção de drones e a venda deles para o Exército de Israel e forças armadas de outros países em todo o mundo, a empresa faturou US$ 1,2 bilhão em 2015, conforme seu último balanço.

Devido a esse envolvimento direto da Elbit Systems nas ações militares de Israel, a corporação é alvo de boicotes internacionais entre defensores dos direitos humanos e da causa palestina, mas também por parte de governos estrangeiros, que acabaram vetando negócios com a empresa. Entre eles, estão Suécia, Noruega, Dinamarca (cujos fundos de pensão retiraram investimentos feitos na empresa) e, mais recentemente, a França, que, em fevereiro deste ano, anunciou que não compraria mais drones produzidos pela Elbit.

No Brasil, entretanto, a companhia israelense opera normalmente. E com força. Desde 2008, quando a Elbit em Israel passou a ser vinculada com violações de direitos humanos depois que o Conselho de Direitos Humanos da ONU considerou que os ataques apoiados por drones na ofensiva de 2008-2009 contra a Palestina representaram graves violações de direitos humanos e possíveis “crimes de guerra e crimes contra a humanidade“, a principal subsidiária da empresa dentro do Brasil já recebeu mais de R$ 456 milhões das Forças Armadas Brasileiras, especialmente da Aeronáutica, de acordo com dados do Portal da Transparência do governo federal.

A empresa já tinha três subsidiárias dentro do Brasil. A principal delas, que atua na área de drones, é a AEL Sistemas Ltda, com sede em Porto Alegre.

O único sobressalto que os israelenses tiveram em suas operações no Brasil aconteceu no final de 2014, quando o então governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT) cancelou um acordo assinado no ano anterior com a AEL, que permitia financiamentos públicos à empresa, além de acesso a tecnologias produzidas por universidades gaúchas. O objetivo da parceria era a construção de um parque aeroespacial militar no Estado.

É essa empresa que irá herdar os negócios da Mectron na sensível área de comunicação militar – incluindo o desenvolvimento de computadores de missão para drones.

No pacote negociado, também estão sistemas de Rádio Definido por Software (RDS) e outros sistemas de comunicação, além, claro, de todos os contratos vigentes da Mectron com as Forças Armadas brasileiras. Nesse grupo está incluído, entre outros, um contrato de R$ 193 milhões com a Força Aérea Brasileira, assinado em 2012 e ainda vigente, para a produção de um moderno e inovador sistema de comunicação entre caças e torres de comando (projeto LinkBR-2).

Os israelenses da Elbit agora terão controle sobre isso – desde que as nossas Forças Armadas autorizem que os contratos da Mectron sejam repassados para a Elbit. Consultada a respeito pelo The Intercept Brasil, a FAB respondeu apenas que “O assunto está sendo analisado pela Força Aérea Brasileira”.

Para Michel Temer, drones usados no Brasil têm “resultado extraordinário”

A chegada dos drones israelenses ao Brasil começou em 2010. Em dezembro daquele ano, a Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate, vinculada ao Comando da Aeronáutica, acertou com a Aeroeletrônica (antigo nome da AEL, mas já controlada pela Elbit), o fornecimento de dois drones Hermes 450, fabricados pela empresa israelense.

Operação lava jato e Israel
Drone Hermes 450 em operação | Foto: Sgt. Johnson/Força Aérea Brasileira


Esses drones foram contratados sem licitação. O argumento do governo era a notória especialização da fabricante. De fato, o drone já tinha sido testado em combate havia pouco tempo. Na ofensiva de 2008-2009 ao território palestino, Israel usou e abusou desses mesmos drones para lançar bombas contra, supostamente, alvos militares.Centenas de civis morreram.

Naquele mesmo ano, no Brasil, a Polícia Federal também contratou drones, mas da EAE Soluções Aeroespaciais Ltda, uma joint ventureformada entre o grupo brasileiro Synergy, dos donos da Avianca, e a empresa estatal israelense IAI (Israel Aerospace Industries).

Em 2012, o então vice-presidente Michel Temer elogiou entusiasmadamente a eficiência dos drones israelenses da Elbit. Ao lado de um deles, em entrevista dada na ocasião, o então vice-presidente destacou que o avião não tripulado produz “um resultado extraordinário” e “uma eficiência extraordinária” no controle das fronteiras.



Os contratos de 2010 abriram as portas do Brasil para o mercado de drones. No ano seguinte, a Elbit anunciou uma união com a Embraer para criar uma empresa destinada a produzir aeronaves não tripuladas com design brasileiro, a Harpia Sistemas. Diante da crise econômica no país, a empresa acabou sendo fechada em janeiro deste ano. No entanto, em comunicado aos investidores, a Elbit deixou claro que as empresas “concordaram em trabalhar juntas no futuro”.

Os grandes eventos do país, mais especificamente a Copa do Mundo de 2014, serviram de impulso para as operações da Elbit no Brasil. Apenas em 2013, quando foi realizada a Copa das Confederações, a empresa recebeu R$ 102,6 milhões do governo, e os drones foram usados para monitorar inclusive as manifestações de rua daquele ano. Foi o maior valor registrado até aqui.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Disputa pelo falafel revela a essência racista de Israel

Culinária árabe palestina, falafel
Falafel é um bolinho frito de grão-de-bico bem temperado, prato típico árabe / Reprodução



Por Igor Fuser – Brasil de Fato


Em um mundo dilacerado por disputas geopolíticas, pelo racismo e pelas mentiras midiáticas, até mesmo a simples divulgação de uma receita culinária pode esconder – e, para quem fizer a leitura certa, revelar – as estruturas ideológicas criadas para perpetuar as injustiças.

Pelos misteriosos caminhos do facebook, chegaram até a minha tela duas postagens recentes, que remetem ao mesmo assunto – pratos tradicionais da cozinha árabe, apresentados pelos porta-vozes do sionismo como produtos culturais israelenses.

No dia 30 de novembro, o site da Federação Israelita de São Paulo publicou uma nota que começava com a seguinte frase: “Aprenda a fazer falafel, esse bolinho frito de grão-de-bico, bem temperado e saboroso, que faz parte da culinária israelense.”

Pouco depois, no dia 4 de dezembro, a página do consulado de Israel em São Paulo apresentava o halawi, iguaria servida desde o início do século passado nas lanchonetes de comida árabe no Brasil, como um “típico doce israelense/árabe feito à base de gergelim”.

Só com muita má-fé, desonestidade mesmo, alguém pode apresentar esses dois quitutes como israelenses. O falafel é o prato mais popular em todo o mundo árabe. A origem do nome vem do verbo árabe falfala, que significa "tempero". É consumido pelos árabes do Oriente Médio desde que eles se constituíram como povo, na época do profeta Maomé (Mohamed), no século 7, mas historiadores acreditam que já fazia parte da alimentação no Egito dos faraós, milênios antes da Era Cristã.

Quando os primeiros colonos judeus chegaram à Palestina, no final do século 19, vindos da Europa Oriental, eles não tinham o menor contato com a culinária árabe. Nunca tinham provado o falafel nem o halawi.

Aquela imigração se deu sob o impulso do sionismo, movimento político surgido na Europa, com o objetivo de construir na Palestina um país apenas para os judeus. Desde o início, os colonos sionistas formaram comunidades separadas na Palestina. Viviam à parte, sem se misturar com os árabes, aos quais desprezavam. Mas, espertos que eram, logo incorporaram o delicioso falafel à sua dieta cotidiana.

Pode parecer picuinha denunciar – como fazem intelectuais e ativistas árabes – a apropriação simbólica desses pratos pelos israelenses. Porém os palestinos, vale lembrar, são um povo árabe, e a preservação da sua cultura é parte inseparável da defesa do território.

Em 1948, os colonos judeus se apoderaram, pela força, de 80% das terras da Palestina, embora constituíssem menos de 30% da população, e lá instalaram o Estado de Israel. A maioria dos habitantes árabes foi expulsa e passou a viver, na condição de refugiados, em países vizinhos. Para “convencer” essas famílias a irem embora, as milícias sionistas invadiam aldeias palestinas e massacravam seus habitantes. Moradores do sexo masculino entre 10 e 50 anos de idade eram separados dos demais e executados, perante os olhos da comunidade. Os demais fugiam, apavorados.

Assim nasceu Israel. Os 20% do território palestino que ficaram de fora – a Cisjordânia e a Faixa de Gaza – foram ocupados depois pelos israelenses, por meio da guerra, em 1967, e até hoje mantidos sob seu controle. Lá vigora um regime de segregação racial semelhante ao apartheid da África do Sul.

Nos territórios ocupados, Israel instalou centenas de assentamentos judaicos, localizados nas terras mais férteis, no alto das colinas e ao redor dos mananciais de água, expulsando os moradores locais. Ligando esses assentamentos entre si e a Israel, construiu-se uma moderna rede de estradas, cercadas por arame eletrificado, por onde os palestinos são proibidos de trafegar.

O deslocamento dos moradores locais se dá de forma precária, condicionado à passagem por centenas de postos de controle do exército israelense. Lá os palestinos são humilhados diariamente, submetidos a longas esperas ou à proibição da passagem. Doentes morrem nas ambulâncias bloqueadas nesses check points, gestantes dão à luz e jovens veem frustrado o seu direito à educação por não conseguirem manter a frequência às aulas.

Em Israel propriamente dito, os palestinos constituem uma minoria subalterna. São moradores não judeus no único país do mundo que define a cidadania por um critério religioso. Na escola, as crianças palestinas são forçadas estudar uma versão deformada da “história” dos judeus, que glorifica a ocupação sionista da Palestina, ignorando a cultura islâmica e a riquíssima tradição histórica dos povos árabes.

O curioso é que, ao mesmo tempo que massacram e marginalizam os árabes, apoderando-se das suas terras, os israelenses também se apropriam, sistematicamente, do precioso legado cultural e material que encontraram na Palestina.

O símbolo visual de Israel, presente nos cartões postais, nos cartazes e nas camisetas vendidas aos turistas, não é nada que os sionistas tenham construído nos cem anos de usurpação. É a imagem do Domo da Pedra, um lindíssimo templo religioso muçulmano, situado no coração de Jerusalém, uma cidade anexada, ilegalmente, por Israel.

Em Tel Aviv, a maior cidade israelense, o bairro de maior interesse, repleto de ateliês de artistas, butiques descoladas e charmosos cafés, é Al Jaffa, com suas construções pintadas de branco e as vielas labirínticas no estilo dos típicos centros urbanos árabes. Os antigos moradores foram todos expulsos em 1948, sem indenização, sem nada.

Eu percorri aquelas ruas em 1991, na única vez que visitei Israel, como jornalista. Fazia parte de um grupo convidado pelo governo de lá, recepcionado por judeus brasileiros que haviam imigrado e se tornado cidadãos israelenses. Num dos vários passeios a que eles nos levaram, sempre muito gentis, percorremos a cidade velha de Jerusalém, com suas lojinhas de lembranças e badulaques para turistas. Os donos, comerciantes árabes, nos abordavam na rua, oferecendo seus produtos nos mais variados idiomas.

Nosso guia, um brasileiro-israelense, ficou muito irritado com a cena e tentou nos persuadir a boicotar aqueles humildes vendedores. “Não, não comprem nada desses árabes”, dizia ele. “Amanhã vamos visitar a parte judaica de Jerusalém e vocês poderão comprar as mesmas coisas por lá”.

Por aí se vê que a polêmica em torno do falafel e do halawi, como tudo o que diz respeito ao conflito palestino-israelense, nada tem de inocente.

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