domingo, 19 de junho de 2016

Serra e Israel

Esplanada das Mesquitas - Jerusalém
O Monte do Templo é um lugar sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos, sendo também um dos locais mais disputados do mundo. Foto: EBC

Por Salem Nasser


Não deixa de ser interessante observar como um governo interino, precário, age como se destinado à permanência, ao longo prazo

Não só deixa a impressão de que nada está acontecendo no Senado e de que já não há uma presidente suspensa que poderia voltar, mas faz também pensar que teria sido de fato eleito e, portanto, estaria legitimado para redirecionar os destinos do País.

Escolhas fundamentais que determinarão em alguma medida nosso futuro são feitas pelo governo de um presidente que jamais estaria sentado na cadeira se não tivesse sido o vice-presidente sob a bandeira de escolhas diferentes.

É também assim na política externa, agora comandada pelo portador de um projeto derrotado nas urnas todas as vezes desde 2002.

Mas não é apenas nosso comportamento futuro que Serra quer mudar. Na semana que passou, uma nota do Ministério das Relações Exteriores expressou o desejo de mudar o que já está consumado.

nota fazia referência a uma decisão do Conselho Executivo da UNESCO sobre o Patrimônio Cultural nos Territórios Palestinos Ocupados, aprovada por 33 votos, inclusive o brasileiro, a 6 e 17 abstenções, em abril último.

Nosso ministério faz agora críticas ao que seria o caráter parcial da decisão, por não levar em conta os laços históricos do povo judeu com a cidade velha de Jerusalém, indica que votará diferentemente no futuro caso o mesmo vício se verifique e, portanto, indica que se tivesse que votar hoje se juntaria aos seis derrotados.

Não deve haver surpresa em relação a esse desejo de que o passado fosse outro, quando o desejoso não se furtava, enquanto o passado se fazia, de fazer as suas críticas.

Mas a nota não é apenas a expressão desse desejo. Ela é um aceno, uma concessão, uma espécie de pedido de desculpas, uma promessa de romance e enlaces futuros.

Não se sabe se a demanda por todas essas coisas chegou cochichada ao ouvido de José Serra ou se ele as ofereceu movido pela espontaneidade de alguma paixão.

E para fazer os gestos, levou-se o Itamaraty a responder ao que não estava na decisão da UNESCO e a pedir que ela dissesse o que não fazia parte de seu objeto.

Essencialmente, a decisão afirma a responsabilidade que tem Israel, enquanto potência ocupante, de preservar o sítios históricos de toda a velha cidade de Jerusalém e especificamente aqueles relacionados aos lugares santos do Islã, e lamenta a violação por Israel de suas obrigações em relação a essa preservação.

Afirmar os laços históricos do povo judeu em relação ao muro ocidental, como pede a nota brasileira, serviria a quê? Seria um lembrete a Israel de que deve também preservar o muro ocidental ou seria oferecer a Israel uma desculpa para seguir colocando em risco os monumentos outros e restringindo o acesso dos palestinos a eles?

Um ministro que nos prometia uma política externa “de Estado”, por oposição àquela “de governo e de partido” antes praticada, parece querer mudar radicalmente o posicionamento brasileiro em uma questão central da política internacional.

Ironicamente, esse era um daqueles temas em que o grupo político do próprio ministro insistiu por muito tempo que o Brasil não deveria se meter, porque não era para o nosso bico.

Afastamo-nos agora do consenso internacional, namoramos o opressor e seus padrinhos em detrimento do oprimido e da justiça e o fazemos por alguma razão, desconhecida, que não tem nada a ver com os interesses do Estado brasileiro.

Eis de volta o tempo das genuflexões.




SALEM NASSER ensaia aqui um certo olhar, diferente, sobre Oriente Médio, Islã, Mundo Árabe e mais algumas coisas.


Doutor em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (2004). Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1990), obteve um DSU - Diploma Superior da Universidade em Direito Internacional Privado e um DEA - Diploma de Estudos Aprofundados em Direito Internacional Público - da Universidade de Paris II - Panthéon Sorbonne (1992 e 19933). Desde 2004, é professor da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas.


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sábado, 7 de maio de 2016

Londres elegeu seu novo prefeito: ele é muçulmano, de esquerda e filho de um motorista de ônibus


"Refugiados são bem-vindos", diz cartaz. Foto: Swlondoner




O muçulmano Sadiq Khan é eleito o novo prefeito de Londres


No El País Brasil


O trabalhista Sadiq Khan será o novo prefeito de Londres. Com 99% dos votos apurados, o candidato trabalhista abria na tarde desta sexta-feira nove pontos de vantagem sobre seu rival conservador, Zac Goldsmith, tornando-se assim o primeiro prefeito muçulmano a governar uma capital ocidental.

A vitória em Londres, governada há oito anos pelo conservador Boris Johnson, era crucial para o Partido Trabalhista, que saiu desta superquinta com um balanço agridoce. O partido de oposição, em seu primeiro teste nas urnas desde que o socialista Jeremy Corbyn assumiu sua liderança, em setembro, continua dominante nos municípios ingleses – perde seis pontos percentuais de apoio desde o último pleito municipal, mas subiu quatro em relação à eleição geral de 2015. Na Escócia, por outro lado, os trabalhistas sofreram um revés e perderam o domínio para os consevadores – o que já era esperado, mas nem por isso é menos notável. Ganhar em Londres, portanto, contribuiria para acalmar os numerosos deputados que veem a guinada à esquerda sob Corbyn como um suicídio eleitoral.

A disputa pela prefeitura de Londres – terceiro maior mandato pessoal da Europa, atrás dos presidentes de França e Portugal – foi acirrada. Os ataques pessoais entre os dois principais candidatos (de um total de 12) ofuscaram o necessário debate sobre os colossais desafios que a capital enfrenta. Goldsmith acusou Khan de radical, por compartilhar palanque com extremistas islâmicos, e Khan reagiu tachando seu adversário de islamofóbico.

Nos últimos dias, a campanha ficou ainda mais turvada por causa de um escândalo de antissemitismo surgido no seio do Partido Trabalhista, que resultou na suspensão de uma deputada e do veterano Ken Livingston, prefeito de Londres entre 2000 e 2008, e numa investigação interna ordenada por Corbyn. Mas seus críticos o acusaram de reagir tarde demais, e o próprio Khan admitiu que o caso poderia ter prejudicado a sua campanha.

Os perfis dos dois candidatos não poderiam ser mais diferentes. Sadiq Khan, de 46 anos, é filho de um motorista de ônibus paquistanês. Zac Goldsmith, de 41, é o bilionário herdeiro de uma dinastia de banqueiros. Khan cresceu num imóvel subsidiado pelo Estado; Goldsmith, numa mansão. Khan estudou em colégio público; Goldsmith, no elitista Eton. Khan é muçulmano praticante, defende o casamento homossexual e trabalhou como advogado pró-direitos humanos antes de se eleger parlamentar pelo distrito de Tooting, na zona sul da cidade, em 2004. Goldsmith é um judeu não praticante, que dirigiu uma revista de assuntos ambientais e foi eleito em 2010 por Richmond, na zona oeste.


O referendo de 23 de junho sobre a permanência do país na União Europeia também pairou sobre a campanha eleitoral. Khan é um europeísta convicto, ao passo que Goldsmith – filho de um fervoroso eurocético que fundou nos anos noventa o Partido do Referendo – faz campanha pelo Brexit. Por isso, muita gente tentará ver nesta eleição uma antessala da consulta a ser realizada daqui a um mês e meio.

Fonte: O cafezinho 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Diga sim à democracia! - Nota da Federação Palestina

Intolerencia e ódio - islamofobia
Universidade Mackenzie- São Paulo - 28/03/16 - Todos os
cartazes e faixas tem o fundo amarelo e a faixa "Não islamização no Brasil -
Fechar fronteiras" esteve em dois lugares distintos no mesmo dia (foto abaixo),
o que indica a atuação de um grupo organizado. 
(Foto de Taís Taís - Jornalistas Livres)


islamofobia, intolerencia e ódio
Av. Paulista - em frente ao prédio da FIESP - 28/03/16 
(As fotos foram extraidas de um vídeo gravado dentro de um ônibus




NOTA DA FEPAL - FEDERAÇÃO ÁRABE PAELESTINA DO BRASIL

 03/03/2016


DIGA SIM À DEMOCRACIA 



Aos nossos amigos e amigas, a todos e todas da comunidade muçulmana, palestina e árabe em geral,
Por todo o Brasil, aumentam os casos de muçulmanos e muçulmanas (as mais vulneráveis) que são ameaçadas e atacadas na rua. Mesquitas são invadidas e vandalizadas. Também, se multiplicaram os casos de agressões e ameaças nas redes sociais. Somente no Estado do Rio de Janeiro, os casos denunciados de violência contra os muçulmanos aumentou 1016% em 2015 em relação à 2014. Denunciamos e repudiamos que setores da imprensa incitem o preconceito e o ódio ao relacionar o terrorismo com os árabes, palestinos e a religião islâmica e seus mais de 1,6 bilhões de fiéis no planeta. Na lista anexa, vários artigos e denuncias, datados a partir de 2011, abordam o assunto do aumento da violência e como setores da imprensa contribuem para que isso aconteça.
Observamos, que a partir de 2015, tem acontecido, com maior frequência, tanto no plano virtual das redes sociais como no cotidiano real, invasões e depredações à sede de sindicatos, entidades estudantis e partidos políticos (houve até um atentado com bomba), ameaças e violencias verbais e físicas a mulheres e homens públicos, seguidores de religiões afro-brasileiras, grupos das mais diversas orientações sexuais, etc. Pode-se constatar que as componentes motivadoras dessa violência são de ordem ideológica, política, religiosa, e/ou racial.
Muitos analistas sociais e políticos viam essa situação de violência não como um fenômeno generalizado, mas como ações de indivíduos e pequenos grupos, agindo na calada da noite ou em comentários de indivíduos nas redes sociais, sem nenhuma ligação direta com grupos mais organizados ou pertencentes a este ou aquele partido. O quadro mudou, a situação não é mais a mesma!
O momento conturbado por que passa o país fez confluir diversos agentes promotores e executores da violência que agora mostram a cara em público, na rua e na universidade (ver fotos abaixo), levantando a palavra de ordem “Não Islamização no Brasil – fechar as fronteiras”.
A violência passou a atingir, de forma mais virulenta e orgânica, não só os muçulmanos e muçulmanas, mas outros segmentos sociais, políticos, religiosos, étnicos e ideológicos da sociedade. Esse novo quadro é muito preocupante e nos impõe imperiosas indagações para refletirmos: que Brasil queremos para nossos filhos, netos, amigos, familiares e o povo da nossa pátria brasileira? Quando uma sociedade começa atingir esse nível de cultura do ódio e desumanização do outo, os meios para sanar e pacificar a sociedade estão previstos na Constituição que rege o Estado Democrático de direito e as garantias individuais ou não ? A saída é exigir que os três poderes constituídos dialoguem com a sociedade organizada e reafirmem que a lei é para todos e dever ser cumprida ou devemos nos guiar cada um por seus interesses individuais e da tribo a que pertencemos, assumindo a aplicação imparcial e flexível das leis?
Não há solução fora da lei, fora da Constituição. Todos nós brasileiros estamos no mesmo barco, independente de classe social. Não permitamos que um muçulmano seja culpado de terrorismo até que ele prove o contrário! A Constituição diz: todos os cidadãos são iguais perante a lei, ninguém acima da lei, todos os cidadãos são inocentes até que o acusador apresente as provas materiais e prove o teor de sua acusação.
Não se trata de defender esse ou aquele partido, de ser contra ou favor do governo, se trata de defender a democracia para todos os brasileiros para que possam exercer a sua cidadania em sua plenitude conforme os preceitos da Constituição da República Federativa do Brasil.
Defendamos a manutenção do Estado Democrático de Direito e as garantias individuais, antes que seja tarde e não tenhamos mais liberdade para pensar, para cultuar nossas tradições e costumes, nem para recorrer à JUSTIÇA!!!
O golpe contra a democracia já está em marcha, não permitamos que o Estado de Excessão se estabeleça!
A unidade de todos em torno do regime democrático e das normas constitucionais é a saída única. Não queremos, tememos e lutaremos para que outra saída não seja permitida.
Só a democracia para todos tolera e respeita a diversidade cultural e religiosa! Só a democracia pode resguardar os direitos das minorias e maiorias! Só na democracia constitucional vigente o país poderá encontrar a solução politica, sem a qual, não se resolverão os problemas da economia.
Só a democracia definida na Constituição, obedecida sem nehum subterfúgio, sem nenhum atalho, poderá garantir a estabilidade política, social e econômica que todos almejam.
Nossos filhos e netos haverão de escrever a história de hoje, aquela que seus pais e avós estão fazendo hoje!
Os brasileiros saberão evoluir a partir dos ensinamentos da história de um passado recente!
Diga sim à Democracia!

Saudações democráticas,

Elayyan Aladdin - Presidente
Emir Mourad - Secretário geral
Ualid Rabah - Diretor
Fátima Ali - Diretora



quinta-feira, 17 de março de 2016

Recital Dia da Terra - Palestina



Recital Dia da Terra - Palestina



 RECITAL DIA DA TERRA - PALESTINA

  
Biblioteca Mário de Andrade

29/03 - Terça - 19 h

R. da Consolação, 94 - Consolação, São Paulo - SP
Metrô Anhangabaú


O recital “Dia da Terra”, que acontecerá no dia 29 de março, terça-feira, a partir das 19h, na Biblioteca Mário de Andrade, contará com a participação dos poetas Claudio Daniel, Ruy Proença, Marcelo Ariel, Rubens Jardim, Khaled Mahassen, Célia Abila, Marcelo Adifa e Rosana Piccolo, que lerão poemas de autores palestinos contemporâneos, como Mahmoud Darwish, Salim Jabran, Tawfik Az- Zayad e Samih al Qassim, além de composições de autores brasileiros relacionados com o tema da Palestina, sua história, sua cultura e os seus desafios para a autodeterminação.

O Dia da Terra (em árabe: يوم الأرض)  é uma data do calendário palestino, comemorada no dia 30 de março para recordar a ocupação de suas terras pela colonização sionista e afirmar a sua aspiração à autodeterminação e soberania nacional. A origem da data está nos eventos ocorridos em 30 de março de 1976,  quando aconteceram greves e manifestações de protesto em cidades palestinas situadas em Israel contra o anúncio de um plano do governo israelense de expropriar 25.000 dunums (25 milhoes m²) na Galileia, por "razões de segurança e para construção de assentamentos". O exército israelense de ocupação reprimiu duramente as manifestações e seis palestinos foram mortos, na área de Al Jahil. Desde 2007, o Dia da Terra Palestina é celebrado com ações do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções  (BDS), que visa pressionar as autoridades israelenses a realizarem negociações sérias para a paz na região.


Sobre os poetas:


Claudio Daniel nasceu em São Paulo, em 1962.  É poeta, tradutor, ensaísta e doutor em Literatura Portuguesa pela USP. Foi curador de Literatura e Poesia no Centro Cultural São Paulo entre 2010 e 2014 e colunista da revista CULT. Publicou diversos livros de poesia, entre eles A sombra do leopardo, Figuras metálicas e Cadernos bestiais.

Rubens Jardim, 69 anos, fez parte da Catequese Poética nos anos 60, participou da 1ª Bienal Internacional de Poesia e publicou 3 livros: Ultimatum (1966), Espelho riscado (1978) e Cantares da paixão (2008) --e uma plaquete: Fora da estante (2012). Publicou em diversas antologias, no Brasil e no exterior. No seu blog www.rubensjardim.com divulga a série AS MULHERES POETAS desde 2011.

Marcelo Ariel é poeta, performer e ensaísta. Autor dos livros Retornaremos das cinzas para sonhar com o silêncio, Ed.Patuá, O rei das vozes enterradas, Ed. Córrego, entre  outros. Coordena cursos de criação literária.
  
Célia Abila é poeta, participou do Laboratório de Criação Poética e publicou poemas em blogues, sites e revistas de literatura, como Germina, Cronópios e Zunái. É autora do livro de poesia Civilização em aneis de guepardo.

Marcelo Adifa é poeta. Recentemente publicou a obra Exílio, onde retrata, por meio de versos, sua experiência fora do país, tem também o livro A Quem se Fizer Estrela.  Além de suas duas obras, Marcelo participou de diversas antologias temáticas com grandes poetas brasileiros, entre elas 29 de abril – o verso da violência. Na música, já compôs canções em parceria com Lula Barbosa, Vidal França, João Bá e Lluis Llach.

Khaled Mahassen é poeta e empresário no setor de turismo. Publicou poemas em blogues, sites, revistas e na antologia Poetas da Palestina.

CEBRAPAZ
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Palestinos: O Dia da Terra*

Por Maurício Tragtenberg**

 Amanhã, dia 30, o povo palestino comemora o “Dia da Terra”, que surgiu como lembrança histórica da resistência que em 1976, os vários palestinos da Galiléia (território ocupado em 1948) manifestaram contra a invasão e ocupação de suas terras pelo Estado em Israel.

 Como acontece nessas ocasiões houve repressão e violência por parte das autoridades militares de ocupação, onde foram indiscriminadamente atingidos homens, mulheres, velhos e crianças. É impossível destruir um povo que por mais de trinta séculos construiu sua cultura, suas obras materiais e espirituais.

 Enquadrada no plano da destruição da cultura e identidade do povo palestino estão as universidades palestinas construídas nas ‘zonas ocupadas’ pelo Estado em Israel.

  Através da Ordenança Militar 854, uma das 1.080 ordenações militares que modificam a legislação jordaniana, em vigor na Cisjordânia, o Estado detém em suas mãos a permissão de funcionamento de qualquer instituição educacional, que implica no controle pelas autoridades do pessoal acadêmico, dos programas e manuais de ensino.

  Uma das iniciativas que afetou gravemente o funcionamento das universidades palestinas nas ‘zonas ocupadas’ foi que a partir de 1983 os professores estrangeiros –na realidade palestinos com passaportes de diversas nacionalidades estrangeiras – tenham que assinar uma declaração, segundo a qual, comprometem-se a não dar apoio algum à OLP nem a qualquer organização terrorista. Ante a recusa unânime do corpo de professores em assinar tal ignominioso papel, a repressão foi terrível.

  A Universidade d’An-Najah teve dezoito professores expulsos, enquanto outros três que estavam no Exterior foram proibidos de ingressar na Cisjordânia. Bir-Zeit perdeu cinco e a Universidade de Bethléem perdeu doze de seus professores.

  O fechamento temporário de universidades é outra medida que as “autoridades” de ocupação lançam mão; entre 1981/2 a Universidade de Bir-Zeit ficou fechada sete meses. A Universidade de An-Najah em 1982/3 ficou fechada durante três meses consecutivos, as Universidades de Bethléem e Hebron conheceram igual destino.

  Com o fim de vencer a resistência cultural palestina, a detenção de estudantes pelos motivos mais fúteis é coisa comum em todas as universidades da Cisjordânia. Os detidos são confinados na prisão de Fara’a, no Vale do Jordão. Segundo a advogada Lea Tsemel, o detido, conforme a “lei de urgência” (do período do Mandato Britânico) pode ficar incomunicável durante dezoito dias, sem culpabilidade definida nem visita de advogado. Por trazer consigo um panfleto ilegal o detido pode assim ficar durante 48 dias.

  O “tratamento” é o mais degradante possível: duchas frias, golpes, insultos.

  O presidente do Conselho de Estudantes de An-Najah, condenado a seis anos de prisão em 1974, não só afirmou ter sido torturado como também afirmou: “todos os prisioneiros palestinos são torturados.”

  Porém, a Universidade de Bir-Zeit é um foco de resistência cultural palestina; organiza atividades culturais fundada na cultura popular palestina. Possui uma biblioteca significativa aberta à consulta pública.

  Os dados a respeito da situação de resistência cultural palestina acima descrita nos foram fornecidos por Sônia Dayan-Herzbrun e Paul Kessler, que testemunham: “O fato de sermos judeus não afeta nossa objetividade em relação ao tema tratado. A consciência de nossa identidade judaica e das responsabilidades inerentes a ela nos levaram a participar do Centro de Cooperação com a Universidade Bir-Zeit.” (Le Monde Diplomatique, julho de 1984)

É o que também pensamos. O “Dia da Terra” é a reafirmação de um povo que pode ser expropriado, espezinhado, torturado, caluniado;vencido nunca.

 * Publicado in: Folha de S. Paulo, 29.03.1985.

 ** Maurício Tragtenberg, 54, professor do Departamento de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas SP) e da PUC-SP, escreveu, entre outros livros, “Administração, Poder e Ideologia.


sábado, 5 de março de 2016

Pela libertação dos quatro brasileiros presos nos cárceres israelenses

Palestino brasileiros presos nos cárceres israelenses
Islam Hamed, 32 anos; Sultan Hijaz, 17 anos;
Mujahed Hamed, 23 anos e Yussef barghouthi, 22 anos

Conselho de Cidadãos Brasileiros na Palestina
Membros do Conselho de Cidadãos Brasileiros na Palestina se encontram  com Raed Issa Abdel Aziz, 22 anos, libertado em 22/01/16. 

O Conselho de Cidadãos Brasileiros na Palestina emitiu relatório onde descreve a situação de humilhação e maus tratos dos quatro brasileiros presos em Israel  e seus familiares.

Solicitamos às autoridades brasileiras, ao Itamaraty, que interceda junto às autoridades israelenses para que libertem os brasileiros-palestinos, imediatamente!

Israel ocupa ilegalmente territórios do Estado da Palestina e contraria todas as Convenções de Genebra, o Direito Internacional e as resoluções da ONU sobre a questão da Palestina.

Todos os prisioneiros políticos e seus familiares que lutam pela libertação de seus filhos dos cárceres do apartheid israelense merecem todo nosso apoio e solidariedade.

Conclamamos a sociedade civil brasileira e os movimentos sociais a compartilhar esse pedido de libertação e envidar esforços para que ações concretas, por parte do governo brasileiro, sejam implementadas até a libertação dos prisioneiros brasileiros.

05/03/2016

FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil

https://www.facebook.com/FepalPalestina/


Federação Árabe Palestina do Brasil - FEPAL
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Conselho de Cidadãos Brasileiros na Palestina (CCBP)

Segundo relatório sobre a situação dos brasileiros
detidos por Israel

28 de fevereiro de 2016

Este relatório foi elaborado após a visita realizada pelo Conselho às famílias dos cidadãos brasileiros-palestinos detidos pelo Exército israelense na Palestina.

Além de todas as arbitragens cometidas pelo Exército israelense contra os detidos palestinos, violações do Direito Internacional e de Direitos Humanos, pudemos perceber, durante o acompanhamento das detenções dos  brasileiros-palestinos e suas audiências, o tratamento desrespeitoso e desumano do Exército israelense para com os detidos e seus familiares.

O  apartheid israelense imposto aos palestinos vai muito além da imaginação, principalmente com relação aos direitos dos detidos em cárceres israelenses. Os brasileiros-palestinos também são vítimas deste apartheid.

Não bastassem tantas violações, estas prisões tornaram-se empresas em que se gera um grande lucro para o governo israelense. As prisões geram milhares de empregos para israelenses, o consumo de produtos de colônias israelenses pelos prisioneiros; além disso, os julgamentos também impõem altíssimas multas a cada prisioneiro.

Os familiares dos prisioneiros têm uma despesa de 1.200,00 a 1.400,00 shequels mensalmente (cerca de R$ 1.423,00 – ou US$ 360,00 – em cotação de 1º de março de 2016), pois são proibidos de levar a maioria dos produtos necessários aos detidos para dentro das prisões, onde devem comprá-los. Entre esses produtos estão cobertores, sapatos, escovas de dentes, cigarro e até mesmo comida e água mineral. Os produtos são vendidos nas prisões pelo dobro do preço comercializado nos territórios palestinos.

Atualmente temos ainda quatro brasileiros-palestinos encarcerados; um dos prisioneiros contabilizados no relatório anterior foi posto em liberdade no mês de janeiro. Todos os prisioneiros brasileiros-palestinos foram detidos em seus lares, em territórios palestinos ocupados pelo Estado de Israel. São eles:


Nome do detido: Islam Hamed
Idade: 32 anos
Cidade: Silwad – Ramalá
Número de detenções: três vezes (a primeira por Israel, a segunda pelas autoridades palestinas e a terceira, novamente, por Israel, após ter sido posto em liberdade pelas autoridades palestinas). Sua terceira detenção se deu em  24/10/2015.
Acusações: Ainda não determinadas pelos tribunais do Exército israelense.

          
Islam Hamed, preso em Israel





O Exército israelense invadiu a casa dos pais de Islam Hamed em janeiro – relata Nadia Hamed, mãe de Islam Hamed. Soldados invadiram sua casa às 00h30 e só saíram às 3h00 da madrugada, deixando muitos estragos. Nesta mesma noite fizeram revistas em várias outras casas da cidade, alegando terem recebido denúncias da existência de armamentos, mas nenhum foi encontrado.

Islam ainda não foi condenado e Nadia sempre se faz presente em suas audiências. Ela demonstra preocupação, pois seu filho não está bem de saúde e tem sentido fortes dores em seu rim direito. A esposa, o pai e o irmão de Islam são proibidos de visitá-lo – a permissão só é dada à mãe. Além dela, Islam tem tido a visita frequente dos agentes do Escritório de Representação Brasileira na Palestina.

Sua próxima audiência se dará no dia 06/03/2016.



Nome do detido: Sultan Hijaz
Idade: 17 anos
Cidade  Mazra Sharquiya – Ramalá
Acusações: Atirar pedras e bombas caseiras (coquetéis "Molotov") contra o Exército israelense.


       

Preso por Israel



A mãe de Sultan, Yusra Ahmad, assistiu a sua audiência em 25/12/2015, onde foi revistada de forma brutal e grosseira. Quando passava pelo detector de metais, o aparelho soou um alerta, mas não havia absolutamente nada visível que ela pudesse tirar para que o sinal parasse. Neste momento foi  agressivamente revistada e constatou-se que a alça de seu sutiã tinha um pequeno metal. Ela disse ter tido muito medo e, quando já dentro da sala de audiências, ao ver seu filho, tentou abracá-lo, quando foi brutalmente afastada dele e acusada de ter tentado dar uma faca a Sultan, ainda que tivesse sido revistada antes da sua entrada. A primeira visita que Yusra pôde fazer ao filho, à parte das audiências, foi em 06/01/2016, dois meses após a sua detenção. Sultan não tinha advogado devido à situação financeira da familia, mas um cidadão brasileir ( anonimo ), por solidariedade, pagou um advogado para defendê-lo. 

Yusra afirma que, quando acompanhados dos agentes do Escritório de Representação Brasileira na Palestina, o tratamento é diferente. As despesas de seu filho dentro da prisão são muito altas, pois não é permitida levar-lhe nada: tudo deve ser comprado da própria prisão. Sultan tem tido acompanhamento dos agentes do Escritório de Representação Brasileira em Ramala em suas audiências.

Sultan ainda não foi condenado e sua próxima audiência acontece em 02/03/2016. Os tribunais militares do Exército israelense pediram uma condenação a 10 meses de prisão e uma multa de 3.000,00 shequels (por volta de R$ 3.046,00 – ou US$ 800,00 – em cotação de 1º de março de 2016).




Nome do detido: Mujahed Hamed
Idade: 23 anos
Cidade: Silwad – Ramalla
Numero de detenções: Três vezes
Acusações: Atirar pedras contra o Exército israelense; tentativa de matar colonos israelenses lançando pedras (as autoridades israelenses dizem ter chego à acusação através de teste de impressão digital na pedra, mas nada foi comprovado); entrar em territórios de Israel sem a devida permissão.

       
                                
               
Preso por Israel



A última vez que Widad Hamed visitou seu filho foi no dia 08/02/2016. Durante esta visita, Mujahed informou-lhe que seriam proibidas as visitas nos próximos dois meses devido a uma revista surpresa feita no presídio durante a madrugada. A revista deu-se sob a alegação de suspeitas de que havia celulares dentro das celas e correu, como sempre, com muita violência. Como Mujahed reagiu à violência, recebeu como punição dois meses sem a visita de sua mãe. Com isso, Widad fez um novo pedido de visita para o mês de fevereiro e a permissão foi dada para o dia 24. Entretanto, quando  Widad foi visitar seu filho na data agendada, foi impedida de entrar, sob a alegação de “motivos de segurança”.

Os agentes do Escritório de Representação Brasileira na Palestina tranquilizaram Widad dizendo ter visitado Mujahed; felizmente, ele se encontra bem.


Mujahed terá audiência em 15/03/2016, mas ainda não se sabe se ele  será julgado ou se o julgamento será novamente adiado.



Nome do detido: Yussef Barghouthi
Idade: 22 anos
Cidade: Der Abu-Mishal – Ramalla
Numero de detenções: Primeira vez
Acusações: Jogar pedras contra o Exército israelense e fabricar “coquetéis Molotov”.





Preso por Israel



Detido em 04/09/2014, em sua casa, às 2h00 da madrugada, Yussef foi lavado para Maskubiya para interrogatório. Não confessou qualquer das acusações e ainda não foi condenado.

Durante seu interrogatório, o Exército israelense diz que Yussef assinou uma declaração admitindo as acusações, mas o documento está escrito em hebraico; também não é permitida a presença de advogados durante o tempo de interrogatórios, que podem levar até 90 dias. Segundo a família de Yussef, ele assinou um documento sem saber do que se tratava.

Yussef tem tido acompanhamento dos agentes do Escritório de Representação Brasileira em Ramalá. Sua última audiência aconteceu em 20/01/2016, sem julgamento, e foi suspensa até o dia 15/03/2016. O tribunal militar de Israel pede uma condenação para Yussef, com a pena de sete anos e meio de prisão e uma multa de 7.000,00 shequels (R$ 7.107,00 – ou US$ 1.802,00 em cotação de 1º de março de 2016).




Nome do detido: Raed Issa Abdel Aziz
Idade: 22 anos
Cidade: Mazra Sarquiya
Tempo de detenção: 2 anos e 3 meses
Multa: 2.600,00 shequels (R$ 2.640,00 – ou US$ 670,00 na cotação de 1º de março de 2016).
Acusações: Entrar em contato com representantes do Hamas na Jordânia após visitar um amigo que havia saído da prisão e atirar pedras contra o Exército israelense.





Preso por Israel






Raed foi posto em liberdade em 22/01/2016, 50 dias antes da data prevista (11/03/2016). Raed diz que agentes penitenciários o informaram que ele sairia antes da data prevista devido à superlotação dos presídios. Ele deixou a prisão de Ofar em Betúnia – Ramala, mas ficou à espera do processo por mais de três horas, sem comer ou beber água. Foi posto em liberdade com outros prisioneiros e teve de auxiliar um jovem palestino de apenas 14 anos a andar até o portão, pois o adolescente havia sido baleado na perna (uma bala perdida do Exército Israelense). Ainda assim, o jovem ficou detido por dois meses sem direito a uma muleta para andar até o portão do qual sairiam, para encontrar seus familiares que ali estavam à espera.


Raed conta sobre as   abusos cometidas pelo Exército Israelense contra os prisioneiros como “animalescas”. As revistas feitas durante a madrugada são sempre violentas, a falta de atendimento médico ou até mesmo a negação de remédios a pessoas com câncer e outras doenças graves, maus tratos e humilhações são cotidianos.

Raed tambem apontou que tudo deve ser comprado dentro da prisão, onde tudo é muito caro. Só é permitida a entrada de roupas de algodão, de três em três meses, o que não é suficiente para o inverno rigoroso, especialmente dentro das prisões.

Raed disse que ficava muito feliz em saber que receberia a visita da mãe “e, ao mesmo tempo muito triste, pois sabia que seria cansativo para ela, tanto física quanto psicologicamente. Por isso, pedi várias vezes que ela não viesse me visitar, principalmente quando estive na prisão de Nakkab, que fica muito longe e tem condições deploráveis.”

Raed ficou noivo antes de ser posto em liberdade. Nunca foi visitado por sua noiva enquanto detido. Apesar de estar noivo, ele diz que seu maior sonho continua sendo o de ver seu país, a Palestina, livre da ocupação Israelense e poder ver todos os prisioneiros palestinos em liberdade.


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