domingo, 31 de julho de 2011

Quem não quer o Estado da Palestina nas fronteiras de 1967?


29/07/2011

Nathaniel Braia - Jornalista e escritor

De uma coisa eu tenho certeza: o Fatah não imaginava que a proposta de estabelecimento do Estado Palestino Já!, iria gerar tanto debate no Brasil.

É claro que tese da justeza do estabelecimento desse Estado é consenso mundial, mas, como toda grande causa, sempre vai gerar debates apaixonados em torno de sua aplicação concreta e é bom que assim seja.

De um lado a direita israelense que – sem nenhum espaço para contestar esse direito reconhecido mundialmente – diz que concorda com o Estado Palestino mas, desde que cercado pelo muro do Apartheid, subtraído dos territórios que já consideram anexado a Israel, com os assentamentos (nome consensual, mas que seriam melhor qualificados se denominados covis de fanáticos religiosos) com 500 mil habitantes judeus dentro deles.

Este Estado oferecido, em tese, por Israel, seria separado, também, por tropas israelenses, do rio Jordão e sem conexão independente entre Gaza e Cisjordânia e ainda sem domínio independente sobre o tráfego no mar ou no ar. Seria um Estado sem Jerusalém como capital (pois essa seria, sei lá por que cargas d’água ou direito-bíblico-religioso-judaico, ‘indivisível’). Aliás este foi o “Estado Palestino” oferecido pelo cínico Ehud Barak e rejeitado por Arafat, após o falecimento de Itzhaq Rabin. A partir daí tome-lhe artigo sionista, reproduzido na mídia ocidental, dizendo que ao declinar deste Estado-bantustão, “Arafat rejeitou o acordo de paz”.

Temos, do outro lado, os chamados ultra-esquerda, os radicais de postura – por que o verdadeiro radical, como diz o nome, vai na raiz das questões e não procura aparentar radicalidade fora da realidade concreta, e sim busca resolver os problemas, encarar as questões como elas se apresentam e podem evoluir, de fato, rumo a um estágio histórico mais favorável aos interesses da Humanidade – que contestam a proposta da OLP de Estado Palestino Já! nas fronteiras de 1967.

Acho que essa questão ainda não foi suficientemente bem abordada e por isso, tomo a iniciativa de dispor de parte do meu tempo e dos que venham a ler este artigo, para tentar acrescentar ao debate.

Primeiramente, cabe analisar a postura dos rejeccionistas entre os palestinos e apoiadores; os que se recusam a aceitar os Acordos de Oslo que foram bancados pela direção da OLP e pela maior liderança palestina, Yasser Arafat e ainda pelo conjunto do povo palestino em Gaza e Cisjordânia.

Antes de Oslo, não havia Autoridade Nacional Palestina mundialmente reconhecida, como há hoje. Apesar da Declaração de Independência da Palestina haver sido formulada em 1988, a sua governança, exercida através da OLP, estava abrigada na capital de outro país, em Túnis, capital da Tunísia, depois que a direção palestina foi ameaçada de destruição física em Beirute, por ataques israelenses, em 1982.

Até o reconhecimento da Autoridade Nacional Palestina, nos territórios ocupados, os partidos e organizações palestinas eram proibidos. Considerados organizações terroristas (nós, que fundamos uma organização revolucionária em Israel e nos territórios ocupados, a Aliança Comunista Revolucionária, que possuía em seus quadros israelenses [árabes e judeus] e palestinos da Cisjordânia, tínhamos que realizar reuniões secretas nestes territórios. Alguns dos nossos companheiros pagaram com anos na prisão a ousadia de participarem de encontros – contatos proibidos e considerados atos de espionagem por lei israelense - com integrantes de organizações como o Fatah e Frente Popular Democrática de Libertação da Palestina – FPDLP, dirigida então por Nayeef Hawatmeh, onde a questão da alternativa dois países para dois povos começou a ser debatida e construída).

Antes de Oslo, não somente a bandeira palestina era proibida de ser hasteada como até obras de arte utilizando as cores palestinas (vermelho, preto, branco e verde) também o eram. Um pintor palestino foi preso por expor um quadro seu que representava uma fatia de melancia com exatamente estas cores: o verde - a casca; o branco e o vermelho - miolo e o preto - os caroços!

Com o acordo de Oslo muita coisa mudou. Fico aturdido de ver companheiros bem intencionados deixarem de perceber o que significou em termos de avanço para a causa palestina e para o povo palestino a entrada de seu líder, Yasser Arafat, em Ramalah para ocupar as edificações da sede do governo palestino, a célebre Mukata.

Fico impressionado pelos companheiros não perceberem a importância para o avanço da causa palestina, de fortalecimento do orgulho nacional, de verem sua bandeira nacional hasteada em solo pátrio e de verem as tropas israelenses recuando e retirando-se de Ramalah, Jericó, Belém, Gaza, o que ocorreu após Oslo.  

As negociações previam a retirada por partes. Primeiro a chamada Zona A e depoism, sucessivamente a C e a D. Os acordos de Oslo também reconheceram a soberania palestina sobre os territórios ocupados que iam sendo liberados.

As medidas de Rabin foram crescentemente apoiadas pela população israelense e ele caminhava para se tornar uma liderança cada vez mais reconhecida em Israel com respaldo suficiente para avançar na implementação da solução dos dois Estados, pelo lado israelense. A direita não viu alternativa senão assassiná-lo. O fez exatamente após um comício em Tel Aviv onde, junto com mais 500 mil pessoas, acabara de entoar a música Eveinu Shalom Aleichem – Trouxemos a Paz a Vocês.

Foi o único dirigente israelense a ser assassinado e por um judeu. Como podem então os companheiros que se dizem radicais fazer tal contorcionismo mental e dizer que Rabin fortalecia a direita? Será que os companheiros radicais é que são capazes de perceber os interesses da direita israelense de forma mais clara do que ela própria, que o assassinou? De fato é muito interessante...

Por que então, meus amigos, se os acordos de Oslo fortaleciam tanto a direita, a primeira declaração de Sharon (o carniceiro de Sabra e Shatila), ao chegar ao poder, foi de que tais acordos estavam considerados nulos?

Por que então, mais uma vez, a direita israelense ameaça anular o que restou destes acordos agora que os palestinos se preparam para levar o pedido de reconhecimento do Estado Palestino à ONU? Sinceramente, uma situação ímpar, em que as idéias da direita e as dos ditos radicais de esquerda coincidem com estarrecedora sintonia...

Mas, vamos um pouco adiante. A decisão de admitir um acordo em torno do conceito de dois Estados foi bancada pelo próprio Arafat que, no Congresso Palestino, realizado ainda no exílio – como relata Alan Hart, em sua biografia sobre Arafat – conversou com cada delegado até obter uma maioria significativa.

Foi essa proposta que permitiu a abertura de negociações com os governos israelenses e o apoio oficial de dezenas de governos as justas reivindicações palestinas.  

Este conceito-proposta, além de elevar o reconhecimento mundial da OLP, mudou o curso da discussão política dentro de Israel. O discurso de que “os palestinos e os árabes querem destruir Israel”, com o qual a direita abafava todo o debate interno em torno dos direitos palestinos e garantia a maioria para suas propostas ruiu. Aliás, principalmente para os companheiros que se dizem adeptos do pensamento marxista, vale ressaltar que é a luta de classes que move as sociedades. Neste sentido, favorecer o amortecimento destas contradições e levando uma parte significativa da classe trabalhadora israelense a servir de exército de apoio e colaboração ao colonialismo é, a meu ver, desastroso e, pelo lado inverso, deslocar os trabalhadores israelenses dessa esfera e aproxima-la dos progressistas dentro de Israel é fundamental para o avanço das idéias justas na região.   

É evidente que um conflito que pode ser vendido internamente como uma defesa contra a destruição do país é um maná para abafar as contradições internas e colocar sob o tacão da ideologia mais retrógrada as consciências dos trabalhadores judeus em Israel. Eu lembro do momento em que ocorreu o ataque do Setembro Negro aos atletas israelenses em Munique. Pela primeira vez, desde a fundação do Estado de Israel, uma greve operária, no caso a dos portuários de Ashdod, colocava dos dois lados da trincheira e em oposição aberta – com relação a questões sindicais - de um lado os trabalhadores israelenses e de outro o governo. A greve ia entrar no segundo mês e já mobilizava amplos setores da sociedade israelense em seu apoio. Pois bem, no dia seguinte à notícia da morte dos atletas israelenses, o comando de greve de Ashdod suspende o movimento e declara que o faz em homenagem aos mortos em Munique.

Esse é apenas um exemplo para reflexão...

E hoje? Temos um quadro em que, como muitos já sabem, a ultradireita israelense conseguiu empalmar o poder e as forças políticas que advogam o acordo com os palestinos estão em minoria dentro do Knesset (parlamento israelense). Os assentamentos estão sendo financiados e construídos a rodo. Transportes para os assentamentos são subsidiados e os mais baratos do país. Os planos de construção de mais moradias são aprovados um após o outro. Expulsões e demolições de casas estão em alta. Os postos policiais-militares multiplicaram-se na Cisjordânia, tornando a vida dos palestinos um inferno, ataques e destruição de plantios palestinos são cada vez mais freqüentes e, como denuncia o nosso manifesto, as prisões israelenses estão abarrotadas de patriotas palestinos.

Diante disso, desse quadro claramente desfavorável para a população palestina, não fica mais do que evidente que as opções colocadas são, de um lado o estabelecimento do Estado Palestino Já!, e do outro o recrudescimento do avanço do colonialismo israelense no sentido de piorar ainda mais as condições de vida do povo palestino, um aumento das provocações para gerar tensão que justifique mais agressões e prisões nos territórios ocupados e ainda dificultar a atuação da Autoridade Nacional Palestina.

Por fim, quando a OLP coloca claramente a reivindicação do Estado Palestino Já! e especifica que isso se dará com base nas fronteiras de antes de 1967, ela, longe de ser uma ‘traição’ à causa palestina como querem alguns, permite aos progressistas no mundo inteiro e mesmo dentro de Israel carrear o máximo possível de apoio a este reconhecimento.

Além disso, como já afirmei em correspondência anterior, sem essa definição de fronteiras não faria nenhum sentido ir à ONU reivindicar o reconhecimento do Estado Palestino.

Além disso, e de forma muito inteligente, tanto o secretário-geral do Fatah, Marwan Barghoutti, como o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, vincularam esta luta à chamada Primavera Árabe, conclamando os palestinos e os cidadãos de bem no mundo inteiro a lotarem as ruas de todas as capitais com bandeiras palestinas.

Essa jornada e o apoio que ela acarretará, juntamente com a vitória desta propositura na ONU, tornaram o Estado Palestino um fato político sem retorno, permitirão aos palestinos a participação em todos os organismos internacionais e ainda farão dos israelenses de ocupantes de território palestino a ocupantes de território de um Estado reconhecido mundialmente. As medidas internacionais, de sanções econômicas, boicote, iniciativas de isolamento político ganharão força e legitimidade maior do que já possuem, poderão ser institucionalizadas e propostas em parlamentos, universidades, entidades de massa, governos e organismos internacionais. Enfim um momento histórico para a causa deste sofrido povo e para toda a Humanidade que ao vencer mais esta etapa da luta contra o colonialismo ganha força para aproximar o imperialismo de sua derrota, que se aproxima quando seus esbirros sofrem reveses como aconteceu no Vietnã, no Apartheid Sul Africano, nas lutas de libertação nacional dos países africanos e está acontecendo hoje na Líbia.

Não é por acaso que o governo da direita fascista israelense decidiu colocar em campo suas tropas de diplomatas para tentarem fazer com que a proposta palestina tenha a menor receptividade possível em termos de votos na ONU!

Por último, nada disso impede que, uma vez estabelecido o Estado Palestino, os palestinos que hoje vivem em Israel, principalmente os moradores do chamado triângulo, predominantemente na Galileia, reivindiquem, num momento de paz futuro, sua integração a um Estado Palestino progressista ou, ainda, que venha a se formar uma federação englobando os dois Estados, uma vez superado o ódio construído pela direita israelense ou qualquer outra solução que a história e a consciência das populações locais permitir. Agora cabe sair do impasse e fazer recuar a pilhagem colonialista.

É agora! 

O avanço só pode ser conquistado quando se tem clareza do caminho a seguir e das propostas que mais atraem apoio para o lado das forças do avanço e mais isolam as do atraso. Mesmo com todas estas evidências, quem quiser se contrapor a tudo isso e, em seu lugar, colocar uma proposta que desconhece a consciência acumulada mundialmente, a correlação de forças no local da batalha e, portanto, prima pelo irreal e pelo idealismo e, ainda assim, continuar se dizendo “progressista” que o faça. Como sempre, e ainda mais numa questão que apaixona multidões, como é a causa palestina, a história vai julgar...

Da nossa parte, vamos à luta e a vitória! A amplitude das assinaturas de partidos e entidades obtidas nesta primeira fase são um grande passo para que o Brasil dê a sua importante contribuição! Viva o povo palestino! Pelo Estado Palestino Já!




sexta-feira, 29 de julho de 2011

Comitê criado para avaliar práticas de Israel na Palestina faz primeira visita em 40 anos


Comitê criado para avaliar práticas de Israel na Palestina faz primeira visita em 40 anos

28 de julho de 2011 · Notícias

 ONU - Brasil     





O “Comitê Especial de Investigação das práticas de Israel que afetam os Direitos Humanos do Povo Palestino e outros Árabes Vivendo nos Territórios Ocupados desde 1967″ pôde, pela primeira vez, depois que foi criado em 1968,  visitar Gaza. O Governo do Egito facilitou a visita através da fronteira de Rafah.

“Infelizmente, o que descobrimos foi que as restrições opressivas impostas sobre Gaza por Israel têm o efeito de punir coletivamente a população,” observou o Comitê: “Com cerca de 35% da área de Gaza excluída da agricultura, (…) o povo de Gaza não pode se alimentar, muito menos reaquecer uma economia dizimada por meio de exportações. Estamos alarmados com as alegações de que Israel impõe essas políticas empregando o uso de armas de fogo, inclusive, em alguns casos, contra crianças e idosos.”

“O contínuo bloqueio de Israel em Gaza viola os direitos humanos do povo de Gaza e as leis e padrões do Direito Internacional Humanitário,” disse o Embaixador Palitha Kohona, Presidente do Comitê. “Isto é opressivo, reduz a vida do povo de Gaza e deve acabar agora,” frisou.

As políticas e práticas do Governo de Israel que violam os direitos das crianças palestinas foram um tema constante durante todas as audiências do Comitê. Testemunhas e funcionários relataram que o acesso das crianças palestinas à educação está comprometido devido, entre outras fatores, às restrições à liberdade de circulação, de acesso e à falta de escolas, especialmente em Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza, bem como ameaças e violência reais por parte dos colonos israelenses. A atenção do Comitê voltou-se para o grande número de crianças detidas e uma série de práticas preocupantes, incluindo duras técnicas de interrogatório, tortura e expulsão de suas aldeias.

O Comitê destacou sua “profunda preocupação com relatos de que forças de segurança israelenses estão invadindo casas palestinas no meio da noite para deter crianças. (…) Ainda mais angustiantes são os relatos de que as crianças estão sendo submetidas a maus tratos, levadas aos tribunais militares e, muitas vezes, coagidas a assinar confissões.”

A visita de nove dias do Comitê Especial de Investigação à região também incluiu reuniões em Amã (Jordânia), onde esteve com vítimas, testemunhas e funcionários que trabalham com direitos humanos na Cisjordânia e nas Colinas de Golã, na Síria. Uma preocupação frequentemente comunicada durante a visita relacionava-se à situação de prisioneiros palestinos em Israel: as restrições de Israel às visitas familiares; a negação do direito à educação nos últimos meses; as más condições de detenção; a falta de atenção médica adequada; a detenção prolongada sem acusação; além de maus-tratos e torturas durante a detenção.

O Comitê expressou pesar pelo fato de o Governo de Israel não ter respondido ao seu pedido para visitar os territórios ocupados. Durante a 66ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em novembro de 2011, O Comitê Especial fornecerá um relatório aprofundado de suas observações após a missão e fará recomendações detalhadas para melhorar o respeito pelos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel desde 1967.

O Comitê Especial foi criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1968 para investigar práticas israelenses que afetam os direitos humanos do povo palestino e outros árabes dos territórios ocupados desde 1967. Seu mandato foi renovado em janeiro de 2011. Ele é composto por três Estados-Membros que este ano são representados pelo Embaixador Palitha Kohona, Representante Permanente do Sri Lanka na ONU em Nova York; pelo Embaixador Hussein Haniff, Representante Permanente de Portugal na ONU em NovaYork; e pelo Embaixador Fodé Seck , Representante Permanente do Senegal na ONU em Genebra.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Israel tenta pegar carona na Primavera Árabe


Israel tenta pegar carona na Primavera Árabe

28/7/2011, M K Bhadrakumar, Asia Times Online


Depois de ter permanecido na sombra por quase oito meses, tentando entender o significado e avaliar os riscos da Primavera Árabe, Israel de repente voltou à cena, na 3ª-feira. Em movimento sem precedentes, o presidente israelense Shimon Peres convocou a imprensa árabe e anunciou que Israel apóia a mudança de regime em Damasco, Síria.

Até agora, Israel dedicara-se, atentamente, a não se identificar com a Primavera Árabe. Preferiu concentrar-se mais no que viria depois de mudados os regimes, do que em promover revolucionários nas barricadas. No caso da Síria, até se chegou a suspeitar que Israel estivesse secretamente envolvida na preservação do regime do presidente Bashar al-Assad, vendo-o como uma espécie de barreira de proteção, entre Israel e o dilúvio (a ascensão de um governo da Fraternidade Muçulmana).

Na 3ª-feira, Peres, num só golpe, apagou qualquer vestígio de ambigüidade estratégica. “Assad tem de sair. Quanto antes sair, melhor para o povo sírio” – disse Peres. O presidente israelense saudou os manifestantes anti-Assad: “É fácil [para os Sírios] sair à rua e protestar. Mas e quando o exército [sírio] atira contra o próprio povo? É espantoso. A coragem e a firmeza são prova da honra dos sírios”.

Peres insistiu em que a mudança de regime em Damasco trabalha a favor da paz entre árabes e israelenses. Mostrou-se absolutamente confiante de que o regime que suceda Assad em Damasco firmará um tratado de paz com Israel: “Os que buscam a paz prevalecerão”.

É novidade absoluta.

Por que Israel optou por expor a própria ambigüidade estratégica em relação à Síria? Israel, afinal, sabe, é claro, perfeitamente, que qualquer mudança de regime em qualquer ponto do mundo árabe, sob as atuais condições, sempre, e necessariamente trabalhará contra os interesses de Israel. O Egito é caso típico em que, se e quando o governo de transição passar o poder a governo eleito, não haverá como algum governo eleito deixar de considerar o forte desejo popular de que uma nova política externa egípcia opere para distanciar o país, ao mesmo tempo, de EUA e Israel.

Uma grande maioria de egípcios exigirá que seu governo eleito distancie-se de qualquer modalidade de cooperação próxima com Israel, em questões econômicas e de segurança. Israel assiste, com ansiedade, a possibilidade de que se construam laços de simpatia entre o Egito e o Irã. O chefe da inteligência militar israelense major-general Aviv Kochavi fez, recentemente, declaração espantosa: disse que o Irã estaria financiando secretamente a Fraternidade Muçulmana no Egito. Em resumo: para Kochavi, Israel não se poderia dar o luxo de ser otimista em relação ao resultado de uma mudança de regime na Síria.

O cálculo de Peres parece ser diferente. O que transparece é que Israel, agora, completou uma avaliação ‘fria’ e concluiu que, de fato, são mínimas as possibilidades de que haja qualquer tipo de mudança de regime em Damasco. Patrick Seal, arabista e autor conhecido, resumiu bem, semana passada:

"A situação em Damasco não chegou à massa crítica. Damasco não se levantou contra Assad, os serviços de segurança não deixaram de apoiar Assad, a economia não entrou em colapso. O regime parece fraco, mas a oposição parece ainda mais fraca. Quanto mais tempo passar, e mais mortos houver, mais difícil será encontrar uma solução. É indispensável encontrar solução negociada. Se não se conseguir isso, haverá guerra civil.”

Israel também parece estar decepcionada por não ver nem sinal de ação internacional concertada contra a Síria, como aconteceu na Líbia. No mínimo, as humilhações e baixas que Muammar Gaddafi lhes está impondo na guerra da Líbia parecem ter ensinado as potências ocidentais a avaliar mais objetivamente a ideia de abrir novo flanco de guerra na Região, dessa vez na Síria, pelo menos em futuro próximo.

Os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – com o Líbano – estão contendo qualquer movimento das potências ocidentais, impedindo até uma discussão no Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria. Recente visita a Damasco, do secretário-geral da Liga Árabe Nabil Elaraby, mostrou que, sim, os ventos regionais já sopram a favor de Assad.

A Turquia, outra vez, contra Israel

Por algum tempo, recentemente, Israel acalentou esperanças de reaquecer os laços hoje moribundos que a ligaram à Turquia, no campo da segurança; e de construir um movimento de pinça ascendente, contra a Síria, pelo norte e pelo sul. As coisas até pareceram estar andando bem nas últimas semanas, rumo a uma normalização das relações Israel-Turquia, com diplomatas dos dois lados trabalhando para neutralizar a amarga lembrança do ataque israelense contra o comboio humanitário que tentava chegar a Gaza vindo de Istambul, ano passado; naquele ataque, morreram nove cidadãos turcos.

Mas a coisa novamente desandou. Transpiraram notícias de que Ancara insiste na exigência de que Israel apresente desculpas formais, o que dificilmente acontecerá porque, se acontecer, implicará expor o exército de Israel a acusação também formal, de prática de crime. Os turcos agora ameaçam punir Israel.

“A bola está no campo israelense. Se pedir desculpas, tudo bem. Se não, teremos de recorrer ao Plano B” – disse um alto funcionário da Turquia à Agence France-Presse. Acrescentou que a Turquia considera acusar e processar formalmente os comandos israelenses que atacaram o comboio humanitário; e que analisa também a possibilidade de “diminuir ainda mais a representação diplomática e adiar o reconhecimento de novos enviados que Israel mande à Turquia”.

O ministro turco das Relações Estrangeiras fez declaração em que critica o recente movimento de Israel, de construir novas colônias nos territórios palestinos ocupados.

Antes, no sábado, o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ao falar numa conferências de enviados palestinos em Istambul, disse, na presença de Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina: “A menos que recebamos pedido formal de desculpas pela morte de nove cidadãos turcos, até que suas famílias sejam indenizadas e até que o bloqueio de Gaza seja completamente levantado, as relações entre Turquia e Israel não serão normalizadas”. E ameaçou visitar Gaza.

Ancara sabe que são exigências humilhantes que, ainda que o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu desejasse atender, num espírito de realpolitik ou pragmatismo, não seriam aceitas pela opinião pública em Israel. Pode-se concluir que os turcos estão trabalhando exclusivamente para dificultar o mais possível, para Israel, o trabalho de recompor as relações entre os dois países. Repentinamente, os turcos parecem ter perdido o ímpeto na direção de “normalizar” as coisas com Israel (como os norte-americanos desejam), na atual conjuntura.

A secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton visitou a Turquia há dez dias e fez inúmeras declarações elogiosas ao grande destino da Turquia como líder no Oriente Médio. O novo diretor da CIA-EUA, David Petraeus, também passou pela Turquia, na viagem de volta aos EUA, ao deixar o comando no Afeganistão. Tudo levava a crer que a Turquia morderia o fruto-tentação de aceitar alguma proposta para agir como cabeça de ponte, numa intervenção concertada, contra a Síria.

Mas Ancara avaliou cuidadosamente as vantagens de pôr-se como agente instigador de uma mudança de regime em Damasco. E parece ter chegado à conclusão de que os perigos que se criariam para sua própria integridade territorial ultrapassam em muito qualquer vantagem geopolítica que Washington possa prometer. Em palavras mais simples: não interessa à Turquia ser vista como ‘aliada’ de Israel nesse momento. E assim, desmoronam quaisquer esperanças que Israel acalentasse de começar a romper seu isolamento regional, reinventando um eixo Israel-Turquia, contra a Síria.

O que preocupa Ancara é que os desenvolvimentos na Síria parecem estar tomando rumo perigoso na direção de guerras religiosas, sem qualquer tipo de contenção possível, como as guerras religiosas que devastaram o Líbano nos anos 1980s – o que seria terrível, em país tão próximo da Turquia.

A sequência de eventos disparados pelo terrível assassinato de três famílias da tribo Alawi, mortos por extremistas salafitas na cidade de Homs, próxima da fronteira turca, é prova das consequências gravíssimas que adviriam de qualquer desvio incontrolado que aconteça nos movimentos democráticos na Síria – que, nos últimos meses, têm sido patrocinados por Ancara.

Uma onda de ressentimento anti-salafitas varre a Região, entre xiitas e alawitas. As paixões sectárias e religiosas ameaçam como vírus adormecido. Ancara é suficientemente sensível para saber que há extremistas salafitas, muitos dos quais ligados à al-Qaeda e veteranos calejados da guerra do Iraque, infiltrados nas manifestações de rua na Síria.

Se irromper na Síria uma guerra civil semelhante a que houve no Líbano, será apenas questão de tempo, e a Turquia também se incendiará. Os xiitas e alawitas na Turquia (cerca de 20% da população turca) envolver-se-ão instintivamente na guerra síria. Na sociedade turca, as tensões entre alawitas e salafitas são visíveis, bem à superfície.

Os grupos alawitas na Turquia formaram uma organização guarda-chuva conhecida como Fundação Alawi-Bektashi, que regularmente distribui manifestos para sensibilizar a comunidade mundial sobre alegadas “violações de direitos dos alawitas, casos de tratamento desigual e discriminatório” e “crimes de ódio” cometidos por salafitas associados à comunidade Fetullah Gulen.

O último desses manifestos alawitas, intitulado “A comunidade Gulen contra os alawitas” detalha que a comunidade Gulen de salafitas na Turquia está empenhada em “guerra negra de propaganda contra os alawitas”, acusados de ter “tomado o judiciário e o exército. Na Turquia há um secularismo sectário. Uma elite alawita governa como quer as massas sunitas”, e por aí vai.

Reação dos curdos

Mas o risco contra o qual a Turquia tem realmente de precaver-se é a quase inevitável reação dos curdos, cujos primeiros sinais começam a aparecer. O apoio da Turquia à oposição síria já expôs alguns sinais da proximidade entre os curdos e Damasco.

Se for empurrada para as cordas, Damasco pode retaliar contra a interferência turca, garantindo a cidadania síria aos colonos curdos que vivem no nordeste da Síria, sobretudo em Qamishli, o que sem dúvida será causa de graves dores de cabeça para Ancara, no longo prazo.

Bem visivelmente, os partidos curdos já se estão separando dos salafitas no norte da Síria, e sinalizam a disposição para trabalhar a favor do regime sírio. Há quem diga que, se a situação deteriorar, Damasco poderá ficar sem alternativa senão armar os grupos curdos para oporem-se aos salafitas.

Em resumo, Ancara sabe que patina sobre gelo muito fino, se contribuir para empurrar o regime sírio na direção de uma posição sem volta. A verdade mais simples é que os curdos como fazem invariavelmente adotarão a posição que Ancara adote.  Abudllah Ocalan, líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, viveu muitos anos exilado na Síria.

A questão da interferência da Turquia na Síria já levou os destacados líderes curdos Jalal Talabani (que é presidente do Iraque) e Massoud Barzani (que é presidente da Região Curda) a manifestarem apoio a Damasco. (O primeiro-ministro do Iraque, Nuri al-Maliki, também manifestou solidariedade ao regime sírio, ao assinar acordo para fornecer 150 mil barris de petróleo à Síria.)

Noutro momento, foi vitória histórica da “diplomacia coercitiva” da Turquia que, em 1998, Ancara tenha reunido tropas na fronteira síria, ameaçando invadir o país e, com isso, conseguiu literalmente obrigar Damasco a aceitar a “desmilitarização” das regiões de fronteira com a Turquia – e a expulsar Ocalan.

Agora, no contexto de uma possível interferência turca na atual situação, Damasco já enviou forças especiais para a região da fronteira com a Turquia, depois de 13 anos de “desmilitarização” daquela área.

Além disso, Damasco optou por mandar para a fronteira a 15ª Divisão de seu exército, formada predominantemente de sunitas e comandada por oficiais sírios sunitas – esvaziando o fácil pressuposto dos turcos, de que os oficiais sunitas do exército sírio estariam a ponto de desertar e abandonar o regime de Assad.

Em termos gerais, Israel acertou ao avaliar que os turcos começam a entender a mensagem de Assad, e preparam-se para alinhar-se ao lado do regime sírio.

Ancara já começa a baixar o tom da retórica anti-Síria e gradualmente está retomando sua velha plataforma de “zero problemas” com os vizinhos difíceis.

Ironia, nesse processo, é que Ancara também está sendo compelida a retomar termos mais amigáveis com o Irã e lançou ofensiva militar concertada contra guerrilheiros curdos no norte do Iraque, depois que 13 soldados turcos foram mortos, dia 14 de julho, na província de Diyarbakir, no leste da Turquia.

Em movimento brilhante, de timing impecável, o exército do Irã iniciou operações dia 16 de julho contra os rebeldes curdos nas montanhas Kandil no norte do Iraque. Paralelamente, os militares turcos também iniciaram operação no território iraquiano próximo da fronteira, na província de Hakkari, no leste da Turquia.

Ancara está fazendo o que pode, declarando que as operações iranianas e turcas não foram coordenadas. Talvez não, no plano oficial. Teerã não desmentiu. Mas os israelenses são suficientemente espertos e sabem perfeitamente bem o que está acontecendo – que alguém está trabalhando para refrescar a memória dos turcos, obrigando-os a considerar que ainda há um problema curdo não resolvido; que Ancara tem de prestar atenção aos curdos; e que, quanto a isso, Turquia, Síria, Iraque e Irã têm interesses comuns.

Evidentemente, Israel concluiu que o eixo Síria-Irã permanece intacto em larga medida, apesar da descomunal pressão que faz a Arábia Saudita, para que Assad rompa com Teerã; que o regime sírio absolutamente não está à beira do colapso, apesar da pressão organizada que sofre da Turquia, da Arábia Saudita, da França e dos EUA; e que o Qatar – o qual, dentre os estados árabes do Golfo Persa, sempre é o mais rápido – já adivinhou que a Primavera Árabe na Síria será disputa duríssima, muito mais dura que na Líbia; e que Doha de modo algum planeja entrar em luta de pesos muito mais pesados que ela.

Interessante observar que o Qatar fechou sua embaixada em Damasco e deu o fora, depois dos ataques às embaixadas dos EUA e França e à sede da rede al-Jazeera na capital síria. Mais importante que isso, Israel constata que a Turquia já começou a retroceder, na trilha que poderia levá-la a intervir na Síria.

Em resumo, o espectro que ronda Israel é que, se os tumultos na Síria começarem a arrefecer, a atenção da comunidade internacional inevitavelmente voltará a concentrar-se na questão palestina. Abbas ainda não desistiu de obter da ONU que reconheça o Estado da Palestina, na próxima sessão da Assembleia Geral, em New York, em setembro.

A surpreendente declaração do presidente Peres é esperta tentativa para (re)incendiar a questão síria. Interessa muitíssimo a Israel que, no caso de que irrompa na Síria outra guerra civil nos moldes da guerra do Líbano, árabes, curdos e turcos ponham-se a matar-se uns os outros.

Em nenhum outro momento da Primavera Árabe, que raiou no Maghreb em dezembro passado, cobrando a vida de um vendedor de rua em Túnis, alguém previu que chegaria o dia de Israel apresentar-se como garota-propaganda da democracia no Levante, embora para expandir a guerra. O Oriente Médio é caixinha inesgotável de surpresas.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Embaixador da Palestina no Brasil fala sobre a batalha na ONU


Nações Unidas pelo reconhecimento da Palestina

27/07/2011

BRASIL DE FATO - Internacional

O *embaixador da Palestina no Brasil fala sobre a batalha decisiva que se aproxima, na ONU, pelo reconhecimento de seu Estado.

Vinicius Mansur
De Brasília (DF)

 A Liga dos países Árabes já anunciou que solicitará à Organização das Nações Unidas(ONU), ainda este
 mês, a inclusão da Palestina como membro pleno desta entidade. A ONU deverá levar o tema à votação até o mês de setembro. Contando com amplo apoio na comunidade internacional, a luta palestina tentará escrever capítulos decisivos de sua história no próximo período. No Brasil, a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) lançou no último dia 20 a “Campanha Estado da Palestina já!”.

O Brasil de Fato entrevistou o embaixador da Palestina no País, Ibrahim Alzeben, para abordar o atual estágio desta articulação internacional. Além disto, o embaixador também discorre sobre a importância brasileira e latino-americana nesta luta, revela que o Estado Palestino deverá ser reconhecido em breve pela Colômbia – único país sulamericano que ainda não o fez – e ainda comenta a atual conjuntura política em seu país sob a luz da “Primavera Árabe”. Confira a entrevista.

Qual o impacto da “Primavera árabe” para a luta palestina?

Quando começou a revolução Palestina, com a formação da OLP (Organização Para Libertação da Palestina, fundada em 1964), nós considerávamos que a imagem desta revolução era a Palestina, o coração árabe e o corpo internacional. Portanto, qualquer acontecimento no mundo árabe acontece no coração da causa palestina. Desejamos que nossa nação árabe, nossos povos, tenham uma democracia e uma independência verdadeira, merecem voltar a ter o papel que lhes corresponde na humanidade. Na nossa região nasce o abecedário, o comércio, a primeira cidade do mundo, nascem civilizações, o desenvolvimento da ciência, da literatura,. Lamentavelmente, faz uns séculos que essa nação está sendo colonizada, vivendo um atraso. Mas, todas as atuais mudanças do mundo árabe são a favor da Causa Palestina. Em todos estes levantamentos, na Tunísia, Síria, Egito, foi imediatamente colocada a posição de respeito à Causa Palestina. No Egito, tivemos medidas práticas no sentido de aliviar o cerco contra Gaza e a abertura gradual do posto fronteiriço.

Como estão os novos diálogos entre Fatah e Hamas?

Estamos ainda negociando. Só que não tem retrocesso, temos que formar um governo que satisfaça o interesse do povo palestino e que esteja de acordo com o direito internacional. É possível. A reconciliação é importante e é um problema que Fatah e Hamas devem resolver.

 O que motivou esse acordo?

O povo palestino não agüenta mais tanta divisão. É a força popular, o povo sempre tem a última palavra.

 A solicitação à ONU para que o Estado da Palestina seja reconhecido como um membro pleno dela é o objetivo central hoje? Existe unidade em torno disto?

O objetivo central palestino é a paz. O estado é uma garantia de ter uma vida digna e ter a paz. Para obter a paz precisa de instrumentos. Esse é um dos instrumentos imprescindíveis: um Estado que veja os interesses de sua população, sua segurança, em todos os sentidos, da mesma forma que Israel tem a sua segurança, através de um Estado. Isso é uma unanimidade na Palestina. Uma das principais bandeiras, então, é essa luta na arena internacional, a ONU vai ser a última batalha. Anteriormente tem que trabalhar nos países que são membros para, na hora da votação, obter esse lugar que nos corresponde. O melhor caminho seria um acordo bilateral entre Israel e Palestina, que eles fossem o primeiro país a reconhecer sua responsabilidade histórica e começassem a corrigir. Somos vizinhos, temos que tolerar, respeitar e conviver. Porque não é nenhum orgulho ter do meu lado um vizinho que está morrendo e não dar a mão. O vizinho não afetado tem obrigação moral, humana, de estender a mão. Não colocar nosso povo num cerco, não castigar Gaza, ela precisa ser reconstruída, já. Faz dois anos e meio que Gaza aguarda pela reconstrução, ainda tem mais de 60% morando em condições infra-humanas, a raiz daquele genocídio cometido por Israel. Mas já que não existe essa vontade política por parte de Israel, não temos outra. Vamos à ONU.


Como o senhor vê a possibilidade de um estado dentro das fronteiras de 1967?

É uma possibilidade real. A Palestina histórica são 27.009 quilômetros quadrados, ficaríamos com 6.090, mas sim, é possível, não seremos o único estado pequeno no mundo. Existe um povo que tem inteligência, território, vontade política e reconhecimento. Então, falta só o reconhecimento da ONU e esse é o tema de agora. Estamos sob ocupação, tudo bem. Ela não vai terminar em uma noite, mas não pode durar uma eternidade. Israel não pode seguir ocupando território nosso e nós não podemos seguir aceitando. Israel vai ter que ceder. Se eles seguem membros da comunidade internacional, vão ter que respeitar a carta magma.


Formado o Estado palestino, como seriam as relações com Israel?

Uma relação de vizinhos, não vejo outra relação de inimigos. Começando por Israel respeitando nosso direito de criar nosso estado independente, livre, soberano, viável. Tem que haver uma cooperação em todos os sentidos. Israel tem também que reconhecer sua responsabilidade histórica, de 63 anos até agora, de catástrofe palestina. Não foi um desconhecido que fez a catástrofe palestina, foi Israel. Claro, com apoio de outra superpotência. Tudo bem. Só que, diretamente, o responsável pelo holocausto judeu foram os nazi. Estavam apoiados por outros, verdade, mas tem o responsável.O responsável da nossa diáspora é Israel. Portanto, tem que reconhecer sua responsabilidade, pedir desculpas, indenizar os palestinos, proceder como uma nação civilizada.

 Em quantos países do mundo a Palestina tem embaixada?

Mais de 111 países que reconhecem o Estado Palestino. Não sei ao certo. E são mais de 90 embaixadas.

Quem foi primeiro país a reconhecer?

A Argélia, em 1988, 15 de novembro. A primeira representação no hemisfério ocidental foi em Cuba, em novembro de 1974. Depois o México, depois a Nicarágua, a raiz da revolução sandinista em 1979. Depois vieram representações da OLP em todos os países, inclusive no Brasil. Até 1993, tínhamos uma representação da OLP aqui, depois já se converte em uma delegação especial da Palestina e a partir de 3 de dezembro de 2010 já se converte em embaixada. Foi algo especial porque é a nossa primeira pedra fundamental nesse hemisfério, a primeira que construímos. Todas as outras embaixadas na América Latina são compradas, emprestadas, dadas ou alugadas. Aí sim começa a mudar a história na América Latina.

Por que?

Foi um passo decisivo. Depois veio Argentina, Equador, Bolívia, Suriname, Guiana e assim sucessivamente.

Todos os países da América do Sul já reconhecem?

Quase. Melhor deixar isso, porque possivelmente vai haver um reconhecimento em breve, não quero estragar as coisas.

Quais países na América do Sul ainda não reconhecem o Estado palestino?

Só falta a Colômbia.

 O senhor enxerga lutas em comum entre os latino-americanos e a Palestina?

A dignidade humana, a conservação de nossos recursos naturais, que eles estejam a serviço do bem-estar dos nossos povos, somos todos povos em luta. Somos considerados terceiro mundo, mas acho que essa denominação colonial para dividir o mundo em um, dois, três ou quatro não combina.

 O Tratado de Livre Comércio Mercosul-Israel atrapalha a luta palestina?

As relações de Israel em nível mundial atrapalham e não atrapalham. Atrapalham quando se põem a serviço da ocupação. Quando vendem armas ou munições, elas são usadas diretamente para fortalecer a ocupação, isso é uma a injustiça que não podemos aprovar. Israel, como Estado soberano, tem direito de manter relações. Agora, deve ter uma regra que regule as relações entre as nações. Portanto, essa relação com o Mercosul, se beneficiar assentamentos israelenses dentro do território palestino são condenáveis... Falamos com nossos parceiros que tivessem cuidado com as relações para não fortalecer estes assentamentos israelenses dentro do território palestino.

 Isto já acontece?

Acontece. Mas o Tratado ainda não está fechado. E o Mercosul tem um tratado de livre comércio com a Palestina, que já foi assinado, dia 19 de dezembro passado, em Foz do Iguaçu. No início de julho na Cúpula 41 do Mercosul, em Assunção, Paraguai. Palestina, junto com Japão, foram os únicos convidados com direito a fala. As relações com a América Latina estão se desenvolvendo e esperamos uma participação mais ativa no processo de paz. Essa campanha quer dizer que tem gente que sente a dor do povo palestino. O mundo deve se livrar já dessa dor, fazer justiça, para se voltar a outras tarefas importantes, como o meio ambiente estamos desperdiçando muita energia.

Qual o tamanho da comunidade palestina no Brasil?

Não temos uma estatística. Se você não tem Estado, não tem instituições sólidas e tem tarefas imediatas para fazer. Não é uma prioridade saber quantos palestinos temos aqui porque sabemos que todos estão a salvo, entre irmãos.

 Mas há alguma política para eles?

Temos um departamento de expatriados, tanto para o OLP como para ANP (Autoridade Nacional Palestina). Consideramos que os Palestinos na diáspora são uma reserva estratégica, a ponte que une a Palestina com o mundo. Nossa política é bem clara: um bom cidadão no Chile, no Brasil, na Colômbia vai ser um bom cidadão na Palestina. Trabalhamos de maneira que os palestinos possam ter livremente sua dupla nacionalidade, sem afetar a lealdade a nenhum dos dois. Essa tarefa pode ser feita perfeitamente e serve de ponte cultural, política, econômica e diplomática.


*Ibrahim Alzeben é embaixador da Palestina no Brasil. Jornalista, 56 anos, estudou na Jordânia e em Cuba. Como diplomata trabalhou em Cuba, Nicarágua, Peru, Bolívia, Brasil, Venezuela, Colômbia e Paraguai.

domingo, 24 de julho de 2011

O massacre na Noruega e Israel


La masacre del 22 de julio
Noruega e Israel

24-07-2011

María José Lera y Ricardo García Pérez
Rebelión


La masacre cometida el 22 de julio en Noruega se desarrolló en un contexto al que merece la pena prestar atención. Ha habido dos atentados, uno contra la sede del gobierno y otro en la isla de Utøya, con una diferencia de dos horas entre ambos.

En la isla de Utøya se celebraba una reunión-campamento de la Liga Juvenil de Trabajadores del Partido Laborista (Arbeidaranes Ungdomsfylking, AUF, por sus siglas en noruego) cuyo representante, Eskil Pedersen, es uno de los defensores más importantes del boicot a Israel en Europa, y con posicionamientos de gran importancia.

Boicot a Israel

La implicación de Noruega en el boicot a Israel es fundamental y hiere sensibilidades. El boicot universitario fue liderado por una de las instituciones académicas más importantes de Noruega, la Universidad de Bergen, que tiene intención de imponer un boicot académico contra Israel por un comportamiento que califica de similar al del apartheid (YNET, 24 de enero de 2010); la acompañó la junta rectora de la Universidad de Trondheim, donde se discutió y votó si unirse o no al boicot académico contra Israel.

Hace solo unos meses, en abril, este boicot universitario dio sus frutos y el propio Alan M. Dershowitz estuvo en Noruega y se ofreció a impartir conferencias sobre Israel en las tres universidades más importantes, si bien todas rechazaron su oferta, aunque sí habían sido invitados allí Ilan Pappé, o a Stephen Walt. La queja de Desrhowitz contra el «boicot de Noruega a los oradores pro-israelíes» se puede leer en el siguiente enlace: http://soysionista.blogspot.com/2011/04/el-boicot-de-noruega-los-oradores-pro.html.

El Ministro de Asuntos Exteriores de Noruega, Jonas Gahr Støre, dijo lo siguiente el día anterior a la masacre: «La ocupación debe terminar, el muro se debe demoler y hay que hacerlo ya»… y lo hizo en el mismo campamento donde se produjo la matanza (fuente: http://tinyurl.com/3zhsj4w).

Pie de foto: La AUF pide boicotear a Israel. Jonas Gahr Store, Ministro de Asuntos Exteriores de Noruega, fue recibido el jueves en el campamento de verano de la AUF que se desarrolla en Utøya, donde escuchó la petición de que Noruega reconozca al Estado palestino. Allí el ministro recorrió el campamento organizado por Eskil Pedersen, dirigente de la AUF (Reuters). 

El miércoles pasado, Eskil Pedersen afirmó que la Liga Juvenil de Trabajadores (AUF) quiere que Noruega imponga un embargo económico unilateral a Israel.

«La Liga Juvenil de Trabajadores tendrá una política más activa en Oriente Próximo y tenemos que reconocer a Palestina. “El dinero solo es dinero”, ahora tenemos que impulsar el proceso de paz hacia otra senda», declaró Pedersen.

Las acciones de BDS (boicot, desinversión y sanciones) fueron apoyadas en enero de 2006 por la Ministra de Economía (http://www.elreloj.com/article.php?id=16385) y se han hecho efectivas en retirada de inversiones. Concretamente, el 23 de agosto de 2010 Noruega comunicó que el Fondo de Petróleo Noruego (Norway Oil Fund) retiraba sus inversiones de la compañía constructora internacional Danya Cebus, que pertenece al fondo de inversiones Africa-Israel. En palabras de la Ministra de Economía «  “El Consejo de Ética enfatiza que la construcción en los asentamientos de los territorios ocupados constituye una violación de la Convencion de Ginebra relativa a la Protección de Civiles en Tiempo de Guerra,” señaló. “Varias resoluciones del Consejo de Seguridad de las Naciones Unidas y opiniones del Tribunal Internacional de Justicia han concluido que la construcción en los asentamientos israelíes en los territorios ocupados palestinos está prohibida bajo esta Convención,” dijo el ministro de Economía Sigbjoern Johnsen en una declaración ». (http://www.nocturnar.com/forum/economia/427216-fondo-noruego-retira-inversiones-de-companias-israelies.html)

La retirada de inversiones también se ha extendido al negocio de armas, y en septiembre de 2009 se canceló la inversión en Elbit, empresa armamentística israelí (http://www.haaretz.com/news/israel-summons-norway-envoy-to-protest-divestment-from-arms-firm-1.8535). Y no sólo han vetado la venta de armas a Israel, sino que en junio de 2010 la Ministra de Eucación noruega hizo un llamamiento internacional para que esta postura de boicot a las empresas armamentísticas israelíes fuese compartida por el resto de la comunidad internacional (http://www.swedishwire.com/nordic/4809-norway-calls-for-boycott-on-arms-to-israel), ante el asesinato por parte de Israel de nueve activistas turcos en el ataque a la Flotilla.

El boicot noruego está apoyado masivamente por la población y, según fuentes israelíes, en el año 2010 el 40 por ciento de los noruegos y noruegas se negaban a comprar productos israelíes (http://www.ynetnews.com/articles/0.7340.L-3898052.00.html)

Apoyo al pueblo palestino

Si Noruega ha destacado en el boicot a Israel, también lo ha hecho en declarar y reconocer a al Estado palestino. El 19 de Julio el presidente palestino Mahmoud Abbas visitó Noruega y el Ministro de Asuntos Exteriores noruego, Jonas Gahr Støre, declaró al informativo de TV2 que Noruega está dispuesta a reconocer al Estado palestino. Esas palabras son las que repitió durante la charla de Utøya: «Estamos dispuestos a reconocer al Estado palestino. Estoy a la espera del texto concreto de la resolución que los palestinos van a presentar ante la Asamblea General de Naciones Unidas en el mes de Septiembre» (fuente: http://english.ruvr.ru/2011/07/19/53408557.html).

En otoño se espera que el presidente palestino Mahmound Abbas exponga la cuestión ante Naciones Unidas, donde pedirá el ingreso en la organización y el reconocimiento del Estado palestino según las fronteras anteriores a la guerra de 1967 y con capital en Jerusalén Este. Ni Estados Unidos ni Europa apoyan la creación de un Estado palestino independiente.

Además, al ex Ministro de Asuntos Exteriores, Kare Willoch, le han regalado hace poco un pasaporte palestino y expresó su apoyo a los palestinos y su situación: «Me he dado cuenta de la muy grave injusticia a la que ha sido sometido el pueblo palestino y que realmente todo el mundo occidental tiene su responsabilidad en ello» (fuente: http://theforeigner.no/pages/news/abbas-to-meet-norwegian-foreign-minister/).


Reacciones de Israel

Israel no ignora estas acciones. De hecho, el 15 de noviembre de 2010 la prensa israelí publicó que «Noruega incita al odio contra nosotros» (fuente: ynetnews.com), lo que dio lugar a un grave conflicto diplomático. Israel acusó al gobierno noruego de financiar y fomentar la instigación descarada contra Israel. En ese caso la queja era por la financiación y participación de Noruega en la difusión de obras que informan del sufrimiento de la infancia en Gaza.

Este era el texto completo de la noticia:

Según informes recibidos por el Ministro de Asuntos Exteriores en Jerusalén, el municipio de Trondheim financia un viaje a Nueva York para los estudiantes que intervienen en la obra Monólogos de Gaza, «que trata del sufrimiento de los niños de Gaza como consecuencia de la ocupación israelí».

 La obra, escrita por un palestino de Gaza, se presentará en la sede de Naciones Unidas. La función se suma a una exposición de un artista noruego exhibida en Damasco, Beirut y Amán con la colaboración de las embajadas de Noruega en Siria, Líbano y Jordania.

La exposición muestra a bebés palestinos muertos junto a cascos del Ejército de Israel que recuerdan a los cascos de los soldados nazis y una bandera israelí empapada en sangre.

Los noruegos también contribuyen a distribuir en festivales de cine de todo el mundo un documental titulado Tears of Gaza («Lágrimas de Gaza»). Según el Ministro de Asuntos Exteriores, la película también trata del sufrimiento de los niños de Gaza sin mencionar a Hamas, los cohetes disparados en Israel y el derecho de este último a defenderse.

En la película aparecen habitantes de Gaza cantando Itbah al-Yahud, pero la traducción noruega dice «masacrad a los israelíes» en lugar de «masacrad a los judíos».

Además, se ha publicado hace poco un libro escrito por dos médicos noruegos que fueron los únicos extranjeros en Gaza que concedieron entrevistas durante la Operación Plomo Fundido.

El libro, que acusa a los soldados del Ejército de Israel de matar deliberadamente a mujeres y niños, es un éxito de ventas en Noruega y ha sido calurosamente recomendado nada menos que por el ministro noruego de Asuntos Exteriores, Jonas Gahr Støre.

 La embajada israelí en Noruega ha protestado enérgicamente contra la implicación de las autoridades en la demonización de Israel. «La política oficial y manifiesta de Noruega habla de comprensión y reconciliación --dijo el domingo por la noche una autoridad israelí--, pero desde la guerra de Gaza, Noruega se ha convertido en una superpotencia en lo que se refiere a exportar material multimedia orientado a deslegitimar a Israel mientras emplea el dinero de los contribuyentes noruegos a producir y difundir esos materiales».

 Daniel Avalon, vice-ministro de Asuntos Exteriores, ha declarado en una reunión con miembros del parlamento noruego que «este tipo de actividad aleja las posibilidades de reconciliación y favorece una radicalización de la posición palestina que les impide negociar». 

Los noruegos han respondido a las críticas israelíes diciendo que el gobierno apoya la libertad de expresión y que no intervendrá para alterar el contenido de obras de arte.

Fuente: http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-3984621,00.html

La prensa israelí ha publicado más artículos destacando que las relaciones entre ambos Estados no pasan definitivamente por su mejor momento. Hay que añadir que Noruega siempre ha mantenido conversaciones con Hamas desde que se formó un gobierno de unidad en 2007, distanciándose así de la postura estadounidense y europea (http://www.norway.org.ps/News_and_events/Press_Release/Facts_about_Norway%E2%80%99s_position_with_regard_to_Hamas/) y molestando profundamente a Israel, como era de esperar (http://news.bbc.co.uk/2/hi/6470669.stm).

Las malas relaciones se vuelven a poner de manifiesto en las declaraciones del propio Presidente de Israel, Simon Peres, quien en mayo de 2011 dijo que dialogar con Hamas es apoyar a esta organización terrorista, a lo que Jonas Gahr Støre -Ministro de Asuntos Exteriores noruego- respondió: «condenamos a las organizaciones que están implicadas en el terrorismo, pero Noruega considera que tener unas listas en las que incluir a una organización para calificarla de terrorista no sirve a nuestros objetivos» (http://www.newsinenglish.no/2011/05/06/peres-criticizes-norway-on-hamas/).

Parece que son los noruegos quiénes están poniendo sobre la mesa la «definición de terrorismo», una simple etiqueta que da nombre a unas listas y condena inmediatamente a millones de personas a un bloqueo genocida o a un ataque mortífero.

Curiosamente, el «terrorista» noruego acusado de esta masacre, Anders Behring Breivik, está siendo señalado como titular de un blog llamado «Fjordman» y sus mensajes llevan tiempo apareciendo con enlaces en Jihad Watch y Gates of Vienna (http://www.wakeupfromyourslumber.com/blog/joeblow/zionists-admit-breivik-fjordman-breivik-rightist-mass-murderer-atlas-shrugged-contribut). Si esto es así, el blog de Fjordman muestra que Breivic sería un extremista neocon que odia a los inmigrantes y especialmente a los musulmanes y, además pro-israelí; véase el blog, «por qué la lucha de Israel también es nuestra lucha» (http://vladtepesblog.com/?p=21434).

Podría ser que, al final, los tentáculos del Estado de Israel no estén tan lejos de esta matanza; al fin y al cabo no habría sido la primera que cometen ni, lamentablemente, será la última. Eso sí, la Liga Juvenil de Trabajadores Noruega (AUF), el Ministro de Asuntos Exteriores noruego y su gobierno al completo han recibido un tremendo golpe.

Justamente quienes más se han posicionado en el rechazo a la política genocida de Israel hacia el pueblo palestino son quiénes más sufren, previamente advertidos por Israel de su «tremenda osadía»… algo que en el lenguaje israelí significa que se pagan las consecuencias.


*María José Lera es profesora de la Universidad de Sevilla y Ricardo García Pérez es traductor.


Brasil apoia palestinos na ONU e irrita Israel


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Brasil apoia palestinos na ONU e irrita Israel

Comunicado a Abbas por Lula, voto brasileiro a favor do reconhecimento internacional é festejado em Ramallah; israelenses tentam 'conter danos'

24 de julho de 2011

Roberto Simon - O Estado de S.Paulo

O governo Dilma Rousseff já se decidiu: em setembro, quando a Autoridade Palestina pedir para se tornar o 194.º país-membro da ONU, terá o voto brasileiro. A garantia de apoio foi passada ao presidente palestino, Mahmoud Abbas, por um mensageiro especial de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, há menos de um mês. Lula prontificou-se ainda a pessoalmente ajudar Ramallah a conquistar votos de países em desenvolvimento.

Israel, do outro lado, tenta agora uma ofensiva para "contenção de danos". Dois integrantes do primeiro escalão do governo estão a caminho do Brasil. Um deles, Moshe Yaalon, vice do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu (mais informações na página A19), solicitou um encontro com Dilma - que deverá ser recusado pelo Planalto.

Os israelenses sabem que ao final não conseguirão reverter a decisão brasileira, mas querem evitar que Brasília "puxe votos" contra Israel.

"O objetivo do Brasil é ajudar a criar um fato político que empurre israelenses e palestinos para uma negociação direta. Do jeito que está, o conflito tende a se eternizar", explicou ao Estado o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia. "A questão palestino-israelense é o foco de desestabilização do Oriente Médio", defendeu Garcia.

Em entrevista no último domingo ao Estado, o chanceler Antonio Patriota havia indicado que o Brasil "não terá dificuldades em votar a favor" do reconhecimento do Estado palestino pelas Nações Unidas.

Dilma discursará na sessão anual da Assembleia-Geral da ONU, quando virá à baila a questão. Ela será a primeira a subir à tribuna em Nova York, conforme a tradição que, desde 1947, reserva ao Brasil a abertura dos discursos de chefes de Estado, ministros e demais autoridades nacionais na plenária.

O reconhecimento dos palestinos pela ONU, porém, deverá passar ainda pelo Conselho de Segurança, onde provavelmente acabará vetado pelos EUA.


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Lula ofereceu ''bons ofícios'' a líder palestino

24 de julho de 2011

Roberto Simon - O Estado de S.Paulo

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, esteve com sua colega brasileira, Dilma Rousseff, apenas uma vez, no dia da cerimônia de posse, em janeiro. Menos de 48 horas antes, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia formalizado o reconhecimento do Estado palestino ao lado de Abbas.

Segundo disse ao Estado o chanceler da Autoridade Palestina, Riad Malki (mais informações nesta página A19), Lula voltou a se encontrar com o presidente palestino no fim de junho, quando os dois participavam da cúpula da União Africana, na Guiné Equatorial. Além de assegurar o apoio brasileiro à iniciativa na ONU em setembro, o ex-presidente ofereceu seus "bons ofícios" para trazer ao barco pró-palestino mais países em desenvolvimento, revelou Malki.

Israel dá como certo o voto brasileiro a favor dos palestinos, mas quer "conter o ativismo" de Brasília. Número 2 do gabinete israelense, Moshe Yaalon chega ao País na semana que vem e, pelo protocolo, deveria se encontrar com o vice-presidente Michel Temer. Diplomatas israelenses solicitaram uma audiência com Dilma, na qual Yaalon conversaria sobre o apoio do Brasil aos palestinos na ONU. Mas o Planalto diz "não ver motivos" para o vice-premiê se encontrar com a presidente.

"A verdade é que, de Lula para Dilma, não houve nenhuma mudança na política externa", afirma o diplomata israelense. De Brasília, o vice do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu embarcará para Chile e Argentina - que também provavelmente votarão a favor do reconhecimento palestino em setembro.

Além de Yaalon, virá ao Brasil em agosto o ministro das Finanças de Israel, Yuval Steinitz, figura próxima a Netanyahu.

Debate. Para discutir a posição do governo Dilma diante do iminente embate na ONU, o Estado entrevistou dois integrantes da cúpula tanto do governo de Israel quanto da Autoridade Palestina (página A19).

Yaalon recebeu a reportagem em seu gabinete, em Jerusalém. Tido como um dos principais "falcões" da política israelense, ele afirmou que o Brasil não entende a "essência" do conflito no Oriente Médio e disse que o voto a favor dos palestinos é "imoral e muito perigoso".

Reunido na semana passada com todos os embaixadores palestinos na Turquia para traçar a estratégia na ONU, o chanceler Malki comemorou por telefone a posição de Dilma. Para ele, o Brasil "defende os direitos dos palestinos" e a presidente segue o caminho aberto por Lula.



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''Atual posição brasileira é perturbadora''

24 de julho de 2011

Roberto Simon - O Estado de S.Paulo

Antes de entrar na política, Moshe Yaalon foi diretor da inteligência militar e chefe do Estado-Maior - mais alto cargo na hierarquia das Forças Armadas - de Israel. Em 2008, filiou-se ao partido de direita Likud. Além de vice do premiê Binyamin Netanyahu, Yaalon é ministro de Assuntos Estratégicos.

O Brasil reconheceu o Estado palestino e apoiará Ramallah na ONU. Como o sr. vê isso?

A posição brasileira é perturbadora e reflete uma série de equívocos sobre a essência do conflito. Há aqueles que acreditam que a disputa só é territorial e iniciou-se no ano de 1967. Ela seria resolvida, portanto, com base nas fronteiras daquela época. Mas o conflito não começou em 1967. A rejeição árabe ao Estado judeu é anterior. E eles ainda não estão prontos a reconhecer nosso direito de existência. É essa a essência do conflito.

Isso se aplicaria também à Autoridade Palestina de hoje?

Claro. Os árabes rejeitaram todas as propostas de divisão: em 1937, em 1947 e em 2000, quando o premiê Ehud Barak apresentou um plano de paz completo e Yasser Arafat, novamente, disse "não". Em resposta ao último discurso de Netanyahu nos EUA, Abu Mazen (presidente Mahmoud Abbas) discursou à Liga Árabe dizendo "nós nunca reconheceremos Israel como Estado judeu". Que fique claro: não aceitaremos o retorno dos refugiados palestinos de 1948.

Mas esses dois temas, a natureza judaica de Israel e o direito de retorno palestino, não podem ser objeto de uma negociação?

De uma negociação franca, certamente. Refugiados podem ser assentados nos EUA, na entidade palestina, ou em outro lugar. Mas a questão é que, até hoje, eles se recusam a nos reconhecer. Essa má compreensão domina o discurso internacional, incluindo o do Brasil.

O sr. acredita que a iniciativa palestina na ONU, em setembro, mudará a situação aqui?

Isso é um instrumento para nos ameaçar, não uma verdadeira opção política. Essa posição unilateral é apoiada por certos países - incluindo o Brasil - para arrancar concessões de Israel.

Não é estranho chamar de "unilateral" uma iniciativa que deverá ser apoiada por cerca de 130 países na ONU?

Infelizmente, há uma maioria automática na ONU em relação a qualquer resolução contra Israel. Somos um Estado judeu diante de 22 países árabes e 50 islâmicos. É imoral e, se de fato ocorrer, muito perigoso, mas muitos países, por interesses políticos, votarão a favor. Se Abbas um dia conseguir um Estado sem negociar com Israel, ele terá de enfrentar sozinho o Hamas. Sabemos como isso terminou em Gaza. Pergunto: será que isso é do interesse de algum país, incluindo o Brasil? Abbas deve vir à mesa de diálogo, não há atalhos para a paz.

Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110724/not_imp749156,0.php

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Lula abriu o caminho, Dilma está seguindo


24/07/2011
Roberto Simon - O Estado de S.Paulo


ENTREVISTAS - Riad Malki, Ministro das Relações Exteriores da Autoridade Palestina


Chanceler comemora apoio brasileiro e defende voto na ONU; ‘estamos dialogando há 20 anos e Israel não se mexe’

Professor universitário Riad Malki é ministro das Relações Exteriores da Autoridade Palestina desde 2007 e tem sido um dos principais articuladores da ofensiva palestina por reconhecimento internacional. Desde a semana passada, Malki está reunido em Estambul com todos os embaixadores palestinos discutindo a estratégia na ONU.

O Brasil anunciou que votará com os palestinos na ONU. Como o Sr. avalia essa decisão?

A posição da presidente Dilma Roussef é excelente e muito encorajadora. As relações entre o Brasil e a Autoridade Palestina não poderiam ser melhores. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu reconhecer o Estado palestino, no fim de 2010. Foi um marco nas nossas relações. Agora, Dilma está seguindo o caminho aberto por ele. Nóes sentimos que o Brasil defende os direitos dos palestinos e sabemos que podemos contar com o governo brasileiro.

Antes parecia haver certa indefinição sobre o que seria feito em setembro. A decisão de solicitar à ONU que a Palestina seja o 194° país-membro da organização foi tomada?

Sim. No sábado (ontem), todos os embaixadores palestinos se reunirão em Istambul para receber instruções sobre nossa iniciativa nas Nações Unidas.

Quantos países indicaram que votarão a favor?

Estamos ainda em diálogo com vários países, mas os resultados já são satisfatórios. Começamos com o apoio da Liga Árabe. Em seguida, veio o movimento dos países não alinhados e a Organização da Conferência Islâmica. O Brasil está nos ajudando em relação ao G-77 (coalizão de 77 países em desenvolvimento). Contamos com o apoio da maioria da Assembléia Geral da ONU.

Além do G-77, até onde vai a contribuição brasileira?

O Brasil, sob comando do presidente Lula, foi o primeiro país latino-americano dessa nova leva a reconhecer a Palestina (Venezuela e Nicarágua já reconheciam). Essa decisão fez com que vizinhos –como Argentina e Uruguai- se sentissem compelidos a seguir o mesmo caminho. Por isso, seremos sempre gratos ao presidente Lula.

Na semana passada, Nabil Amr, ex-ministro e membro do Comitê Central da OLP, disse ser um “erro” ir a ONU em setembro, pois isso colocará Ramallah contra os EUA. Até onde vão as cisões no campo palestino?

Só ele discorda da iniciativa. Isso é normal, afinal somos uma democracia. Mas é preciso dizer que ele não faz parte da liderança da Autoridade Palestina.

Mas o Sr. teme um distanciamento dos EUA?

Não queremos nenhum tipo de confronto com ninguém. Estamos apenas reivindicando nossos direitos, após 44 anos de ocupação e 20 de negociações fracassadas.

Israel, EUA e países europeus afirmam que o recurso à ONU não é uma alternativa ao diálogo direto, mas um instrumento de pressão política que prejudica o processo de paz. Por que os palestinos não aceitam voltar a mesa de negociação?

Estamos dialogando com Israel há 20 anos, desde os Acordos de Madri. Eles não se mexeram desde então. Aliás, Israel usa as negociações para ampliar o roubo de terra palestina e impor “novas realidades” no território. Apões esses 20 anos de negociações, ainda estamos muito distantes de um Estado palestino e da paz. Esteja certo: se, depois dessa resolução da ONU, as negociações recomeçarem elas serão completamente diferentes. O reconhecimento fará com que Israel entenda que o diálogo é melhor do que a ocupação e a tentaiva de ganhar tempo, enquanto crescem os assentamentos.

E qual seria o ‘ponto de chegada’ nesse diálogo direto?

O que o presidente Barack Obama falou em maio: dois Estados nas fronteiras Pré-1967. Quando Israel aceitar isso, teremos paz. Agora, na ONU, estamos simplesmente perguntando: “Vocês acreditam que os palestinos merecem a autodeterminação?” Se a resposta for “sim”, será preciso discutir quando e como. O processo de paz não pode ficar parado sempre.

Marwan Baeghouti, um dos principais líderes da Segunda Intifada, pediu que os palestinos voltem às ruas no dia da votação na ONU. O Sr. teme que isso termine em violência?

Rejeitamos qualquer forma de violência. Somos o lado fraco nessa luta e, se houver novo derramamento de sangue, Israel usará isso para destruir tudo o que conseguimos. Pessoalmente, estou preocupado que os israelenses usem a violência contra nós. Pedimos que todos os nossos amigos saiam às ruas, pacificamente, no dia da votação nas Nações Unidas, em várias capitais do mundo. Seria um grande gesto de solidariedade. Mas não queremos nada que possa ser interpretado como um ato de confronto.


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