domingo, 6 de dezembro de 2015

Presidente da Sociedade Palestina de Foz do Iguaçu é discriminado por Israel

Do Jornal do Iguassu

Foz do Iguaçu - PR - Jihad Ahmad Abu Ali nasceu em Foz do Iguaçu. Estudou na Jordânia de 1991 até 2003. Aos 33 anos de idade, é casado com Sarah Atari, e tem um filho. Iniciou sua atividade em defesa do povo palestino em 2008, quando participou do Palestinian Youth Network (PYN ), um congresso internacional de jovens palestinos, representando o Brasil. Atualmente é Presidente da Sociedade Árabe Palestina Brasileira de Foz do Iguaçu, membro da FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil e membro do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz – CEBRAPAZ, do Paraná.

Jihad Abu Ali, Presidente da Sociedade Palestina de Foz do Iguaçu



Apesar de sua descendência árabe, de sua árvore genealógica palestina e de ser presidente da Sociedade Palestina de Foz do Iguaçu, Jihad Abu Ali não teve o seu ingresso, tampouco sua saída da Palestina, facilitados pelas autoridades israelenses. Assim ele começa o seu relato sobre a missão de solidariedade ao país ocupado:

“Começo a relatar a partir de minha entrada na Palestina. Estávamos o vereador Paulo Porto (PCdoB de Cascavel), que tem cara de europeu; o vereador Bobato, com cara de brasileiro; e eu, com nome revelando a descendência árabe. Com esse relato quero mostrar como o Estado de Israel é um estado racista. Só pelo fato do Porto ter aparência de europeu, falaram para ele: ‘Vá logo!’ (Go, go, go! – em inglês) e carimbaram rapidamente seu passaporte. Para o vereador Bobato já fizeram algumas perguntas, como se tinha dinheiro, cartão de crédito, passagem de retorno, e o que foi fazer no país. Mas eu, pelo fato de meu nome ser evidentemente árabe, sem ao menos saberem minha origem, se sou palestino ou não, já pediram para eu aguardar e colaram uma etiqueta em meu passaporte brasileiro escrito ‘segurança’, para ser revistado”, conta o presidente da Sociedade Palestina em Foz do Iguaçu.

Segundo Jihad, essa forma segregacionista de tratar qualquer um que tenha descendência árabe, sem importar se é brasileiro de pai e mãe, independente de raça ou cor, é uma constante. Assim começou a entrada da delegação de Foz na Palestina, que foi através do porto, porque para entrar na Palestina tem que passar pelo controle de Israel. Jihad foi retido para ser interrogado e os vereadores seguiram viagem, porque essa foi a orientação que receberam. Porto e Bobato voltaram duas vezes com a intenção de o liberar, porém, sem sucesso. “Infelizmente, você se sente refém na mão do inimigo. Não consegue fazer nada”, disse Jihad.

Os vereadores seguiram viagem, ingressando na Palestina, e se encontraram com o prefeito de Jericó, enquanto o integrante de origem árabe da delegação permaneceu por 5 horas nas mãos dos israelenses sendo interrogado. O controle de Israel queria saber o que ele foi fazer lá e qual o objetivo da visita. “Eu expliquei tudo, falei a verdade, até porque não havia o que esconder”, explica Jihad. Porto e Bobato chegaram a acionar os governos brasileiro e palestino, mas não houve muito o que fazer. “Lamentável! Eles deveriam facilitar o meu acesso, por eu ser palestino. Essa é uma de lutas nossas, dentro das medidas das Nações Unidas, que é o direito de retorno, que nos foi tirado. Quem saiu do território palestino até 1967 não tem mais o direito de retornar, não tem documento palestino”, relata Abu Ali.

O presidente da Sociedade Palestina em Foz do Iguaçu só conseguiu entrar na Palestina no final da noite, quando encontrou com a delegação e continuou a viagem. No retorno, o mesmo problema. Enquanto a saída de outras pessoas não foi dificultada, mais uma vez Jihad foi o último a ser autorizado a sair da Palestina, no sábado. Ou seja, ele foi o último a entrar no dia 14 de novembro e o último a sair no dia 20, só pelo fato de ter um nome de origem árabe.


Jihad e o Prefeito de Betunia
DENÚNCIA. Prefeito de Beitunia fazendo denúncia sobre a proibição imposta por Israel aos agricultores palestinos, os impedindo de acessar as suas terras


JORNAL DO IGUASSU – Jihad, dê-nos uma visão geral sobre essa viagem.

Jihad Abu Ali - É muito difícil resumir uma cidade como Jericó, que tem 10 mil anos, numa visita de seis dias. São 10 mil anos de história e você não consegue conhecer em todos os detalhes. Foi uma visita com uma agenda muito pesada, com aproximadamente 18 horas de trabalhos por dia. Os vereadores trabalharam muito, com compromissos políticos, encontros com ex-prisioneiros palestinos para contarem suas histórias, e muita coisa foi registrada. O importante é que o povo palestino sentiu que tem gente do outro lado do mundo que escuta a história deles, e está compromissado e comprometido em divulgar e explicar o que ocorre na Palestina para o outro lado do mundo. Isso foi notável. A gente percebeu que a importância e o carinho deles pela delegação foi muito grande, porque sabem que a voz deles estava chegando para o outro lado do mundo.

JI – Você vislumbra uma solução para essa opressão?

Jihad – O Estado de Israel tem que abrir mão da ocupação e deixar os territórios invadidos, porque está ocupando um espaço que não é dele, isso é visível. Os Palestinos que moram lá estão a 100, 200, 300 anos na terra. Eu tenho tio, avô, bisavô, sepultados lá, a 20, 30, até 50 anos. Meus familiares já estão ali a 300 anos. Então Israel está ocupando a nossa terra e a cada dia tomam mais terras. Buscam colonos de qualquer lugar do mundo e plantam dentro dos territórios para contaminar as regiões. Além de colocar os invasores nas nossas áreas, alegam que vão proteger esses invasores e fazem um cerco militar armado, dizendo que aquilo é uma área de segurança máxima, e dificultando os palestinos de circular de um bairro a outro. Isso acontece diariamente.

Jihad Abu Ali, apesar das dificuldades impostas para sua entrada na Palestina, classifica que a missão foi cumprida, e que para o sucesso da expedição foi fundamental a colaboração dos embaixadores do Brasil e da Palestina. O Presidente da Sociedade Palestina de Foz do Iguaçu encerrou com o sentimento de que a luta de seu povo está chegando no fim: “Sou palestino, morei muito tempo lá, conheço a realidade. Mas, a experiência que vivemos, minuto a minuto, dia-a-dia, lá, me mostrou que o povo palestino é um povo feliz. Já o povo de Israel é medroso, se esconde atrás de armas, de cercas. Este é o povo que está permanentemente com medo de ser atacado, enquanto o povo palestino está todos os dias em pé, trabalhando, buscando sua sobrevivência. A luta continuará. Já estamos a 68 anos ocupados, e essa ocupação está perto de acabar. A história comprova que nenhuma ocupação durou mais de cem anos, então está faltando um terço do tempo. Vamos ganhar essa luta, porque ela é a luta de um povo justo”, afirma Jihad.

O vereador Nilton Bobato, que é professor, fez uma avaliação da situação, e falou sobre os motivos que levaram Israel e Palestina a chegar no grau de intolerância que há hoje, que se iniciou em 1948 e se agravou em 1967, fornecendo elementos para enriquecer essa narrativa tão educativa e emocionante: “A Palestina é um país, uma terra que sempre existiu. Está ali há milhares de anos. É onde nasceu Jesus Cristo, onde Maomé pregou, onde se gerou boa parte da cultura ocidental. Em 1948, para resolver a questão da hegemonia nazista, foi criado o Estado de Israel, que foi colocado em um território que já existia. Foi colocado ali um outro país, não respeitando aquelas pessoas que lá já estavam. Apesar disso, em 1967 houve uma reocupação desse território, a partir desse estado criado. Desde então, eles ocupam todos os dias uma parte a mais desse território. Israel não cumpre nenhum dos acordos internacionais que foram firmados para desistirem daquele espaço. Então, todo aquele discurso de que os dois Estados precisam existir, depende de um respeitar a soberania do outro. Para entrar da Palestina precisa de autorização de Israel, isto é um absurdo. A Palestina é um estado ocupado por Israel, e a cada dia colocam mais gente dentro do território palestino. A ideia de Israel hoje, é acabar com a Palestina. Esse é o princípio chamado limpeza étnica. É isso o que está acontecendo na Palestina. Inclusive a produção agrícola é usurpada. Por exemplo, 80% do território da cidade de Beitume hoje é ocupado por colonos israelenses e os palestinos, para poderem produzir em suas próprias terras, precisam de autorização de um policial de Israel, até mesmo para abrir o portão da propriedade e colher as azeitonas produzidas em suas próprias oliveiras. A única solução é o mundo entender que Israel precisa cumprir leis, tirar os seus homens do território ocupado após 1948, que na época foi determinado pela ONU que seria dividido entre as duas nações”.


Jihad também observa os mesmos aspectos apontados por Bobato e entende que só há uma solução prática para a solução do conflito, que é o Estado de Israel devolver a soberania do Estado Palestino.


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Um comentário:

  1. Importante Missão de Solidariedade que Jihad, Paulo Porto e Nilton Bobato fizeram. Esperamos logo poder fazer uma palestra com os três em Curitiba.

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