quinta-feira, 29 de junho de 2017

Israel nunca foi obrigado a respeitar as leis

por Leneide Duarte-Plon


A historiadora Sandrine Mansour demole a versão sionista que pretende justificar a tragédia dos palestinos

 
Sionistas cometeram o massacre de Kafr Kassem na Palestina
Imagens como esta, do massacre de Kafr Qasim, contribuíram para conter a violência israelense. Mas nem tanto

De Paris


Para marcar os 50 anos da Guerra dos Seis Dias, de junho de 1967, quando Israel ocupou Gaza, o Golan, a Cisjordânia e Jerusalém Leste (até hoje apenas Gaza foi desocupada), a ONG francesa Attac promoveu, em Paris, juntamente com a Association France-Palestine Solidarité, a projeção do filme La Terre Parle Arabe, de Maryse Gargour.

Depois do filme, o público debateu com a doutora em História e pesquisadora franco-palestina Sandrine Mansour, autora, entre outros, do livro L’Histoire Occultée des Palestiniens, 1947-1953. Assim como o filme, ela desconstruiu os mitos fundadores do Estado de Israel, entre eles “a partida voluntária dos palestinos para o exílio, influenciados pelos países árabes”.

“Desde o fim do século XIX, o Comitê do Movimento Sionista encarregado de solucionar a expulsão dos palestinos chamava de transferência essa futura expulsão”, explica Mansour em entrevista exclusiva a CartaCapital.

A Nakba, ou Catástrofe, como os palestinos denominam a expulsão em diversas ondas, estendeu-se até a década de 1950. A primeira foi a de 1945, depois vieram mais três. A de março de 1948 expulsou mais de 300 mil palestinos. Depois, até os anos 1950, de 150 mil a 200 mil. Centenas de aldeias palestinas sumiram literalmente do mapa da antiga Palestina.

A historiadora explica que hoje, na França, os sionistas tentam assimilar qualquer crítica a Israel como antissemitismo, inclusive quando franceses do movimento internacional Boycott Désinvestissement Sanctions (BDS) conclamam ao boicote dos produtos israelenses para lutar contra o apartheid dos palestinos. Eles podem ser punidos com multa e pena de prisão.

CartaCapital: Seu livro L’Histoire Occultée des Palestiniens, 1947-1953 lança novas luzes sobre a história dos palestinos. Que aspecto dessa história foi ocultado e por quem? Quais os mitos sionistas sobre a Palestina e seu povo?

Sandrine e seu livro A História Ocultada dos Palestinos
Sandrine e seu livro A História Ocultada dos Palestinos

 (Foto: Franck Tomps)
Sandrine Mansour: Como muitos conflitos no mundo, a história escrita e disseminada foi a do vencedor, isto é, de Israel. Por outro lado, por causa da responsabilidade europeia no genocídio dos judeus na Europa, esta contribuiu nessa ocultação. Até porque a Europa teve, e continua a ter sob outras formas, um espírito colonial como o sionismo, que é uma ideologia nacional e colonial.

Sandrine e seu livro A História Ocultada dos PalestinosPor essas razões, a narrativa da história palestina foi ocultada durante muitos anos. Somente nos anos 1980 vimos surgir os livros dos “novos historiadores” israelenses que trabalharam com arquivos do Estado de Israel e puderam confirmar o que diziam os palestinos e trazer detalhes precisos (modo operacional, unidades sionistas ativas etc.).

Por outro lado, como em todos os traumatismos, os palestinos nomearam e dataram o mais significativo deles, a expulsão do maior número de palestinos de suas terras. É a Nakba, a Catástrofe. Ora, se a palavra é adequada, a data de 15 de maio de 1948 não é exata. As grandes expulsões começaram realmente no dia seguinte ao voto na ONU de 29 de novembro de 1947, que determinava a Partilha da Palestina. As expulsões prosseguiram por muitos anos, mas pode-se dizer que a Nakba diminuiu de intensidade em 1953, com o Massacre de Qibya.


CC: Por que diminuiu?

SM: Foi o início da generalização da foto de imprensa e a imagem de Israel foi arranhada. Houve diminuição, mas não cessou, pois em 1956 houve outro massacre em Kafr Qasim. Depois, nova expulsão de palestinos em 1967. Em seguida as expulsões continuam, mas de maneira regular, surda, na forma de demolições de casas, prisões, a construção do muro, colonização…

Entre os mitos há o da “terra sem povo para um povo sem terra”, enquanto os sionistas sabiam muito bem que a Palestina tinha uma grande população.

Foi disseminado também o mito de que os países árabes incentivaram os palestinos a partir, quando, na realidade, tratava-se de uma limpeza étnica, como diz o título do livro do historiador israelense Ilan Pappé. E esses mitos são numerosos nesse conflito duradouro.

CC: Em junho de 1967, depois da Guerra dos Seis Dias, Israel ocupou a Cisjordânia, Gaza, o Golan e Jerusalém Leste. Por que essa ocupação pôde continuar até hoje, com exceção de Gaza?

SM: Pela colonização que existe desde o início, pela impunidade total, já que, apesar de diferentes resoluções da ONU condenando a posse do território, Israel nunca foi obrigado a respeitar as leis. Além disso, há uma enorme máquina de propaganda no mundo lembrando a responsabilidade dos europeus durante o genocídio dos judeus, para impedir qualquer crítica à política de expansão de Israel.

O americano Norman Finkelstein chama isso de a “indústria do Holocausto”. E essa indústria de propaganda continua, já que hoje numerosos países se opõem às críticas contra o Estado de Israel, confundindo-as com antissionismo e antissemitismo. A crítica está cada vez mais controlada, o que dá a Israel tempo para prosseguir seu projeto colonial e esmagar todos os direitos dos palestinos.

Illan Pappé
O historiador israelense Ilan Pappé sustenta que o que houve
foi 'uma limpeza étnica' (Foto: Geoffrey Swaine/Rex)
CC: A expulsão dos palestinos é o tema do livro do historiador israelense Ilan Pappé, Le Nettoyage Ethnique de la Palestine. Ele diz que, nos anos 1920, os palestinos representavam entre 80% e 90% da população da Palestina, então sob mandato britânico. Por que os palestinos não podiam ficar nas aldeias que existiam no território atribuído pela ONU ao futuro Estado judeu e como a demografia mudou?

SM: A demografia mudou pela chegada de grande número de judeus vindos da Europa. Ajudados pelo governo britânico e, depois, pelos Estados Unidos, os sionistas queriam se instalar na Palestina e reivindicaram até mesmo outros territórios no momento da partilha do Estado Otomano. Mesmo a Grã-Bretanha tendo limitado a imigração de judeus, esta continuou progressiva de maneira ilegal.
As expulsões dos palestinos permitiram aos judeus tornar-se maioria no território que lhes foi atribuído. Instauraram um sistema de segregação que tornava os palestinos “ausentes”, mesmo que expulsos a apenas 100 metros. Enfim, por uma política repressiva que impedia aos palestinos retornar às suas casas, incentivando ao mesmo tempo até hoje a imigração de judeus para Israel.
Os palestinos já estavam fragilizados depois da repressão da Grande Revolta de 1936, em face de um movimento sionista muito poderoso, armado e financiado.

Norman Finkelstein
Finkelstein denuncia a 'indústria do
Holocausto'  (Foto: Chen Xu/FotoArena)
CC: Como explicar o fato de os sionistas terem criado um Estado judaico e o Estado da Palestina ser ainda, 70 anos depois do Plano de Partilha, uma miragem para o povo palestino?

SM: Aceitando o Plano de Partilha, Israel não quis se contentar com ele. Os textos das discussões internas da Agência Judaica mostram bem que era uma estratégia para obter progressivamente mais pela guerra. A paz teria estancado a anexação de terras. De fato, foram os sionistas que convenceram os britânicos sobre o Plano de Partilha, primeiramente em 1922 e, depois, em 1937.
Para eles, era preciso pôr a mão em uma parte do território, reforçar sua instalação e, assim, prosseguir conquistando mais terras. Em 1948, graças à guerra árabe-israelense, Israel conquista 78% do território, bem mais do que o que lhe fora atribuído pelo Plano de Partilha de 1947.

Em 1967, Israel multiplica por quatro seu território em alguns dias. Depois a colonização tem como objetivo criar um fato consumado para garantir a conquista. O único problema é que hoje eles não podem expulsar como em 1947 ou 1967. Então, isolam os palestinos em três zonas da Cisjordânia e em Gaza.

E teve também a tomada do Golan, sem esquecer as guerras no Líbano e a tomada do Sinai. E fato de a ONU nunca ter conseguido, através de suas resoluções, impor a Israel o respeito ao direito internacional.

CC: Ilan Pappé escreve em seu livro: “Até a ocupação da Palestina pela Grã-Bretanha em 1918, o sionismo foi uma mistura de ideologia nacionalista e de prática colonial”. O sionismo de hoje tem outra imagem?

SM: Penso que não. Ele se tornou high tech (haja vista a força deles na internet), mas o que há é fundamentalmente uma ideologia colonial, racista também quando se vê como os israelenses tratam os judeus imigrados dos países da África Negra. E ele é nacional no sentido em que a religião judaica é a nacionalidade, antes de tudo. O projeto não foi alterado e a política do fato consumado serve a seus interesses.

CC: Israel vangloria-se de ser a “única democracia” no Oriente Médio. O conceito de democracia é adequado a Israel? E por que o país é tão obcecado pela demografia?

SM: Não se trata de uma democracia, mas de uma teocracia na qual a supremacia é dada aos judeus. Os palestinos que vivem em Israel se tornaram israelenses depois de 1948, porém não gozam dos mesmos direitos, ainda que tenham o direito de voto. É um sistema com diversos níveis, um apartheid que recusa essa denominação.

É como se Israel tivesse construído uma fachada “democrática” para agradar aos ocidentais (sim, pode haver artigos muito críticos na imprensa de israel), mas isso convive com um sistema de discriminação no interior de seu território (é proibido ensinar a Nakba nas escolas de Israel) e também nos territórios ocupados, onde os colonos têm todos os direitos (são armados e protegidos pelo Exército de Israel, como em Hebron), enquanto os palestinos não têm.

A demografia é uma ameaça desde o início do projeto sionista, já que o Comitê de Transferência tinha aconselhado que o número de “árabes” (eles procuram ignorar a palavra “palestinos”) não deveria superar 20% no território de Israel. Esse limite ainda em vigor não pode ser ultrapassado e, por isso, o governo impede que famílias separadas entre a Cisjordânia e Israel se reúnam em Israel.

Por isso eles querem deixar poucos palestinos na Zona C (delimitada pelos acordos de Oslo), equivalente a 62% da Cisjordânia, para poder anexar mais sem a população que se encontra amontoada nas zonas A e B, os 38% da Cisjordânia que corresponde a apenas 22% da Palestina histórica. Por isso também estão demolindo as casas palestinas de Jerusalém Leste e colocando colonos na cidade para mudar a demografia.

Um dos slogans dos sionistas entre eles era “mais terras e menos árabes”, título de outro excelente livro do historiador Nur Masalha. Por outro lado, utilizando a palavra árabe em vez de palestino, eles querem que os palestinos, o mundo árabe e os ocidentais admitam que, como os árabes têm vastos territórios, podem acolher os palestinos. Eles negam a especificidade, a origem e a história dos palestinos.

CC: Há uma fratura na sociedade israelense? Penso nos ex-militares da ONG Breaking the Silence, que denuncia a brutalidade da ocupação, e a ONG B’Tselem”, que se apresenta como “um centro israelense de informação para os direitos humanos nos territórios ocupados”.

SM: Essa fratura existe há anos. Ela foi mais forte nos anos 1990, depois da primeira Intifada. Contudo, os organismos israelenses que lutam nesse sentido indicam que o movimento se enfraqueceu depois de 2000, momento em que a “ameaça” iraquiana primeiro, depois iraniana, permitiu serrar fileira na sociedade israelense como vítima potencial.

Por outro lado, a sociedade israelense está em plena crise, econômica sobretudo, o que não facilita o desenvolvimento dessas ONGs. Elas são perseguidas pelas autoridades, há leis e ações judiciárias contra eles. A educação dada nas escolas mantém a ideia de que os palestinos são a causa de todos os males. O cineasta israelense Eyal Sivan mostra essa situação em seu filme Izkor: Ou les esclaves de la mémoire.



 Fonte: Carta Capital


quinta-feira, 8 de junho de 2017

50 anos de ocupação: A Guerra dos Seis Dias de Israel foi baseada em uma mentira


50 anos da ocupação israelense
Soldados israelenses procuram prisioneiros jordanianos durante operação de limpeza em Jerusalém, em 8 de 1967, quando a cidade ficou sob o domínio judeu durante a Guerra dos Seis Dias.


The Intercept_Brasil – Por Mehdi Hasan


50 ANOS ATRÁS, entre 5 e 10 de junho de 1967, Israel invadiu e ocupou Jerusalém Oriental, a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e as Colinas de Golã. A Guerra dos Seis Dias, como ela ficaria conhecida depois, viu o “Davi” israelense impor uma humilhante derrota ao “Golias” árabe – talvez personificado no presidente egípcio Gamal Abdel Nasser.

“A existência do estado israelense estava por um fio”, afirmou o primeiro-ministro do país, Levi Eshkol, dois dias após o fim da guerra, “mas as esperanças dos líderes árabes de aniquilar Israel foram destruídas”. O argumento israelense é que um genocídio, um segundo Holocausto havia sido evitado.

No entanto, há problema com este argumento: ele é uma completa ficção, uma mentira, um mito, uma fantasia egoísta construída após o evento para justificar uma guerra agressiva e expansionista. Não sou eu quem diz isso: “A tese segundo a qual o perigo de genocídio pendia sobre nós em junho de 1967 e, segundo a qual, Israel estava lutando por sua existência, não passa de um blefe nascido e alimentado após a guerra.” As palavras são do general Matituahu Peled, chefe do comando logístico na Guerra dos Seis Dias e um dos 12 membros do Estado-Maior de Israel, em março de 1972.

Um ano antes, Mordechai Bentov, membro do governo durante a guerra e uma das 37 pessoas a assinar a Declaração de Independência de Israel, fez um reconhecimento semelhante. “Toda essa história sobre a ameaça do extermínio foi totalmente planejada, e depois elaborada, a posteriori, para justificar a anexação de novos territórios árabes”, afirmou Bentov em abril de 1971.

Mesmo o primeiro-ministro israelense Menachem Begin, ex-terrorista e queridinho da extrema direita israelense, admitiu, em um discurso em agosto de 1982, que “em junho de 1967, nós fizemos uma escolha. As movimentações do exército egípcio ao abordar a península do Sinai não eram prova de que Nasser realmente estava a ponto de nos atacar, precisamos ser honestos. Nós decidimos atacá-lo. ”

As consequências desse ataque são sentidas no Oriente Médio até os dias atuais. Poucos conflitos modernos tiveram impacto tão profundo e duradouro quanto a Guerra dos Seis Dias. Como observa o acadêmico e ativista norte-americano Thomas Reifer, a Guerra dos Seis Dias parecia o “golpe de morte no nacionalismo pan-árabe, o surgimento do Islã político, de um nacionalismo palestino independente” e “a emergência de Israel como um ‘ativo’ estratégico dos Estados Unidos no coração do Oriente Médio, com os EUA enviando bilhões de dólares a Israel, numa parceria sem precedentes na história mundial”.

Acima de tudo, a guerra, definida pelo London Daily Telegraph, em 1967, como “um triunfo da civilização”, forçou 300 mil palestinos a abandonar suas casas e inaugurou uma brutal ocupação militar para os milhões de palestinos que lá ficaram.

A guerra pode ter durado apenas seis dias, mas a ocupação que se seguiu ao conflito está entrando em sua sexta década. É a mais longa ocupação militar no planeta. Os defensores de Israel negam que isso seja uma ocupação: dizem que os Territórios Ocupados estão “em disputa” – uma afirmação mentirosa, negada até mesmo pela Suprema Corte de Israel, que decidiu, em 2005, que a Cisjordânia é “posse do Estado de Israel em uma ocupação beligerante”.

Cinquenta longos anos de ocupação; de desapropriação e limpeza étnica; de demolições de casas e toques de recolher noturnos; de postos de controle, muros e pedidos de licenças.


Cinquenta anos de discriminação racial e preconceito étnico; de um sistema judicial desigual e de dois níveis – um para palestinos e outro para israelenses; de tribunais militares e “detenção administrativa“.

Cinquenta anos de humilhação e submissão; de mulheres palestinas grávidas que dão à luz nos postos de controle; dos pacientes de câncer palestinos que não têm acesso à radioterapia; de jogadores de futebol palestinos impedidos de jogar.

Cinquenta anos de negociações inúteis e planos de paz fracassados: Allon, Rogers, Fahd, Fez, Reagan, Madrid, Oslo, Wye River, Camp David, Taba, Red Sea, Annapolis. O que, de fato, essas negociações conseguiram para os palestinos em territórios ocupados? Nada, além de assentamentos, assentamentos e mais assentamentos israelenses?

Veja só: em 1992, um ano antes do início do processo de paz de Oslo, os assentamentos na Cisjordânia cobriam 77 quilômetros e abrigavam 248 mil colonos israelenses. Até 2016, esses assentamentos aumentaram para 197 quilômetros e o número de colonos que viviam neles, mais do que triplicou: eram 763 mil pessoas.

Esses assentamentos tornaram praticamente impossível a famosa “solução de dois estados”. A Cisjordânia ocupada foi retalhada em uma série de bantustões, separados entre si e do mundo. Os colonos não vão sair de lá tão cedo. Eles são os “fatos” sobre os quais Israel argumenta. Ignorá-los é ignorar o maior obstáculo para acabar com a ocupação. “É como você e eu estivéssemos negociando sobre um pedaço de pizza”, explicou o advogado palestino-americano e ex-conselheiro da OLP, Michael Tarazi, em 2004. “Quanto da pizza vou receber? E quanto você vai obter? Mas enquanto estamos negociando, você continua a comer a pizza”.

Moshe Dayan

Gen. Moshe Dayan fala a repórteres em Tel Aviv durante sua primeira coletiva, em 3 de junho de 1967, depois de assumir o posto de Ministro da Defesa.
 
Foto: AP


Não apenas a guerra de 1967 foi construída sobre uma mentira; foi assim também com a ocupação que veio depois dela. A ocupação não foi pensada como algo temporário, nem que os palestinos recuperariam suas terras depois. Se Israel tivesse planos para se retirar dos Territórios Ocupados, como sugerem alguns de seus apoiadores, então, por que o primeiro assentamento na Cisjordânia, Kfar Etzion, estabelecido menos de quatro meses após a Guerra dos Seis Dias, desafiando o “conselho ultrassecreto” do conselheiro jurídico do Ministério das Relações Exteriores israelense de que o “assentamento civil” nos Territórios violaria “as disposições explícitas na Quarta Convenção de Genebra”?

Por que o Estado judeu passou as últimas cinco décadas usando um processo de paz fantoche para engolir mais terras palestinas e criar mais assentamentos ilegais? A verdade é que o Estado judeu, desde o início, “usou as negociações como uma cortina de fumaça para ampliar seu projeto colonial”, usando emprestada a expressão do militante e ativista palestino preso Marwan Barghouti. Cinquenta anos depois, é hora das lideranças palestinas e a comunidade internacional pararem de fingir o contrário.

O lendário general israelense e ministro da Defesa, Moshe Dayan, um dos arquitetos da vitória de Israel em 1967 – e defensor ferrenho de que o estado judeu deveria manter os territórios que havia conquistado, é quem melhor resume a atitude cínica dos governos israelenses (sejam de esquerda ou de direita) nas últimas cinco décadas. “As únicas negociações de paz”, declarou Dayan, quando questionado sobre a possibilidade de um acordo de paz com os palestinos, em novembro de 1970, “são aqueles nas quais consolidamos os territórios e, de tempos em tempos, vamos de novo para a guerra.”



Tradução: Charles Nisz

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