O jornal britânico The Guardian publicou na última quinta-feira (01/nov) artigo do Presidente da Palestina, Mahmoud
Abbas, onde lembra os cem anos da Declaração Balfour e suas consequências
trágicas para o povo palestino que perduram
até os dias de hoje.
Tradução de Ualid Rabah, Diretor da FEPAL –
Federação Árabe Palestina do Brasil.
Grã-Bretanha deve reparar (ao povo palestino) pela
Declaração Balfour e os 100 anos de sofrimento
Mahmoud Abbas
Muitos britânicos não saberão sobre Sir Arthur James
Balfour, um ministro dos Negócios Estrangeiros no início do século XX. Para 12
milhões de palestinos, seu nome é muito familiar. No centenário da declaração
Balfour, o governo britânico deve aproveitar a oportunidade para fazer as
coisas melhor.
Em seu escritório em Londres, em 2 de novembro de 1917,
Balfour assinou uma carta prometendo a terra da Palestina à Federação Sionista,
um movimento político recém estabelecido cujo objetivo era a criação de um Lar
Nacional para os europeus judeus. Ele prometeu uma terra que não era sua para
prometer, ignorando os direitos políticos de quem já morava lá. Para o povo
palestino, meu povo, os eventos que desencadearam esta carta foram tão
devastadores quanto são importantes.
Esta política britânica, que apoiou a imigração sionista na
Palestina ao mesmo tempo em que negava o direito árabe-palestino à
autodeterminação, criou tensões severas entre os imigrantes judeus europeus e a
população palestina nativa. A Palestina (o último ponto da agenda de
descolonização) e nós, sua gente, que procuram nosso direito inalienável à
autodeterminação, sofremos nossa maior catástrofe, em árabe al Nakba.
Em 1948, as milícias sionistas expulsaram pela força mais de
800 mil homens, mulheres e crianças de sua terra natal, perpetrando massacres
horríveis e destruindo centenas de aldeias no processo. Eu tinha 13 anos no
momento da expulsão de Safad. A ocasião em que Israel celebra sua criação como
Estado, os palestinos o recordamos como o dia mais sombrio de nossa história.
A declaração de Balfour não é algo que pode ser esquecido.
Hoje em dia, os palestinos somam mais de 12 milhões e estão espalhados por todo
o mundo. Alguns foram expulsos de sua pátria em 1948, com mais de 6 milhões
vivendo no exílio até hoje. Aqueles que conseguiram permanecer em suas casas
são aproximadamente 1,75 milhões e vivem em um sistema de discriminação
institucionalizada no que é hoje o estado de Israel.
Aproximadamente 2,9 milhões de pessoas vivem na Cisjordânia
sob uma ocupação militar - converteida em colonização, dos quais 300 mil são os
habitantes nativos de Jerusalém, que até agora têm resistido às políticas
destinadas a expulsá-los da cidade. Dois milhões vivem na Faixa de Gaza, uma
prisão a céu aberto sujeita a uma destruição regular através da força total do
aparelho militar de Israel.
A declaração Balfour não é algo para comemorar, precisamente
não enquanto um dos povos afetados continuar a sofrer tal injustiça. A criação
de uma pátria para um povo resultou na desapropriação e perseguição contínua de
outro, agora estendida a um profundo desequilíbrio entre o ocupante e o
ocupado. O equilíbrio deve ser corrigido, e a Grã-Bretanha tem uma grande
responsabilidade em liderar o processo. As celebrações devem aguardar o dia em
que todos nesta terra tenham liberdade, dignidade e igualdade.
O ato físico de assinar a declaração Balfour é algo do
passado, não é algo que possa ser alterado. Mas é algo que pode ser feito
melhor. Isso exigirá humildade e coragem. Será necessário chegar a um acordo
com o passado, reconhecendo os erros e tomando medidas concretas para corrigir
esses erros.
Congratulo-me com a integridade dos britânicos que pedem ao
seu governo que tome estas medidas: os 274 deputados que votaram a favor do
reconhecimento do Estado da Palestina; os milhares que têm pedido ao seu
governo que peça desculpas pela declaração de Balfour; as ONGs e os grupos
solidários que ocupam as ruas, advogando incansavelmente pelos nossos direitos
como palestinos.
Apesar dos horrores que sofremos no século passado, o povo
palestino manteve-se firme. Somos uma nação orgulhosa com uma rica herança de
civilizações antigas e o berço das religiões abraâmicas. Ao longo dos anos, nos
adaptamos às realidades que nos rodeiam - a cadeia de eventos desencadeada a
partir de 1917 - e fizemos compromissos profundamente dolorosos por causa da
paz, começando com a decisão de aceitar um Estado em apenas 22% de nossa pátria
histórica, passando pelo reconhimento do Estado de Israel, sem qualquer
reciprocidade até este momento.
Temos apoiado a solução de dois estados nos últimos 30 anos,
uma solução cada vez mais impossível a cada dia que passa. Enquanto o Estado de
Israel continuar a ser celebrado e recompensado, ao invés de prestar contas
frente às normas universais por suas contínuas violações do direito
internacional, não terá incentivo para acabar com a ocupação. Isto é agir de
forma míope.
Israel e os amigos de Israel devem perceber que a solução de
dois estados pode desaparecer, mas o povo palestino ainda estará aqui.
Continuaremos a lutar pela nossa liberdade, quer essa liberdade venha através
da solução de dois Estados ou, em última análise, pela igualdade de direitos
para todos os que habitam a Palestina histórica. É hora de o governo britânico
fazer sua parte. Passos concretos para acabar com a ocupação com base no
direito internacional e as resoluções, incluindo a mais recente, a resolução
2334 do Conselho de Segurança da ONU, bem como o reconhecimento do Estado da Palestina
na fronteira de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital, podem
contribuir, em certa medida, para os direitos políticos do povo palestino.
Somente quando que esta injustiça seja aceita como tal,
teremos as condições para uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, para o
bem dos palestinos, dos israelenses e do resto da região.
• Mahmoud Abbas é Presidente do Estado da Palestina e
Presidente do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina
(OLP).
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contra a Declaração Balfour - 04/11/17
VOCÊ SABIA QUE SE FOSSE PALESTINO ACONTECERIA COM SUA FAMÍLIA O QUE ACONTECEU COM ESTA? E QUE TUDO COMEÇOU HÁ 100 ANOS ATRÁS, NA INGLATERRA?
Este filme, produzido pelo Centro de Retorno Palestino (Londres) e a Campanha de Desculpas de Balfour, coloca em vista as trágicas consequências da Declaração de Balfour (1917), em que o Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Arthur Balfour, sinalizou o avanço para o estabelecimento de um Estado judeu na Palestina.
Legendado em 17 idiomas . Fonte: https://goo.gl/g7keTp
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