Santayana analisa a carta do suicida de Realengo
Publicado em 08/04/2011
O Conversa Afiada reproduz texto de Mauro Santayana, publicado no JB:
O Conversa Afiada reproduz texto de Mauro Santayana, publicado no JB:
O terrorismo de Columbine
por Mauro Santayana
É difícil separar a emoção da razão, quando escrevemos sobre tragédias como a de ontem. A morte de crianças nos toca fundo: pensamos em nossos próprios filhos, em nossos próprios netos. Por mais que deles cuidemos, são indefesos em um mundo a cada dia mais inóspito.
Crianças e professores são agredidos pelos próprios colegas nas escolas. Traficantes de drogas e aliciadores esperam às suas portas a fim de perverter os adolescentes. Em 1955, baseado em livro de Evan Hunter, Richard Brooks dirigiu um filme forte sobre a brutalidade nas escolas norte-americanas, Blackboard Jungle, exibido no Brasil com o título de Sementes da Violência.
É difícil entender como um rapaz de 24 anos se arma e volta à escola onde estudara, a fim de atirar contra adolescentes. No calor dos fatos, com a irresponsabilidade comum a alguns meios de comunicação, associaram o crime ao bode expiatório de nosso tempo, o “terrorismo muçulmano”. No interesse dessa ilação, chegaram a anunciar que isso estava explícito na carta que ele deixou. Ela, no entanto, revela loucura associada não ao islamismo, mas, sim, às seitas pentecostais, de origem norte-americana, com sua visão obscurantista da fé. São seitas que alimentaram atos de loucura como o de Jim Jones, ao levar 900 de seus seguidores, a Peoples Temple, ao suicídio, na Guiana, em 18 de novembro de 1978. É o que hoje fazem pastores da Flórida, ao queimar um exemplar do livro sagrado dos muçulmanos – e provocar a reação irada de fiéis no Iraque e no Afeganistão. Segundo revelou sua irmã, a mãe adotiva de Wellington, cuja morte o transtornou, pertencia à seita das Testemunhas de Jeová, preocupada com a pureza do corpo, que o assassino menciona em sua carta. A referência à volta de Jesus e ao dogma da Ressurreição dos justos, não deixa dúvida. Ele nada tinha a ver com o Islã, apesar de suas recomendações lembrarem ritos mortuários comuns às religiões monoteistas.
A carta revela um jovem perturbado pela idéia de pureza. Aos 24 anos, o assassino diz que seu corpo “virgem” não pode ser tocado pelos impuros. Ao mesmo tempo, presumindo-se herdeiro da casa que ocupava em Sepetiba, deixa-a, em legado, para instituições que cuidem de animais abandonados. Os cães, que são a maioria dos bichos de rua no Brasil, são, para os muçulmanos, animais amaldiçoados.
É preciso rechaçar, de imediato, qualquer insinuação de fundamentalismo islamita ao ato de insanidade do rapaz. O pior é que homens públicos eminentes endossaram essa insensatez. O terrorismo de Wellington é o dos atos, já rotineiros, de assassinatos em massa nas escolas norte-americanas, a partir do episódio de Columbine em 20 de abril de 1999. Desde que os meios de comunicação e do entretenimento transformaram o homem nesse ser unidimensional, conforme Marcuse, o modelo de vida, que o cinema, as histórias em quadrinhos, a televisão e, agora, a internet, nos trazem, é o da pujante, bem armada e soberba civilização norte-americana. Ela nos prometia a realização do sonho da prosperidade, da saúde, da segurança, do conforto e da alegria, da virilidade e da beleza. Mas essa civilização é apenas pesadelo, contrato faustiano com o diabo, sócio emboscado da morte. O diabo começou a cobrar seu preço, ao levar essa civilização à loucura, no Vietnã; nas muitas intervenções armadas em terra alheia; em Oklahoma, em Columbine, em Waco, e nos demais assassinatos coletivos dos últimos anos.
Limpemos as nossas lágrimas, e reflitamos se vale a pena insistir nessa forma de vida. Se vale a pena continuar sepultando crianças, e com elas, os sentimentos de solidariedade, de humanismo, de civilidade e de justiça. As crianças que morreram ontem, ao proteger as mais fracas com seus corpos, nos disseram o que temos a fazer, para que a vida volte a ter sentido.
Fonte: http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/04/08/santayana-analisa-a-carta-do-suicida-de-realengo/
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Fonte: http://www.tijolaco.com/falta-de-seriedade-de-informacao-e-de-respeito/
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A escola de Realengo é espetacular !
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Falta de seriedade, de informação e de respeito
Fico espantado com a superficialidade com que se está tratando esta tragédia na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo. O rapaz enlouquecido que fez essa monstruosidade é apresentado de todas as formas preconceituosas possíveis, como portador de HIV ou religioso islâmico e acusado de “passar o dia na internet”. Ora, nenhuma destas três coisas explica coisa alguma sobre o ataque psicótico que o levou a atacar e matar crianças em uma escola.
Se explicassem, haveria milhares de tragédias assim, pois há milhões de soropositivos, de islâmicos e de nerds.
Só reforça esteriótipos e preconceitos, porque nem Aids, nem fé muçulmana ou internet fabricam este tipo de loucura.
A tão falada carta do homicida a cada hora é usada para achar uma “lógica” num ato ilógico, louco, transtornado. Uma exploração irresponsável, discriminatória e cheia de ódios. Afinal, a carta apareceu e não faz referência a nada do que se falou na imprensa, irresponsavelmente.
E ficaram falando em “fundamentalismo islâmico”. Que vergonha!
Aliás, não é só a mídia que está agindo com leviandade. O Senador José Sarney perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Suas declarações de que o ato foi “terrorismo” e de que era preciso colocar “segurança pública” (o que seria isso, artes marciais, defesa pessoal, ou o que?) no currículo das escolas são lamentáveis.
Como eu disse antes, o colégio era tranquilo, nunca tinha registrado incidentes de violência e até tinha um bom sistema de segurança. ora, ninguém está livre de deixar entrar um louco sob a aparência mais cândida do mundo.
Não é hora de histeria. Todos vocês lembram dos demagogos que prometiam -parece que se mancaram – colocar um guarda em cada esquina, como se um guarda próximo fosse evitar este massacre. Não evitaria, até porque, casualmente, havia policiais perto e eles agiram rapidamente. A presença de um policial sentado dentro da escola só ia, provavelmente, fazer com que um louco disposto a chacinar começasse por ele, de surpresa.
Posto, aqui embaixo, um trecho da fala da presidenta Dilma Rousseff dizendo o que deve ser dito: que este tipo de acontecimento não era característica de nossos país, nos convidando a repudir esse absurdo e a vivermos juntos a comoção que algo tão bárbaro provoca na gente.
Fonte: http://www.tijolaco.com/falta-de-seriedade-de-informacao-e-de-respeito/
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A escola de Realengo é espetacular !
Os neoliberais não acertam uma
Publicado em 10/04/2011
Na primeira página de caderno de supostos artigos de “alto nível” (“Aliás, a semana em revista”), aparece uma foto do tipo “choca-e-faz-chorar”: gotas de sangue que escorrem e estancam na parede da escola Tasso da Silveira, em Realengo.
O autor da foto é Fernando Gabeira, repórter do Estadão.
Deve ser duro ilustrar a capa de uma gôndola de perfumaria inútil do Estadão, depois de ser chefe do departamento de pesquisa do Jornal do Brasil (quando era, de longe, o melhor jornal do Brasil) e sequestrar o embaixador americano.
A foto do Gabeira deveria ser comprada pelo jornal nacional.
Faz parte da mesma ideologia que descreveu a tragédia do Rio – “previsível”, disse a Globo, enquanto o tsunami do Japão foi “imprevisível” - como uma prova da incúria do Estado: municipal ( a Tasso é municipal), estadual e, claro, federal.
A Globo sempre tenta pendurar alguma coisa no pescoço da Dilma e/ou do Lula.
Onde já se viu não ter detetor de metais ?, perguntavam os “âncoras matinais” da Globo.
Foi preciso que um especialista da própria Globo considerasse aquilo uma sandice desvairada.
A foto do Gabeira, essa versão Cartier-Bresson no Estadão, tem a mesma leitura subliminar: dramatizar para espinafrar; chocar para desmoralizar.
(Cartier-Bresson fazia fotos em preto e branco, numa Leica, e não admitia que a foto fosse cortada na revelação. Saía pronta da máquina.)
Ou seja, desmoralizar o Estado, o investimento público.
Este ansioso blogueiro tem o péssimo hábito de ser repórter.
Ele testemunhou o fracasso retumbante na ocupação do Alemão.
Viu que a política Cabral-Beltrame era, de fato o desastre anunciado pelo PiG (*) e seus dominicais colonistas (**), quando foi conhecer a tenente Priscila, na UPP que fica no alto do morro Dona Marta.
Um horror !
(O candidato a prefeito Fernando Gabeira defendia a política do Soweto para as favelas do Rio – “Quem está fora não entra, quem está dentro não sai”. Um jenio !)
Este ansioso blogueiro foi à Escola Tasso da Silveira, em Realengo.
Ela tem câmera.
(Quem poderia ter filmado a ação interna, com atirador, as crianças a correr, e o tiro no abdômen do suicida, desfechado pelo Sargento Alves. A Globo ?)
A escola tem interfone.
A escola tem grade que separa a porta da rua da parte interna do colégio, onde ficam as crianças.
A escola tem porteiro durante todo o período de funcionamento.
Por que o atirador entrou com tanta facilidade ?
Como ex-aluno, uma semana antes ele foi pedir o histórico escolar.
Voltou para recebê-lo.
E disse que queria falar com a professora Dorotéia, a decana da escola: está lá desde a fundação há quarenta anos.
De fato, subiu à sala de leitura, falou rapidamente com a professora, que estava numa outra tarefa.
Pediu que ele esperasse um pouco.
Levantou-se para concluir o trabalho.
Ele se levantou, foi para o corredor e começou a matança.
Este ansioso blogueiro entrevistou professora da Tasso.
Está na escola há 13 anos.
Conhece muitos pais e mães de alunos pelo nome.
Diz que as reuniões de pais e mestres são respeitadas pelas famílias.
Que a disciplina é rigida
Este ano, no primeiro dia de aula, repreendeu um aluno indisciplinado e mandou chamar a mãe do menino.
No dia seguinte, ela estava lá, para enquadrar o filho, na frente da professora.
Nunca houve ali um caso de violência ou de consumo de droga.
A escola fica numa posição elevada no ranking das escolas municipais do Rio.
Tem alunos cegos e surdos.
Eles recebem aulas especiais e regulares.
Ela, por exemplo, tem uma excelente aluna cega.
(É esse sistema de integração de aulas especiais com aulas regulares que o Ministro Haddad vai instalar no Instituto dos Surdos, no Rio, apesar da feroz resistência do Globo)
A escola Tasso da Silveira é exatamente o que o PiG (*) diz que NÃO são as escolas públicas.
O PiG descreve a escola pública – como a saúde pública – como um desastre irrecuperável.
Logo, para que dar dinheiro ao Estado, se o Estado não dá nada em troca ?
E melhor deixar a grana na mão do livre empreendedor, na mão do Di Gênio, que saberá educar nossas crianças melhor que a professora Dorotéia.
É assim que funcionam os neoliberais.
Com a ajuda de um certo repórter do Estadão.
Quem nasceu para Gabeira não vai ser o Cartier-Bresson, nunca.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
Fonte: http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/04/10/a-escola-de-realengo-e-espetacular-os-neoliberais-nao-acertam-uma/
O autor da foto é Fernando Gabeira, repórter do Estadão.
Deve ser duro ilustrar a capa de uma gôndola de perfumaria inútil do Estadão, depois de ser chefe do departamento de pesquisa do Jornal do Brasil (quando era, de longe, o melhor jornal do Brasil) e sequestrar o embaixador americano.
A foto do Gabeira deveria ser comprada pelo jornal nacional.
Faz parte da mesma ideologia que descreveu a tragédia do Rio – “previsível”, disse a Globo, enquanto o tsunami do Japão foi “imprevisível” - como uma prova da incúria do Estado: municipal ( a Tasso é municipal), estadual e, claro, federal.
A Globo sempre tenta pendurar alguma coisa no pescoço da Dilma e/ou do Lula.
Onde já se viu não ter detetor de metais ?, perguntavam os “âncoras matinais” da Globo.
Foi preciso que um especialista da própria Globo considerasse aquilo uma sandice desvairada.
A foto do Gabeira, essa versão Cartier-Bresson no Estadão, tem a mesma leitura subliminar: dramatizar para espinafrar; chocar para desmoralizar.
(Cartier-Bresson fazia fotos em preto e branco, numa Leica, e não admitia que a foto fosse cortada na revelação. Saía pronta da máquina.)
Ou seja, desmoralizar o Estado, o investimento público.
Este ansioso blogueiro tem o péssimo hábito de ser repórter.
Ele testemunhou o fracasso retumbante na ocupação do Alemão.
Viu que a política Cabral-Beltrame era, de fato o desastre anunciado pelo PiG (*) e seus dominicais colonistas (**), quando foi conhecer a tenente Priscila, na UPP que fica no alto do morro Dona Marta.
Um horror !
(O candidato a prefeito Fernando Gabeira defendia a política do Soweto para as favelas do Rio – “Quem está fora não entra, quem está dentro não sai”. Um jenio !)
Este ansioso blogueiro foi à Escola Tasso da Silveira, em Realengo.
Ela tem câmera.
(Quem poderia ter filmado a ação interna, com atirador, as crianças a correr, e o tiro no abdômen do suicida, desfechado pelo Sargento Alves. A Globo ?)
A escola tem interfone.
A escola tem grade que separa a porta da rua da parte interna do colégio, onde ficam as crianças.
A escola tem porteiro durante todo o período de funcionamento.
Por que o atirador entrou com tanta facilidade ?
Como ex-aluno, uma semana antes ele foi pedir o histórico escolar.
Voltou para recebê-lo.
E disse que queria falar com a professora Dorotéia, a decana da escola: está lá desde a fundação há quarenta anos.
De fato, subiu à sala de leitura, falou rapidamente com a professora, que estava numa outra tarefa.
Pediu que ele esperasse um pouco.
Levantou-se para concluir o trabalho.
Ele se levantou, foi para o corredor e começou a matança.
Este ansioso blogueiro entrevistou professora da Tasso.
Está na escola há 13 anos.
Conhece muitos pais e mães de alunos pelo nome.
Diz que as reuniões de pais e mestres são respeitadas pelas famílias.
Que a disciplina é rigida
Este ano, no primeiro dia de aula, repreendeu um aluno indisciplinado e mandou chamar a mãe do menino.
No dia seguinte, ela estava lá, para enquadrar o filho, na frente da professora.
Nunca houve ali um caso de violência ou de consumo de droga.
A escola fica numa posição elevada no ranking das escolas municipais do Rio.
Tem alunos cegos e surdos.
Eles recebem aulas especiais e regulares.
Ela, por exemplo, tem uma excelente aluna cega.
(É esse sistema de integração de aulas especiais com aulas regulares que o Ministro Haddad vai instalar no Instituto dos Surdos, no Rio, apesar da feroz resistência do Globo)
A escola Tasso da Silveira é exatamente o que o PiG (*) diz que NÃO são as escolas públicas.
O PiG descreve a escola pública – como a saúde pública – como um desastre irrecuperável.
Logo, para que dar dinheiro ao Estado, se o Estado não dá nada em troca ?
E melhor deixar a grana na mão do livre empreendedor, na mão do Di Gênio, que saberá educar nossas crianças melhor que a professora Dorotéia.
É assim que funcionam os neoliberais.
Com a ajuda de um certo repórter do Estadão.
Quem nasceu para Gabeira não vai ser o Cartier-Bresson, nunca.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
Fonte: http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/04/10/a-escola-de-realengo-e-espetacular-os-neoliberais-nao-acertam-uma/