terça-feira, 5 de novembro de 2013

Campanhas racistas marcam eleições municipais em Israel

Eleições municipais israelenses foram realizadas terça-feira em um clima marcado por nova vitória do racismo institucionalizado e segregacionista.

Maren Mantovani

Partidos israelenses, prefeitos e candidatos se envolveram em uma série de campanhas racistas, dirigidas contra as comunidades de não-judeus e não-brancos e, em particular, contra os cidadãos palestinos de Israel. Apesar de 75% dos palestinos que moraram antes da criação de Israel em 1948 nesse territorio foram expulsos já há décadas, hoje 20% da população de Israel é palestina.



O racismo como parte da identidade nacional israelense

Em Karmiel, um município da região de Haifa, o presidente do comitê local para as eleições do Likud (partido do governo), Koron Noimark, assegurou que vai garantir a predominância de judeus: mesquitas ou igrejas não serão permitidas no bairro, porque “se os árabes continuarem chegando, os judeus vão sair e vamos mesmo acabar com um prefeito árabe” [1]. A declaração ignora completamente que a propaganda israelense há décadas tenta vender Haifa como um símbolo do multiculturalismo e da coexistência entre judeus e palestinos. Além disso, vale lembrar que, antes de ‘chegar’, grande parte da população palestina foi expulsa brutalmente em 1948 de seus lares na área de Haifa. Em Jerusalém, os slogans de campanha eleitoral da lista Jerusalém Unida promoveram “Jerusalém para os judeus - segurança, habitação e Thora”. Em agosto jornais israelenses noticiaram sobre slogans racistas da campanha de outra lista eleitoral que retrataram homens árabes que “aterrorizam as meninas judias” em parques da cidade [2].

Outro exemplo foi a campanha eleitoral de Shimon Gapso, o atual prefeito de Alto Nazaré, uma cidade israelense construída em terras palestinas com a finalidade de ‘judaizar’ a área. ‘Judaização’ é uma expressão israelense cunhada para descrever uma série de políticas voltadas para a implantação de população judia e/ou expulsão de habitantes palestinos, a fim de garantir uma maioria judia. A campanha de Gapso visou a deixar bem claro que os cidadãos palestinos não eram bem-vindos na Alta Nazaré e foi tão racista que foi criticada mesmo dentro de Israel.

Num artigo esclarecedor intitulado ‘Se acha que sou racista, então Israel é um estado racista’, Gapso defende suas posições a partir da promessa bíblica da Terra de Israel para o povo judeu e a mensagem de Deus a Moisés para limpar a terra de seus habitantes. Em seguida, referindo-se à realidade do Estado de Israel, ele explica: “Os kibbutzim racialmente puros, sem um único membro árabe e um exército que protege certa estirpe racial foram estabelecidos, assim como os partidos políticos que orgulhosamente ostentam nomes racistas - Habayit Hayehudi, O lar judeu. Mesmo o nosso hino nacional racista ignora a existência da minoria árabe, ou seja, o povo que Ben-Gurion [nota: fundador do Estado de Israel] não consegui expulsar na guerra de 1948 [3]. Em outra intervenção no Washington Post, Gapso afirmou que “os 95% dos prefeitos judeus [em Israel] acham a mesma coisa. Eles têm apenas medo de dizer isso em voz alta” [4]. Provavelmente, Gapso está certo.

O racismo como parte da identidade nacional


Sem dúvida, ele tem amplo apoio na sociedade judia israelense. Em um estudo recente do instituto de pesquisa israelense ‘Diálogo’, um terço dos entrevistados disseram que os cidadãos palestinos de Israel devem ter o seu direito de voto negados. Quase metade disse que os cidadãos israelenses palestinos devem ter sua cidadania retirada. Metade dos entrevistados disseram acreditar que os judeus deveriam ser tratados melhor do que os cidadãos palestinos, e 59% disseram que gostariam que os judeus recebecem tratamento preferencial no emprego do setor público. Mais de 40% dos entrevistados disseram que querem habitação segregada e salas de aula separadas para judeus e palestinos. A maior parte do público judeu (58 %) acreditam que Israel utiliza práticas de apartheid contra os palestinos [5].

Resultados similares aparecem em uma pesquisa de 2007 realizada pela Associação pelos Direitos Civis em Israel. Cerca de 55% dos judeus acreditam que os cidadãos palestinos de Israel devessem deixar o país, 75% não gostaria de viver no mesmo bairro com os palestinos e 74% dos jovens israelenses disseram que os árabes são ‘sujos’. Mais da metade dos entrevistados também disse que uma mulher judia que se casa com um homem árabe "comete uma traição ao país e ao povo judeu."[6]

Ao fim de garantir a pureza racial dos hábitos de namoro, o estado ajuda com uma nova regulamentação aprovada na semana passada. Ela rege que “mulheres jovens israelenses que façam voluntariado em hospitais de Israel como parte de seu serviço nacional [..] não serão mais autorizadas a fazer turnos a noite, para evitar qualquer contato com os árabes” [7]. Se tudo isso não ajudar, há duas linhas de atendimento telefônico para denunciar sobre garotas judias ‘desviadas’, homens palestinos que se atrevem a sair com mulheres judias e procurar conselho se algum dia você se sentir atraída por um homem árabe [8].

O racismo que como alvo principal tem a opressão, a expulsão da população indígena palestino, os massacres contra eles e outros povos árabes, não dispensa outras comunidades não-brancas e não-judaicas. O jornalista israelense David Sheen recentemente publicou um vídeo chocante que mostra cenas de várias manifestações contra refugiados africanos em diferentes cidades israelenses: uma multidão violenta incitada contra a ameaça dos ‘infiltrados negros’, uma mulher branca suspeita de ser casada com um homem negro atacada e ameaçada, homens negros atacados gratuitamente. Políticos israelenses participam e conduzem as massas contra os africanos. O vice-ministro de Defesa de Israel traz a questão para o ponto em um comício Anti-Africano: “A coisa mais importante é expulsar os infiltrados do país para proteger Israel como um Estado judeu.” No mesmo comício, a presidente do comitê pelos assuntos internos do parlamento israelense Miri Regev chama os sudaneses de ‘um câncer em nosso corpo’ [9].
Atualmente, Israel está utilizando a lei antiinfiltração aprovada em 1954 para impedir que os refugiados palestinos regressem às suas casas, a fim de encarcerar sem julgamento os refugiados africanos, que em muitos casos fugem de conflictos em seus países que são travados com armas israelenses. Para este efeito, Israel está construindo o que será a maior prisão desse tipo em qualquer país.

As pessoas não nascem racistas, eles são ensinados a pensar e agir assim.


Peled -Elhanan, professor de línguas e educação na Universidade Hebraica de Jerusalém, estudou o conteúdo dos livros escolares israelenses durante os últimos cinco anos, e diz que em centenas de livros ela não encontrou uma fotografia que mostrava um árabe como uma ‘pessoa normal’. Ela diz: “Não é que os massacres são negados, eles são representados nos livros escolares israelenses como algo que, a longo prazo é bom para o Estado judeu.” Ela acrescenta que as crianças são orientadas a interiorizar a mensagem de que os palestinos são “pessoas cuja vida é dispensável impunemente. E não só isso, mas pessoas, cujo número deve ser reduzido.” [10]

Décadas de propaganda patrocinada pelo Estado e as mídias criaram uma sociedade onde o racismo é largamente parte da identidade nacional. Iniciativas israelenses de contro-informação são reprimidas ou marginalizadas pelo discurso das institucões públicas e corporativas. Entretanto, elevando os conceitos de ‘povo escolhido’ e uma ‘terra prometida por Deus’ para categorias políticas, se produz necessariamente ideias de superioridade racial e todas as consequências dramáticas que vêm junto com ele.

A essência institucional do apartheid


Tudo citado acima é apenas a ponta do iceberg - as expressões de racismo e de regras que teriam sido chamadas de praticas de ‘apartheid trivial’ até duas décadas atrás, na África do Sul. O grande esquema reside na realidade de leis e de fatos repressões, desapropriações e exclusões, que são parte integrante de práticas do estado de Israel desde a sua criação em 1948 e isso é o que transforma Israel em um estado de apartheid.

Apartheid é definido como “qualquer situação em qualquer lugar do mundo onde existem os três elementos principais a seguir: (I) que dois grupos raciais distintos podem ser identificados, (II) que ‘atos desumanos’ sejam cometidos contra o grupo subordinado, e (III) que tais atos são cometidos sistematicamente no contexto de um regime institucionalizado de dominação de um grupo sobre o outro” [11].

Entre os atos desumanos listados na Convenção para a Proibição e Repressão do Crime de Apartheid são incluidas medidas legislativas para separar grupos ao longo de linhas raciais, bem como “todas as medidas legislativas e outras medidas calculadas para evitar que um grupo ou grupos raciais participam na política, na vida social, econômica e cultural do país e a criação deliberada de condições que impeçam o pleno desenvolvimento de um grupo ou grupos, em especial, ao negar aos membros de um grupo ou grupos raciais direitos humanos e liberdades fundamentais”.[12]

De acordo com Adalah, uma organização palestina de direitos humanos, “há mais de 50 leis israelenses que discriminem cidadãos palestinos de Israel em todas as áreas da vida, incluindo seus direitos à participação política, acesso a terra, educação, recursos do orçamento do Estado e procedimentos criminais” [13]. Um sistema dual de lei cria discriminação entre cidadãos judeus e cidadãos palestinos indígenas, pois apenas os cidadãos com ‘nacionalidade judaica’ tem acesso a todos os direitos. Isso resulta em os palestinos não ser autorizados a locações de médio e longo prazo da terra da Administração do Território de Israel, que controla 93% das terras em Israel. Cidadãos palestinos de Israel não são elegíveis para programas de previdência social do abono de família e os gastos anuais de assistência social per caso é de US$ 257 dolares por palestinos, enquanto um cidadão judeu receberia US$ 598 dolares [14]. Como conseqüência, mais de metade das famílias palestinas em Israel são classificados como pobres e as taxas de mortalidade infantil entre os palestinos são o dobro daqueles entre os judeus [15].

A segregação institucionalizada reduz o direito a moradia, entre outros, através de uma lei de 2011, que legaliza os ‘comitês de admissão’, que operam em cerca de 700 vilas. A lei dá aos comitês de admissão plena liberdade para aceitar ou rejeitar os candidatos considerados “impróprios para a vida social da comunidade ou o tecido social e cultural da cidade”. Muitas aldeias palestinas, algumas criadas já antes do Estado de Israel, simplesmente não são reconhecidos pelo governo e portanto, não recebem água encanada, eletricidade ou estradas de acesso. Atualmente em debate final no parlamento israelense é a Lei Prawer, que vai resultar na destruição de 35 aldeias "não reconhecidas", o deslocamento forçado de mais de 70.000 cidadãos beduínos palestinos de Israel e a desapropriação de suas terras históricas.[16]

O respaldo legal para tais leis e práticas vem da Suprema Corte. Em 2012, o juiz da Corte Asher Grunis, justificou a decisão de negar o direito dos cônjuges palestinos da Cisjordânia e Gaza para se juntar a seus maridos israelenses com o argomento que a implementação desse direito humano seria “uma receita para o suicídio nacional” [17]. Para garantir que as coisas não deixam espaço para dúvidas, um projeto de lei constitucional está sendo votado em breve no parlamento, que visa subordinar oficialmente o caráter ‘democrático’ do Estado ao seu caráter ‘judeu’.[18]

Não é de surpreender então que o Tribunal Russell, um tribunal ético internacional promovido por juristas e personalidades de fama reconhecida, concluiu em uma sessão na África do Sul que “os cidadãos palestinos de Israel, mesmo com o direito a voto, não são parte da nação judaica, tal como definido pela lei de Israel. Portanto, estão excluídos dos benefícios de nacionalidade judaica e sujeitos a discriminação sistemática em todo o amplo espectro dos direitos humanos reconhecidos. [ ... ] O Tribunal conclui que o governo de Israel sobre o povo palestino, onde quer que estejam, coletivamente equivale a um único regime integrado de apartheid.” [19]

Uma vez que se tenha criado um sistema jurídico, social e econômico onde o respeito pelos direitos humanos é considerado um suicídio nacional e o racismo uma necessidade, é algo de difícil superação. A única coisa que certamente não ajuda ninguém - nem o povo palestino, nem as comunidades negras, nem a pequena minoria de israelenses que lutam activamente contra o racismo e pelos direitos humanos - é o resto do mundo encorajar e, contra todas as evidências, legitimar a situação chamando-a de "a única democracia no Oriente Médio".

(*) Maren Mantovani é coordenadora de relações internacionais para ‘Stop the Wall’, a campanha palestina contra o Muro de apartheid que Israel está construindo na Palestina.

NOTAS:


[1] http://972mag.com/jews-arabs-work-to-resist-racist-municipal-election-campaign/80276/

[2] http://972mag.com/city-council-campaign-calls-to-judaize-jerusalem/79827/


[3] http://www.haaretz.com/opinion/1.540278

[4] http://articles.washingtonpost.com/2013-09-19/world/42229879_1_israeli-mayor-largest-arab-city-citizens

[5] http://www.haaretz.com/news/national/survey-most-israeli-jews-support-apartheid-regime-in-israel.premium-1.471644

[6] Http://digitaljournal.com/article/336331#ixzz2iNrzZIrX ; http://www.haaretz.com/news/civil-rights-group-israel-has-reached-new-heights-of-racism-1.234831

[7] http://www.redressonline.com/2013/10/israel-takes-apartheid-a-step-further/
[8] http://www.timesofisrael.com/hotline-lets-callers-inform-on-jewish-arab-couples/

[9] http://electronicintifada.net/blogs/ali-abunimah/watch-video-israeli-racism-new-york-times-didnt-want-you-see
[10] http://www.theguardian.com/world/2011/aug/07/israeli-school-racism-claim



[11] http://www.russelltribunalonpalestine.com/en/sessions/south-africa/south-africa-session-%E2%80%94-full-findings/cape-town-session-summary-of-findings

[12] http://www1.umn.edu/humanrts/instree/apartheid-supp.html

[13] http://adalah.org/eng/Israeli-Discriminatory-Law-Database

[14] http://itisapartheid.org/facts01.html

[15] http://adalah.org/upfiles/2011/Adalah_The_Inequality_Report_March_2011.pdf

[16] http://www.adalah.org/eng/?mod=db&dld_page=law&slg=admissions-committees-law-law-to-amend-the-cooperative-societies-ordinance-no-8

[17] http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2012/01/20121121785669583.html

[18] http://www.adalah.org/eng/?mod=db&dld_page=law&slg=basic-law-israel-nation-state-of-the-jewish-people-bill

[19] http://www.russelltribunalonpalestine.com/en/sessions/south-africa/south-africa-session-%E2%80%94-full-findings/cape-town-session-summary-of-findings


Fonte: Carta Maior 

domingo, 27 de outubro de 2013

Acordos Brasil-Israel contribuem para sustentar a ocupação e apartheid israelense



FEPAL- Federação Árabe Palestina do Brasil e Stop the Wall

Cooperação Bilateral em Pesquisa e Desenvolvimento industrial:


Cooperação com violações israelenses

do direito internacional e os direitos humanos?


Instituições estatais do Brasil promovem e mantém uma extensa cooperação econômica e de pesquisa com Israel em todos os níveis - estadual, federal, municipal e através de instituições publicas.

 Este tipo de cooperação não só direta ou indiretamente legitima as políticas israelenses atuais, mas também contribui para a sustentabilidade da ocupação, colonização e apartheid israelense. Além disso, essa cooperação inclui o risco de incluir entidades nos territórios palestinos ocupados (TPO), atividades israelenses ilegais nos TPO ou atividades (pesquisa, produção, comércio) que beneficiam os atos ilegais de Israel nos TPO, incluindo a construção do Muro e o empreendimento dos assentamentos.

Isto está em clara contradição com o compromisso do Brasil com a criação de um Estado palestino com as fronteiras de 1967 e o direito palestino à autodeterminação. Isso prejudica o apoio o Brasil tem dado à resolução do Conselho de Direitos Humanos sobre a Missão Independente de Investigação e sobre as consequências jurídicas do empreendimento israelense dos assentamentos, além de correr o risco de violar a obrigação constitucional do Brasil para dar prevalência aos direitos humanos nas relações internacionais. Finalmente, isso pode trazer o Brasil a violação das suas obrigações internacionais de não reconhecer ou dar ajuda e assistência as violações de normas imperativas de Israel e a manutenção da situação criada por eles.

Exemplo: Cooperação Bilateral em Pesquisa e Desenvolvimento Industrial

Provavelmente a atividade de maior destaque neste sentido é a cooperação bilateral em Pesquisa e Desenvolvimento Industrial no setor privado. Neste momento o Brasil está avaliando projetos de 70 milhões de Reais.



Recomendamos o governo brasileiro, como medida técnica, suspender o ciclo de financiamento até que uma solução seja encontrada para evitar o financiamento de:

a)      entidades israelenses localizadas nos TPO ou com operações ilegais nos TPO;
b)      projetos parcialmente o totalmente implementados nos TPO ou cuja a implementação ou resultados ajudam, auxiliam ou reconhecem as operações israelenses ilegais nos TPO, bem como sua sustentabilidade.



Informações gerais:

O programa é executado em conjunto pela Secretaria de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil e MATIMOP, o Centro israelense da Indústria pela Pesquisa e o Desenvolvimento (R&D), em nome do Escritório do Cientista-Chefe do Ministério da Indústria, Comércio e Trabalho de Israel.[1]

Atualmente novos projetos estão sendo avaliados no montante de 70 milhões de reais e estão arriscando beneficiar empresas e projetos que estão operando ilegalmente nos TPO ou estão se beneficiando/contribuindo para a sustentabilidade do empreendimento dos assentamentos, incluindo o Muro, e outras violações dos direitos palestinos.

Uma breve análise das 22 empresas israelenses até agora registados mostrou que mais de 40 por cento representam sérias questões de elegibilidade:

            pelo menos uma empresa parece ter a sua sede central em Jerusalém Oriental ocupada[2]
            pelo menos uma empresa parece ter um projeto beneficiando as operações de assentamento nos territórios ocupados das Colinas de Golã Sírio (e há suspeitas de que mantém uma no território palestino ocupado)[3]
            pelo menos uma empresa está financiado diretamente o fornecimento de equipamentos para uma empresa do Estado de Israel para a sua prestação de serviços nos assentamentos[4]
            pelo menos uma empresa é parcialmente detida por uma empresa estatal israelense operacional nos assentamentos e prestação de serviços à ocupação militar[5]
            pelo menos uma empresa presta serviços para empresas dos assentamentos[6]
            pelo menos duas empresas estão diretamente envolvidas na prestação dos serviços e equipamentos para a repressão dos defensores dos direitos humanos e as ações do Exército israelense, que foi repetidamente acusado ​​de crimes de guerra e possívelmente crimes contra a humanidade.[7]
            pelo menos duas empresas são baseadas nos EUA. Este último não é relevante em termos de violações do direito internacional e dos direitos humanos, mas levanta questões de boa-fé.[8]

Em relação às outras empresas, não há informações suficientes disponíveis on-line, no entanto, considerando-se suas operações nos setores de agro-negócios, construção e outros, é provável que eles estão realizando operações nos TPO. Este breve resumo não exclui, mas sim indica que essas empresas poderiam muito bem ser envolvido em operações ilegais nos TPO.

Gostaríamos salientar que os critérios para o financiamento da pesquisa não devem apenas levar em consideração a localização da investigação propriamente dita e a sede da empresa envolvidos, mas também a questão da fungibilidade
[9]. Pesquisa é fungível por definição e, inevitávelmente, seus resultados vão ser utilizados por qualquer empresa com operações ilegais nos TPO também neste sector de suas operações. Uma vez que a pesquisa é produzida Brasil não terá instrumentos para limitar sua aplicação pela empresa parceira.

Gostaríamos destacar que vários estados já têm diretrizes de limitações territoriais por seu financiamento:

1) a União Europeia acaba de publicar orientações detalhadas para financiamento e apoio financeiro a entidades israelenses. (Mais ver mais abaixo).

2) Israel assinou uma cláusula semelhante já em 1972, no âmbito das regras de elegibilidade da Fundação Binacional da Ciência Estados Unidos-Israel. A cláusula estabelece que:
"De acordo com o acordo entre os governos dos EUA e de Israel, os projetos patrocinados pela Fundação não podem ser realizado em áreas geográficas que vieram sob a administração do Governo de Israel após o 5 de junho de 1967 e não podem incidir sobre temas pertinentes principalmente para essas áreas".[10]

3) Alemanha assinou uma cláusula territorial semelhante para o financiamento da Fundação Alemã-Israelense para Pesquisa e Desenvolvimento Científico (GIF), afirmando que:
"GIF pode apoiar apenas projetos realizados dentro das áreas geográficas sob a jurisdição do Estado de Israel antes de 05 de junho de 1967".[11]

Mesmo que nenhuma dessas linhas diretoras acima abordam o problema em sua complexidade, eles são um passo positivo na direção certa e expressão de reconhecimento dos problemas.

Considerando os últimos contratos entre os estados do Brasil e Israel, há uma preocupação séria que até mesmo os contratos desse ciclo de financiamento envolveram empresas e instituições que estão envolvidas no empreendimento de colonização israelense.




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Anexo 1: Análise das orientações de financiamento da UE

As orientações da União Europeia relativas à elegibilidade das entidades israelitas e suas atividades nos territórios ocupados por Israel desde junho 1967 para subvenções, prêmios e instrumentos financeiros financiados pela UE a partir de 2014[12]:

            Visam assegurar que as instituições da UE respeitam a obrigação de não reconhecer a soberania israelense em território palestino ocupado por Israel desde 1967, incluindo a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza, bem como as Colinas de Golã da Síria.
·          impediram empréstimos, garantias de empréstimos e outros investimentos financeiros da UE pelos ministérios israelenses e todas as entidades públicas que operam a nível nacional (porque estes operam nestes territórios ocupados), bem como por outras entidades públicas e privadas de Israel, que estão localizadas e/ou operam em território ocupado.
·          proíbem a UE a concessão de subvenções para atividades/projetos a entidades israelenses que estão sediadas ne território ocupado. Nem a UE pode conceder fundos para atividades/projetos que ocorrem total ou parcialmente em território ocupado, mesmo que as entidades implementadoras estão sediadas dentro das fronteiras pré-1967 de Israel. Ministérios israelenses e outras entidades nacionais terão de excluir quaisquer atividade nos TPO dos projetos apoiados pela UE.
·          serão implementados através de declarações pelas entidades que pedem financiamento que eles, de acordo com as orientações, são elegíveis; aspira-se referência à aplicabilidade das diretrizes em Memorando de Entendimento e outros acordos de cooperação. Qualquer informação incorreta pode ser considerada como um caso de uma irregularidade ou distorção grave e pode levar à sanção relevante.

Essas diretrizes não estabelecem novos princípios legais ou políticos. No entanto, para a UE, essas diretrizes são um passo importante para a aplicação dos requisitos de incorporação de normas de direito internacional e de direito existente das instituções da UE que incorporam a lei internacional, no caso das transações financeiras ou econômicas com Israel.

É importante salientar que as diretrizes não são um ato político, mas uma operação técnica de aplicar as obrigações legais existentes. Esforços de Israel para apresentar isso como um ato político voluntário, visa enfraquecer as diretrizes e questionar sua legitimidade.

O principal impacto potencial reside em ter desenvolvido uma ferramenta pragmática e prática para combater as violações israelenses da lei internacional nos TPO. Em um nível prático, provavelmente as limitações pelos instrumentos financeiros da UE (empréstimos, garantias de empréstimos, etc.) terão o impacto maior.

Essas diretrizes são diferentes dos planos para um conselho as entidades públicas e privadas nas suas relações com Israel, o que pode ser adiado para 2014. As discussões entre a UE e Israel sobre a implementação das diretrizes pelos financiamentos vão ocorrer neste mes.

Comentários legais:

            A UE reconheceu com essas diretrizes a sua obrigação de não reconhecer/ajudar/auxiliar na comissão e manutenção da situação ilegal nos TPO criado por graves violações de Israel do direito internacional, como a anexação dos e assentamentos israelenses nos TPO. Esta obrigação do direito internacional consuetudinário da responsabilidade dos Estados por atos internacionalmente ilícitos faz parte da legislação da UE. As diretrizes da UE são um passo para garantir que as instituições da UE implementam a legislação da UE de forma eficaz em sua cooperação financeira com Israel.

            O conceito da fungibilidade é subjacente à proibição particular de todos os empréstimos e apoio financeiro às entidades com operações na OPT. Na legislação da UE, a fungibilidade já foi introduzida nos regulamentos sobre o setor financeiro, no entanto, ainda falta em outras partes da legislação da UE. Portanto, apesar de fungibilidade refere-se também aos estoques, produtos e know-how e, logicamente, deveria ter sido aplicada também a esses campos, a UE tem reproduzido a incoerência do seu próprio sistema legal nas orientações.

            Uma série de diretrizes do direito internacional não foram levados em consideração devido à falta de incorporação dessas leis no sistema jurídico da UE. Isto é particularmente problemático no caso das diretrizes ONU sobre Empresas e Direitos Humanos, cuja implementação no caso da Palestina e do empreendimento dos assentamentos israelenses tem sido exigido na resolução A/HRC/22/L.45 do Conselho dos Direitos Humanos. Teremos que ver se separados e adicionais diretrizes/conselhos da UE para transações comerciais públicas e privadas com entidades israelenses irão refletir essas diretrizes da ONU.


  
Comentários políticos

Agradecemos o posicionamento da UE, em especial devido ao fato de que alguns governos da UE não estão mesmo reconhecendo a soberania palestina sobre os territórios ocupados em 1967 e que a prevalência dos direitos humanos, embora consagrado em uma série de declarações e mecanismos da UE, tem sido historicamente desrespeitada em favor dos interesses coloniais.

Mais importante do que as inconsistências intrínsecas dentro das orientações existentes, acreditamos que é o impacto real que a construção de diretrizes como estes têm - e pode ter - em Israel e a nível internacional. As diretrizes são:
            expressão de um entendimento de que a atividade dos assentamentos acontece com o apoio e assistencia das instituções da UE.
            um sinal para Israel - e as corporações e os governos cúmplices - que o apelo palestino para o fim da impunidade está ganhando terreno internacionalmente e pode chegar um tempo em que aqueles que ajudam o auxiliam violações israelenses da lei internacional ou reconhecem a situação resultante desses podem ser responsabilizados.

Como as diretrizes são uma questão da aplicação do direito interno da UE, a pressão política de Israel está enfrentando o obstáculo da interferência ilegítima nos assuntos internos.

No entanto, por mais que estas medidas são importantes e fundamentais, elas não substituem a ação política.


Anexo 2: Dagan street em Jerusalém Oriental ocupada


Dagan street em jerusalém Oriental ocupada



[2]   CTI-Tecnologias Criativas Israel Ltd está localizado em Jerusalém, Dagan Street, Gilo de liquidação (ver mapa em anexo 2)

[3]   Mapal Green Energy, que tem um projeto em Mishmar Hayarden, que é parcialmente no Colinas de Golã ocupadas e talvez tem outro no assentamento Ofra nos TPO. Verse:  http://www.jpost.com/Diplomacy-and-Politics/NGO-petitions-court-against-sewage-plant-near-Ofra-315232 Se o artigo do Jerusalém Post é uma atribuição incorreta a Mapel Green Energy é para ser verificado.

[4]   Metrycom, que tem o seu financiamento de base da Corporação Elétrica de Israel (IEC), a fim de desenvolver e produzir equipamentos para a IEC: http://www.businesswire.com/news/home/20110404005821/en/Israel-Electric-Corporation-IEC-Invests-Million-NIS, http://israelnewtech.com/2012/03/karat-%E2%80%93-innovation-to-realization/.

    IEC é a única concessionária de energia elétrica em Israel. IEC é 99% estatal e responsável pela produção e distribuição de eletricidade. Sua contribuição para o empreendimento dos assentamentos no território palestino ocupado é fundamental, pois sem a sua ajuda e fornecimento de eletricidade, todo o empreendimento dos assentamentos seria impossível. IEC está operando nos TPO ilegalmente devido a:
            Antes da evacuação israelense dos assentamentos judaicos da Faixa de Gaza no 2005, a IEC forneceu a energia elétrica e mantinha o sistema elétrico para os assentamentos de Gush Katif, bem como a Kfar Darom.
            O IEC é e tem sido, históricamente, a única fornecedora de energia elétrica para os assentamentos ilegais na Cisjordânia.
            O IEC ajuda ativamente na expansão da e criação de novos assentamentos, conectando os chamados "postos avançados" com sua rede elétrica. Fornecer serviços para esses assentamentos nascentes solidifica sua posição em terra palestina ocupada e facilita a expansão de suas populações. (Para mais informações consulte: http://www.stopthewall.org/downloads/pdf/NPFBrief2009.pdf)

[5]  PCT (Tecnologia de revestimento de proteção) é parcialmente detida por Delek Group, uma das principais distribuidoras de combustíveis de Israel. Em julho de 2013, a empresa ganhou uma licitação para prestação de serviços de abastecimento para o Ministério da Defesa de Israel e o exército israelense ao longo dos próximos três anos. A empresa possui e opera uma rede de postos de gasolina e lojas de conveniência Delek Menta em assentamentos de Alfei Menashe, Ariel e Givat Ze'ev na Cisjordânia e nos assentamentos em Jerusalém Oriental: Neve Yaakov, e a ‘French Hill’. Além disso, a empresa forneceu combustível para projetos de construção no assentamento de Carmel. (http://www.whoprofits.org/company/delek-israel-fuel)  

[6]   Akol Anat Keshev trabalha para Golan Heights Wineries, que é uma empresa nos assentamentos nos territórios ocupados das Colinas de Golã Sírio (http://www.akol4u.com/projects.asp)

[7]   BAT Beit-Alfa Technologies Ltd. é uma produtora de veículos de controle de distúrbios e seus veículos são regularmente utilizados para reprimir os defensores dos direitos humanos palestinos. O SKUNK é operacional com a IDF e a Polícia Nacional Israelense desde 2008. O Skunk tornou-se um instrumento fundamental de repressão israelense da liberdade de expressão e de reunião. Além disso, ODZ Consultoria e Marketing, por razões pouco claras é registado no site MDIC para representar MyWall. MyWall é o único laboratório independente em Israel para realizar testes balísticos em Israel e trabalha para o IDF, o Ministério israelense da Defesa, o Ministério do Interior, a Polícia e as Forças Especiais israelenses e desenvolveu e produziu uma estação de armadura protetora para a ELBIT Systems.

[8]  "TransAlgae é uma empresa de biotecnologia incorporada nos EUA, com um centro de pesquisa localizado no Parque da Ciência, em Rehovot, Israel." (Http :/ / www.transalgae.com/); "a nova-iorquina Watchitoo fornece uma plataforma de colaboração de vídeo embutido para entregar o conteúdo ao vivo de uma forma muito envolvente" (http://www.watchitoo.com/blog/)  

[9]  Europa foi obrigada pela sua própria legislação UE a adotar este conceito para as instituições financeiras em seus recentes orientações sobre a elegibilidade de entidades israelenses pelo apoio financeiro da UE, excluindo os empréstimos de instituições financeiras da UE para todas as entidades israelenses com operações nos TPO. Fungibilidade, no entanto, refere-se também aos estoques, produtos e know-how e, logicamente, deveria ter sido aplicada também a esses campos.




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