Por Ualid Rabah*
A
reação de Israel à nota diplomática brasileira de condenação dos crimes em
andamento em Gaza é consoante ao seu momento de barbárie mais aguda, que faz
haver, em suas diligências civil e militar, cegueira quase que total do que se
dá no mundo. Na verdade, sua reação verbal se deu nestes termos porque Israel
não pode atacar belicamente o Brasil. Ou seja: atacaram com as palavras com a
virulência que se auto impuseram por não lhes ser possível fazer o que de fato desejavam,
qual seja, atacar o Brasil por sua insolente independência, tal qual fazem hoje
com Gaza.
Israel,
com isso, prova o quanto é um país agressivo, arrogante, que imagina poder
resolver as questões que lhe afetam pela imposição, através das armas ou por
meio da chantagem imoral à devassidão, de seus pontos de vista unilaterais e ao
arrepio de todo o regramento legal internacional, algo que lhe vinha sendo
possível desde que passou a existir sob os escombros e cadáveres da Palestina
limpada etnicamente. O atual momento, no qual as realidades parecem destoar do
que espera a mimada Israel, leva seus dirigentes à insânia e às manifestações
tresloucadas, agora dirigidas contra o Brasil, uma nação soberana e com a qual
mantém relações diplomáticas e econômicas plenas.
Esta
manifestação absolutamente inaceitável é, para muito além de razão de
indignação de cada brasileiro, um alerta do que de mais grave há por trás: o
quanto Israel representa de perigo para a humanidade, algo já detectado em
sondagens de opinião na Europa, nas quais o estado pretendido como judaico é
apontado pela maioria dos consultados como o maior perigo à paz mundial. Frente
à grosseira manifestação de Israel, repercutida por organizações que se
auto intitulam representativas das comunidades judaicas, especialmente no
Brasil, fica a pergunta: o que este estado fará quando instado pela comunidade
internacional, por meio de resoluções cogentes não vetadas pelos EUA, a cumprir
com suas obrigações e, ao fim e ao cabo, estar obrigado a reconhecer todos os
direitos civis, humanitários e nacionais dos palestinos? Utilizará as armas
nucleares que detém e seus arsenais químicos e bacteriológicos em insana reação
armada, com a qual visará intimidar o mundo por meio de ameaça de hecatombe?
Não são
poucos os que assim suspeitam, seja pela forma com que nasceu Israel, baseado
na expulsão de metade ou mais de toda a população palestina, seja pela forma
com que existiu até os dias atuais, sempre optando pela guerra em lugar das
soluções negociadas, e destas, quando impostas pelas circunstâncias, desviou o
quanto pôde, sempre construindo, tempos a seguir, e artificialmente, novas
razões de ruptura da calmaria e em novo banho de sangue fazendo mergulharem os
palestinos e os povos vizinhos, destacando-se o libanês.
O mundo
precisa estar alerta. A reação despropositada de Israel para com um país que
sempre foi, em muitas medidas, seu amigo, nos dá muitas pistas do que de fato
está se transformando este estado. O ataque sem precedentes ao Brasil, em
linguagem que a diplomacia, em regra, não admite, é equivalente à sua reação às
reivindicações palestinas, com a diferença de que contra o povo palestino a
reação se dá por meio de armas, sem nenhuma medida de proporcionalidade ou
cuidado com as destruições e mortes, olímpicas quando comparadas com qualquer
consequência sofrida por Israel. Por enquanto suas reações, ainda que
tresloucadas, frente a postura justas de países como o Brasil, são verbais. No
entanto, ela se dará por meio das armas, um dia, contra qualquer país que ouse
lhe reprimir frente aos crimes que comete se nada for feito para frear a sanha
assassina de Israel.
Além do mais, Israel, na condição de anão moral que é, não
reúne nenhuma condição que lhe autorize classificar o Brasil como anão político,
algo inclusive longe de ser verdadeiro, visto que o Brasil vive seu momento de
maior protagonismo internacional, qual seja, deixando de ser o anão político e
diplomático que já foi, bem como de irrelevante, ao menos na ilógica ótica de
Israel, país artificial e baseado na limpeza étnica. Inclusive Israel deve ao
Brasil, em boa medida, a aprovação da malfadada resolução 181 da ONU, a da
partilha da Palestina, da qual resultou a sua auto criação e a varrição étnica
dos palestinos, esta a causa direta do que hoje ocorre, nada mais do que o mero
efeito da verdadeira causa.
A nossa máxima indignação aos insultos israelenses se dá,
inclusive e especialmente, porque o anão diplomático, e que prefere recorrer às
armas contra população indefesa, e irrelevante, inclusive para o Brasil altivo
de hoje, é Israel. Relevantes, para o Brasil, são as nações que respeitam os
direitos humanos e o direito internacional, jamais o contrário. Israel, pela
sua atitude frente ao Brasil, deu mais provas de sua inaptidão para a diplomacia
e de sua já manifesta e perceptível irrelevância para o concerto das nações, já
por demais demonstrada, em sucessivas ocasiões na ONU, organismo no qual este
estado facínora só conta com seu próprio voto, o dos EUA, este com poder de
veto, garantidor da sua olímpica impunidade, e de no máximo mais três a cinco
outros votos, não raro de micro estados insulares cujas atividades são
"bancárias" e sem fiscalizações, ou seja, que lavam dinheiro oriundo
de toda a criminalidade global.
O Brasil, ao contrário do que diz Israel, é um gigante em
muitos sentidos, dos quais vale destacar, como marca verdadeira de sua já
visível condição de potência a: econômica (está entre as 6 maiores economias do
mundo, a julgar como aceitáveis os atuais parâmetros de medição das riquezas
produzidas a cada ano), alimentar, hídrica (hidráulica para a energia e para a
água potável indispensável á vida), biogenética, ambiental, científica,
territorial, energética (inclusive e muito fortemente em termos nucleares, com
um dos processamentos mais modernos de urânio, com planta industrial nacional,
bem como gasífera e petrolífera quase inigualável, para não falar das
capacidade e tecnologia em energias renováveis a partir da biomassa), marítima
(pela extensão continental de sua costa oceânica e pelo complexo sistema de
embarcações e submarinos que vem desenvolvendo para sua defesa, especialmente,
neste momento, das riquezas do pré-sal), política e diplomática (lidera o
Mercosul e a Unasul e é um dos países integrantes dos chamados BRICs, cuja
união e últimas resolução estão a impor um novo mundo multipolar, que desafia o
atual, unipolar e no qual se sustentam regimes párias, como o israelense) e,
por fim, ainda que haja quem disto não goste, militar, especialmente agora que
o Brasil resolveu construir um exército à altura de sua importância
estratégica, engajado na defesa nacional frente aos perigos provocados pelos
inimigos notórios deste novo mundo que busca nossa nação arquitetar, juntamente
com outras grandes nações desejosas deste mesmo novo alvorecer global.
As circunstâncias acima elencadas são aquelas em regra
perceptíveis para a definição de uma potência, ainda que apenas nascente fosse.
Entretanto, há outros fatores menos conhecidos e presentes no Brasil de hoje.
Destacam-se dois, ao menos: o combate à miséria e o combate ao racismo. Como o
Brasil vem promovendo estas duas agendas internamente com indubitável sucesso,
não há dúvidas de que nosso país cria novos paradigmas que servem de exemplos
para outros países, o que implica dizer, em grossas palavras, que esta nova
potência da solidariedade está, com seu exemplo, mexendo num mundo em que
poucas nações se servem justamente da miséria e do racismo para pilhar nações e
continentes inteiros, algo que se dá por meio de intrincados mecanismos
econômicos, financeiros, políticos e diplomáticos, universo no qual se inserem
as malfadadas patentes de alimentos e medicamentos (pequeno exemplo, pois há
muito mais) e militares, estes últimos somente possíveis porque o mundo após a
chamada 2ª guerra mundial foi arquitetado para obedecer ao que ditado por
organismos multilaterais absolutamente hegemonizados pelas potências vencedoras
deste conflito armado, no qual, portanto, são possíveis desde que deles sejam
beneficiárias as mesmas nações que o construíram. E o Brasil não tem se
limitado a dar o exemplo. Nestes dois particulares (combates à miséria e ao
racismo), o Brasil tem exportado suas experiências, mais fortemente para o
continente africano e para outras nações sul americanas, mas já ensaiando
leva-las para mais longe.
Assim colocada as coisas, não há como restarem dúvidas
quanto ao estado que detém a condição de anão, no caso político, mas também
moral. Este é olimpicamente Israel, hoje um estado pária, cujos dirigentes,
civis e militares, têm seus movimentos limitados a pouquíssimos países devido
ao temor de prisão para responderem por seus inauditos crimes de lesa
humanidade, mais notoriamente promovidos contra os palestinos, mas não só,
posto que já é de conhecimento da humanidade sua implicação em crimes de escala
planetária, sendo pequeno exemplo sua atuação ativa em quase todos os golpes
militares havidos nas Américas do Sul e central, regimes golpistas aos quais
emprestou treinamento em torturas e assassinatos. E, de outro lado, não há
nenhuma dúvida quanto ao colossal Brasil como o gigante que é em nossos dias,
inclusive como a primeira nação que se faz potência sem ser imperialista, o que
coloca, em igual tempo, os anões políticos e diplomáticos nas prateleiras das
irrelevâncias históricas que, no caso de Israel, conta com a agravante de ser
um anão moral, pois nenhuma outra nação no mundo se serve de aberto regime de
apartheid e da limpeza étnica para existir, desde o nascedouro até nossos dias.
* UALID RABAH é Diretor de Relações Institucionais da FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil
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Por Mauro Santayana no Jornal do Brasil: http://migre.me/kDAyg