15 DE MAIO DE 1948
Há 69 anos, mais de 750 mil palestinos foram expulsos de suas terras e lares. A catástrofe continua hoje como mais de 7 milhões de refugiados palestinos que tem o direito de retornar negado por Israel.
15 de maio de 1948: A guerra que não terminou
Vinicius Valentin Raduan Miguel*
Todos os anos, nesta data, é relembrado o que os
árabes/palestinos chamam de Al'Nakba (A Catástrofe) ou o que os
judeus-israelenses comemoram como a Guerra de Independência, quando o Estado de
Israel foi criado.
Uma problemática acompanhou a criação do Estado de Israel:
Israel é um projeto que prega a exclusividade étnica e lingüística de um grupo
(judeu/hebraico) em detrimento de todos os outros. A questão posta nos anos
iniciais da colonização era "como lidar com a população árabe que lá
vivia?". A solução encontrada foi uma deliberada e metódica eliminação
física e cultural dos povos tradicionais, uma prática que encontra seu conceito
jurídico na definição de "limpeza étnica". Desta forma, no ano de
1948, 531 vilas, 11 áreas urbanas e 30 cidades foram totalmente destruídas. No
total, aproximadamente 800.000 pessoas (mais do que metade da população na
época) foram expulsas (1) formando a atual massa de quatro milhões de
refugiados que habitam os países vizinhos.
Palestinos expulsos carregando seus pertenencias durante a Nakba, en 1948. Foto: Fred Csasznik
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Relembrar este dia é fundamental, pois marca uma data que
tragicamente não terminou. A Guerra de 1948 não terminou por duas razões: (a)
Israel se recusa a reconhecer o crime que cometeu e, desta maneira, aceitar as
responsabilidades advindas de sua prática, como aceitar o retorno dos
refugiados e/ou indenizar os sobreviventes expulsos de suas terras e; (b) o
fator ideológico que motivou a guerra persiste. Em outras palavras, o projeto
de Israel enquanto Estado sem árabes continua e a prática de limpeza étnica é
um fantasma constante.
A analogia com o apartheid (2) é evidente: um Estado de
brancos sem negros é inaceitável, mas um Estado de judeus sem árabes é
permissível. Esta é a origem de todos os conflitos na região - muito além da
concepção reducionista de embate apocalíptico-religioso em que uma aliança
"Européia/Ocidental/Cristã" da "bondade" enfrenta os
"malvados" "Orientais/Muçulmanos/Anti-Cristãos"3. Mas
contestar esta prática racista é violência e a violência do fraco, mesmo que
injustificada e em resposta a uma prévia violência, é terrorismo. Em
contrapartida, a violência do poderoso se justifica e apresenta-se como
legítima defesa!
Falar em enfrentamento entre Israel e Palestina esconde
ainda outros problemas, não menos sutis. Mascara-se propositalmente que Israel
é um Estado e a Palestina não existe enquanto tal. A Palestina persiste em um
limbo jurídico definido como "territórios ocupados", uma condição em
que a potência ocupante é responsável de fato pela administração. É sob estes fatos
ignorados e falsificados pela mídia que é preciso entender os últimos
acontecimentos na região, como a guerra em 2006 contra o Líbano e o recente
massacre em Gaza, iniciado em dezembro de 2008.
A violência israelense, como todas as agressões
colonialistas são desproporcionais. Na Guerra de 2006 contra o Líbano, por
exemplo, são 44 civis israelenses mortos contra 1191 civis libaneses; na Guerra
de 2008-2009 contra Gaza foram (3) civis israelenses contra 926 civis
palestinos. Mas não só de nefastas estatísticas que se faz a
desproporcionalidade. A cobertura histórica também é desproporcional e são
poucas as menções feitas à tragédia árabe-palestina de 1948, contribuindo para
seu "apagamento".
Neste sentido, a maior eliminação provocada por este
verdadeiro crime de limpeza étnica foi a supressão do acontecimento da
História, de maneira que ninguém sequer menciona este outro holocausto (4).
Contra isso, celebrar o Dia da Catástrofe é lembrar. É um projeto educativo
denunciando a limpeza étnica da Palestina como um projeto inacabado de Israel.
Lembrar os métodos e práticas israelenses que se arrastam do passado até os
dias de hoje devem servir para impedir que o plano de eliminação da Palestina
se concretize. Repetindo o mantra que já nos acostumamos a ouvir: Nunca mais!
(1) PAPPE,
Ilan. The ethnic cleansing of Palestine. Oneworld Publications, Oxford:
2007.
(2) Para mais informações, o website
http://ApartheidNaPalestina.blogspot.com/ possui uma valiosa coletânea de
artigos sobre o assunto.
(3) Não esquecer que existem outros grupos religiosos entre
os palestinos, como cristãos
.
(4) Existem projetos de leis no parlamento israelense que
buscam inclusive proibir manifestações lembrando o dia!
*Vinicius Valentin Raduan Miguel é cientista social pela
Universidade Federal de Rondônia e mestrando em Ciência Política pela
Universidade de Glasgow, Escócia.
Nota do Blog: Este artigo foi publicado em 2009 e mantém a sua atualidade, pois Israel continua ocupando a Palestina, realizando a limpeza étnica e negando/impedindo o direito de retorno dos refugiados à seus lares e sua terras.
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DOCUMENTÁRIO: A HISTÓRIA SIONISTA (THE ZIONIST STORY)
Do autor Renen Berelovich: "Recentemente
concluí um documentário independente, A história Sionista, no qual quero
apresentar não apenas a história do conflito Israel/Palestina, mas também as
razões centrais do mesmo: a ideologia sionista, seus objetivos (passados e
atuais) e seu firme controle não somente da sociedade israelense mas também, e
de modo crescente, da percepção que os ocidentais têm do Oriente Médio.”
O autor combina com êxito imagens de arquivo com comentários
próprios e de outros, como Ilan Pappe, Jeff Halper, Terry Boullata e Alan Hart.
A LIMPEZA ÉTNICA DA PALESTINA E OS MITOS DA CRIAÇÃO DE
ISRAEL
Assista a entrevista (legendada em português) com o
historiador israelense ILAN PAPPE, onde discorre sobre como o sionismo, de
forma planejada, executou e continua executando a limpeza étnica da Palestina:
ocupação e roubo da terra, eliminação física e expulsão dos palestinos,
apagamento da cultura e da história palestina. O mito da "guerra de
defesa" de 1948. O mito que os palestinos abandonaram seus lares e terras.
. A lógica sionista do massacre de Deir Yassin. O mito da democracia
israelense. As perspectivas para o futuro.A perseguição que sofreu na
Universidade Uma entrevista de um judeu que foi em busca da verdade e enfrentou
todas as pressões com altivez e coragem.
A INVENÇÃO DA TERRA DE ISRAEL
Nesta conferência, o historiador israelense Shlomo Sand
expõe a essência de seu novo livro, A invenção da terra de Israel, e debate com
o público presente as ideias por ele desenvolvidas nesta obra e em seu livro
anterior (A invenção do povo judeu).
Com sua costumeira contundência, Shlomo Sand desconstroi por
completo a mitologia erguida pelos sionistas através da manipulação de citações
bíblicas. O propósito de tal manipulação é de tentar justificar com argumentos
religiosos a ocupação da Palestina e a expulsão de grande parte dos habitantes
autóctones para, em seu lugar, assentar os contingentes de pessoas de
ascendência judaica (majoritariamente oriundos da Europa oriental) que o
sionismo conseguiu levar para lá.
PARTE 1
PARTE 2: https://goo.gl/2u0JdS
PARTE 3: https://goo.gl/t5oCnv
PARTE 4: https://goo.gl/hmDfQ2
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SAIBA MAIS SOBRE A NAKBA:
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