terça-feira, 20 de novembro de 2012

EMBAIXADOR PALESTINO NO BRASIL DENUNCIA OS OBJETIVOS DE ISRAEL EM SUA GUERRA CONTRA GAZA




Israel quer impedir reconhecimento do Estado Palestino na ONU

19 de Novembro de 2012 

Israel acusa o Hamas de ter iniciado as hostilidades que levaram à nova agressão na Faixa de Gaza. Mas antes que os quatro soldados israelenses fossem feridos por ataques na fronteira, uma cadeia de eventos havia sido desencadeada quando diversos civis de Gaza foram mortos. Para o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, estes são meros pretextos, a intenção verdadeira é impedir que a Palestina reivindique seu assento nas Nações Unidas.

 Por Vanessa Silva, da redação do Vermelho

                                                                                                         Efe

Massacre - Israel bombardeia Gaza
                            Ataques deixaram, até o momento, 95 palestinos mortos

Tudo teria começado em 5 de novembro, quando um rapaz de 20 anos, aparentemente doente mental, Ahmad al-Nabaheen, foi baleado quando passeava perto da fronteira. Os médicos tiveram que esperar seis horas até serem autorizados a buscá-lo e ele morreu. Depois, em 08 de novembro, um menino de 13 anos que jogava futebol na frente de sua casa foi morto pela Força de Ocupação Israelense. Assim, o ferimento de quatro soldados israelenses em 10 de novembro faz parte de uma cadeia de eventos que começou quando os civis de Gaza foram mortos.

 O secretário geral da Federação Árabe Palestina no Brasil (Fepal), Emir Mourad, opina que “quando um ocupante agride e bombardeia civis da forma que está acontecendo, ele não está se defendendo, mas atacando. (…) Israel ocupa territórios palestinos há mais de seis décadas e há  5 anos mantém um bloqueio indiscriminado a Gaza: econômico, social e político. A região é uma prisão a céu aberto cercada por israelenses por terra, céu e mar. Estão impedindo os suprimentos necessários e isso tem o nome de agressão para castigar o povo palestino indiscriminadamente”.

 Força desproporcional

 A disparidade entre as forças chama a atenção. A presidenta Dilma Rousseff telefonou, neste domingo (18), para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pedindo a convocação extraordinária do Conselho de Segurança da ONU para deter o "uso desproporcional da força" por parte de Israel.

 Sobre isso, Mourad ressalta: “não podemos aceitar que Israel esteja se defendendo com tantas ogivas nucleares, um exército que é o quarto maior do mundo. Então eles estariam se defendendo do que e de quem? Trata-se de um uso de força totalmente desproporcional e o povo palestino tem o direito de se defender”.

 Após seis dias de ataques, até o fechamento desta edição, o exército israelense havia reconhecido a morte de 95 civis. Destes, pelo menos um terço não tinha nenhum envolvimento com o conflito, como reconheceram as Forças Armadas de Israel. No total, são 840 feridos, incluindo 225 crianças palestinas. Do lado de Israel, morreram três civis e há dezenas de feridos.

 A ameaça que paira no momento é o início de uma ofensiva por terra. Neste domingo (18), o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou que o Exército israelense está pronto para "expandir significativamente" suas operações em Gaza , elevando os rumores sobre uma possível invasão terrestre iminente do território palestino.

 De acordo com Alzeben, “espera-se que se chegue a um cessar-fogo o quanto antes para evitar derramamento de sangue desnecessário” e para impedir “uma incursão terrestre que poderá causar grandes perdas, vítimas especialmente do lado palestino, que é o mais fraco e exposto”.

 Reconhecimento do Estado Palestino

 Para o diplomata, a ação israelense tem como objetivo impedir que a Palestina reivindique “seu assento nas Nações Unidas e seja reconhecida como Estado. E quer intimidar o povo palestino para acabar com a Autoridade Nacional Palestina, que está promovendo este processo nas Nações Unidas”.

 A visão é compartilhada por Mourad. “Querem enfraquecer, inviabilizar as lideranças que estão com essa estratégia de reconhecimento da Palestina nas Nações Unidas, mas na ONU, o voto será da Assembleia Geral e não do Conselho de Segurança, de modo que cada país vota por si e não há vetos”.

 Assim, a grande expectativa é que o país seja finalmente reconhecido como integrante da ONU e, portanto, Estado independente. O evento ocorre no dia 29, dia internacional de Solidariedade à Palestina e, na mesma data, será realizado o Fórum Social Mundial Palestina Livre, em Porto Alegre (RS) com a presença de diversas entidades nacionais e internacionais.

 Esse reconhecimento “será o começo do fim deste conflito porque o mundo irá reconhecer um direito que foi postergado durante seis décadas e que abre caminhos para uma negociação mais séria e igual entre as partes envolvidas neste processo”, avalia o embaixador.

 Para Alzeben, o Brasil pode ajudar este processo “mantendo essa posição firme, clara e consciente da realidade na região; e utilizando sua influência de país amigo de ambas as partes para levar a mensagem de paz e este exemplo de convivência pacífica que é o Brasil”. Em sua opinião, a ONU deve intermediar o processo: “o mundo não quer mais ver derramamento de sangue, nem invasões e quer o fim deste conflito”, sentenciou.

Fórum Palestina Livre

 “O Fórum Social Mundial Palestina Livre está sofrendo pressões de todas as partes. Dizem que é um fórum terrorista. Estão querendo desqualificar todas as ações que buscam abrir negociações baseadas no direito internacional, nas resoluções da ONU. No fim das contas, Israel não quer a paz”, manifestou Mourad.

 Em comunicado publicado nesta segunda-feira (19), o Consulado Geral de Israel afirmou que o FSPL “incentiva a resistência e terrorismo na Palestina e o boicote à Israel. Enquanto lá a batalha é física, aqui nossa luta deve ser pela legitimidade de Israel como um Estado judeu”.

 A propósito, o embaixador faz questão de ressaltar e esclarecer que não se trata de um evento contra os judeus e que, inclusive, “israelenses, judeus, muçulmanos e toda a sociedade civil podem participar desta iniciativa porque para resolver a questão palestina, é preciso também uma participação da sociedade civil”, enfatizou.

 E acrescentou que “aqueles que não querem que isso aconteça são os que estão fazendo eco da política racista e segregacionista do Estado de Israel e não representam o sentimento do povo israelense, do povo palestino e dos povos que querem a paz naquela região. Só estão cumprindo a agenda de alguns fanáticos e não vão mudar o rumo deste fórum que pretende e busca a paz”.

 “Os judeus no mundo precisam acordar para essa realidade. Nós fazemos um chamamento à comunidade judaica no Brasil. Conclamamos essa comunidade a lutar verdadeiramente pela paz, não a paz deste exército ocupante. Não a paz dos muros de segregação, de colonização dos territórios palestinos. É a paz verdadeira, onde o povo palestino tenha direito a seu Estado independente. Que Israel reconheça o direito dos palestinos ao retorno, conforme resolução da ONU. Agora, como fazer a paz executando palestinos? Crianças, homens e mulheres? Vários povos do mundo não se alinham com essa política israelense de agressão de limpeza étnica do povo palestino. Queremos que esta guerra cesse e que se abram negociações baseadas no direito internacional. Por isso, chamamos todo mundo a participar do FSPL para levar essa solidariedade do governo e povo brasileiro e dos povos do mundo todo”, conclui Mourad.

Fonte: Portal Vermelho

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ERIC HOBSBAWM SOBRE GAZA (2009)




*

Latuff - Charge - Israel massacra Gaza e realiza eleições




London Review of Books, vol. 31, n. 2, sessão “Cartas”


http://www.lrb.co.uk/v31/n02/gaza-writers/responses-to-the-war-in-gaza


Já há três semanas a barbárie está exposta aos olhos da opinião pública universal, que está vendo, julgando e, com poucas exceções, rejeitando o terrorismo armado que Israel emprega contra meio milhão de palestinos cercados, desde 2006, na Faixa de Gaza.

Jamais qualquer explicação oficial para a invasão foi mais patentemente refutada por uma combinação de imagens de televisão e aritmética; ou o papaguear dos jornais sobre “alvos militares”, pelas imagens de crianças ensanguentadas e escolas incendiadas. 13 mortos de um lado, 1.360 do outro: não é difícil concluir quem são as vítimas. Nem é preciso dizer muito mais sobre a horrenda operação militar de Israel contra Gaza.

Mas para nós, judeus, é preciso, sim, dizer mais.

Numa história longa e sem segurança, de povo em diáspora, nossa reação natural a quase todos os eventos públicos inevitavelmente inclui a pergunta “Isso é bom ou é mau para os judeus?” E, no caso da violência de Israel contra Gaza, a resposta só pode ser uma: “é mau, para os judeus.”

É muito evidentemente mau para os 5,5 milhões de judeus que vivem em Israel e nos territórios ocupados de 1967, cuja segurança é gravemente ameaçada pelas ações militares que o governo de Israel empreende em Gaza e no Líbano; ações que demonstram a incapacidade dos militares israelenses para trabalhar a favor do objetivos que eles mesmos declaram, e atos que só servem para perpetuar e intensificar o isolamento de Israel num Oriente Médio hostil.

O genocídio ou a expulsão em massa de palestinos do que resta de seu território nativo original é, nada mais nada menos, que adotar uma agenda prática que só pode levar à destruição do Estado de Israel. Só a convivência negociada em termos igualitários e justos entre os dois grupos é garantia de futuro estável.

A cada nova aventura militar de Israel, como a que se viu no Líbano e vê-se agora [2009; e vê-se, outra vez, hoje, em 2012]** em Gaza, a solução torna-se mais difícil; e mais se fortalece, em Israel, o jugo da direita; e, na Cisjordânia, o mando dos colonos que, em primeiro lugar, nunca quiseram qualquer solução negociada.

Como aconteceu na guerra do Líbano em 2006, Gaza, agora, torna ainda mais obscuro o futuro de Israel. E o futuro se torna mais negro, também, para os nove milhões de judeus que vivem na diáspora.

Sejamos bem claros: criticar Israel não implica qualquer antissemitismo, mas as ações do governo de Israel cobrem de vergonha os judeus e, mais que tudo, fazem renascer o antissemitismo, em pleno século 21.

Desde 1945, os judeus, dentro e fora de Israel, beneficiaram-se enormemente da má consciência de um mundo ocidental que se recusou a receber imigrados judeus nos anos 1930, antes de ou cometer genocídio ou não se opor a ele. Quanto dessa má consciência, que virtualmente derrotou o antissemitismo no Ocidente por 60 anos e produziu uma era de outro para a diáspora, sobrevive hoje?

Israel em ação em Gaza não é o povo vítima da história. Não é sequer a “valente pequena Israel” da mitologia de 1948-67, um David derrotando vários Golias que o cercavam.

Israel está perdendo a solidariedade do mundo, tão rapidamente quanto os EUA perderam a solidariedade do mundo no governo de George W. Bush, e por razões semelhantes: cegueira nacionalista e a megalomania do poderio bélico.

O que é bom para Israel e o que é bom para os judeus como povo são coisas evidentemente associadas, mas até que se encontre solução justa para a questão palestina essas duas coisas não são nem podem ser idênticas. E é essencialmente importante que os judeus o declarem, bem claramente.



* A charge foi inserida pela editoria do Blog

** Nota inserida pela tradução do Coletivo Villa Vudu


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Noam Chomsky - Israel nao se defende ao ocupar terras palestinas



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