Israel quer impedir reconhecimento do Estado Palestino na
ONU
19 de Novembro de 2012
Israel acusa o Hamas de ter iniciado as hostilidades que
levaram à nova agressão na Faixa de Gaza. Mas antes que os quatro soldados
israelenses fossem feridos por ataques na fronteira, uma cadeia de eventos
havia sido desencadeada quando diversos civis de Gaza foram mortos. Para o
embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, estes são meros pretextos,
a intenção verdadeira é impedir que a Palestina reivindique seu assento nas
Nações Unidas.
Por Vanessa Silva, da
redação do Vermelho
Efe
Ataques deixaram, até o momento, 95 palestinos mortos
Tudo teria começado em 5 de novembro, quando um rapaz de 20
anos, aparentemente doente mental, Ahmad al-Nabaheen, foi baleado quando
passeava perto da fronteira. Os médicos tiveram que esperar seis horas até serem
autorizados a buscá-lo e ele morreu. Depois, em 08 de novembro, um menino de 13
anos que jogava futebol na frente de sua casa foi morto pela Força de Ocupação
Israelense. Assim, o ferimento de quatro soldados israelenses em 10 de novembro
faz parte de uma cadeia de eventos que começou quando os civis de Gaza foram
mortos.
O secretário geral da
Federação Árabe Palestina no Brasil (Fepal), Emir Mourad, opina que “quando um
ocupante agride e bombardeia civis da forma que está acontecendo, ele não está
se defendendo, mas atacando. (…) Israel ocupa territórios palestinos há mais de
seis décadas e há 5 anos mantém um
bloqueio indiscriminado a Gaza: econômico, social e político. A região é uma
prisão a céu aberto cercada por israelenses por terra, céu e mar. Estão
impedindo os suprimentos necessários e isso tem o nome de agressão para
castigar o povo palestino indiscriminadamente”.
Força desproporcional
A disparidade entre
as forças chama a atenção. A presidenta Dilma Rousseff telefonou, neste domingo
(18), para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pedindo a convocação
extraordinária do Conselho de Segurança da ONU para deter o "uso
desproporcional da força" por parte de Israel.
Sobre isso, Mourad
ressalta: “não podemos aceitar que Israel esteja se defendendo com tantas
ogivas nucleares, um exército que é o quarto maior do mundo. Então eles
estariam se defendendo do que e de quem? Trata-se de um uso de força totalmente
desproporcional e o povo palestino tem o direito de se defender”.
Após seis dias de ataques,
até o fechamento desta edição, o exército israelense havia reconhecido a morte
de 95 civis. Destes, pelo menos um terço não tinha nenhum envolvimento com o
conflito, como reconheceram as Forças Armadas de Israel. No total, são 840
feridos, incluindo 225 crianças palestinas. Do lado de Israel, morreram três
civis e há dezenas de feridos.
A ameaça que paira no
momento é o início de uma ofensiva por terra. Neste domingo (18), o
primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou que o Exército
israelense está pronto para "expandir significativamente" suas
operações em Gaza , elevando os rumores sobre uma possível invasão terrestre
iminente do território palestino.
De acordo com
Alzeben, “espera-se que se chegue a um cessar-fogo o quanto antes para evitar
derramamento de sangue desnecessário” e para impedir “uma incursão terrestre
que poderá causar grandes perdas, vítimas especialmente do lado palestino, que
é o mais fraco e exposto”.
Reconhecimento do
Estado Palestino
Para o diplomata, a ação
israelense tem como objetivo impedir que a Palestina reivindique “seu assento
nas Nações Unidas e seja reconhecida como Estado. E quer intimidar o povo
palestino para acabar com a Autoridade Nacional Palestina, que está promovendo
este processo nas Nações Unidas”.
A visão é
compartilhada por Mourad. “Querem enfraquecer, inviabilizar as lideranças que
estão com essa estratégia de reconhecimento da Palestina nas Nações Unidas, mas
na ONU, o voto será da Assembleia Geral e não do Conselho de Segurança, de modo
que cada país vota por si e não há vetos”.
Assim, a grande
expectativa é que o país seja finalmente reconhecido como integrante da ONU e,
portanto, Estado independente. O evento ocorre no dia 29, dia internacional de
Solidariedade à Palestina e, na mesma data, será realizado o Fórum Social
Mundial Palestina Livre, em Porto Alegre (RS) com a presença de diversas
entidades nacionais e internacionais.
Esse reconhecimento
“será o começo do fim deste conflito porque o mundo irá reconhecer um direito
que foi postergado durante seis décadas e que abre caminhos para uma negociação
mais séria e igual entre as partes envolvidas neste processo”, avalia o
embaixador.
Para Alzeben, o
Brasil pode ajudar este processo “mantendo essa posição firme, clara e
consciente da realidade na região; e utilizando sua influência de país amigo de
ambas as partes para levar a mensagem de paz e este exemplo de convivência
pacífica que é o Brasil”. Em sua opinião, a ONU deve intermediar o processo: “o
mundo não quer mais ver derramamento de sangue, nem invasões e quer o fim deste
conflito”, sentenciou.
Fórum Palestina Livre
“O Fórum Social
Mundial Palestina Livre está sofrendo pressões de todas as partes. Dizem que é
um fórum terrorista. Estão querendo desqualificar todas as ações que buscam
abrir negociações baseadas no direito internacional, nas resoluções da ONU. No
fim das contas, Israel não quer a paz”, manifestou Mourad.
Em comunicado
publicado nesta segunda-feira (19), o Consulado Geral de Israel afirmou que o
FSPL “incentiva a resistência e terrorismo na Palestina e o boicote à Israel.
Enquanto lá a batalha é física, aqui nossa luta deve ser pela legitimidade de
Israel como um Estado judeu”.
A propósito, o
embaixador faz questão de ressaltar e esclarecer que não se trata de um evento
contra os judeus e que, inclusive, “israelenses, judeus, muçulmanos e toda a
sociedade civil podem participar desta iniciativa porque para resolver a
questão palestina, é preciso também uma participação da sociedade civil”,
enfatizou.
E acrescentou que
“aqueles que não querem que isso aconteça são os que estão fazendo eco da
política racista e segregacionista do Estado de Israel e não representam o
sentimento do povo israelense, do povo palestino e dos povos que querem a paz
naquela região. Só estão cumprindo a agenda de alguns fanáticos e não vão mudar
o rumo deste fórum que pretende e busca a paz”.
“Os judeus no mundo
precisam acordar para essa realidade. Nós fazemos um chamamento à comunidade
judaica no Brasil. Conclamamos essa comunidade a lutar verdadeiramente pela
paz, não a paz deste exército ocupante. Não a paz dos muros de segregação, de
colonização dos territórios palestinos. É a paz verdadeira, onde o povo
palestino tenha direito a seu Estado independente. Que Israel reconheça o
direito dos palestinos ao retorno, conforme resolução da ONU. Agora, como fazer
a paz executando palestinos? Crianças, homens e mulheres? Vários povos do mundo
não se alinham com essa política israelense de agressão de limpeza étnica do
povo palestino. Queremos que esta guerra cesse e que se abram negociações
baseadas no direito internacional. Por isso, chamamos todo mundo a participar
do FSPL para levar essa solidariedade do governo e povo brasileiro e dos povos
do mundo todo”, conclui Mourad.