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London
Review of Books, vol. 31, n. 2, sessão “Cartas”
http://www.lrb.co.uk/v31/n02/gaza-writers/responses-to-the-war-in-gaza
Já há três semanas a barbárie está exposta aos olhos da
opinião pública universal, que está vendo, julgando e, com poucas exceções,
rejeitando o terrorismo armado que Israel emprega contra meio milhão de
palestinos cercados, desde 2006, na Faixa de Gaza.
Jamais qualquer explicação oficial para a invasão foi mais
patentemente refutada por uma combinação de imagens de televisão e aritmética;
ou o papaguear dos jornais sobre “alvos militares”, pelas imagens de crianças
ensanguentadas e escolas incendiadas. 13 mortos de um lado, 1.360 do outro: não
é difícil concluir quem são as vítimas. Nem é preciso dizer muito mais sobre a
horrenda operação militar de Israel contra Gaza.
Mas para nós, judeus, é preciso, sim, dizer mais.
Numa história longa e sem segurança, de povo em diáspora,
nossa reação natural a quase todos os eventos públicos inevitavelmente inclui a
pergunta “Isso é bom ou é mau para os judeus?” E, no caso da violência de
Israel contra Gaza, a resposta só pode ser uma: “é mau, para os judeus.”
É muito evidentemente mau para os 5,5 milhões de judeus que
vivem em Israel e nos territórios ocupados de 1967, cuja segurança é gravemente
ameaçada pelas ações militares que o governo de Israel empreende em Gaza e no
Líbano; ações que demonstram a incapacidade dos militares israelenses para
trabalhar a favor do objetivos que eles mesmos declaram, e atos que só servem
para perpetuar e intensificar o isolamento de Israel num Oriente Médio hostil.
O genocídio ou a expulsão em massa de palestinos do que
resta de seu território nativo original é, nada mais nada menos, que adotar uma
agenda prática que só pode levar à destruição do Estado de Israel. Só a
convivência negociada em termos igualitários e justos entre os dois grupos é
garantia de futuro estável.
A cada nova aventura militar de Israel, como a que se viu no
Líbano e vê-se agora [2009; e vê-se, outra vez, hoje, em 2012]** em Gaza,
a solução torna-se mais difícil; e mais se fortalece, em Israel, o jugo da
direita; e, na Cisjordânia, o mando dos colonos que, em primeiro lugar, nunca
quiseram qualquer solução negociada.
Como aconteceu na guerra do Líbano em 2006, Gaza, agora,
torna ainda mais obscuro o futuro de Israel. E o futuro se torna mais negro,
também, para os nove milhões de judeus que vivem na diáspora.
Sejamos bem claros: criticar Israel não implica qualquer
antissemitismo, mas as ações do governo de Israel cobrem de vergonha os judeus
e, mais que tudo, fazem renascer o antissemitismo, em pleno século 21.
Desde 1945, os judeus, dentro e fora de Israel,
beneficiaram-se enormemente da má consciência de um mundo ocidental que se
recusou a receber imigrados judeus nos anos 1930, antes de ou cometer genocídio
ou não se opor a ele. Quanto dessa má consciência, que virtualmente derrotou o
antissemitismo no Ocidente por 60 anos e produziu uma era de outro para a
diáspora, sobrevive hoje?
Israel em ação em Gaza não é o povo vítima da história. Não
é sequer a “valente pequena Israel” da mitologia de 1948-67, um David
derrotando vários Golias que o cercavam.
Israel está perdendo a solidariedade do mundo, tão
rapidamente quanto os EUA perderam a solidariedade do mundo no governo de
George W. Bush, e por razões semelhantes: cegueira nacionalista e a megalomania
do poderio bélico.
O que é bom para Israel e o que é bom para os judeus como
povo são coisas evidentemente associadas, mas até que se encontre solução justa
para a questão palestina essas duas coisas não são nem podem ser idênticas. E é
essencialmente importante que os judeus o declarem, bem claramente.
* A charge foi inserida pela editoria do Blog
** Nota inserida pela tradução do Coletivo Villa Vudu
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