sábado, 6 de agosto de 2011

A Questão Palestina e as Relações Internacionais



Marcelo Buzetto[1]


Resumo

Este artigo tem como objetivo principal estimular uma reflexão crítica sobre a Questão Palestina e as Relações Internacionais, buscando esclarecer uma série de mitos que foram sendo construídos pelos meios de comunicação de massa em torno do conflito entre o Estado de Israel e as forças políticas e sociais que representam a legítima resistência do povo palestino na luta pela criação de um Estado Nacional Laico e Democrático.

Optamos em fazer um resgate histórico sobre a origem e o desenvolvimento do Sionismo, ideologia nacionalista conservadora e racista que serviu de base para seduzir uma parte considerável da comunidade judaica internacional e sensibilizá-la para a necessidade de criação de um “lar nacional para os judeus na Palestina”. Pretendemos mostrar que o conflito em questão não é entre judeus e muçulmanos, até porque muitos membros da comunidade judaica defendem o direito dos palestinos de terem seu próprio Estado. 

Também observamos que a posição intransigente, agressiva e antidemocrática dos sucessivos governos do Estado de Israel tem sido o elemento fundamental que impede a realização de uma verdadeira paz justa entre palestinos e israelenses. O constante desrespeito a inúmeras Resoluções da ONU referentes à Questão Palestina por parte do Estado de Israel retirou do mesmo a credibilidade necessária para a resolução política, pacífica e diplomática deste conflito. 

Terminamos o artigo fazendo um breve relato de uma viagem realizada na Palestina ocupada durante os meses de maio e junho deste ano, momento em que uma frota de barcos com ajuda humanitária para a população de Gaza foi brutalmente atacada por soldados israelenses.

Introdução

A questão palestina sempre tem sido tema importante na análise dos conflitos regionais e das relações internacionais, principalmente quando o assunto é o chamado Oriente Médio. Judaísmo, Cristianismo e Islamismo nasceram e se desenvolveram na Palestina. No Brasil temos hoje entre 15 e 20 mil palestinos. 

Desde o início dos anos oitenta tem crescido em nosso país um movimento de solidariedade com a causa palestina que atravessa as barreiras ideológicas, políticas, partidárias e religiosas. É possível encontrar sindicatos filiados a diversas centrais sindicais (Central Única dos Trabalhadores-CUT, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - CTB, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil – CGTB, Central Sindical-Popular Coordenação Nacional de Lutas – CSP-CONLUTAS, INTERSINDICAL, Força Sindical, entre outras) assinando manifestos e participando da organização de atos e mobilizações de apoio a luta pela criação do Estado Palestino. 

Desde os anos oitenta a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) possui escritório de representação diplomática em Brasília, que hoje já tem status de Embaixada, é a Embaixada da Palestina no Brasil, que foi uma ação concreta de reconhecimento de vários governos brasileiros à legitimidade dessa luta por independência e libertação nacional.

Também entre os diversos partidos políticos brasileiros o apoio aos palestinos é grande, principalmente entre os partidos de centro-esquerda, progressistas e de esquerda. A defesa da criação de um Estado Palestino consta nos programas partidários ou aparece em discursos e manifestos das lideranças.

Se fizermos um levantamento entre parlamentares brasileiros, certamente também encontraremos deputados estaduais e federais, senadores e vereadores em todos os Estados que, de alguma maneira, expressam ou já expressaram sua solidariedade contra as arbitrariedades que são cometidas pelo Estado de Israel nesses 62 anos de ocupação militar estrangeira.

Também percebemos a existência de vários Comitês de Solidariedade à Luta do Povo Palestino, em vários Estados do Brasil. Em São Paulo, nos últimos anos, foi criada a Frente de Defesa do Povo Palestino, com a participação de movimentos populares, partidos, movimento sindical, movimento estudantil, etc.

Os estudantes brasileiros e suas organizações, seja a União Nacional dos Estudantes (UNE) ou a Associação Nacional de Estudantes Livre (ANEL), apesar de divergirem em vários temas da política interna, estão unidos neste tema da política internacional. Entre os movimentos de trabalhadores, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Via Campesina (movimento internacional de trabalhadores rurais e camponeses) tem enviado delegações em missões humanitárias na Palestina. Inúmeros religiosos, judeus, cristãos (das mais diversas denominações) ou muçulmanos também no Brasil se encontram para homenagear este povo e denunciar o constante desrespeito aos direitos humanos praticado pelos sucessivos governos israelenses. 

Nos últimos anos o governo brasileiro abriu uma Embaixada junto a Autoridade Nacional Palestina (ANP), com sede em Ramallah, na Cisjordânia. Todas essas iniciativas demonstram que existe no povo brasileiro e em suas organizações políticas e sociais a disposição de fortalecer a luta pelo estabelecimento do Estado Palestino. 

Escrevemos este pequeno texto para estimular a reflexão crítica sobre a questão palestina, deixando de lado o preconceito contra um povo que busca de maneira legítima a sua libertação. Infelizmente, neste início de século XXI, ainda somos obrigados a nos defrontar com essa situação injustificável, que é a negação dos direitos nacionais a um povo que vive há séculos naquela região. 

Esperamos contribuir com o debate ao mesmo tempo que reforçamos a necessidade de ações concretas de solidariedade, pois ser internacionalista é lutar, como já foi dito, contra toda e qualquer forma de injustiça, cometida contra qualquer cidadão, em qualquer lugar do mundo (Ernesto Che Guevara).

Os meios de comunicação de massa (ou de desinformação em massa) costumam tratar a Questão Palestina como um conflito entre “judeus e muçulmanos” ou entre “árabes e israelenses”. Os árabes-palestinos sempre aparecem nos grandes veículos de comunicação como terroristas, pessoas sanguinárias, fanáticos religiosos que se explodem cometendo atentados em várias partes do Oriente Médio.

Quais são os verdadeiros motivos que fazem com que a Palestina, região onde nasceram as três grandes religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo, islamismo), seja palco de uma guerra onde as vítimas são crianças, idosos e demais membros da população civil que enfrentam todos os dias as agressões de um exército invasor que desrespeita os direitos humanos e as resoluções da ONU desde 1948?

A localização estratégica

A Palestina é um território de 27.000 km2 que se localiza entre o Egito, Líbano, Síria e Jordânia, tendo um vasto litoral com saída para o Mar Mediterrâneo. Pelo sul da Palestina chega-se ao Golfo de Ácaba, que levará qualquer navegante ao Mar Vermelho, Golfo de Áden, Mar da Arábia, golfo de Omã e Oceano Índico.

Do ponto de vista econômico, político e militar, sua localização é estratégica. A Palestina fica no centro do mundo, na divisa entre a África e a Ásia, e bem próxima da Europa. Por isso tal território sempre foi alvo de invasões ao longo de sua história. A região também sempre foi importante rota comercial terrestre e marítima.

As origens do conflito atual: sionismo e imperialismo invadem a Palestina

Durante o final do século XIX a Palestina estava sob o domínio do Império Turco-Otomano. Na Europa e na Rússia cresce o número e a força de grupos que perseguiam os judeus (“pogroms”). Também nesse período surge um movimento nacionalista judaico chamado Sionismo, que adota esse nome em referência a uma colina de Jerusalém (Sion) onde havia sido construído o Templo de Salomão.

Um dos fundadores do movimento sionista foi Theodor Herzl (1869-1904). Herzl nasceu em Budapeste e estudou em Viena, duas cidades importantes do então Império Austro-Húngaro. Vinha de uma família de banqueiros, e elaborou sua concepção nacionalista judaica num livro chamado O Estado Judeu, publicado em 1896.

Em 1897, Herzl e outros adeptos do Sionismo se reúnem no I Congresso Sionista, em Basiléia, na Suíça. A resolução final do Congresso falava da criação de um “lar nacional para os judeus”, algo que já estava presente no livro de Herzl, apontando a Argentina ou a Palestina como os locais mais favoráveis para a realização de tal empreendimento.

A partir daí os sionistas correram o mundo para angariar recursos financeiros e apoio político para sua proposta. Herzl e seus seguidores vão estabelecer contatos com os governos da Inglaterra, da Alemanha, com o Império Turco-Otomano, com banqueiros, industriais e comerciantes judeus e não-judeus, visando fortalecer a idéia da necessidade de um Estado Judeu. A comunidade judaica européia se divide, e nem todos apóiam a idéia sionista, mas esse movimento consegue o apoio da burguesia judaica e de setores importantes da burguesia não-judaica européia.

Em seu livro Herzl já afirmava sua preferência pela Palestina, que chamava de “pátria histórica” dos judeus, e dizia que o Estado Judeu seria, “para a Europa, um pedaço de fortaleza contra a Ásia, seríamos a sentinela avançada da civilização contra a barbárie” (O Estado Judeu, p.66). Tal afirmação comprova o vínculo entre sionismo e imperialismo, pois o objetivo de Herzl era obter o apoio das potências imperialistas que dominavam o mundo, e em especial o Oriente Médio, para que a Palestina fosse entregue à burguesia judaica, para que a mesma transformasse esse território numa fortaleza militar contra o avanço do nacionalismo árabe e de possíveis movimentos antiimperialistas que cresciam no Oriente Médio do período pós-Primeira Guerra Mundial.

Com a derrota do Império Turco-Otomano na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), França e Inglaterra invadem o Oriente Médio e dividem entre si a região, ficando a Palestina sob o domínio britânico de 1918 a 1948. Nesse período o movimento sionista está consolidado, e sua ambição de construir um “lar nacional para os judeus” na Palestina ganha ainda mais apoio, devido ao massacre de judeus pelos nazistas na Europa da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Criam-se, então, as condições favoráveis para a realização da profecia que Herzl e seus seguidores elaboraram em 1897: criar o “Estado Judeu” em cinqüenta anos.

Durante vários séculos os judeus haviam passado por um processo de assimilação, ou seja, haviam se integrado na comunidade nacional de vários países. Trabalhavam, estudavam, participavam da vida política, econômica, social e cultural de onde viviam, e muitos também se envolviam nas lutas por justiça, democracia, igualdade e em defesa dos trabalhadores contra a exploração do capital e do capitalismo.

O movimento Sionista divide a comunidade judaica e vai iniciar uma propaganda em defesa de um nacionalismo burguês conservador e com um conteúdo racista e anti-democrático. Basta ver a proposta de organização política do Estado Judeu defendida por Herzl. Diz ele: “Considero a monarquia democrática e a república aristocrática como as mais belas instituições políticas (...) Sou amigo convencido das instituições monárquicas porque elas tornam possível uma política permanente e representam o interesse ligado a conservação do Estado de uma família historicamente ilustre, nascida e educada para reinar (HERZL, 1998, p.111 e 112)”. 

Sua posição elitista e anti-democrática considera “o referendum como absurdo, pois, em política, não há questões simples que possamos resolver por um sim ou por um não. Aliás, as massas são ainda piores do que os parlamentos (grifo nosso) (...) Diante de um povo reunido, não podemos fazer nem política exterior nem política interior (...) A política deve ser feita do alto” (Idem, p.112).

Essa ideologia conservadora serviu de base para a instauração do Estado de Israel. Compreender o conteúdo racista e conservador do sionismo é fundamental para que possamos explicar a posição atual do governo de Israel em relação ao povo palestino.

Três idéias foram fundamentais para convencer milhares de judeus a emigrar para a Palestina:
1) que a Palestina era uma “terra sem povo” e os judeus eram um “povo sem terra”; 2) que a Palestina é a “pátria histórica” dos judeus; 3) que os judeus são o “povo eleito” por Deus.

Essas idéias fizeram com que banqueiros e grandes empresários judeus contribuíssem para a criação da Companhia Judaica, empresa de colonização com o objetivo de comprar terras para instalar colônias judaicas na Palestina. Durante os anos 20 e 30 do século XX o crescimento dessas colônias deu início a uma série de conflitos entre judeus sionistas e árabes-palestinos. Nos anos 40 o movimento sionista começa a organizar grupos terroristas como o Irgun, Stern e Haganah, que fazem ações armadas e atentados contra a população árabe-palestina, com a intenção de intimidá-los através da violência, fazer com que abandonem seus lares, suas propriedades e suas aldeias.

O Sionismo se organiza de quatro maneiras: 1) politicamente: através de várias organizações nacionais e internacionais que visam buscar apoio político de governos para seu projeto colonialista; 2) economicamente: buscando recursos financeiros de empresários e banqueiros judeus e não-judeus para a instalação de colônias na Palestina; 3) militarmente: organizando grupos terroristas/paramilitares para espalhar o pânico entre a população árabe-palestina, grupos que, depois de 1948, se transformam nas Forças Armadas de Israel; 4) culturalmente: através da difusão, pela indústria cultural, de idéias que buscam justificar a dominação territorial da Palestina e o direito “histórico e sagrado dos judeus” de ocupar aquela região[2].

Em 1947, como resultado de uma articulação política internacional dirigida por representantes das potências imperialistas (EUA, Inglaterra e França) e do sionismo internacional, e com o apoio da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e das recém criadas “repúblicas socialistas” do Leste Europeu, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprova a Partilha da Palestina, que deveria criar naquela região dois Estados, um Judeu e um Palestino. 

O Estado Judeu ficaria com 56,4% do território, o Estado Palestino ficaria com 42,9%, e 0,7%, correspondente à cidade de Jerusalém, seria administrado pela ONU, por ser local sagrado para cristãos, judeus e muçulmanos. Além de receber a maior parte do território palestino, o Estado Judeu ficou com as terras mais férteis. No ano da partilha (1947), a população árabe-palestina era maioria absoluta em 15 dos 16 subdistritos existentes. 

Somente em Jaffá a maioria da população era formada por judeus. Eram 1.310.000 de árabes-palestinos-muçulmanos e 630.000 judeus. Quem coordenou a votação na Assembléia Geral da ONU foi o diplomata brasileiro Oswaldo Aranha, ex-Ministro das Relações Exteriores. 

Orientado pelo governo brasileiro para acompanhar o voto dos EUA, Aranha adiou por dois dias a votação, para que o lobby sionista e estadunidense pudessem convencer outros países sobre a necessidade da criação do Estado Judeu. No dia 29 de novembro de 1947 a votação foi a seguinte:

Favoráveis: África do Sul, Austrália, Bélgica, Bolívia, Brasil, Bielo-Rússia, Canadá, Costa Rica, Checoslováquia, Dinamarca, Equador, Estados Unidos, Filipinas, França, Guatemala, Haiti, Holanda, Islândia, Libéria, Luxemburgo, Nicarágua, Noruega, Nova Zelândia, Panamá, Paraguai, Peru, Polônia, República Dominicana, Suécia, Ucrânia, União Soviética, Uruguai e Venezuela.

Contra: Afeganistão, Arábia Saudita, Cuba, Egito, Grécia, Iêmen, Índia, Irã, Iraque, Líbano, Paquistão, Síria e Turquia.

Abstenções: Argentina, Chile, China, Colômbia, El Salvador, Etiópia, Honduras, Iugoslávia, México, Reino Unido. (GATTAZ, 2002, p. 94 e 95).

Em 14 de maio de 1948 os britânicos deixam a Palestina e é fundado o Estado de Israel. Desde os primeiros dias de sua existência, o governo sionista impediu a criação do Estado Palestino, desrespeitando com isso a resolução 181 da ONU, que previa a constituição de dois Estados. 

Tem início a Guerra da Palestina, onde de um lado está o Exército Sionista-Colonialista de Israel e, de outro, a população palestina, que desde esta época luta pela sua libertação, pela criação de um Estado Laico e Democrático, onde possam viver em paz judeus, cristãos e muçulmanos, onde seja garantido aos indivíduos o direito de decidir e manifestar livremente suas posições políticas e/ou religiosas.

Portanto, desde 1948 o povo palestino vive uma tragédia: foram expulsos de suas terras e de suas casas, e tiveram suas propriedades roubadas ou destruídas pelo chamado Exército de Defesa de Israel. Vilas e cidades palestinas vêm sendo constantemente destruídas durante os 62 anos da Nakba (“A tragédia”). Milhares de pessoas seguiram o caminho do exílio e os refugiados palestinos já chegam a 5 milhões. E, ainda assim, milhares seguem resistindo dentro dos territórios ocupados por Israel.

Em 1967, o expansionismo israelense se intensifica. Novas colônias e assentamentos judeus-sionistas são criados em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém, agora tomada militarmente pelo exército colonialista, em mais um desrespeito às resoluções da ONU sobre a questão palestina. Além disso, Israel ocupa militarmente as colinas de Golan, que são da Síria, e a Península do Sinai, do Egito. A única resolução da ONU que Israel respeitou até o momento foi a da sua própria criação.

Israel segue hoje como o único país do Oriente Médio com armas nucleares, ou seja, armas de destruição em massa. Fala-se de 200 ogivas. Mordehai Vanunu, físico nuclear israelense, que denunciou o programa nuclear de Israel, comprovando sua finalidade bélica, ficou 18 anos na prisão, sendo 16 na solitária, depois foi para a prisão domiciliar, com proibição de se comunicar com qualquer estrangeiro por quaisquer meios. Em 2010 voltou para a cadeia, acusado de tentar fazer contato com membros do Movimento pelo Fim das Armas Nucleares no Oriente Médio.

A ofensiva de 1964 a 1988 e o legítimo direito do povo palestino à resistência diante do colonialismo israelense

A resistência palestina já desenvolveu as mais diversas formas de luta. Mas foi nos anos sessenta do século XX que o movimento de libertação nacional palestino adquiriu importância internacional, conquistando espaços junto a organismos internacionais, governos e representações diplomáticas de vários países, sendo apoiado pelo bloco de países socialistas do Leste Europeu (Alemanha Oriental, Polônia, Hungria, Bulgária, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Romênia), pela Albânia, pela China, pelo Vietnã, pela Coréia do Norte, pela URSS, pelo Movimento dos Países Não-Alinhados[3] e pela Liga Árabe[4]

Todo esse apoio internacional à causa palestina produziu inúmeras resoluções da ONU e condenações ao Estado de Israel, e gerou uma conjuntura favorável para que a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) fosse convidada a falar na Assembléia Geral da ONU em 1974, quando Yasser Arafat fez um discurso histórico para um plenário majoritariamente a favor do cumprimento das várias Resoluções sobre a Questão Palestina. 

Arafat afirmava que o mundo necessita de esforços tremendos para que se realize as suas aspirações de paz, liberdade, justiça, igualdade e desenvolvimento para que a sua luta seja vitoriosa contra o colonialismo, imperialismo, neocolonialismo e racismo em todas as suas formas, inclusive o sionismo(...) 

"Nossa revolução é também para os judeus, como seres humanos. Lutamos para que judeus, cristãos e muçulmanos possam viver em igualdade, gozando os mesmos direitos e assumindo as mesmas responsabilidades, livres da discriminação racial e religiosa (...)  
Sou um rebelde e a liberdade é a minha causa. Bem sei que muitos dos presentes aqui hoje se ergueram na mesma posição de resistência que ocupo hoje e de onde devo lutar. Um dia vocês tiveram que converter sonhos em realidade em sua luta. Portanto, agora vocês devem compartilhar o meu sonho, o nosso sonho de um futuro de paz na terra sagrada da Palestina (...)  
Apelo a todos vocês que permitam que o nosso povo estabeleça soberania nacional independente sobre a sua própria terra. Hoje eu venho portando um galho de oliveira e uma arma dos lutadores pela liberdade. Não permitam que o galho de oliveira caia de minha mão (...) (ARAFAT, 2007, p. 87, 105 e 107.)
                Em novembro de 1974 a Resolução da ONU 3237 convida a OLP para participar, na condição de observadora, dos trabalhos e sessões da Assembléia Geral, se transformando numa imensa vitória diplomática daquela que seria reconhecida como a única e legítima representante do povo palestino.

Entre 1964 e 1988, a OLP conduziu o processo de mobilização anti-colonialista e desencadeou uma incrível luta de libertação nacional que deu esperanças para as massas populares de todo o mundo árabe. 

Criada pela Liga Árabe, a OLP vai adquirindo autonomia/independência deste organismo, até conquistar plenamente o direito de decidir sobre muitas questões relacionadas à luta palestina sem consultar e/ou concordar com as posições dos governos de países árabes. 

Essa maior autonomia ampliou o apoio e garantiu mais legitimidade da OLP entre a classe trabalhadora e as massas populares palestinas e árabes. Enquanto uma frente de cerca de 10 partidos políticos (nacionalistas laicos/nasseristas[5] e comunistas/socialistas), a OLP seguia como a única e legítima representante do povo palestino. 

Sem dúvida é a organização política mais antiga e mais importante na história do movimento de libertação nacional palestino. Dentro desta frente estão os partidos da esquerda palestina, como a Frente Democrática pela Libertação da Palestina (FDLP), a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP) e o Partido do Povo Palestino (PPP). Mas o partido político que sempre ocupou o espaço de força política hegemônica no interior da OLP foi o AL-FATAH (ou simplesmente FATAH), ou Movimento de Libertação Nacional, agrupamento nacionalista laico sob a liderança de Yasser Arafat. 

Já o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), que governa e que tem mais força política na atualidade em Gaza, nunca fez parte da OLP. Criado em 1987 com apoio da burguesia árabe-islâmica, de governos do Oriente Médio e de organizações como a Irmandade Muçulmana, o Hamas representa uma das principais forças do nacionalismo islâmico, corrente política em franca ascensão nos diversos países árabes. Além do apoio de setores importantes da burguesia árabe-islâmica e governos como o do Irã, esse partido político possui hoje uma base social muito forte entre trabalhadores empregados, subempregados e desempregados dos territórios palestinos de Gaza e Cisjordânia. Nos anos noventa do século XX surgem outros atores no interior do movimento de libertação nacional palestino, como a Jihad Islâmica, partido político que também está fora da OLP.

Além de partidos políticos e organizações político-militares, os palestinos tem organizações de juventude, camponeses, trabalhadores, operários, mulheres[6], entre outros. 

Nos últimos vinte e dois anos o movimento da resistência palestina tem priorizado a luta de massas, a mobilização social enquanto principal forma de luta contra as arbitrariedades e a violência praticada pelo governo do Estado de Israel. 

Toda sexta-feira, em várias cidades da palestina ocupada, o povo palestino sai em marcha das mesquitas ou praças até o muro que foi construído para separar os palestinos, muro que foi construído ilegalmente por Israel. 

Esse muro tem hoje cerca de 500 quilômetros de extensão e dez metros de altura. Nessas marchas há sempre confronto com o Exército e a polícia israelenses, pois a manifestação pacífica é sempre reprimida e resulta em grande número de palestinos feridos ou mortos, como nos episódios na cidade de Ni´lin, uma comunidade no interior da Cisjordânia conhecida pela sua disposição de luta e pela organização de atos semanais em repúdio ao que chamam de “o Apartheid de Israel”[7]

No entorno de Ni´lin foram construídos assentamentos judeus em terras palestinas, e parte do território que era utilizado pelos camponeses palestinos para cultivar oliveiras foi ocupado pelos colonos sionistas com apoio da polícia e do exército israelenses. 

Esses colonos recebem treinamento militar e autorização para usar armas de fogo e organizar suas próprias milícias que, com pistolas automáticas e fuzis, ameaçam constantemente a população de Ni´lin e de outras cidades e vilas vizinhas aos assentamentos. 

É comum encontrar nas cidades e regiões sob o controle do Estado de Israel jovens, homens e mulheres, com roupas civis, às vezes vestidos até com bermudas, camiseta e sandália, e com um fuzil pendurado no ombro e uma mochila com munição. Nas ruas, nos ônibus, nas escolas, etc.

A Questão Palestina e o fim da URSS e do Bloco Socialista: início de um período de defensiva

De 1988 a 1994, novos personagens surgem e o fim da URSS e do Bloco Socialista desencadeia uma crise também no interior da esquerda palestina. A AL-FATAH empurra a resistência palestina para a mesa de negociação, mas em condições bastante desfavoráveis para o povo palestino. 

A existência de um bloco de países “socialistas” foi fundamental para fortalecer a posição dos palestinos no cenário internacional, pois essa aliança entre URSS e Bloco Socialista com o Movimento dos Países Não-Alinhados e a Liga Árabe era a garantia de vitória em muitos embates no interior da ONU, fato que contribuiu para que a legitimidade desta luta de libertação nacional fosse acumulando cada vez mais força, resultando em sucessivas condenações do Estado de Israel. 

Infelizmente, as centenas de decisões contrárias à política expansionista/colonialista de Israel não se transformaram em ações concretas e contundentes da ONU, o que só fortaleceu a idéia de ineficiência e desinteresse dos que controlam essa instituição quando o assunto é fazer com que um grande aliado das potências imperialistas cumpra as resoluções aprovadas pela Assembléia Geral ou pela Comissão de Direitos Humanos. 

O empenho de países como EUA, França, Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha (só para falar de alguns) para que se cumpram Resoluções da ONU muda de acordo com o réu. Se for Israel, total cumplicidade, morosidade e inaplicabilidade da lei, mas sé é o Iraque de Saddam Hussein após distanciamento deste governante dos EUA, então, faça-o cumprir rigorosamente as determinações da ONU, nem que para isso seja preciso matar 100 mil civis iraquianos, como ocorreu em 1991 no ataque militar contra Bagdá.

O fim da URSS e do chamado “Bloco Socialista” tem um profundo impacto nas relações internacionais e no movimento nacional de resistência palestina. A força da esquerda no interior da OLP advinha também das relações e do apoio que esse setor tinha com o “mundo socialista”, e da intervenção conjunta desses países nos diversos organismos da ONU. Além disso, os palestinos tinham, até 1991, dois grandes aliados de sua causa no Conselho de Segurança da ONU: URSS e China. As condições eram muito mais favoráveis para aqueles que defendiam a imediata construção do Estado Palestino.

Com o argumento de que precisa adquirir maior credibilidade e dar mais uma demonstração de que está disposta a fazer concessões em seu programa original se isso, de fato, for contribuir para o avanço do processo de paz, a OLP altera seu estatuto em 1988, e reconhece o direito do Estado de Israel existir, ao lado de um Estado Palestino, conforme a Resolução 181, de 1947. Ou seja, a OLP reconhece pela primeira vez a legitimidade do Plano de Partilha da Palestina, antes apresentado pela organização como sendo um instrumento da aliança do sionismo com o imperialismo para ampliar sua influência e exercer a dominação territorial de uma parte estratégica do Oriente Médio. 

Esta posição da OLP encontrou resistência entre os próprios palestinos, mas as forças que se opuseram a tal mudança de posição se encontravam em situação de minoria, e não conseguiram impedir a vitória dessa proposta, que parte de Yasser Arafat e da direção majoritária de seu partido, a AL-FATAH. Mesmo dentro desse partido surgem posições contrárias as de Arafat, o que prova que precisamos observar, no estudo do caso palestino, as contradições e conflitos não só entre o Estado de Israel e as organizações árabes-palestinas, mas também entre as próprias organizações da resistência palestina.

Os “acordos de paz” firmados com Israel em 1994 alimentam ilusões e ignoram a natureza expansionista/imperialista deste Estado, que negocia e, ao mesmo tempo, faz crescer o número de colônias judias nos territórios palestinos ocupados em 1948 e 1967. 

Além disso, Israel aplica até hoje uma política de assassinatos seletivos de lideranças políticas palestinas, e de perseguição e prisão em massa. Um resultado dessa política de repressão intensa e permanente são os 8 mil presos políticos palestinos, alguns vivendo nos cárceres israelenses há pelo menos 20 anos. Desses 8 mil, mais de 700 estão condenados a prisão perpétua. 

Entre 1993 e 2005, apesar de inúmeras reuniões, conferências e acordos firmados entre a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e o governo do Estado de Israel, e apesar das expectativas de uma paz duradoura apresentadas pelo presidente palestino eleito em 1996 com 87% dos votos, Yasser Arafat, o que se viu foi uma continuada violação dos direitos humanos e dos direitos fundamentais do povo palestino, assim como a negação do direito nacional à independência e à soberania, deixando ainda mais distante o sonho do Estado Palestino Laico e Democrático. 

Os dois signatários dos acordos de Oslo de 1993 morreram. Yitzhak Rabin, pelo lado israelense, assassinado por fundamentalistas judeus-sionistas em 1995 e Yasser Arafat, pelo lado palestino, morre em 2004 resultante de problemas de saúde (mas surgem denúncias que afirmam ter sido conseqüência de envenenamento gradativo). 

Esses acordos livraram os palestinos do controle militar israelense em algumas cidades e vilarejos de Gaza e Cisjordânia, criando para a população uma situação melhor do que a anterior, com melhores condições para se desenvolver o comércio, a indústria, a agricultura, educação, a saúde, a cultura e o esporte, enfim, para que seja possível construir/reconstruir uma vida cotidiana com um mínimo de dignidade, mas essa nova situação não resolve plenamente grande parte dos problemas econômicos, sociais e políticos da ampla maioria do povo palestino. 

Os resultados pífios dos acordos e o não cumprimento da quase totalidade dos termos dos mesmos por Israel levam a uma nova situação de impasse que coloca em xeque as posições da direção da OLP e da agora chamada Autoridade Palestina (AP). O não cumprimento de diversas cláusulas dos acordos, entre elas a suspensão da construção de novos assentamentos judeus e da demolição de casas palestinas ajudam a diminuir a credibilidade que parcela do povo palestino depositava na AL-FATAH, ainda mais com as constantes denúncias – que muitas vezes são comprovadas – de corrupção de líderes e membros desta organização.

É nessa conjuntura complexa que ganha projeção como uma alternativa política o partido Hamas. A crise política, ideológica e organizativa dificulta a ascensão da esquerda palestina (FPLP, FDLP,PPP e outros) como força majoritária no movimento de libertação nacional. As denúncias de corrupção e de enriquecimento de muitos dos dirigentes demonstram um processo de degeneração em setores importantes da AL-FATAH. As eleições de 2006 contribuem para acirrar as disputas internas no movimento da resistência palestina, com Hamas vitorioso em Gaza e AL-FATAH na Cisjordânia. A esquerda palestina tem procurado convocar todas as forças progressistas, populares, democráticas e socialistas a se unir num grande movimento nacional de resistência para desencadear novamente uma ofensiva contra as medidas do governo de Israel que visam a acelerar o processo de expropriação de terras do povo palestino, mas parece que todo esse esforço ainda tem sido insuficiente para alterar a correlação de forças dentro e fora da OLP. 

Quando do ataque militar israelense a Gaza, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, essa idéia de unidade nacional das forças da resistência palestina adquiriu grande importância, mas até agora parece que existem muitos fatores que ainda impedem que tal proposta volte a ser transformada em realidade. 

A impressão é que uma unidade política e programática mínima, em torno de alguns pontos de consenso amplamente discutidos com o povo palestino, seria fundamental para tentar se desencadear uma nova ofensiva política, popular e de massas contra o Estado de Israel. 

A ação unitária de forças como a AL-FATAH, FPLP, FDLP, PPP, Hamas, Jihad Islâmica e demais organizações e partidos políticos palestinos poderia fazer ressurgir nas amplas massas populares do mundo árabe – e no interior de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém – a esperança e a disposição necessárias para uma nova retomada da ofensiva deste que é, sem dúvida, um dos mais importantes movimentos de libertação nacional deste início de século 21. 

O que temos certeza para afirmar é que, por mais justo, combativo, corajoso e coerente que seja um partido ou uma organização da resistência palestina, de maneira isolada não terá capacidade para impor nenhuma derrota contra o sionismo israelense. 

Talvez essa unidade entre as três correntes políticas da resistência nacional palestina (nacionalismo laico, nacionalismo islâmico e socialistas/comunistas) possa construir uma frente anti-sionista/antiimperialista que obrigue o Estado de Israel a sentar na mesa de negociação numa outra correlação de forças, fazendo surgir daí as condições mais favoráveis para se apresentar propostas mais ousadas que as atuais, que privilegiam o debate de dois Estados, menosprezando a experiência histórica dos últimos 62 anos que indica que o sionismo não irá recuar um único milímetro em suas conquistas militares de 1948 e 1967. 

É possível perceber que sobre este tema existem pelo menos três posições:

Os que defendem a criação imediata de um Estado Palestino Laico e Democrático na chamada Palestina Histórica (em todo o território considerado Palestina antes do Plano de Partilha de 1947): nossa impressão é que tal opinião desconsidera a atual correlação de forças no interior do movimento nacional palestino e entre os palestinos e o Estado de Israel, fazendo de tal proposta mais um instrumento de agitação e propaganda do que uma possibilidade real no momento. É a defesa da estratégia, do objetivo principal a ser atingido sem a mediação das táticas, dos meios e caminhos que levarão até esse objetivo final. E os palestinos sabem que agitação e propaganda são insuficientes para fazer com que triunfem posições que possam levar a profundas transformações econômicas, sociais e políticas naquela região. Organizações nacionalistas islâmicas também defendem tal proposta, com a ressalva de que não se utilizam da expressão Estado Laico, mas simplesmente Estado Palestino.

Os que defendem a posição de dois estados existindo um ao lado do outro, ou seja, o cumprimento do Plano de Partilha da Palestina elaborado pela ONU em 1947. Essa opinião defende que o Estado de Israel já se consolidou, e agora, portanto, é necessário construir o Estado Palestino. Tal posição abandona o programa original da OLP e os princípios que orientaram a resistência palestina de 1947 a 1994. Entre 1993 e 2005 esta tem sido a proposta da AL-FATAH e outras organizações palestinas. É o abandono da estratégia, é a transformação do meio em fim;

Os que defendem que é preciso acumular forças no atual período da luta nacional palestina. Que é necessário se organizar melhor para defender e fazer avançar as conquistas já obtidas como resultado das lutas e mobilizações sociais e populares, tentando fortalecer tudo aquilo que tem de positivo nos acordos firmados até agora, criticar e denunciar aquilo que não é de interesse do povo palestino e, ao mesmo tempo, tentar consolidar o controle palestino sobre todo o território de Gaza e da Cisjordânia. Nesse sentido seria importante intensificar as lutas: pela libertação dos presos políticos, pelo direito ao retorno dos refugiados, pela destruição do “Muro da Vergonha”, pelo cumprimento das Resoluções da ONU sobre a Questão Palestina, em especial sobre o estatuto de Jerusalém, pelo direito dos palestinos de resistir à ocupação militar israelense por todos os meios de que dispõem, para barrar as construções de novos assentamentos judeus-sionistas, para impedir as demolições de casas de palestinos, etc. Essa posição política procura fazer destas e outras lutas parte de um processo de acúmulo de forças que vai construindo no cotidiano as condições mais favoráveis para colocar o movimento nacional palestino na direção do rumo estratégico indicado: um Estado Palestino Laico e Democrático em toda a Palestina Histórica.

Muitos líderes históricos do Estado de Israel já manifestaram no passado o objetivo do movimento sionista em conquistar todo o território da Palestina. Alguns pronunciamentos confirmam esta finalidade:

“Jerusalém é o berço do judaísmo e a legítima capital de Israel (...) A partir de hoje, Tel Aviv deixa de ser nossa capital. Jerusalém será sede de nossa nação” – Ben Gurion (foi Primeiro Ministro e Ministro da Defesa de Israel), criticando a Resolução da ONU de 07 de dezembro de 1949, que reafirmava que Jerusalém deveria estar sob o controle desta organização internacional, como previa o Plano de Partilha de 1947 (NIMITZ, 1974, p. 110).
“Eu sou a favor da partilha do país porque quando nós nos tornarmos uma grande potência, depois do estabelecimento do Estado, iremos abolir a partilha e nos espalhar pela Palestina” – Ben Gurion (Gattaz, 2002, p. 104). 
“O Estado judeu que agora é oferecido para nós não é o objetivo sionista. Dentro desta área não é possível resolver a questão judaica. Mas pode servir como uma etapa decisiva em direção à implementação do sionismo. Irá consolidar na Palestina, no menor tempo possível, a real força judaica que irá nos levar a nosso objetivo histórico” – Ben Gurion (Idem, 2002, p.104). 
“Tal como existe atualmente, Israel é apenas uma parte do ‘Grande Israel’ (Eretz Israel), e a missão sionista permanece incompleta até que Israel recomponha suas ‘fronteiras históricas’ (...) O mapa de Israel precisa ser modificado. Cabe a vocês lutarem sem trégua a fim de estabelecer, por invasão ou diplomacia, o Império de Israel” – Ben Gurion, em discurso para estudantes da Universidade Hebraica (ALENCASTRE, 1968, p. 149 e 150). 
“Entre o Mediterrâneo e as fronteiras do Iraque, no que foi outrora a Palestina, existem agora dois países, um judeu e um árabe, e não há espaço para um terceiro. Os palestinos devem encontrar a solução para seu problema junto com aquele país árabe, Jordânia, porque um Estado Palestino entre nós e a Jordânia só pode se tornar uma base da qual será ainda mais conveniente atacar e destruir Israel” – Golda Meir (foi embaixadora de Israel na URSS, Ministra do Trabalho, Ministra das Relações Exteriores e Primeira-Ministra de Israel), demonstrando sua completa oposição à criação de qualquer “Estado Palestino”, inclusive o sugerido pela ONU (MEIR, 1982, p. 299).

                “Nosso povo está incumbido de preparar a guerra, e o exército israelense de dirigir o combate    
                  com o fim de construir o império israelense” – Mosche Dayan (foi Ministro da Defesa e Ministro  
                  as Relações Exteriores de Israel) (ALENCASTRE, 1968, p. 149).

Tais declarações de figuras bastante influentes do movimento sionista demonstram as intenções        dos sucessivos governos do Estado de Israel. Orientados por idéias colonialistas e racistas, que acreditam num suposto “povo eleito” para governar toda a Palestina histórica, não fazem concessões quando o tema diz respeito ao direito do retorno dos refugiados palestinos expulsos em 1948 e 1967, ou quando se exige o fim de novos assentamentos judeus em território palestino, ou ainda a desocupação e desmonte de assentamentos que estão em situação irregular e ilegal de acordo com a Resolução 181 da ONU (Plano de Partilha de 1947).
               
Impressões de uma viagem à Palestina

Entre maio e junho deste ano (2010) estive conhecendo várias cidades na Palestina. Junto com Dafne Melo, jornalista do periódico Brasil de Fato, fomos para Tel-aviv, Jerusalém e Haifa, cidades atualmente sob o controle do Estado de Israel, e Ramallah, El-Bireh, Belém, Ni´lin, Bil´in, Beat-Sahour, Hebron e vários vilarejos na Galiléia (Sakhnin, Al Abbasiyah e outras), todas cidades e vilarejos concentrados na Cisjordânia, considerada na atualidade como território palestino com certa autonomia em relação ao Estado de Israel. 

Nossa viagem foi resultado de um processo de diálogo e cooperação com organizações sociais e políticas que defendem o direito do povo palestino de construir seu Estado. 

Fomos convidados para participar da 2ª. Conferência de Haifa (organizada por movimentos da esquerda árabe-israelense e palestina, por intelectuais progressistas e professores e estudantes da Universidade de Haifa e outras instituições acadêmicas). 

As principais resoluções desta conferência foram: 1.Criar uma comissão para dar seqüência aos debates e encaminhamentos aprovados; 2.    Elaborar um documento final da Conferência; 3.Organizar a IIIa. Conferência de Haifa em 2011, na Turquia, para facilitar a participação dos refugiados palestinos; 4.Organizar encontros de solidariedade com o povo palestino em todos os países das delegações presentes, com sugestão de data para a semana do dia 29 de novembro, dia internacional de solidariedade ao povo palestino; 5.Fortalecer a luta pelo boicote aos produtos israelenses; 6.Fortalecer a luta contra a manutenção do bloqueio à Gaza; 7.Fortalecer a luta pela libertação dos presos políticos palestinos; 8.Defender a constituição de um Estado Palestino Secular e Democrático na Palestina Histórica. 

Durante o encontro, aproveitamos para conhecer melhor o trabalho de organizações como a União dos Comitês de Trabalhadores Agrícolas, a União dos Comitês de Mulheres Palestinas, o Comitê de Acompanhamento e Apoio aos Presos Políticos, a União dos Comitês de Saúde Palestinos, o Comitê Popular da Comunidade de Silwan (Jerusalém Oriental), o movimento de esquerda árabe-israelense-palestino Abnaa Al Balad Movement (Movimento Filhos da Terra), etc.

Os Palestinos em Jerusalém Oriental: o caso das demolições de casas em Al Bustan-Silwan

Em Jerusalém Oriental conhecemos a comunidade de Al Bustan-Silwan. Neste bairro, onde vivem 50 mil pessoas, a prefeitura iniciou um movimento de demolições de casas com o argumento de que por ali andava, no passado, o Rei Davi e, por isso, o governo e a prefeitura estão emitindo ordens de despejo e demolição de casas para a construção do Parque Rei Davi. 

Cerca de mais de 20 casas já foram demolidas, mas no projeto que tem serão pelo menos 88 moradias, de famílias que vivem lá desde antes de 1948.  Vimos uma casa que foi construída em 1850. Serão prejudicadas por esse projeto cerca de 1500 pessoas. Visitamos a sede do Comitê Popular de Silwan, instrumento de organização da resistência popular, com militantes de diferentes organizações e experiências de luta.

É uma ferramenta que está sendo construída em várias cidades e comunidades palestinas: os Comitês Populares. Na sede do comitê as faixas dizem: “Não vamos a lugar nenhum, continuaremos em Al-Bustan!”, “Não à judaicização, não à indenização!”, “Por nossa vida, lutaremos por nossa terra, símbolo de nossa dignidade e nosso orgulho!”. 

Segundo a prefeitura, todo o bairro é ilegal, apesar dos moradores apresentarem testemunhos e documentos comprovando que suas famílias vivem ali desde antes de 1948. A prefeitura tem um plano, Plano 20-20, para “limpar” Jerusalém dos palestinos-árabes-muçulmanos. É o que na atualidade as organizações de direitos humanos chamam de política deliberada de “judaicização de Jerusalém”.

O Comitê Popular não é contra judeus, nem contra parques, dizem as lideranças. Só querem viver em paz com suas famílias. Falaram das conseqüências sociais, humanas, econômicas e psicológicas que as demolições trazem para as pessoas. 

A maioria das pessoas só tem como patrimônio suas casas. Procuram melhorar suas condições de moradia, reformam e ampliam suas casas e, depois, vem o oficial de justiça, o funcionário da prefeitura, com apoio da polícia e do exército, e expulsam as famílias, dão o prazo de 48 horas para a família sair da casa. 

As crianças crescem nesse ambiente de destruição, de repressão, de conflito, e crescem se perguntando “por que os judeus querem nos expulsar? Expulsaram meus avós, e agora querem expulsar meus pais?”. 

No dia que estávamos lá as crianças e jovens tinham acabado de entrar em confronto com a polícia, e o bairro estava cercado por barricadas da resistência popular de Silwan. Foi impressionante ver a participação ativa e organizada das crianças e jovens, com o apoio dos pais e familiares, que incentivam a participação política deles nas lutas sociais por terra e pela independência. Percebemos que na Palestina é um orgulho para uma mãe ou para um pai ver seu filho participando e se destacando nas lutas populares contra a ocupação militar sionista.

Conversamos com moradores desse bairro que relataram que não podem sair de Jerusalém Oriental, que estão presos nessa região, pois não tem autorização para ir até o outro lado da cidade, não podem ir rezar na Mesquita de Al-Aqsa, por exemplo, um dos templos mais sagrado do islamismo. 

Eles podem até ver o lado Ocidental de Jerusalém, e até olhar à distância para a Esplanada das Mesquitas, mas não podem entrar lá. Vivem a poucos minutos da cidade velha, mas não podem circular por lá. A prefeitura vive reafirmando que o bairro é ilegal, mas cobra impostos dos moradores pelo tamanho da casa. 

Essa insegurança e incerteza permanentes, sobre a possibilidade de sua casa ser destruída, tem um grave efeito psicológico, pois ninguém pode viajar, ninguém quer se ausentar por dois dias ou mais, com medo de que, quando retorne, sua casa está demolida. 

Um morador nos relatou um caso concreto: um aluno muito estudioso começou a diminuir seu rendimento escolar, começou a ficar desanimado, perdeu o interesse pelo estudo. Um dia o pai foi chamado à escola, e a professora disse que encontrou na bolsa do aluno vários brinquedos e jogos, que ele levava todos os dias para escola. 

O pai chegou em casa e foi conversar com seu filho, perguntou o por que estava levando jogos/brinquedos para a escola? A criança respondeu que ouviu os pais falando que receberam uma intimação e que poderiam destruir sua casa a qualquer momento, e o menino entrou em pânico, ficou preocupado/angustiado, com medo, e disse que levava os brinquedos para que não fossem destruídos pelos tratores. 

Outra situação que se repete no bairro é o seqüestro de crianças pela polícia. Como este bairro se tornou um exemplo de luta e resistência, a polícia iniciou um processo de prisão/seqüestro de crianças e jovens, que gerou pânico e indignação entre as famílias. 

Os carros de polícia andam pelo bairro, pegam um jovem, levam para a delegacia, fazem um interrogatório, intimidam, querem nomes de lideranças, de organizações, pressionam, fazem uma tortura psicológica num primeiro momento, aí este jovem já fica conhecido, se for pego mais uma vez, pode ser indiciado, ser processado, ficar na cadeia. 

Muitos jovens desta comunidade são presos políticos. Alguns não ficam na cadeia, mas são monitorados e ficam em prisão domiciliar. Ouvimos também depoimentos de familiares de uma criança de 10 anos, um menino, que já havia sido preso pela polícia 3 vezes.

Nas terras palestinas da Galiléia: ocupação militar, demolição de casas e construção de novos assentamentos judeus

No dia 30/05 fizemos uma viagem por várias comunidades na Galiléia, por terras onde as famílias palestinas foram expulsas entre 1948 e 1967. Fomos até a cidade de Sakhnin, onde conhecemos uma obra do artista plástico Gershon Knispel (que atualmente vive no Brasil) num cemitério muçulmano, em homenagem aos mártires que foram assassinados por Israel durante a Intifada Palestina (rebelião popular, “o levante”). 

Fomos acompanhados por Ali Zbeidat, membro do Comitê Popular, uma ferramenta de luta e de organização da comunidade onde participam militantes de várias organizações palestinas. Sua casa está sob ameaça de demolição.  Várias famílias já foram várias vezes advertidas pela polícia e muitos de seus membros presos por resistirem à ordem de demolição. 

Com o apoio da comunidade, Ali e sua família se mantém no local onde viveram seus pais e avós. A comunidade está sendo sitiada/cercada por assentamentos judeus ilegais, pois o governo de Israel assumiu o compromisso com a comunidade internacional de não expandir determinadas áreas de assentamento, mas tal medida não vem sendo cumprida. 

Observamos muitas obras de expansão, muitas máquinas e novas construções de assentamentos, avançando à toda velocidade contra terras palestinas. Também visitamos uma vila árabe-palestina destruída em 1948, Al Abbasiyah, onde o povo foi sendo expulso e assassinado por terroristas da Haganá (organização terrorista sionista-judaica), que explodiram todas as casas do vilarejo. 

O povo que ficou na região foi tentando resistir, mas em 1967 aumenta a repressão contra esse vilarejo, chegando ao ponto de fecharem a Mesquita e proibir os palestinos de rezar. Várias manifestações foram feitas para garantir o direito de rezarem nessa Mesquita, mas foram reprimidas. 

Além disso, como forma de “estimular” a migração da população palestina que vivia em Al Abbasiyah, o exército israelense destruiu toda a plantação de oliveiras, arrancando as árvores com as raízes e plantando no lugar onde antes era o vilarejo com as oliveiras eucalipto e pinus, duas árvores que destroem toda a biodiversidade do local onde são plantadas. 

A Mesquita foi fechada, com cimento nas portas e janelas, com arame farpado e uma grade em torno dela, para impedir a entrada de pessoas. E toda a área do vilarejo pertence hoje a uma colônia judaica/ a um assentamento sionista. 

Na Galiléia também visitamos um acampamento de beduínos, que virou um vilarejo no alto de um vale, onde vivem cerca de 100 famílias, bem em frente a um assentamento judeu-sionista em expansão. Muitos se dedicam à agricultura e à pecuária (criação de cabras), ou procuram trabalho na cidade mais próxima (Sakhnin).

Em Hebron (Al-Khalil): palestinos proibidos de visitar o túmulo de parentes num cemitério muçulmano na cidade velha.

Hebron (Al-Khalil em árabe) existe há 4 mil anos. Possui cerca de 167 mil habitantes, entre árabes e judeus. A cidade foi ocupada por tropas israelenses em 1967, e assim teve início a construção de assentamentos judeus-sionistas. 

Em 1994, enquanto ocorriam as negociações de paz entre a OLP, colonos judeus-sionistas dos assentamentos invadiram a Mesquita de Abraão e atiraram no povo, dentro da Mesquita, enquanto todos rezavam. 

Dezenas de palestinos foram mortos neste dia. Na Mesquita de Abraão tomamos contato direto com um símbolo e um exemplo da tolerância muçulmana diante de outras religiões, pois visitamos a “Tumba de Abraão”, onde estão os restos mortais do profeta que foi o fundador da religião judaica. 

Para nossa surpresa, este monumento sagrado dos judeus foi preservado e protegido pelos palestinos durante a expansão do islamismo na região. Quem cuida e preserva  esse patrimônio histórico-cultural são árabes-palestinos muçulmanos. 

Durante a visita a esta cidade vivemos uma situação de causar indignação. Fomos andando pela parte mais antiga de Hebron. Chegamos num determinado local e o palestino que nos acompanhava disse: “Sigam por ali, entrem no bairro onde está hoje um assentamento judeu e nos encontramos do outro lado”. 

Seus familiares vivem há séculos na cidade, mas ele não pode ir para o outro lado da cidade por aquele caminho, tomado por tropas israelenses em 1967. É uma rua que começa com muito movimento e comércio, muita gente andando tranquilamente com suas famílias, como em qualquer cidade do mundo. 

Então andamos uns 150 metros adiante e vemos um check-point (posto de controle) do exército de Israel, dentro do centro da cidade, que faz parte do território palestino da Cisjordânia. A rua vai ficando vazia. Os soldados exigem documentos, revistam bolsas e pessoas, impedem a livre circulação, por determinação do governo do Estado de Israel. 

Muitos militares patrulham essa “fronteira” que separa o lado árabe-palestino do lado judeu-sionista da cidade velha de Hebron. Somos atentamente observados e acompanhados pela patrulha. Entramos no território onde hoje está o assentamento judeu-sionista. Andamos uns 500 metros e nos deparamos com um cemitério árabe-muçulmano abandonado, praticamente destruído após a ocupação militar israelense de 1967.

Desde essa data cidadãos palestinos de Hebron não podem mais visitar seus parentes enterrados neste cemitério. Neste lado controlado por soldados e por colonos armados vivem cerca de 500 famílias judias, onde antes viviam cerca de 5 mil famílias palestinas. 

Parecia uma cidade fantasma. Vazia, com casas e lojas fechadas, abandonadas, destruídas. Desde 1967, nesta parte da cidade, qualquer família judia têm autorização de ocupar qualquer casa ou comércio que ainda esteja vazio. Detalhe: casas e comércio nessa área são de propriedade dos palestinos, que foram expulsos em 1967 e nunca nem forem indenizados pelo governo israelense.

O bloqueio econômico e militar de Israel contra Gaza: mais uma violação dos Acordos de Paz e das Resoluções da ONU

Gaza é uma região onde vivem aproximadamente 1,5 milhões de pessoas, e se encontra numa situação difícil, pois é controlada militarmente por Israel. O Exército impõe um bloqueio econômico. Os soldados israelenses impedem a chegada de alimentos, remédios, mantimentos, materiais para infra-estrutura e controla Gaza por céu, terra e mar. 

Sufocam economicamente Gaza, tentam matar de fome os palestinos. Mas a impressão que temos é que essa postura ofensiva e agressiva de Israel só tem feito aumentar a solidariedade internacional com o povo palestino. 

A violência do Estado de Israel acabou obrigando que os palestinos desenvolvessem uma economia auto-sustentável. Nos territórios palestinos existe uma série de pequenas indústrias, comércios, pequena agricultura se desenvolvendo, tanto em Gaza como na Cisjordânia. 

São iniciativas para minimizar o sofrimento da população e tentar produzir o máximo de mercadorias dentro do seu território, para depender o menos possível de Israel e da importação de produtos dos países árabes.

Durante nossa viagem um grupo de internacionalistas vindos da Turquia, com uma pequena frota de barcos conhecida como “Frota da Liberdade”, que traziam remédios, alimentos e brinquedos, tentavam entrar no litoral de Gaza, território autônomo palestino desde 1994, após os acordos de paz firmados entre o governo israelense e a Autoridade Nacional Palestina. 

Composta por três navios que levavam 750 ativistas e três outros com 10 mil toneladas de carga para Gaza, foram interceptados em águas internacionais. Imagens e relatos de testemunhas mostraram a violência e intolerância dos soldados israelenses, que atiraram contra civis desarmados de dentro dos helicópteros e dos barcos que usavam para reprimir a missão humanitária de apoio ao povo de Gaza. Quando fizeram a abordagem e ingressaram no interior dos navios, novos disparos foram vistos e ouvidos por testemunhas que estavam a bordo.

Segundo a ONU, Israel não poderia impedir a livre circulação de pessoas e/ou mercadorias nessa região, já que não existe nenhuma lei ou resolução que permita que o Estado de Israel exerça o controle militar do litoral de Gaza.

O ataque das Forças Armadas israelenses à frota humanitária que levaria ajuda aos palestinos da Faixa de Gaza só explicitou mais uma vez a desobediência e o completo menosprezo dos sucessivos governos de Israel perante todas as resoluções da ONU relacionadas a este conflito e perante todos os tratados inspirados nos princípios do Direito Internacional Humanitário. 

Fica evidente, mais uma vez, a absoluta falta de compromisso e de interesse do governo israelense com uma solução política, pacífica e diplomática para a Questão Palestina.

Também a repressão contra os barcos que tentam entrar e sair desse território palestino se constitui em mais uma ação arbitrária e ilegal por parte das autoridades militares israelenses. Em 30 de maio uma operação das forças armadas de Israel contra os barcos que se dirigiam à Gaza resultou no assassinato de 9 pessoas, além de 16 feridos e vários presos. 

Tentamos entrar em Gaza, mas o rigoroso e ilegal controle militar israelense nos impediu de cumprir esse objetivo humanitário, pois nossa intenção era ver com os próprios olhos a destruição e o massacre promovido por Israel contra a população civil, que vem sofrendo inúmeras privações desde a última grande ofensiva militar israelense, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009.

O fracasso dos Estados Unidos e da União Européia (UE) nas negociações de paz e a necessidade de novos interlocutores no cenário internacional

Enquanto EUA e UE estiverem no comando das negociações de paz entre palestinos e governo de Israel não existe possibilidade alguma de uma paz justa e da construção do Estado Palestino, pois eles representam os interesses do imperialismo e do sionismo, são os mais interessados na divisão de todos os povos que hoje vivem no chamado Oriente Médio e no mundo árabe-muçulmano. 

As potências imperialistas que sempre trouxeram dor e sofrimento para os povos daquela região estão incapacitadas de dar uma resposta progressista e humanitária à Questão Palestina.

É urgente construir uma articulação internacional que passe pelo Movimento dos Países Não-Alinhados, pela Liga dos Estados Árabes (Liga Árabe), pela União Africana, pela União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), pela Alternativa Bolivariana dos Povos da América – Tratado de Cooperação entre os Povos (ALBA-TCP) e pela Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos – CELAC, pois assim é possível tentar formar um grupo de países mais sensíveis aos problemas do povo palestino. 

Não podemos mais permitir que os representantes do colonialismo/imperialismo, responsáveis pelos conflitos e guerras que ocorreram - ou que ainda ocorrem – na região do Oriente Médio sejam os mesmos que vão ter o direito de continuar intervindo em questões fundamentais relacionadas aos direitos inalienáveis do povo palestino. 

É de causar indignação ver os símbolos dos EUA e da UE em projetos sociais e escolas dos territórios palestinos, pois os mesmos que hoje enviam alguns punhados de dólares e euros como forma de compensar a destruição causada por 62 anos de ocupação militar sionista, são os que nunca tiveram vontade ou coragem para barrar a máquina assassina israelense, que continua ceifando vidas de crianças e civis todos os dias, desfrutando de uma impunidade e de uma cumplicidade dos governos imperialistas e da ONU, que só sabe redigir Resoluções que nunca saem do papel, a não ser que seja contra países como Irã e Coréia do Norte.

Que o povo palestino possa construir nos próximos anos uma gigantesca e poderosa força social e política de massas, capaz de traduzir a justiça de sua causa e de unir todos aqueles movimentos e organizações que são as legítimas representantes das aspirações nacionais e sociais dos trabalhadores e trabalhadoras desta pátria que um dia há de ser verdadeiramente livre, independente e soberana.

BIBLIOGRAFIA

ALENCASTRE, Amílcar (1968). O desafio de Israel, Rio de Janeiro, Editora Leitura.
ARAFAT, Yasser e outros(2007). Soberania e Autodeterminação – A luta na ONU: discursos históricos, São Paulo, Expressão Popular.
BRAIA, Nathaniel (2002). O Apartheid de Israel – Racismo, agressão e usurpação: os focos do conflito atual, São Paulo, Alfa-Ômega.
GATTAZ, André (2002). A Guerra da Palestina – Da criação do Estado de Israel à Nova Intifada, São Paulo, Usina do Livro.
HERZL, Theodor (1998). O Estado Judeu, Rio de Janeiro, Garamond.
NIMITZ, Oscar (1974). Ben Gurion, Rio de Janeiro, Editora Três.
MEIR, Golda (1974). Minha Vida, Rio de Janeiro, Bloch Editores.



[1] Marcelo Buzetto é da Direção Estadual MST/SP. Doutor em Ciências Sociais pela PUC/SP, professor no curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA), professor da Escola Nacional Florestan Fernandes, coordenador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NELAM/CUFSA).

[2] Um livro interessante sobre a influência do sionismo na cultura e nas idéias é “A indústria do Holocausto – Reflexões sobre a exploração do sofrimento dos judeus”, do intelectual de origem judaica Norman Finkelstein (Editora Record).

[3] O Movimento dos Países Não-Alinhados é resultado da Conferência de Bandung, que ocorreu em 1955 na Indonésia. É um agrupamento de países que se uniram para defender o respeito à soberania, à autodeterminação das nações e a defesa de uma política externa independente, sem se submeter às imposições da URSS ou dos EUA, potências que disputavam o controle do mundo durante a Guerra Fria (1945-1991). Se reunem em torno deste movimento aproximadamente 115 países dos diferentes continentes.

[4] Criada em 1945 no Cairo, Egito, a Liga Árabe congrega 22 países, e tem se posicionado sempre favoravelmente à criação de um Estado Palestino.

[5] O nasserismo é uma corrente política que expressa as posições de um nacionalismo laico, inspirado no exemplo e nas idéias de Gamal Abdel Nasser (1918-1970), que foi presidente do Egito entre 1954 e 1970.

[6] Destacamos a Union of Agricultural Work Committees (UAWC), a Palestinian Progressive Youth Union (PPYU), a Union of Palestinian Women Committees (UPWC), a Defence for Children Internatinal - Palestine Section, a  ADDAMEER-Prisioners Support and Human Rights Association, o Palestinian Centre for Human Rights, etc.

[7] Sobre este tema do apartheid, sugerimos o livro “O apartheid de Israel”, do jornalista de origem judaica Nathaniel Braia (Editora Alfa-Ômega).

Artigo publicado na Revista de Ensaios dos Cursos de Relações Internacionais e Economia – RECRIE, n. 01, dezembro/2010, Centro Universitário Fundação Santo André-CUFSA/Editora Porto de Idéias.

domingo, 31 de julho de 2011

Quem não quer o Estado da Palestina nas fronteiras de 1967?


29/07/2011

Nathaniel Braia - Jornalista e escritor

De uma coisa eu tenho certeza: o Fatah não imaginava que a proposta de estabelecimento do Estado Palestino Já!, iria gerar tanto debate no Brasil.

É claro que tese da justeza do estabelecimento desse Estado é consenso mundial, mas, como toda grande causa, sempre vai gerar debates apaixonados em torno de sua aplicação concreta e é bom que assim seja.

De um lado a direita israelense que – sem nenhum espaço para contestar esse direito reconhecido mundialmente – diz que concorda com o Estado Palestino mas, desde que cercado pelo muro do Apartheid, subtraído dos territórios que já consideram anexado a Israel, com os assentamentos (nome consensual, mas que seriam melhor qualificados se denominados covis de fanáticos religiosos) com 500 mil habitantes judeus dentro deles.

Este Estado oferecido, em tese, por Israel, seria separado, também, por tropas israelenses, do rio Jordão e sem conexão independente entre Gaza e Cisjordânia e ainda sem domínio independente sobre o tráfego no mar ou no ar. Seria um Estado sem Jerusalém como capital (pois essa seria, sei lá por que cargas d’água ou direito-bíblico-religioso-judaico, ‘indivisível’). Aliás este foi o “Estado Palestino” oferecido pelo cínico Ehud Barak e rejeitado por Arafat, após o falecimento de Itzhaq Rabin. A partir daí tome-lhe artigo sionista, reproduzido na mídia ocidental, dizendo que ao declinar deste Estado-bantustão, “Arafat rejeitou o acordo de paz”.

Temos, do outro lado, os chamados ultra-esquerda, os radicais de postura – por que o verdadeiro radical, como diz o nome, vai na raiz das questões e não procura aparentar radicalidade fora da realidade concreta, e sim busca resolver os problemas, encarar as questões como elas se apresentam e podem evoluir, de fato, rumo a um estágio histórico mais favorável aos interesses da Humanidade – que contestam a proposta da OLP de Estado Palestino Já! nas fronteiras de 1967.

Acho que essa questão ainda não foi suficientemente bem abordada e por isso, tomo a iniciativa de dispor de parte do meu tempo e dos que venham a ler este artigo, para tentar acrescentar ao debate.

Primeiramente, cabe analisar a postura dos rejeccionistas entre os palestinos e apoiadores; os que se recusam a aceitar os Acordos de Oslo que foram bancados pela direção da OLP e pela maior liderança palestina, Yasser Arafat e ainda pelo conjunto do povo palestino em Gaza e Cisjordânia.

Antes de Oslo, não havia Autoridade Nacional Palestina mundialmente reconhecida, como há hoje. Apesar da Declaração de Independência da Palestina haver sido formulada em 1988, a sua governança, exercida através da OLP, estava abrigada na capital de outro país, em Túnis, capital da Tunísia, depois que a direção palestina foi ameaçada de destruição física em Beirute, por ataques israelenses, em 1982.

Até o reconhecimento da Autoridade Nacional Palestina, nos territórios ocupados, os partidos e organizações palestinas eram proibidos. Considerados organizações terroristas (nós, que fundamos uma organização revolucionária em Israel e nos territórios ocupados, a Aliança Comunista Revolucionária, que possuía em seus quadros israelenses [árabes e judeus] e palestinos da Cisjordânia, tínhamos que realizar reuniões secretas nestes territórios. Alguns dos nossos companheiros pagaram com anos na prisão a ousadia de participarem de encontros – contatos proibidos e considerados atos de espionagem por lei israelense - com integrantes de organizações como o Fatah e Frente Popular Democrática de Libertação da Palestina – FPDLP, dirigida então por Nayeef Hawatmeh, onde a questão da alternativa dois países para dois povos começou a ser debatida e construída).

Antes de Oslo, não somente a bandeira palestina era proibida de ser hasteada como até obras de arte utilizando as cores palestinas (vermelho, preto, branco e verde) também o eram. Um pintor palestino foi preso por expor um quadro seu que representava uma fatia de melancia com exatamente estas cores: o verde - a casca; o branco e o vermelho - miolo e o preto - os caroços!

Com o acordo de Oslo muita coisa mudou. Fico aturdido de ver companheiros bem intencionados deixarem de perceber o que significou em termos de avanço para a causa palestina e para o povo palestino a entrada de seu líder, Yasser Arafat, em Ramalah para ocupar as edificações da sede do governo palestino, a célebre Mukata.

Fico impressionado pelos companheiros não perceberem a importância para o avanço da causa palestina, de fortalecimento do orgulho nacional, de verem sua bandeira nacional hasteada em solo pátrio e de verem as tropas israelenses recuando e retirando-se de Ramalah, Jericó, Belém, Gaza, o que ocorreu após Oslo.  

As negociações previam a retirada por partes. Primeiro a chamada Zona A e depoism, sucessivamente a C e a D. Os acordos de Oslo também reconheceram a soberania palestina sobre os territórios ocupados que iam sendo liberados.

As medidas de Rabin foram crescentemente apoiadas pela população israelense e ele caminhava para se tornar uma liderança cada vez mais reconhecida em Israel com respaldo suficiente para avançar na implementação da solução dos dois Estados, pelo lado israelense. A direita não viu alternativa senão assassiná-lo. O fez exatamente após um comício em Tel Aviv onde, junto com mais 500 mil pessoas, acabara de entoar a música Eveinu Shalom Aleichem – Trouxemos a Paz a Vocês.

Foi o único dirigente israelense a ser assassinado e por um judeu. Como podem então os companheiros que se dizem radicais fazer tal contorcionismo mental e dizer que Rabin fortalecia a direita? Será que os companheiros radicais é que são capazes de perceber os interesses da direita israelense de forma mais clara do que ela própria, que o assassinou? De fato é muito interessante...

Por que então, meus amigos, se os acordos de Oslo fortaleciam tanto a direita, a primeira declaração de Sharon (o carniceiro de Sabra e Shatila), ao chegar ao poder, foi de que tais acordos estavam considerados nulos?

Por que então, mais uma vez, a direita israelense ameaça anular o que restou destes acordos agora que os palestinos se preparam para levar o pedido de reconhecimento do Estado Palestino à ONU? Sinceramente, uma situação ímpar, em que as idéias da direita e as dos ditos radicais de esquerda coincidem com estarrecedora sintonia...

Mas, vamos um pouco adiante. A decisão de admitir um acordo em torno do conceito de dois Estados foi bancada pelo próprio Arafat que, no Congresso Palestino, realizado ainda no exílio – como relata Alan Hart, em sua biografia sobre Arafat – conversou com cada delegado até obter uma maioria significativa.

Foi essa proposta que permitiu a abertura de negociações com os governos israelenses e o apoio oficial de dezenas de governos as justas reivindicações palestinas.  

Este conceito-proposta, além de elevar o reconhecimento mundial da OLP, mudou o curso da discussão política dentro de Israel. O discurso de que “os palestinos e os árabes querem destruir Israel”, com o qual a direita abafava todo o debate interno em torno dos direitos palestinos e garantia a maioria para suas propostas ruiu. Aliás, principalmente para os companheiros que se dizem adeptos do pensamento marxista, vale ressaltar que é a luta de classes que move as sociedades. Neste sentido, favorecer o amortecimento destas contradições e levando uma parte significativa da classe trabalhadora israelense a servir de exército de apoio e colaboração ao colonialismo é, a meu ver, desastroso e, pelo lado inverso, deslocar os trabalhadores israelenses dessa esfera e aproxima-la dos progressistas dentro de Israel é fundamental para o avanço das idéias justas na região.   

É evidente que um conflito que pode ser vendido internamente como uma defesa contra a destruição do país é um maná para abafar as contradições internas e colocar sob o tacão da ideologia mais retrógrada as consciências dos trabalhadores judeus em Israel. Eu lembro do momento em que ocorreu o ataque do Setembro Negro aos atletas israelenses em Munique. Pela primeira vez, desde a fundação do Estado de Israel, uma greve operária, no caso a dos portuários de Ashdod, colocava dos dois lados da trincheira e em oposição aberta – com relação a questões sindicais - de um lado os trabalhadores israelenses e de outro o governo. A greve ia entrar no segundo mês e já mobilizava amplos setores da sociedade israelense em seu apoio. Pois bem, no dia seguinte à notícia da morte dos atletas israelenses, o comando de greve de Ashdod suspende o movimento e declara que o faz em homenagem aos mortos em Munique.

Esse é apenas um exemplo para reflexão...

E hoje? Temos um quadro em que, como muitos já sabem, a ultradireita israelense conseguiu empalmar o poder e as forças políticas que advogam o acordo com os palestinos estão em minoria dentro do Knesset (parlamento israelense). Os assentamentos estão sendo financiados e construídos a rodo. Transportes para os assentamentos são subsidiados e os mais baratos do país. Os planos de construção de mais moradias são aprovados um após o outro. Expulsões e demolições de casas estão em alta. Os postos policiais-militares multiplicaram-se na Cisjordânia, tornando a vida dos palestinos um inferno, ataques e destruição de plantios palestinos são cada vez mais freqüentes e, como denuncia o nosso manifesto, as prisões israelenses estão abarrotadas de patriotas palestinos.

Diante disso, desse quadro claramente desfavorável para a população palestina, não fica mais do que evidente que as opções colocadas são, de um lado o estabelecimento do Estado Palestino Já!, e do outro o recrudescimento do avanço do colonialismo israelense no sentido de piorar ainda mais as condições de vida do povo palestino, um aumento das provocações para gerar tensão que justifique mais agressões e prisões nos territórios ocupados e ainda dificultar a atuação da Autoridade Nacional Palestina.

Por fim, quando a OLP coloca claramente a reivindicação do Estado Palestino Já! e especifica que isso se dará com base nas fronteiras de antes de 1967, ela, longe de ser uma ‘traição’ à causa palestina como querem alguns, permite aos progressistas no mundo inteiro e mesmo dentro de Israel carrear o máximo possível de apoio a este reconhecimento.

Além disso, como já afirmei em correspondência anterior, sem essa definição de fronteiras não faria nenhum sentido ir à ONU reivindicar o reconhecimento do Estado Palestino.

Além disso, e de forma muito inteligente, tanto o secretário-geral do Fatah, Marwan Barghoutti, como o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, vincularam esta luta à chamada Primavera Árabe, conclamando os palestinos e os cidadãos de bem no mundo inteiro a lotarem as ruas de todas as capitais com bandeiras palestinas.

Essa jornada e o apoio que ela acarretará, juntamente com a vitória desta propositura na ONU, tornaram o Estado Palestino um fato político sem retorno, permitirão aos palestinos a participação em todos os organismos internacionais e ainda farão dos israelenses de ocupantes de território palestino a ocupantes de território de um Estado reconhecido mundialmente. As medidas internacionais, de sanções econômicas, boicote, iniciativas de isolamento político ganharão força e legitimidade maior do que já possuem, poderão ser institucionalizadas e propostas em parlamentos, universidades, entidades de massa, governos e organismos internacionais. Enfim um momento histórico para a causa deste sofrido povo e para toda a Humanidade que ao vencer mais esta etapa da luta contra o colonialismo ganha força para aproximar o imperialismo de sua derrota, que se aproxima quando seus esbirros sofrem reveses como aconteceu no Vietnã, no Apartheid Sul Africano, nas lutas de libertação nacional dos países africanos e está acontecendo hoje na Líbia.

Não é por acaso que o governo da direita fascista israelense decidiu colocar em campo suas tropas de diplomatas para tentarem fazer com que a proposta palestina tenha a menor receptividade possível em termos de votos na ONU!

Por último, nada disso impede que, uma vez estabelecido o Estado Palestino, os palestinos que hoje vivem em Israel, principalmente os moradores do chamado triângulo, predominantemente na Galileia, reivindiquem, num momento de paz futuro, sua integração a um Estado Palestino progressista ou, ainda, que venha a se formar uma federação englobando os dois Estados, uma vez superado o ódio construído pela direita israelense ou qualquer outra solução que a história e a consciência das populações locais permitir. Agora cabe sair do impasse e fazer recuar a pilhagem colonialista.

É agora! 

O avanço só pode ser conquistado quando se tem clareza do caminho a seguir e das propostas que mais atraem apoio para o lado das forças do avanço e mais isolam as do atraso. Mesmo com todas estas evidências, quem quiser se contrapor a tudo isso e, em seu lugar, colocar uma proposta que desconhece a consciência acumulada mundialmente, a correlação de forças no local da batalha e, portanto, prima pelo irreal e pelo idealismo e, ainda assim, continuar se dizendo “progressista” que o faça. Como sempre, e ainda mais numa questão que apaixona multidões, como é a causa palestina, a história vai julgar...

Da nossa parte, vamos à luta e a vitória! A amplitude das assinaturas de partidos e entidades obtidas nesta primeira fase são um grande passo para que o Brasil dê a sua importante contribuição! Viva o povo palestino! Pelo Estado Palestino Já!




sexta-feira, 29 de julho de 2011

Comitê criado para avaliar práticas de Israel na Palestina faz primeira visita em 40 anos


Comitê criado para avaliar práticas de Israel na Palestina faz primeira visita em 40 anos

28 de julho de 2011 · Notícias

 ONU - Brasil     





O “Comitê Especial de Investigação das práticas de Israel que afetam os Direitos Humanos do Povo Palestino e outros Árabes Vivendo nos Territórios Ocupados desde 1967″ pôde, pela primeira vez, depois que foi criado em 1968,  visitar Gaza. O Governo do Egito facilitou a visita através da fronteira de Rafah.

“Infelizmente, o que descobrimos foi que as restrições opressivas impostas sobre Gaza por Israel têm o efeito de punir coletivamente a população,” observou o Comitê: “Com cerca de 35% da área de Gaza excluída da agricultura, (…) o povo de Gaza não pode se alimentar, muito menos reaquecer uma economia dizimada por meio de exportações. Estamos alarmados com as alegações de que Israel impõe essas políticas empregando o uso de armas de fogo, inclusive, em alguns casos, contra crianças e idosos.”

“O contínuo bloqueio de Israel em Gaza viola os direitos humanos do povo de Gaza e as leis e padrões do Direito Internacional Humanitário,” disse o Embaixador Palitha Kohona, Presidente do Comitê. “Isto é opressivo, reduz a vida do povo de Gaza e deve acabar agora,” frisou.

As políticas e práticas do Governo de Israel que violam os direitos das crianças palestinas foram um tema constante durante todas as audiências do Comitê. Testemunhas e funcionários relataram que o acesso das crianças palestinas à educação está comprometido devido, entre outras fatores, às restrições à liberdade de circulação, de acesso e à falta de escolas, especialmente em Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza, bem como ameaças e violência reais por parte dos colonos israelenses. A atenção do Comitê voltou-se para o grande número de crianças detidas e uma série de práticas preocupantes, incluindo duras técnicas de interrogatório, tortura e expulsão de suas aldeias.

O Comitê destacou sua “profunda preocupação com relatos de que forças de segurança israelenses estão invadindo casas palestinas no meio da noite para deter crianças. (…) Ainda mais angustiantes são os relatos de que as crianças estão sendo submetidas a maus tratos, levadas aos tribunais militares e, muitas vezes, coagidas a assinar confissões.”

A visita de nove dias do Comitê Especial de Investigação à região também incluiu reuniões em Amã (Jordânia), onde esteve com vítimas, testemunhas e funcionários que trabalham com direitos humanos na Cisjordânia e nas Colinas de Golã, na Síria. Uma preocupação frequentemente comunicada durante a visita relacionava-se à situação de prisioneiros palestinos em Israel: as restrições de Israel às visitas familiares; a negação do direito à educação nos últimos meses; as más condições de detenção; a falta de atenção médica adequada; a detenção prolongada sem acusação; além de maus-tratos e torturas durante a detenção.

O Comitê expressou pesar pelo fato de o Governo de Israel não ter respondido ao seu pedido para visitar os territórios ocupados. Durante a 66ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em novembro de 2011, O Comitê Especial fornecerá um relatório aprofundado de suas observações após a missão e fará recomendações detalhadas para melhorar o respeito pelos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel desde 1967.

O Comitê Especial foi criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1968 para investigar práticas israelenses que afetam os direitos humanos do povo palestino e outros árabes dos territórios ocupados desde 1967. Seu mandato foi renovado em janeiro de 2011. Ele é composto por três Estados-Membros que este ano são representados pelo Embaixador Palitha Kohona, Representante Permanente do Sri Lanka na ONU em Nova York; pelo Embaixador Hussein Haniff, Representante Permanente de Portugal na ONU em NovaYork; e pelo Embaixador Fodé Seck , Representante Permanente do Senegal na ONU em Genebra.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Israel tenta pegar carona na Primavera Árabe


Israel tenta pegar carona na Primavera Árabe

28/7/2011, M K Bhadrakumar, Asia Times Online


Depois de ter permanecido na sombra por quase oito meses, tentando entender o significado e avaliar os riscos da Primavera Árabe, Israel de repente voltou à cena, na 3ª-feira. Em movimento sem precedentes, o presidente israelense Shimon Peres convocou a imprensa árabe e anunciou que Israel apóia a mudança de regime em Damasco, Síria.

Até agora, Israel dedicara-se, atentamente, a não se identificar com a Primavera Árabe. Preferiu concentrar-se mais no que viria depois de mudados os regimes, do que em promover revolucionários nas barricadas. No caso da Síria, até se chegou a suspeitar que Israel estivesse secretamente envolvida na preservação do regime do presidente Bashar al-Assad, vendo-o como uma espécie de barreira de proteção, entre Israel e o dilúvio (a ascensão de um governo da Fraternidade Muçulmana).

Na 3ª-feira, Peres, num só golpe, apagou qualquer vestígio de ambigüidade estratégica. “Assad tem de sair. Quanto antes sair, melhor para o povo sírio” – disse Peres. O presidente israelense saudou os manifestantes anti-Assad: “É fácil [para os Sírios] sair à rua e protestar. Mas e quando o exército [sírio] atira contra o próprio povo? É espantoso. A coragem e a firmeza são prova da honra dos sírios”.

Peres insistiu em que a mudança de regime em Damasco trabalha a favor da paz entre árabes e israelenses. Mostrou-se absolutamente confiante de que o regime que suceda Assad em Damasco firmará um tratado de paz com Israel: “Os que buscam a paz prevalecerão”.

É novidade absoluta.

Por que Israel optou por expor a própria ambigüidade estratégica em relação à Síria? Israel, afinal, sabe, é claro, perfeitamente, que qualquer mudança de regime em qualquer ponto do mundo árabe, sob as atuais condições, sempre, e necessariamente trabalhará contra os interesses de Israel. O Egito é caso típico em que, se e quando o governo de transição passar o poder a governo eleito, não haverá como algum governo eleito deixar de considerar o forte desejo popular de que uma nova política externa egípcia opere para distanciar o país, ao mesmo tempo, de EUA e Israel.

Uma grande maioria de egípcios exigirá que seu governo eleito distancie-se de qualquer modalidade de cooperação próxima com Israel, em questões econômicas e de segurança. Israel assiste, com ansiedade, a possibilidade de que se construam laços de simpatia entre o Egito e o Irã. O chefe da inteligência militar israelense major-general Aviv Kochavi fez, recentemente, declaração espantosa: disse que o Irã estaria financiando secretamente a Fraternidade Muçulmana no Egito. Em resumo: para Kochavi, Israel não se poderia dar o luxo de ser otimista em relação ao resultado de uma mudança de regime na Síria.

O cálculo de Peres parece ser diferente. O que transparece é que Israel, agora, completou uma avaliação ‘fria’ e concluiu que, de fato, são mínimas as possibilidades de que haja qualquer tipo de mudança de regime em Damasco. Patrick Seal, arabista e autor conhecido, resumiu bem, semana passada:

"A situação em Damasco não chegou à massa crítica. Damasco não se levantou contra Assad, os serviços de segurança não deixaram de apoiar Assad, a economia não entrou em colapso. O regime parece fraco, mas a oposição parece ainda mais fraca. Quanto mais tempo passar, e mais mortos houver, mais difícil será encontrar uma solução. É indispensável encontrar solução negociada. Se não se conseguir isso, haverá guerra civil.”

Israel também parece estar decepcionada por não ver nem sinal de ação internacional concertada contra a Síria, como aconteceu na Líbia. No mínimo, as humilhações e baixas que Muammar Gaddafi lhes está impondo na guerra da Líbia parecem ter ensinado as potências ocidentais a avaliar mais objetivamente a ideia de abrir novo flanco de guerra na Região, dessa vez na Síria, pelo menos em futuro próximo.

Os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – com o Líbano – estão contendo qualquer movimento das potências ocidentais, impedindo até uma discussão no Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria. Recente visita a Damasco, do secretário-geral da Liga Árabe Nabil Elaraby, mostrou que, sim, os ventos regionais já sopram a favor de Assad.

A Turquia, outra vez, contra Israel

Por algum tempo, recentemente, Israel acalentou esperanças de reaquecer os laços hoje moribundos que a ligaram à Turquia, no campo da segurança; e de construir um movimento de pinça ascendente, contra a Síria, pelo norte e pelo sul. As coisas até pareceram estar andando bem nas últimas semanas, rumo a uma normalização das relações Israel-Turquia, com diplomatas dos dois lados trabalhando para neutralizar a amarga lembrança do ataque israelense contra o comboio humanitário que tentava chegar a Gaza vindo de Istambul, ano passado; naquele ataque, morreram nove cidadãos turcos.

Mas a coisa novamente desandou. Transpiraram notícias de que Ancara insiste na exigência de que Israel apresente desculpas formais, o que dificilmente acontecerá porque, se acontecer, implicará expor o exército de Israel a acusação também formal, de prática de crime. Os turcos agora ameaçam punir Israel.

“A bola está no campo israelense. Se pedir desculpas, tudo bem. Se não, teremos de recorrer ao Plano B” – disse um alto funcionário da Turquia à Agence France-Presse. Acrescentou que a Turquia considera acusar e processar formalmente os comandos israelenses que atacaram o comboio humanitário; e que analisa também a possibilidade de “diminuir ainda mais a representação diplomática e adiar o reconhecimento de novos enviados que Israel mande à Turquia”.

O ministro turco das Relações Estrangeiras fez declaração em que critica o recente movimento de Israel, de construir novas colônias nos territórios palestinos ocupados.

Antes, no sábado, o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ao falar numa conferências de enviados palestinos em Istambul, disse, na presença de Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina: “A menos que recebamos pedido formal de desculpas pela morte de nove cidadãos turcos, até que suas famílias sejam indenizadas e até que o bloqueio de Gaza seja completamente levantado, as relações entre Turquia e Israel não serão normalizadas”. E ameaçou visitar Gaza.

Ancara sabe que são exigências humilhantes que, ainda que o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu desejasse atender, num espírito de realpolitik ou pragmatismo, não seriam aceitas pela opinião pública em Israel. Pode-se concluir que os turcos estão trabalhando exclusivamente para dificultar o mais possível, para Israel, o trabalho de recompor as relações entre os dois países. Repentinamente, os turcos parecem ter perdido o ímpeto na direção de “normalizar” as coisas com Israel (como os norte-americanos desejam), na atual conjuntura.

A secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton visitou a Turquia há dez dias e fez inúmeras declarações elogiosas ao grande destino da Turquia como líder no Oriente Médio. O novo diretor da CIA-EUA, David Petraeus, também passou pela Turquia, na viagem de volta aos EUA, ao deixar o comando no Afeganistão. Tudo levava a crer que a Turquia morderia o fruto-tentação de aceitar alguma proposta para agir como cabeça de ponte, numa intervenção concertada, contra a Síria.

Mas Ancara avaliou cuidadosamente as vantagens de pôr-se como agente instigador de uma mudança de regime em Damasco. E parece ter chegado à conclusão de que os perigos que se criariam para sua própria integridade territorial ultrapassam em muito qualquer vantagem geopolítica que Washington possa prometer. Em palavras mais simples: não interessa à Turquia ser vista como ‘aliada’ de Israel nesse momento. E assim, desmoronam quaisquer esperanças que Israel acalentasse de começar a romper seu isolamento regional, reinventando um eixo Israel-Turquia, contra a Síria.

O que preocupa Ancara é que os desenvolvimentos na Síria parecem estar tomando rumo perigoso na direção de guerras religiosas, sem qualquer tipo de contenção possível, como as guerras religiosas que devastaram o Líbano nos anos 1980s – o que seria terrível, em país tão próximo da Turquia.

A sequência de eventos disparados pelo terrível assassinato de três famílias da tribo Alawi, mortos por extremistas salafitas na cidade de Homs, próxima da fronteira turca, é prova das consequências gravíssimas que adviriam de qualquer desvio incontrolado que aconteça nos movimentos democráticos na Síria – que, nos últimos meses, têm sido patrocinados por Ancara.

Uma onda de ressentimento anti-salafitas varre a Região, entre xiitas e alawitas. As paixões sectárias e religiosas ameaçam como vírus adormecido. Ancara é suficientemente sensível para saber que há extremistas salafitas, muitos dos quais ligados à al-Qaeda e veteranos calejados da guerra do Iraque, infiltrados nas manifestações de rua na Síria.

Se irromper na Síria uma guerra civil semelhante a que houve no Líbano, será apenas questão de tempo, e a Turquia também se incendiará. Os xiitas e alawitas na Turquia (cerca de 20% da população turca) envolver-se-ão instintivamente na guerra síria. Na sociedade turca, as tensões entre alawitas e salafitas são visíveis, bem à superfície.

Os grupos alawitas na Turquia formaram uma organização guarda-chuva conhecida como Fundação Alawi-Bektashi, que regularmente distribui manifestos para sensibilizar a comunidade mundial sobre alegadas “violações de direitos dos alawitas, casos de tratamento desigual e discriminatório” e “crimes de ódio” cometidos por salafitas associados à comunidade Fetullah Gulen.

O último desses manifestos alawitas, intitulado “A comunidade Gulen contra os alawitas” detalha que a comunidade Gulen de salafitas na Turquia está empenhada em “guerra negra de propaganda contra os alawitas”, acusados de ter “tomado o judiciário e o exército. Na Turquia há um secularismo sectário. Uma elite alawita governa como quer as massas sunitas”, e por aí vai.

Reação dos curdos

Mas o risco contra o qual a Turquia tem realmente de precaver-se é a quase inevitável reação dos curdos, cujos primeiros sinais começam a aparecer. O apoio da Turquia à oposição síria já expôs alguns sinais da proximidade entre os curdos e Damasco.

Se for empurrada para as cordas, Damasco pode retaliar contra a interferência turca, garantindo a cidadania síria aos colonos curdos que vivem no nordeste da Síria, sobretudo em Qamishli, o que sem dúvida será causa de graves dores de cabeça para Ancara, no longo prazo.

Bem visivelmente, os partidos curdos já se estão separando dos salafitas no norte da Síria, e sinalizam a disposição para trabalhar a favor do regime sírio. Há quem diga que, se a situação deteriorar, Damasco poderá ficar sem alternativa senão armar os grupos curdos para oporem-se aos salafitas.

Em resumo, Ancara sabe que patina sobre gelo muito fino, se contribuir para empurrar o regime sírio na direção de uma posição sem volta. A verdade mais simples é que os curdos como fazem invariavelmente adotarão a posição que Ancara adote.  Abudllah Ocalan, líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, viveu muitos anos exilado na Síria.

A questão da interferência da Turquia na Síria já levou os destacados líderes curdos Jalal Talabani (que é presidente do Iraque) e Massoud Barzani (que é presidente da Região Curda) a manifestarem apoio a Damasco. (O primeiro-ministro do Iraque, Nuri al-Maliki, também manifestou solidariedade ao regime sírio, ao assinar acordo para fornecer 150 mil barris de petróleo à Síria.)

Noutro momento, foi vitória histórica da “diplomacia coercitiva” da Turquia que, em 1998, Ancara tenha reunido tropas na fronteira síria, ameaçando invadir o país e, com isso, conseguiu literalmente obrigar Damasco a aceitar a “desmilitarização” das regiões de fronteira com a Turquia – e a expulsar Ocalan.

Agora, no contexto de uma possível interferência turca na atual situação, Damasco já enviou forças especiais para a região da fronteira com a Turquia, depois de 13 anos de “desmilitarização” daquela área.

Além disso, Damasco optou por mandar para a fronteira a 15ª Divisão de seu exército, formada predominantemente de sunitas e comandada por oficiais sírios sunitas – esvaziando o fácil pressuposto dos turcos, de que os oficiais sunitas do exército sírio estariam a ponto de desertar e abandonar o regime de Assad.

Em termos gerais, Israel acertou ao avaliar que os turcos começam a entender a mensagem de Assad, e preparam-se para alinhar-se ao lado do regime sírio.

Ancara já começa a baixar o tom da retórica anti-Síria e gradualmente está retomando sua velha plataforma de “zero problemas” com os vizinhos difíceis.

Ironia, nesse processo, é que Ancara também está sendo compelida a retomar termos mais amigáveis com o Irã e lançou ofensiva militar concertada contra guerrilheiros curdos no norte do Iraque, depois que 13 soldados turcos foram mortos, dia 14 de julho, na província de Diyarbakir, no leste da Turquia.

Em movimento brilhante, de timing impecável, o exército do Irã iniciou operações dia 16 de julho contra os rebeldes curdos nas montanhas Kandil no norte do Iraque. Paralelamente, os militares turcos também iniciaram operação no território iraquiano próximo da fronteira, na província de Hakkari, no leste da Turquia.

Ancara está fazendo o que pode, declarando que as operações iranianas e turcas não foram coordenadas. Talvez não, no plano oficial. Teerã não desmentiu. Mas os israelenses são suficientemente espertos e sabem perfeitamente bem o que está acontecendo – que alguém está trabalhando para refrescar a memória dos turcos, obrigando-os a considerar que ainda há um problema curdo não resolvido; que Ancara tem de prestar atenção aos curdos; e que, quanto a isso, Turquia, Síria, Iraque e Irã têm interesses comuns.

Evidentemente, Israel concluiu que o eixo Síria-Irã permanece intacto em larga medida, apesar da descomunal pressão que faz a Arábia Saudita, para que Assad rompa com Teerã; que o regime sírio absolutamente não está à beira do colapso, apesar da pressão organizada que sofre da Turquia, da Arábia Saudita, da França e dos EUA; e que o Qatar – o qual, dentre os estados árabes do Golfo Persa, sempre é o mais rápido – já adivinhou que a Primavera Árabe na Síria será disputa duríssima, muito mais dura que na Líbia; e que Doha de modo algum planeja entrar em luta de pesos muito mais pesados que ela.

Interessante observar que o Qatar fechou sua embaixada em Damasco e deu o fora, depois dos ataques às embaixadas dos EUA e França e à sede da rede al-Jazeera na capital síria. Mais importante que isso, Israel constata que a Turquia já começou a retroceder, na trilha que poderia levá-la a intervir na Síria.

Em resumo, o espectro que ronda Israel é que, se os tumultos na Síria começarem a arrefecer, a atenção da comunidade internacional inevitavelmente voltará a concentrar-se na questão palestina. Abbas ainda não desistiu de obter da ONU que reconheça o Estado da Palestina, na próxima sessão da Assembleia Geral, em New York, em setembro.

A surpreendente declaração do presidente Peres é esperta tentativa para (re)incendiar a questão síria. Interessa muitíssimo a Israel que, no caso de que irrompa na Síria outra guerra civil nos moldes da guerra do Líbano, árabes, curdos e turcos ponham-se a matar-se uns os outros.

Em nenhum outro momento da Primavera Árabe, que raiou no Maghreb em dezembro passado, cobrando a vida de um vendedor de rua em Túnis, alguém previu que chegaria o dia de Israel apresentar-se como garota-propaganda da democracia no Levante, embora para expandir a guerra. O Oriente Médio é caixinha inesgotável de surpresas.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Embaixador da Palestina no Brasil fala sobre a batalha na ONU


Nações Unidas pelo reconhecimento da Palestina

27/07/2011

BRASIL DE FATO - Internacional

O *embaixador da Palestina no Brasil fala sobre a batalha decisiva que se aproxima, na ONU, pelo reconhecimento de seu Estado.

Vinicius Mansur
De Brasília (DF)

 A Liga dos países Árabes já anunciou que solicitará à Organização das Nações Unidas(ONU), ainda este
 mês, a inclusão da Palestina como membro pleno desta entidade. A ONU deverá levar o tema à votação até o mês de setembro. Contando com amplo apoio na comunidade internacional, a luta palestina tentará escrever capítulos decisivos de sua história no próximo período. No Brasil, a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) lançou no último dia 20 a “Campanha Estado da Palestina já!”.

O Brasil de Fato entrevistou o embaixador da Palestina no País, Ibrahim Alzeben, para abordar o atual estágio desta articulação internacional. Além disto, o embaixador também discorre sobre a importância brasileira e latino-americana nesta luta, revela que o Estado Palestino deverá ser reconhecido em breve pela Colômbia – único país sulamericano que ainda não o fez – e ainda comenta a atual conjuntura política em seu país sob a luz da “Primavera Árabe”. Confira a entrevista.

Qual o impacto da “Primavera árabe” para a luta palestina?

Quando começou a revolução Palestina, com a formação da OLP (Organização Para Libertação da Palestina, fundada em 1964), nós considerávamos que a imagem desta revolução era a Palestina, o coração árabe e o corpo internacional. Portanto, qualquer acontecimento no mundo árabe acontece no coração da causa palestina. Desejamos que nossa nação árabe, nossos povos, tenham uma democracia e uma independência verdadeira, merecem voltar a ter o papel que lhes corresponde na humanidade. Na nossa região nasce o abecedário, o comércio, a primeira cidade do mundo, nascem civilizações, o desenvolvimento da ciência, da literatura,. Lamentavelmente, faz uns séculos que essa nação está sendo colonizada, vivendo um atraso. Mas, todas as atuais mudanças do mundo árabe são a favor da Causa Palestina. Em todos estes levantamentos, na Tunísia, Síria, Egito, foi imediatamente colocada a posição de respeito à Causa Palestina. No Egito, tivemos medidas práticas no sentido de aliviar o cerco contra Gaza e a abertura gradual do posto fronteiriço.

Como estão os novos diálogos entre Fatah e Hamas?

Estamos ainda negociando. Só que não tem retrocesso, temos que formar um governo que satisfaça o interesse do povo palestino e que esteja de acordo com o direito internacional. É possível. A reconciliação é importante e é um problema que Fatah e Hamas devem resolver.

 O que motivou esse acordo?

O povo palestino não agüenta mais tanta divisão. É a força popular, o povo sempre tem a última palavra.

 A solicitação à ONU para que o Estado da Palestina seja reconhecido como um membro pleno dela é o objetivo central hoje? Existe unidade em torno disto?

O objetivo central palestino é a paz. O estado é uma garantia de ter uma vida digna e ter a paz. Para obter a paz precisa de instrumentos. Esse é um dos instrumentos imprescindíveis: um Estado que veja os interesses de sua população, sua segurança, em todos os sentidos, da mesma forma que Israel tem a sua segurança, através de um Estado. Isso é uma unanimidade na Palestina. Uma das principais bandeiras, então, é essa luta na arena internacional, a ONU vai ser a última batalha. Anteriormente tem que trabalhar nos países que são membros para, na hora da votação, obter esse lugar que nos corresponde. O melhor caminho seria um acordo bilateral entre Israel e Palestina, que eles fossem o primeiro país a reconhecer sua responsabilidade histórica e começassem a corrigir. Somos vizinhos, temos que tolerar, respeitar e conviver. Porque não é nenhum orgulho ter do meu lado um vizinho que está morrendo e não dar a mão. O vizinho não afetado tem obrigação moral, humana, de estender a mão. Não colocar nosso povo num cerco, não castigar Gaza, ela precisa ser reconstruída, já. Faz dois anos e meio que Gaza aguarda pela reconstrução, ainda tem mais de 60% morando em condições infra-humanas, a raiz daquele genocídio cometido por Israel. Mas já que não existe essa vontade política por parte de Israel, não temos outra. Vamos à ONU.


Como o senhor vê a possibilidade de um estado dentro das fronteiras de 1967?

É uma possibilidade real. A Palestina histórica são 27.009 quilômetros quadrados, ficaríamos com 6.090, mas sim, é possível, não seremos o único estado pequeno no mundo. Existe um povo que tem inteligência, território, vontade política e reconhecimento. Então, falta só o reconhecimento da ONU e esse é o tema de agora. Estamos sob ocupação, tudo bem. Ela não vai terminar em uma noite, mas não pode durar uma eternidade. Israel não pode seguir ocupando território nosso e nós não podemos seguir aceitando. Israel vai ter que ceder. Se eles seguem membros da comunidade internacional, vão ter que respeitar a carta magma.


Formado o Estado palestino, como seriam as relações com Israel?

Uma relação de vizinhos, não vejo outra relação de inimigos. Começando por Israel respeitando nosso direito de criar nosso estado independente, livre, soberano, viável. Tem que haver uma cooperação em todos os sentidos. Israel tem também que reconhecer sua responsabilidade histórica, de 63 anos até agora, de catástrofe palestina. Não foi um desconhecido que fez a catástrofe palestina, foi Israel. Claro, com apoio de outra superpotência. Tudo bem. Só que, diretamente, o responsável pelo holocausto judeu foram os nazi. Estavam apoiados por outros, verdade, mas tem o responsável.O responsável da nossa diáspora é Israel. Portanto, tem que reconhecer sua responsabilidade, pedir desculpas, indenizar os palestinos, proceder como uma nação civilizada.

 Em quantos países do mundo a Palestina tem embaixada?

Mais de 111 países que reconhecem o Estado Palestino. Não sei ao certo. E são mais de 90 embaixadas.

Quem foi primeiro país a reconhecer?

A Argélia, em 1988, 15 de novembro. A primeira representação no hemisfério ocidental foi em Cuba, em novembro de 1974. Depois o México, depois a Nicarágua, a raiz da revolução sandinista em 1979. Depois vieram representações da OLP em todos os países, inclusive no Brasil. Até 1993, tínhamos uma representação da OLP aqui, depois já se converte em uma delegação especial da Palestina e a partir de 3 de dezembro de 2010 já se converte em embaixada. Foi algo especial porque é a nossa primeira pedra fundamental nesse hemisfério, a primeira que construímos. Todas as outras embaixadas na América Latina são compradas, emprestadas, dadas ou alugadas. Aí sim começa a mudar a história na América Latina.

Por que?

Foi um passo decisivo. Depois veio Argentina, Equador, Bolívia, Suriname, Guiana e assim sucessivamente.

Todos os países da América do Sul já reconhecem?

Quase. Melhor deixar isso, porque possivelmente vai haver um reconhecimento em breve, não quero estragar as coisas.

Quais países na América do Sul ainda não reconhecem o Estado palestino?

Só falta a Colômbia.

 O senhor enxerga lutas em comum entre os latino-americanos e a Palestina?

A dignidade humana, a conservação de nossos recursos naturais, que eles estejam a serviço do bem-estar dos nossos povos, somos todos povos em luta. Somos considerados terceiro mundo, mas acho que essa denominação colonial para dividir o mundo em um, dois, três ou quatro não combina.

 O Tratado de Livre Comércio Mercosul-Israel atrapalha a luta palestina?

As relações de Israel em nível mundial atrapalham e não atrapalham. Atrapalham quando se põem a serviço da ocupação. Quando vendem armas ou munições, elas são usadas diretamente para fortalecer a ocupação, isso é uma a injustiça que não podemos aprovar. Israel, como Estado soberano, tem direito de manter relações. Agora, deve ter uma regra que regule as relações entre as nações. Portanto, essa relação com o Mercosul, se beneficiar assentamentos israelenses dentro do território palestino são condenáveis... Falamos com nossos parceiros que tivessem cuidado com as relações para não fortalecer estes assentamentos israelenses dentro do território palestino.

 Isto já acontece?

Acontece. Mas o Tratado ainda não está fechado. E o Mercosul tem um tratado de livre comércio com a Palestina, que já foi assinado, dia 19 de dezembro passado, em Foz do Iguaçu. No início de julho na Cúpula 41 do Mercosul, em Assunção, Paraguai. Palestina, junto com Japão, foram os únicos convidados com direito a fala. As relações com a América Latina estão se desenvolvendo e esperamos uma participação mais ativa no processo de paz. Essa campanha quer dizer que tem gente que sente a dor do povo palestino. O mundo deve se livrar já dessa dor, fazer justiça, para se voltar a outras tarefas importantes, como o meio ambiente estamos desperdiçando muita energia.

Qual o tamanho da comunidade palestina no Brasil?

Não temos uma estatística. Se você não tem Estado, não tem instituições sólidas e tem tarefas imediatas para fazer. Não é uma prioridade saber quantos palestinos temos aqui porque sabemos que todos estão a salvo, entre irmãos.

 Mas há alguma política para eles?

Temos um departamento de expatriados, tanto para o OLP como para ANP (Autoridade Nacional Palestina). Consideramos que os Palestinos na diáspora são uma reserva estratégica, a ponte que une a Palestina com o mundo. Nossa política é bem clara: um bom cidadão no Chile, no Brasil, na Colômbia vai ser um bom cidadão na Palestina. Trabalhamos de maneira que os palestinos possam ter livremente sua dupla nacionalidade, sem afetar a lealdade a nenhum dos dois. Essa tarefa pode ser feita perfeitamente e serve de ponte cultural, política, econômica e diplomática.


*Ibrahim Alzeben é embaixador da Palestina no Brasil. Jornalista, 56 anos, estudou na Jordânia e em Cuba. Como diplomata trabalhou em Cuba, Nicarágua, Peru, Bolívia, Brasil, Venezuela, Colômbia e Paraguai.

domingo, 24 de julho de 2011

O massacre na Noruega e Israel


La masacre del 22 de julio
Noruega e Israel

24-07-2011

María José Lera y Ricardo García Pérez
Rebelión


La masacre cometida el 22 de julio en Noruega se desarrolló en un contexto al que merece la pena prestar atención. Ha habido dos atentados, uno contra la sede del gobierno y otro en la isla de Utøya, con una diferencia de dos horas entre ambos.

En la isla de Utøya se celebraba una reunión-campamento de la Liga Juvenil de Trabajadores del Partido Laborista (Arbeidaranes Ungdomsfylking, AUF, por sus siglas en noruego) cuyo representante, Eskil Pedersen, es uno de los defensores más importantes del boicot a Israel en Europa, y con posicionamientos de gran importancia.

Boicot a Israel

La implicación de Noruega en el boicot a Israel es fundamental y hiere sensibilidades. El boicot universitario fue liderado por una de las instituciones académicas más importantes de Noruega, la Universidad de Bergen, que tiene intención de imponer un boicot académico contra Israel por un comportamiento que califica de similar al del apartheid (YNET, 24 de enero de 2010); la acompañó la junta rectora de la Universidad de Trondheim, donde se discutió y votó si unirse o no al boicot académico contra Israel.

Hace solo unos meses, en abril, este boicot universitario dio sus frutos y el propio Alan M. Dershowitz estuvo en Noruega y se ofreció a impartir conferencias sobre Israel en las tres universidades más importantes, si bien todas rechazaron su oferta, aunque sí habían sido invitados allí Ilan Pappé, o a Stephen Walt. La queja de Desrhowitz contra el «boicot de Noruega a los oradores pro-israelíes» se puede leer en el siguiente enlace: http://soysionista.blogspot.com/2011/04/el-boicot-de-noruega-los-oradores-pro.html.

El Ministro de Asuntos Exteriores de Noruega, Jonas Gahr Støre, dijo lo siguiente el día anterior a la masacre: «La ocupación debe terminar, el muro se debe demoler y hay que hacerlo ya»… y lo hizo en el mismo campamento donde se produjo la matanza (fuente: http://tinyurl.com/3zhsj4w).

Pie de foto: La AUF pide boicotear a Israel. Jonas Gahr Store, Ministro de Asuntos Exteriores de Noruega, fue recibido el jueves en el campamento de verano de la AUF que se desarrolla en Utøya, donde escuchó la petición de que Noruega reconozca al Estado palestino. Allí el ministro recorrió el campamento organizado por Eskil Pedersen, dirigente de la AUF (Reuters). 

El miércoles pasado, Eskil Pedersen afirmó que la Liga Juvenil de Trabajadores (AUF) quiere que Noruega imponga un embargo económico unilateral a Israel.

«La Liga Juvenil de Trabajadores tendrá una política más activa en Oriente Próximo y tenemos que reconocer a Palestina. “El dinero solo es dinero”, ahora tenemos que impulsar el proceso de paz hacia otra senda», declaró Pedersen.

Las acciones de BDS (boicot, desinversión y sanciones) fueron apoyadas en enero de 2006 por la Ministra de Economía (http://www.elreloj.com/article.php?id=16385) y se han hecho efectivas en retirada de inversiones. Concretamente, el 23 de agosto de 2010 Noruega comunicó que el Fondo de Petróleo Noruego (Norway Oil Fund) retiraba sus inversiones de la compañía constructora internacional Danya Cebus, que pertenece al fondo de inversiones Africa-Israel. En palabras de la Ministra de Economía «  “El Consejo de Ética enfatiza que la construcción en los asentamientos de los territorios ocupados constituye una violación de la Convencion de Ginebra relativa a la Protección de Civiles en Tiempo de Guerra,” señaló. “Varias resoluciones del Consejo de Seguridad de las Naciones Unidas y opiniones del Tribunal Internacional de Justicia han concluido que la construcción en los asentamientos israelíes en los territorios ocupados palestinos está prohibida bajo esta Convención,” dijo el ministro de Economía Sigbjoern Johnsen en una declaración ». (http://www.nocturnar.com/forum/economia/427216-fondo-noruego-retira-inversiones-de-companias-israelies.html)

La retirada de inversiones también se ha extendido al negocio de armas, y en septiembre de 2009 se canceló la inversión en Elbit, empresa armamentística israelí (http://www.haaretz.com/news/israel-summons-norway-envoy-to-protest-divestment-from-arms-firm-1.8535). Y no sólo han vetado la venta de armas a Israel, sino que en junio de 2010 la Ministra de Eucación noruega hizo un llamamiento internacional para que esta postura de boicot a las empresas armamentísticas israelíes fuese compartida por el resto de la comunidad internacional (http://www.swedishwire.com/nordic/4809-norway-calls-for-boycott-on-arms-to-israel), ante el asesinato por parte de Israel de nueve activistas turcos en el ataque a la Flotilla.

El boicot noruego está apoyado masivamente por la población y, según fuentes israelíes, en el año 2010 el 40 por ciento de los noruegos y noruegas se negaban a comprar productos israelíes (http://www.ynetnews.com/articles/0.7340.L-3898052.00.html)

Apoyo al pueblo palestino

Si Noruega ha destacado en el boicot a Israel, también lo ha hecho en declarar y reconocer a al Estado palestino. El 19 de Julio el presidente palestino Mahmoud Abbas visitó Noruega y el Ministro de Asuntos Exteriores noruego, Jonas Gahr Støre, declaró al informativo de TV2 que Noruega está dispuesta a reconocer al Estado palestino. Esas palabras son las que repitió durante la charla de Utøya: «Estamos dispuestos a reconocer al Estado palestino. Estoy a la espera del texto concreto de la resolución que los palestinos van a presentar ante la Asamblea General de Naciones Unidas en el mes de Septiembre» (fuente: http://english.ruvr.ru/2011/07/19/53408557.html).

En otoño se espera que el presidente palestino Mahmound Abbas exponga la cuestión ante Naciones Unidas, donde pedirá el ingreso en la organización y el reconocimiento del Estado palestino según las fronteras anteriores a la guerra de 1967 y con capital en Jerusalén Este. Ni Estados Unidos ni Europa apoyan la creación de un Estado palestino independiente.

Además, al ex Ministro de Asuntos Exteriores, Kare Willoch, le han regalado hace poco un pasaporte palestino y expresó su apoyo a los palestinos y su situación: «Me he dado cuenta de la muy grave injusticia a la que ha sido sometido el pueblo palestino y que realmente todo el mundo occidental tiene su responsabilidad en ello» (fuente: http://theforeigner.no/pages/news/abbas-to-meet-norwegian-foreign-minister/).


Reacciones de Israel

Israel no ignora estas acciones. De hecho, el 15 de noviembre de 2010 la prensa israelí publicó que «Noruega incita al odio contra nosotros» (fuente: ynetnews.com), lo que dio lugar a un grave conflicto diplomático. Israel acusó al gobierno noruego de financiar y fomentar la instigación descarada contra Israel. En ese caso la queja era por la financiación y participación de Noruega en la difusión de obras que informan del sufrimiento de la infancia en Gaza.

Este era el texto completo de la noticia:

Según informes recibidos por el Ministro de Asuntos Exteriores en Jerusalén, el municipio de Trondheim financia un viaje a Nueva York para los estudiantes que intervienen en la obra Monólogos de Gaza, «que trata del sufrimiento de los niños de Gaza como consecuencia de la ocupación israelí».

 La obra, escrita por un palestino de Gaza, se presentará en la sede de Naciones Unidas. La función se suma a una exposición de un artista noruego exhibida en Damasco, Beirut y Amán con la colaboración de las embajadas de Noruega en Siria, Líbano y Jordania.

La exposición muestra a bebés palestinos muertos junto a cascos del Ejército de Israel que recuerdan a los cascos de los soldados nazis y una bandera israelí empapada en sangre.

Los noruegos también contribuyen a distribuir en festivales de cine de todo el mundo un documental titulado Tears of Gaza («Lágrimas de Gaza»). Según el Ministro de Asuntos Exteriores, la película también trata del sufrimiento de los niños de Gaza sin mencionar a Hamas, los cohetes disparados en Israel y el derecho de este último a defenderse.

En la película aparecen habitantes de Gaza cantando Itbah al-Yahud, pero la traducción noruega dice «masacrad a los israelíes» en lugar de «masacrad a los judíos».

Además, se ha publicado hace poco un libro escrito por dos médicos noruegos que fueron los únicos extranjeros en Gaza que concedieron entrevistas durante la Operación Plomo Fundido.

El libro, que acusa a los soldados del Ejército de Israel de matar deliberadamente a mujeres y niños, es un éxito de ventas en Noruega y ha sido calurosamente recomendado nada menos que por el ministro noruego de Asuntos Exteriores, Jonas Gahr Støre.

 La embajada israelí en Noruega ha protestado enérgicamente contra la implicación de las autoridades en la demonización de Israel. «La política oficial y manifiesta de Noruega habla de comprensión y reconciliación --dijo el domingo por la noche una autoridad israelí--, pero desde la guerra de Gaza, Noruega se ha convertido en una superpotencia en lo que se refiere a exportar material multimedia orientado a deslegitimar a Israel mientras emplea el dinero de los contribuyentes noruegos a producir y difundir esos materiales».

 Daniel Avalon, vice-ministro de Asuntos Exteriores, ha declarado en una reunión con miembros del parlamento noruego que «este tipo de actividad aleja las posibilidades de reconciliación y favorece una radicalización de la posición palestina que les impide negociar». 

Los noruegos han respondido a las críticas israelíes diciendo que el gobierno apoya la libertad de expresión y que no intervendrá para alterar el contenido de obras de arte.

Fuente: http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-3984621,00.html

La prensa israelí ha publicado más artículos destacando que las relaciones entre ambos Estados no pasan definitivamente por su mejor momento. Hay que añadir que Noruega siempre ha mantenido conversaciones con Hamas desde que se formó un gobierno de unidad en 2007, distanciándose así de la postura estadounidense y europea (http://www.norway.org.ps/News_and_events/Press_Release/Facts_about_Norway%E2%80%99s_position_with_regard_to_Hamas/) y molestando profundamente a Israel, como era de esperar (http://news.bbc.co.uk/2/hi/6470669.stm).

Las malas relaciones se vuelven a poner de manifiesto en las declaraciones del propio Presidente de Israel, Simon Peres, quien en mayo de 2011 dijo que dialogar con Hamas es apoyar a esta organización terrorista, a lo que Jonas Gahr Støre -Ministro de Asuntos Exteriores noruego- respondió: «condenamos a las organizaciones que están implicadas en el terrorismo, pero Noruega considera que tener unas listas en las que incluir a una organización para calificarla de terrorista no sirve a nuestros objetivos» (http://www.newsinenglish.no/2011/05/06/peres-criticizes-norway-on-hamas/).

Parece que son los noruegos quiénes están poniendo sobre la mesa la «definición de terrorismo», una simple etiqueta que da nombre a unas listas y condena inmediatamente a millones de personas a un bloqueo genocida o a un ataque mortífero.

Curiosamente, el «terrorista» noruego acusado de esta masacre, Anders Behring Breivik, está siendo señalado como titular de un blog llamado «Fjordman» y sus mensajes llevan tiempo apareciendo con enlaces en Jihad Watch y Gates of Vienna (http://www.wakeupfromyourslumber.com/blog/joeblow/zionists-admit-breivik-fjordman-breivik-rightist-mass-murderer-atlas-shrugged-contribut). Si esto es así, el blog de Fjordman muestra que Breivic sería un extremista neocon que odia a los inmigrantes y especialmente a los musulmanes y, además pro-israelí; véase el blog, «por qué la lucha de Israel también es nuestra lucha» (http://vladtepesblog.com/?p=21434).

Podría ser que, al final, los tentáculos del Estado de Israel no estén tan lejos de esta matanza; al fin y al cabo no habría sido la primera que cometen ni, lamentablemente, será la última. Eso sí, la Liga Juvenil de Trabajadores Noruega (AUF), el Ministro de Asuntos Exteriores noruego y su gobierno al completo han recibido un tremendo golpe.

Justamente quienes más se han posicionado en el rechazo a la política genocida de Israel hacia el pueblo palestino son quiénes más sufren, previamente advertidos por Israel de su «tremenda osadía»… algo que en el lenguaje israelí significa que se pagan las consecuencias.


*María José Lera es profesora de la Universidad de Sevilla y Ricardo García Pérez es traductor.


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