sábado, 15 de março de 2014

Poemas para a Palestina


QASAÊD ILA FALASTIN    -   قصائد إلى فلسطين


Poemas para a Palestina - QASAÊD ILA FALASTIN - قصائد إلى فلسطين




PREFÁCIO

Emir Mourad

O que seria da poesia sem o poema?

O poema é o leitor lendo com a mente, é o texto em si. A poesia é a tradução que o leitor faz do poema-texto através dos seus sentidos, da sua alma, mente e coração.

Meus amigos poetas, Cláudio Daniel e Khaled Mahassen, nos trazem autores que expressam a Palestina em poemas, que ao serem lidos nos transportam para a realidade da Palestina e seu povo, nos fazem perceber dores, lamentos, tristezas e muita esperança de dias melhores.

E o poema vai ocupando o interior do ser e se transforma em poesia. Uma poesia que no seu significado de dor e lamento, apresenta uma mensagem de solidariedade com quem sofre a dor.

Não tivesse os nomes dos poetas, poderíamos dizer que os autores são palestinos, tal a dor que exprimem, tal a injustiça que denunciam, tal o lamento que cantam. Esse é o maior significado da causa e da luta do povo palestino: ultrapassou as fronteiras geográficas, ganhou o mundo, pois exprime a luta por justiça que está no cerne da dignidade e altivez dos seres humanos. A causa do povo palestino é de toda a humanidade.

Só tenho que agradecer a cada poeta que nos faz sedentos, cada vez mais, por justiça e liberdade para o povo palestino e todos os povos explorados e oprimidos.

Agradeço aos amigos Cláudio e Khaled por reunirem essas vozes, esses protestos, essa bandeiras da esperança e da paz, essa gente brava que aflora a verdade escondida pela mídia dos poderes podres e manipuladores.

Obrigado a todos os poetas que nos fazem transformar seu poema em poesia.


Emir Mourad
Secretário Geral da FEPAL
Federação Árabe Palestina do Brasil


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Livro Poemas para a Palestina

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Livro: Poemas para a Palestina

Autor: Vários autores

Gênero: Poesia

Número de Páginas: 100

Formato: 14x21 - acabamento em capa dura

Preço: R$ 35,00 + frete (Livro em pré-venda. Entrega após o lançamento em março)





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Célia Abila

RECADO, DO MUNDO, AO HÓSPEDE

_Ouve o grito dos mortos?
interrogo:

Covardia escondida em tanques
de sessenta e cinco toneladas,
lava roupa suja de sangue
em triste ensaio macabro.
Holocausto não calou inferno?
Pensamento atravessado de fausto,
encadeado em carnificina indecente
na espoliada Palestina;
herança de um povo abnegado
que tem incerta a paz das casas
de mulheres, crianças e velhos
na trilha pavorosa de intrigas.

Céu e inferno relembram
os laivos dos judeus em movimento
nacionalistas cínicos do horror;
sionismo arcaico à procura
de um cômodo segundo lar.

África, Chipre, Congo
Argentina! Tanto faz.
“Judeus nascidos na França
são franceses da mesma forma.”
O nome de Mahatma Gandhi
veio à tona em voz rouca.
Homens com ” duplo lar”,
onde vão lavar suas roupas?


Célia Abila é poeta, participa do Laboratório de Criação Poética e publicou em sites e revistas de literatura como Cronópios e Zunái.

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Leia também: A Palestina reimaginada na poesia brasileira

sábado, 1 de março de 2014

Relator da ONU acusa Israel de praticar APARTHEID e LIMPEZA ÉTNICA


Retratos da Resistência por Leandro Taques. Palestina, 19/04/2013

Imagem da série: “Retratos da resistência – Um povo que luta para não desaparecer”. Nesse processo de opressão realizado pelo invasor israelense, contra o povo palestino, os que mais sofrem são os pequenos. Violência física e psicológica. Fotografar crianças, em geral, é só sorriso. Na Palestina, nem sempre. Bil’in, Palestina, 19/04/2013. Leandro Taques.


Israel pratica apartheid na palestina, diz Richard Falk


Publicado em 02/25/2014 por Fabio Bacila

Para aqueles que estão mais familiarizados com a realidade da região, talvez não seja surpreendente a afirmação contundente de Richard Falk, relator especial designado pela ONU para averiguar a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel, desde 1967. Mas, uma coisa é ouvir isso de estudiosos ou mesmo de lideranças árabes, palestinas, ativistas e políticos das esquerdas. Situação bem diferente é constar essa afirmação em um relatório oficial da Organização das Nações Unidas.

Falk, em seu último relatório investido da relatoria especial pela ONU, critica a imobilidade da Corte Internacional de Justiça e assume parcialmente a tarefa que seria da competência dessa instância máxima, requerida desde 2007 a “analisar se as alegações de apartheid na Palestina Ocupada são bem fundamentadas”.

Para desempenhar essa missão, o humanista judeu e relator especial se utiliza de documentação pregressa da ONU, dos instrumentos internacionais que tipificam apartheid, colonialismo e limpeza étnica e de relatórios produzidos por diferentes organizações de direitos humanos – muitas delas israelenses. Falk reúne diversas evidências que Israel desrespeita uma série de direitos da população palestina vivendo sob ocupação, como direito à vida, liberdade, igualdade, trabalho, educação, movimentação, residência, opinião, expressão e associação. Se em Gaza as violações de direitos humanos são praticadas via bloqueio e controle exercido à distância, na Cisjordânia o ocupante instituiu um sistema legal duplo e uma segregação espacial entre colonos judeus e a população árabe.

Acercando-se da conclusão drástica de que Israel pratica o apartheid, Falk afirma no parágrafo setenta e um que “parece incontestável que as medidas israelenses de fato dividem a população dos Territórios Palestinos Ocupados com base em critérios raciais, criam reservas separadas para os palestinos e expropriam sua terra. Mais adiante, no parágrafo setenta e sete, sintetiza sua argumentação: as violações de direitos humanos refletem “políticas, leis e práticas israelenses sistemáticas e discriminatórias, que determinam onde nos territórios ocupados os palestinos podem ou não viajar, viver e trabalhar”. Como conclusão, o relator ressignifica a palavra hebraica hafrada (separação) e a utiliza como sinônimo do termo africâner apartheid para definir a situação nos territórios palestinos: “os efeitos combinados das medidas formulados para garantir a segurança dos cidadãos israelenses, para facilitar e expandir os assentamentos e, ao que parece, para anexar terras, é hafrada, discriminação e opressão sistemática do povo palestino e domínio sobre ele”.

Essa conclusão relativamente tardia, haja vista o acúmulo de indícios que a sustentam na documentação da própria ONU sobre o caso, remeto-nos a um desentendimento entre as lideranças sul-africanas e israelenses nos anos 1970. Na ocasião, um representante oficial do apartheid acusava seu colega israelense de hipocrisia quando este tentava se desvencilhar da proximidade ideológica e concreta com o regime de segregação africano.

Esse reconhecimento oficial de Richard Falk reforça ainda mais o isolamento de Israel, que caminha a passos largos para a “saída da civilização”, como mencionou um parlamentar contrário à ocupação no Knesset, referindo-se ao governo atual e aos pronunciamentos de seus apoiadores na casa legislativa. Essa constatação do relator especial faz coro com a diretriz da União Europeia, que ano passado decidiu começar a verificar a documentação de empresas israelenses para se certificar que essas não tinham vínculos com os territórios ocupados antes de permitir a venda de seus produtos na Europa. Avança a opressão e, agora sim é possível afirmar, o apartheid, mas concomitantemente Israel vai se complicando e se isolando ao permitir que suas alas da direita persigam o anacrônico sonho de um Estado judeu em toda a Palestina histórica.




Manifestação de boicote ao apartheid de Israel


O relator especial da ONU, Richard Falk, acusa Israel de promover uma “limpeza étnica”

Publicado em 02/24/2014 por Fabio Bacila


Em seu último relatório como relator especial da ONU para averiguar as violações de direitos humanos nos Territórios Ocupados por Israel [territórios palestinos], o judeu Richard Falk argumentou que a “ocupação opressiva … parece delineada para encorajar os residentes a deixar a Palestina, o que é consistente com os objetivos ‘anexionistas’, colonialistas e de limpeza étnica de Israel.

Em seu relatório, Falk sugeriu que a ONU tem um papel crucial a desempenhar, naquilo que chamou de guerra de legitimidade contra Israel. Falk descreveu esta “guerra” como “uma luta mundial para ganhar controle sobre o debate a respeito dos benefícios legais e propriedades morais no conflito apoiado por um movimento de solidariedade mundial que começou a influenciar a opinião pública.” Ele encorajou a ONU para substituir a palavra ‘ocupação’ por ‘ambições coloniais’, bem como ‘anexação’ de modo a reforçar a urgência de enfrentar a situação.

Falk foi tão longe ao ponto de redefinir a palavra hebraica hafrada – separação -, atribuindo a ela um uso literal como a tradução da palavra africâner “apartheid”, literalmente o estado de estar separados. Em seu parágrafo final da seção perguntando se Israel é culpado de apartheid, Falk escreveu que “o efeito combinado das medidas destinadas a garantir a segurança dos cidadãos israelitas, para facilitar e expandir os assentamentos, e, ao que parece, para anexar terras, é hafrada, discriminação e opressão sistemática de e dominação sobre o povo palestino.
Em suas recomendações, Falk chamou mais uma vez a Corte Internacional de Justiça para emitir opiniões consultivas sobre o estatuto jurídico da ‘ocupação prolongada da Palestina, agravada pelas transferências proibidas de grande número de pessoas da potência ocupante e pela imposição de um sistema administrativo duplo e discriminatório na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental “.

Falk também sugeriu que Israel desmantele as colônias, realoque os colonos e ofereça compensações para os palestinos da Cisjordânia, bem como “levante o bloqueio ilegal de Gaza, cesse as incursões militares, permita aos moradores de Gaza usufruir plenamente dos seus recursos naturais situados dentro de suas fronteiras ou na costa de Gaza, e se responsabilize pela situação de emergência em Gaza “.

Fonte: Urgente Palestina






Nelson Mandela fala sobre o apartheid israelense



Direito ao retorno dos palestinos



Israel pratica apartheid, Charge "Eu sou palestina" de Carlos Latuff




Muro do Apartheid construído por Israel nos territórios palestinos
Muro do Apartheid construído por Israel nos territórios palestinos ocupados.
Tem mais de 700 km, separando famílias, confiscando terras. 
Foi declarado ilegal pela Corte Internacional.




Mae palestina e mão sul africana chora a dor. Apartheid, por Latuff



sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Existir é resistir: entrevista com Emad Burnat

O filme “5 Câmeras Quebradas” (Five Broken Cameras, em inglês, e Khamas Kameeraat Muhaṭamah, em árabe), dirigido pelo palestino Emad Burnat e pelo israelense Guy Davidi, ganhou o prêmio de melhor documentário no Emmy Awards. A produção registra parte da infância do filho de Emad, Gibreel, e a resistência da vila de Bil’in contra a ocupação.


O Filme "5 Cameras Quebradas" de Emad Burnat
Emad Burnat e a produtora Christine Camdessus, no Emmy Awards. (Reuters)


Durante a 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, em agosto, Emad Burnat concedeu uma entrevista para a Revista Contexto, sobre a resistência palestina, os protestos no Brasil e sua ligação com o país.

- Você tem uma relação bastante forte com o Brasil, não? Você ficou sabendo dos protestos que começaram em junho? O que achou deles?

É, eu tenho essa relação com o Brasil, minha esposa é brasileira. Eu fiquei sabendo nas manifestações contra o governo, e li bastante sobre as que foram contra a Copa, porque eu estava assistindo à Copa das Confederações. Eu acompanhei tudo isso e acho que, em todos os lugares, as pessoas têm o direito de protestar, têm o direito de buscar os seus direitos, de que a vida deles seja respeitada. Não tenho nada específico contra o governo daqui, mas acredito que os brasileiros tenham de lutar por seus direitos, educação, saúde, tudo isso.

- O que há de comum entre os brasileiros e os palestinos?

Nós temos uma ligação muito forte. Eu sei que o Brasil apoia a nossa causa, o governo brasileiro apoia a Palestina. E claro que nós gostamos do futebol brasileiro, torcemos para o time na Copa do Mundo, a maioria dos palestinos adora. E também temos uma ligação forte porque muitos familiares nossos estão no Brasil, gostamos dessa mistura entre os dois países… Eu, pessoalmente, tenho família aqui, minha esposa tem família aqui, meus filhos têm passaporte brasileiro. Eu sinto que tenho uma segunda casa, e essa segunda casa é o Brasil.

- Durante as filmagens, você chegou a sentir receio?

Olha, eu nunca pensei que poderia parar de filmar, eu sabia que era o meu dever. Eu era o único que tinha uma câmera em toda a vila, tive de arcar com essa responsabilidade, pelo meu povo, pela minha terra. Eu tinha de fazer isso, era a minha parte na luta, com a minha câmera, com esse filme. Nunca pensei que o filme fosse ser exibido em tantos lugares ou teria tanto público, mas eu acredito nisso. Acredito no poder de mostrar a verdade, de mostrar a nossa realidade – mais do que qualquer evento político, qualquer acordo nos últimos trinta anos.

Emad Burnat e família
Emad com sua esposa Soraya e o filho Gibreel. (AFP)

- E a sua família, o que achou da sua ideia de fazer o filme? Eles apoiaram?

Eles sempre me apoiaram, desde o começo, porque eles fazem parte da nossa luta. Eles sofriam, assim como as outras pessoas da vila, e nós sofremos juntos por conta da situação na nossa terra. Eu falo disso sempre com meus filhos e tentou ensiná-los a fazer isso, a filmar, gravar, fazer filmes sobre o que vivemos em Bil’in. Tenho que ensiná-los a fazer parte de uma geração que lute pelo país deles, que participe e lute pela nossa terra.

- Você mencionou, depois da exibição, que pretende fazer mais filmes. Já tem planos para o próximo?

Eu penso em um outro projeto, mas ainda estou nesse processo, não vou colocar em prática por enquanto, por conta do sucesso deste filme (5 Câmeras Quebradas, ou 5 Broken Cameras, em inglês). Não tive tempo de planejar tudo para o próximo, ainda.

- Você acha que algo mudou, na Palestina, desde que começou as filmagens?

Acho que meu filme tem ajudado a abrir um pouco a cabeça das pessoas, mas tenho em mente que não vou conseguir mudar a realidade da ocupação. Só espero que faça com que as pessoas conheçam mais sobre a Palestina – e tivemos bastante sucesso quanto a isso. Pouco a pouco, com o filme, as pessoas conheceram mais sobre a nossa terra, sobre os nossos esforços, e isso tem ajudado a divulgar informações sobre a situação na Palestina.



Nota do Blog: Priscila Bellini é estudante de Jornalismo idealizadora da revista Contexto, e apaixonada por língua e cultura árabe.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

PALESTINA VIVE, livro para baixar



Palestina Vive, livro para baixar


A Associação de Editores e Livreiros de Contrabandos Político queria somar a sua voz com aqueles que têm mostrado o erro da Feira Internacional do Livro (FIL) de Guadalajara em nomear Israel como convidado de honra em 2013.

Sabe-se que o Estado de Israel , em violação do direito internacional , continua o bloqueio a Gaza,a construir assentamentos e  o muro de separação nos territórios ocupados e mantém centenas de palestinos , incluindo crianças, em sua prisões sem garantias legais. 

PALESTINA VIVE quer juntar-se iniciativas que ocorreram no México para denunciar a ausência de produção intelectual palestino na FIL – Feira Internacional do Livro e queremos lembrar  que o ativismo internacional pela Palestina é importante para expor a lógica perversa da ocupação israelense como sendo um processo “normal”.

Faça o download do livro PALSTINA VIVE em

qualquer um dos links abaixo:




Ou envie um e-mail com o assunto PALESTINA VIVE para pedidos@ed-bellaterra.com .

Sinta-se livre para espalhá-lo da melhor forma que achar melhor. E se quiser uma cópia física , por favor escreva para  contrabandos@contrabandos.org .

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La Asociación de Editores de Libro Político Contrabandos ha querido sumar su voz a la de quienes han puesto de manifiesto el error de la Feria Internacional del Libro (FIL) de Guadalajara al nombrar a Israel país invitado de honor en 2013.

Sabido es que el Estado israelí, contraviniendo la legislación internacional, mantiene en una situación de bloqueo absoluto a la población de Gaza, no cesa de construir colonias y muros de separación en los Territorios Ocupados y mantiene a cientos de palestinos, incluso niños, en sus cárceles, sin las debidas garantías jurídicas.

Palestina vive quiere sumarse a las iniciativas que ha habido en México para denunciar la ausencia de la producción intelectual palestina en la FIL y recordar que el activismo internacional por Palestina es un instrumento fundamental para desenmascarar la lógica perversa de la ocupación-normalización.

Descarga el libro gratuito: "PALESTINA VIVE" en cualquiera de los siguientes enlaces:



O enviando un correo electrónico a pedidos@ed-bellaterra.com con el asunto: Palestina Vive.
Siéntanse libres de difundirlo como buenamente consideren oportuno.

Y si desearan hacerse con un ejemplar físico, os rogamos escribir al correo general de Contrabandos: contrabandos@contrabandos.org

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A Palestina reimaginada na poesia brasileira


Mesquita de Omar ou Cúpula da Rocha - Jerusalém, Palestina

A cultura árabe-palestina é uma das mais antigas do Oriente Médio, destacando-se por suas realizações na arquitetura, música, dança, literatura e artes visuais. A Mesquita de Omar (foto), com sua cúpula dourada, construída no centro histórico de Al-Quds (Jerusalém) no século VII, durante a dinastia omíada, foi reconhecida pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade.


Por Claudio Daniel*


A dança típica conhecida como dabke, acompanhada por alaúde (oud), tambor (tabla), pandeiro (daff) e instrumentos de sopro (mijwiz e arghul), é outro cartão-postal da Palestina. Executada em celebrações especiais, como festas de casamento, rituais de circuncisão, para comemorar o regresso de viajantes ou a libertação de prisioneiros, possui vários estilos, entre eles a As-Samir, em que os dançarinos, agrupados em duas fileiras, em paredes opostas, fazem uma competição de poesia popular, com versos improvisados, incluindo gracejos e insultos recíprocos – algo similar aos “desafios” dos nossos poetas de cordel, tradição cuja origem remonta à tençon dos trovadores medievais, cultores por excelência das cantigas de escárnio e de mal-dizer. A poesia também está presente nos diwáns, eventos performáticos que reúnem declamação, música e dança tradicionais, que preservam a língua, história, lendas e folclore dos povos árabes, fortalecendo sua identidade cultural.

No Ocidente, a palavra diwán é conhecida desde o século XVIII graças a Johann Wolfgang von Goethe, autor do livro Diwán ocidental-oriental, obra precursora do fascínio europeu pela poesia árabe e persa, que alcançaria seu ápice na poesia de Federico Garcia Lorca, autor do Divã do Tamarit (1940), que reúne poemas que dialogam com a forma clássica da cassida.

A poesia árabe moderna, que assimilou influências do verso livre, da poesia social, do surrealismo e de outras tendências estéticas, é bastante rica e variada, e nela se destaca a obra do palestino Mahmoud Darwish (1942-2008), reconhecido como um dos mais expressivos autores da língua árabe do século XX. Nascido na aldeia palestina de Birwa, nos arredores de Akka (Acre), imigrou com sua família para o Líbano quando tinha apenas seis anos de idade, após a destruição de seu vilarejo pelos sionistas, episódio que integra a infame história da Nakba (“catástrofe”, em árabe), que levou à destruição de mais de 400 aldeias palestinas e provocou o êxodo de 750 mil palestinos, proibidos até hoje de retornarem a suas terras e lares (o número atual de refugiados e seus descendentes é calculado em cinco milhões).

Darwish destacou-se como poeta, jornalista e militante político, sendo o autor da Declaração de Argel, também conhecida como a “Declaração da Independência Palestina”, lida publicamente por Yasser Arafat, em 1988, quando o líder da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) declarou unilateralmente a criação do Estado Palestino.

A poesia de Darwish abandona a métrica e as formas de composição da poesia árabe clássica, como a cassida e o gazal, adota o verso livre e um estilo de dicção coloquial, em que o eu lírico funciona, muitas vezes, como um eu coletivo – a comunidade palestina, em especial a que vive no exílio, tema que comparece com frequência em sua obra poética. Outros temas recorrentes são a natureza, o amor, a poesia, a sensação de estranhamento, causada pela vivência no exterior, e o desejo de retorno à pátria (a busca de uma origem, real ou imaginada, é um tema caro a autores da literatura moderna, como Joyce, Celan e Kozer).

No Brasil, os poemas de Mahmoud Darwish foram apresentados pela primeira vez ao público brasileiro na antologia Poesia palestina de combate (Rio de Janeiro: Achiamé, 1981), organizada por Abdellatif Laâbi e traduzida por Jaime W. Cardoso e José Carlos Gondim. O livro, apesar de algumas incorreções (a tradução não foi feita a partir do árabe, mas de outras traduções para línguas ocidentais), tem o valor inegável de oferecer, pela primeira vez ao leitor brasileiro, uma amostragem da poesia palestina contemporânea, em que se destacam, além de Darwish, vozes singulares como as de Fádua Tuqan, Tawfik Az-Zayad e Samih Al Qassim. Como o próprio título da coletânea indica, a seleção dos poemas foi feita de acordo com critério temático: estão reunidas aqui canções de combate, que expressam a epopeia de um povo que resiste, há quase sete décadas, à brutal tentativa de genocídio humano e cultural perpetrada pelo estado sionista. Apesar dessa delimitação, que obedece a um viés político (justificável em seu contexto histórico), o resultado estético apresenta alguns ótimos resultados, como podemos verificar nas seguintes composições:

Os lábios cortados


Eu poderia ter contado
a história do rouxinol assassinado
poderia ter contado
a história...
se não me tivessem cortado os lábios.
(Samih al Qassim)

Provérbios


Segundo nosso primeiro antepassado
disseram nos provérbios
“Como uma raposa
que engole uma foice”
“O que o vento traz
a tempestade leva”
“Quem rouba os outros
vive sempre
com medo”.
(Tawfik Az- Zayad)

O primeiro poema, de Samih al Qassim (nascido em 1939), concentra sua força expressiva em apenas cinco linhas, numa estrutura similar à do haicai; porém, ao contrário do terceto japonês, não apresenta uma ação, e sim uma possibilidade, a partir da justaposição de duas breves imagens, a do rouxinol e a dos lábios cortados. O poema remete à hipótese de uma ação, que teria ocorrido se o narrador não tivesse sofrido a violência da mutilação. É uma peça ao mesmo tempo sutil e impactante, que recorda os poemas breves de Maiakovski (“come ananás, mastiga perdiz / teu dia está prestes, burguês”, na tradução de Augusto de Campos) e de Bertolt Brecht (“Escapei aos tigres / Nutri os percevejos / Fui devorado / Pela mediocridade”, em versão de Haroldo de Campos), e ainda a “poesia-pílula” de Oswald de Andrade (“Venceu o sistema de Babilônia / e o garção de costeleta”).

O segundo poema, de Tawfik Az- Zayad (1929-1954), também é construído de acordo com uma técnica de montagem, mas, desta vez, de provérbios populares árabes, retirados de seu campo habitual de referências e recontextualizados para a crítica à ocupação israelense (“Quem rouba os outros / vive sempre / com medo”). A incorporação de provérbios na poesia (e na prosa) de alto repertório é verificada em diversos autores da modernidade, como James Joyce, Guimarães Rosa e Paulo Leminski, geralmente com sentido irônico, subvertendo o sentido original dos ditos populares, que é alterado e ampliado, pela paródia. No caso da poesia lírica árabe, que se alimenta há séculos de imagens e ditos tradicionais, a subversão é ainda mais violenta. Em ambas composições, o eu lírico fala em solilóquio, mas, na peça de Tawfik Az- Zayad, o “outro” israelense também é retratado, de forma enviesada: aquele que oprime é o que sente medo, pois “O que o vento traz / a tempestade leva”. Um terceiro poema que merece breve comentário é Refugiado, de Salim Jabran (nascido em 1947):

Refugiado


O sol atravessa as fronteiras
sem que os soldados atirem
o rouxinol canta manhã e tarde
e dorme em paz
com todos os pássaros dos kibutz
um asno extraviado
pica o pasto
em paz
sobre a linha de fogo
sem que os soldados atirem nele
e eu
teu filho exilado
- Ó terra de minha pátria
entre meus olhos e teus horizontes
a muralha das fronteiras
(Salim Jabran)

A composição, desenvolvida em linguagem narrativa, sobrepõe quatro imagens: a do sol, a do rouxinol, a do asno e a do refugiado, que é o próprio eu lírico do poema. Nas três primeiras imagens, nada acontece: os elementos da natureza não são perturbados pelos soldados da fronteira, que não atiram. A quarta imagem, porém, é inconclusiva: entre os olhos do narrador e a vastidão da terra há uma muralha – e, o que o poema não diz: guaritas do exército de ocupação israelense, com soldados que disparam naqueles que cruzam a fronteira. Assim como nos poemas de Samih al Qassim e Tawfik Az- Zayad, estamos aqui no território do oculto: nada é dito claramente, o leitor deve interpretar os poemas a partir das pistas e sugestões deixadas pelos autores. Diferente estratégia textual é adotada por Mahmoud Darwish, discípulo de Whitman e de Maiakovski, que prefere o discurso retórico, evitando paráfrases, metáforas e imagens abstratas. Seu vocabulário, simples e direto, traduz o cotidiano da ocupação em versos de alto impacto como estes:

Carteira de identidade

(fragmento)

Toma nota!
Sou árabe.
Número da identidade: 50 mil
Número de filhos: oito
E o nono... já chega depois do verão.
E vais te irritar por isso?

Toma nota!
Sou árabe
Trabalho numa pedreira
Com meus companheiros de dor
Pra meus oito filhos
O pedaço de pão
As roupas e os livros
Arranco da rocha...
Não mendigo esmolas à tua porta,
Nem me rebaixo
No portão do teu palácio
E vais te irritar por isso?

Este poema – talvez o mais conhecido da literatura palestina do século XX – sugere o diálogo de um habitante dos territórios ocupados com um soldado israelense, em tom de desafio (1). A tradução, assinada por Paulo Farah, professor de língua e literatura árabes na Universidade de São Paulo, integra o volume A terra nos é estreita e outros poemas (São Paulo: Bibliaspa, 2012), primeira coletânea individual de Darwish publicada no Brasil (2), que inaugura um novo patamar nas relações – ainda tímidas – entre a poesia palestina e a brasileira. Em resenha que escrevemos sobre esse livro, publicada na revista eletrônica Mallarmargens (3), afirmamos que a poesia de Darwish emprega imagens simples, extraídas do cotidiano: o girassol, o cavalo, a oliveira, a rosa, o prego, a chuva. A simplicidade do vocabulário, porém, muitas vezes faz referências à história universal, à geografia do Oriente Médio, à tradição literária e religiosa, como ocorre na curiosa composição Como nun na Surata do Clemente, que dialoga com textos do Corão e com imagens mitológicas, como a da fênix grega. Já no livro Salmos, encontramos uma série de poemas sobre Jerusalém, com referências intertextuais aos livros proféticos do Antigo Testamento, em que a cidade, transformada em personagem, fala na primeira pessoa – recurso poético conhecido como prosopopéia. O exílio do povo hebreu relatado nos textos bíblicos é usado por Darwish como metáfora do êxodo e do sofrimento do povo palestino, e o retorno à terra perdida sinaliza uma utopia ao mesmo tempo pessoal e coletiva: é a recuperação do país, que tem sua própria história e cultura, mas também uma reapropriação de sua infância, de suas lembranças, de suas ligações familiares, enfim, de sua vida. Na poesia de Darwish, encontramos com frequência o diálogo, à maneira de um teatro poético, como acontece na composição A eternidade do cacto:

— Para onde me levas, pai?
— Em direção ao vento, meu filho...


Este recurso, que permite a construção de uma pequena cena, com o pano de fundo da história palestina a partir de 1948, recorda por vezes as composições de Bertolt Brecht, embora em Darwish o tom épico esteja quase ausente: é um poeta lírico e elegíaco, que observa o heroísmo presente em pequenas situações, como lavar pratos, fazer café, ouvir o rádio, ações convertidas em formas de resistência: o simples fato de existir, de perpetuar sua língua, seus costumes, sua memória, já faz do palestino um combatente do sionismo, que procura apagar todos os vestígios da existência desse povo, demolindo suas aldeias, mudando os nomes das ruas, reescrevendo a história. A poesia, para Darwish, é uma forma de resistência: é a afirmação de uma identidade, pessoal e coletiva, e a reconstrução de um país pela palavra poética.

A terra nos é estreita foi publicada no Brasil em momento histórico auspicioso: em dezembro de 2012 aconteceu o Fórum Social Mundial Palestina Livre, em Porto Alegre (RS), que reuniu milhares de ativistas de movimentos populares, do Brasil e do exterior, para uma série de debates e atividades culturais relacionadas à solidariedade com o povo palestino. A Bibliaspa, uma das entidades participantes do Fórum, promoveu também o lançamento do romance Noite Grande, do palestino-brasileiro Permínio Asfora, autor ainda pouco conhecido de nossa literatura, que mereceu, no entanto, o elogio de Guimarães Rosa. A revista Zunái – que organizou, em parceria com a Federação Árabe Palestina (Fepal) a mostra fotográfica Palestina: a ferida aberta, para relembrar os 30 anos do massacre de Sabra e Chatila, também esteve no Fórum. Participamos de uma mesa temática sobre a arte de resistência, ao lado do célebre cartunista Latuff, e realizamos a distribuição da plaquete Poemas para a Palestina, publicação semi-artesanal com textos de 15 autores brasileiros, que expressaram, em diferentes estilos – do soneto à elegia, do poema minimalista ao neobarroco – a solidariedade a um povo que busca reencontrar o seu lugar na história. A plaquete, de poucas páginas e pequena tiragem, foi acrescida de novos textos e traduzida para o idioma árabe por Kháled Mahassen, em um volume bilíngue que será publicado em breve pela editora Patuá, de São Paulo – parte da tiragem será enviada à Cisjordânia, por ocasião da III Missão de Solidariedade à Palestina, em 2014. É nossa intenção que essa obra seja uma semente de diálogo e cooperação entre os poetas palestinos e brasileiros. Como breve amostragem do volume, apresentamos aqui algumas das composições:

Jonatas Onofre

Faixa de Gaza

Como pode ser
esta veia sem sutura?

Este campo de destroços
em hemorragia?

A ausência das harpas
ainda verga os galhos
do salgueiro.

Mas o sol, imunda fera,
lambe um ossuário
de crianças no deserto.

.....................................

Andréia Carvalho

Judah


ouço teu passo - irmão
manso de sandálias
emplastradas
sondo teus olhos
dois campos pardos
concentrados

e não te escuto o nome
abatido
e não te ouço os cânticos
pelos dentes afiados

branca munição
teu sorriso cúspide
tudo que me cospe
tudo que me cala

não mais te coagulam pontes
no mar vermelho do sangue

teus frutos amordaçados
com a fome de um jardim
suspenso
lamentam a polpa
de tua febre

não te entendo o êxodo
fantástico
na fissura dos mapas

antes da promessa
era terra à vista
teu deserto mágico

antes da mesquita
era o filho do cosmos
era autêntico, o livro branco
de neve

tu te lanças sobre muralhas
inventadas
desenhos bombardeados

e mutilas em seis
o que te deram
em sete

hamurabi coração
dilacerado e cego
oro por ti

escarificado

.....................................

Lígia Dabul

Palestina


Despenca o medo.
A primeira pessoa
atravessa o que
pretendo.
Não
esqueço a fúria
da visita. De novo
a pior de todas
as viagens.
Terrenos
interditos e
barbárie
aberta,
vã,

acusam
o direito da
resposta.

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Khaled Fayes Mahassen

Gaza da morte


O grito da morte
Gaza
Fronteiras fechada
saídas cerradas
Gaza da morte

Gaza da morte
quem faz a sorte?
A lua é triste,
a vida é triste
o sol! O sol é muito triste,
a Morte!
Ah! A morte é triste.

Gaza da Morte,
Aos olhos do mundo
casa caída
vida destruída,
criança que morre
na gaza da morte

Aos olhos do mundo
ao protesto surdo.

Oh!
O grito forte
da Gaza da morte.

Sorte?

Paz! Que Paz?
Paz com braço forte
com espada que corte
com povo unido
com governo unido
e o mundo decidido
a mudar a sorte

Gaza
Gaza da morte
Gaza da morte
Gaza
Gaza da morte.

Mudará , mudará a sorte!

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Claudio Daniel

Fósforo branco


Fósforo branco ácido ilumina escombro escárnio nos céus do Líbano.
Talhos retalhos de torsos retorcidos
ossos negrume carcaças.
Corpos enfileirados peles requeimadas
de carne sucata
nos campos de refugiados
em Sabra e Chatila.
Esta é a hora do morticínio.
Farpas fiapos nacos de membros desmembrados
e o aroma escuro escuro da hora lenta lenta de um dia que nunca nunca termina.
Nenhum Kaddish (4) para os filhos da escrava Agar
nenhuma lágrima para Ismael.
Apenas o silêncio de talhos retalhos peles farpas fiapos
e o escuro escuro.
Esta é uma história
exilada da história
que eu e você não devemos saber:
por isso cala o escombro cala o negrume cala a sucata do morticínio.
É preciso calar
a matraca dos jornais;
sim é preciso fechar os livros fechar para sempre os livros
e condenar os mortos à perene desmemória
(em algum sítio
mefistofáustico
de Tel Aviv
que moveu a macabra máquina da morte
a estrela de David
se converte
em nova suástica).
Porém eu e você não nos calamos
eu e você não iremos esquecer
eu e você somos o cedro do Líbano a oliveira da Palestina
o pão fresco nas mesas da Síria.
Houve aqui uma página infame da história
mas eu e você recusamos o silêncio
recusamos o esquecimento
recusamos o perdão.

2013 - dedicado a Emir Mourad


Notas

1) Conforme Paulo Farah, “A poesia e o envolvimento político de Darwish foram uma fonte contínua de conflito com as autoridades. Em 1962, ele foi acusado de incitamento à revolução por recitar um poema sobre Gaza em um festival de poesia. Nos anos seguintes, foi preso diversas vezes”.

2) Convém citar também as notáveis traduções de Darwish realizadas por Michel Sleiman, poeta e professor de língua e literatura árabe na USP, publicadas na revista Zunái, na página http://www.revistazunai.com/editorial/23ed_mahmouddarwish.htm.

3) Artigo publicado na página http://www.mallarmargens.com/2013/01/poeta-palestino-mahmoud-darwish-e.html

4) Prece recitada por um enlutado durante 11 meses após o falecimento de seu pai ou mãe. Em caso de falecimento de um irmão, irmã, esposa, marido ou filho (a) é recitado por apenas um mês.

Claudio Daniel é poeta, curador de literatura e poesia no Centro Cultural São Paulo e editor da revista CULT.

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