terça-feira, 5 de agosto de 2014

Uma venerável voz judia a favor da paz

Henry Siegman, rabino e ex-diretor executivo do Congresso Judeu Norte-americano e do Conselho de Sinagogas dos Estados Unidos, sustenta que a ocupação israelense dos territórios palestinos deve terminar

Por Amy Goodman, artigo publicado em Truthdig em 30 de julho de 2014. Tradução para português de Carlos Santos para Esquerda.net*


Henry Siegman, uma importante voz judia a favor da paz

O ataque de Israel contra a população palestina da Faixa de Gaza já leva mais de três semanas. O atual ataque militar terrestre, marítimo e aéreo dura há mais tempo que o terrível ataque de 2008/2009, no qual morreram 1.400 palestinos. O número de mortos é de pelo menos 1.400 pessoas, na sua grande maioria civis [1]. No momento de escrever esta coluna, as Nações Unidas confirmaram que uma escola da ONU em Gaza, em que milhares de civis estavam refugiados, foi atacada pelas Forças de Defesa israelitas, deixando um saldo de pelo menos 20 pessoas mortas. As Nações Unidas informaram 17 vezes as coordenadas exatas do refúgio às forças israelitas.

Democracy Now! entrevistou Henry Siegman, uma referência do pensamento judeu nos Estados Unidos e presidente do “US/Middle East Project” (Projeto Médio Oriente/Estados Unidos). Siegman é rabino e ex-diretor executivo do Congresso Judeu Norte-americano e do Conselho de Sinagogas dos Estados Unidos, duas das principais organizações judias do país. Siegman sustenta que a ocupação israelita dos territórios palestinianos deve terminar.

“Há um dito talmúdico na ‘Ética dos pais’ que sustenta ‘Não julgues o teu próximo enquanto não tiveres estado no seu lugar’. Então, a minha primeira pergunta ao abordar qualquer problema relacionado com a questão israelense-palestina é: que faríamos se estivéssemos no seu lugar’. Que sucederia se a situação se revertesse e a população judia fosse sitiada ou se lhe dissessem: ‘Damos-lhes menos de 2% da Palestina. Agora comportem-se. Nada de resistência e permitam-nos tratar do resto’. Será que algum judeu diria que é uma proposta razoável?”.

Siegman continuou: “Nas circunstâncias atuais, Israel tem o direito de fazer o que está a fazer agora e, certamente, como se sustentou, inclusive o presidente dos Estados Unidos o afirmou em reiteradas ocasiões, nenhum país aceitaria viver sob essa ameaça permanente. Ainda que lhe tenha faltado dizer, e é o que invalida e mina o princípio, que nenhum país nem nenhuma população aceitaria viver do modo a que se obrigou a viver as pessoas de Gaza. E, portanto, isto também invalida essa equação moral que põe Israel no lugar da vítima que deve atuar para evitar que a situação continue desta maneira. E os nossos meios de comunicação raramente assinalam que os palestinos de Gaza ou o Hamas, a organização que dirige Gaza, que são os atacantes, também têm o direito a ter uma vida normal e digna e que eles também devem pensar ‘que podemos fazer para pôr fim a esta situação?’”.

Henry Siegman nasceu na Alemanha em 1930. Ele e a sua família foram perseguidos pelos nazistas. “Vivi dois anos sob a ocupação nazista, a maior parte do tempo correndo de um lugar para outro, escondendo-me. Sempre pensei que a lição mais importante do Holocausto não é que existe o mal, que há pessoas malvadas no mundo que podem fazer as coisas mais cruéis e inimagináveis. Essa não foi a principal aprendizagem do Holocausto. A grande aprendizagem do Holocausto é que a gente de bem, cultivada, que geralmente consideraríamos boas pessoas, podem permitir que esse mal se imponha. A população alemã, que não eram monstros, permitiu que a máquina nazista fizesse o que fez”.

O pai de Siegman foi um dos líderes do movimento sionista europeu, que reclamava uma pátria para o povo judeu. Siegman contou: “Eu era um fervoroso sionista desde criança. Lembro-me que no barco que me trouxe aqui, quando estávamos vindo para os Estados Unidos e teria 10 ou 11 anos de idade, escrevia poesia e canções sobre o céu azul da Palestina. Naquela época denominávamo-la Palestina”.

Nos Estados Unidos, Henry Siegman converteu-se numa importante referência da vida judia norte-americana. Quando lhe pedi que refletisse sobre o ataque atual contra Gaza, sustentou: “É desastroso. Tanto em termos políticos como do ponto de vista humanitário. Quando alguém se põe a pensar que isto é o que faz falta para que Israel sobreviva, que o sonho sionista se baseia no assassinato reiterado de pessoas inocentes à escala que vemos hoje na televisão, trata-se de uma crise muito profunda do pensamento de todos os que estamos comprometidos com a criação de um Estado e do seu sucesso”.

Pedi a Siegman que olhasse para um fragmento do programa “Face the Nation”, da cadeia CBS. O apresentador, Bob Schieffer, finalizou recentemente o programa com o seguinte comentário: “No Oriente Médio, o povo palestino encontra-se sob o controle de um grupo terrorista que embarcou numa estratégia para que as suas próprias crianças sejam assassinadas para conseguir a compaixão pela sua causa. Esta estratégia talvez esteja funcionando, pelo menos em algumas partes. Na semana passada, encontrei uma citação de há muitos anos de Golda Meir, uma das primeiras líderes de Israel, que bem poderia ter sido pronunciada ontem: ‘Podemos perdoar aos árabes por matar os nossos filhos’, afirmou, ‘mas jamais poderemos perdoá-los por nos obrigar a matar os seus filhos’”.

Siegman disse que tinha visto o programa e respondeu: “Conheci a Golda Meir e escutei o seu comentário. Naquele tempo pensei —e agora também penso— que é uma declaração terrivelmente hipócrita. Essa declaração foi feita pela mesma mulher que disse: ‘Os palestinos… não existem os palestinos. Eu sou palestina’. Se não queres matar os palestinos, se te provoca tanta dor, não deves matá-los. Podes dar-lhes os seus direitos e podes pôr fim à ocupação. E, culpar os palestinos pela ocupação e pelo assassinato de inocentes de que estamos a ser testemunhas neste momento em Gaza? Por quê? Por querer um Estado próprio? Por querer o que os judeus quiseram e conseguiram? Acho, para dizê-lo em termos suaves, pouco digno de admiração. Há algo profundamente hipócrita na sua declaração original e na repetição agora como uma grande reflexão moral”.

Enquanto os Estados Unidos continuam a fornecer armas a Israel, mais de 250 crianças morreram em Gaza. Em lugar de lhes dar armas, os Estados Unidos e o resto do mundo deveriam pressionar Israel para que ponha fim à matança.

Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps para o espanhol. 





[1] Nota do Blog Sanaúd-Voltaremos: No 25ºdia (08/07 a 04/08) do massacre que Israel comete contra a população de Gaza, o numero de mortos ultrapassou os 1845 e mais de 9600 feridos, sendo a imensa maioria de crianças, mulheres e idosos.

domingo, 3 de agosto de 2014

A lógica da violência israelense

30/7/2014,  Jacobin Magazine.
Por Greg Shupak, Professor de estudos de mídia da Universidade de Guelph, no Canadá.
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


"Todos nós, cidadãos de estados que ajudam Israel a fazer o que faz, temos de forçar nossos governos a parar de colaborar com Israel. Enquanto não conseguirmos que parem, todos nós somos responsáveis por essa horrorosa violência lógica – que Israel ‘explica’ todos os dias" 


Exército terrorista de Israel


A violência dos israelenses não é ‘sem sentido’: ela segue uma lógica colonial.

Entende-se que, para muitos, as ações de Israel na Faixa de Gaza sejam massacre e carnificina como tais. É interpretação plausível para a matança[1] de 1.284 palestinos, pelo menos 75% dos quais são civis, e ferir outros 7.100.


Ver Israel como dedicado a derramamento gratuito de sangue parece até mais razoável, como conclusão, à luz do massacre[2] de 63 pessoas em Shujaiya depois[3] de “uso extensivo de fogo de artilharia em dúzias de áreas populosas em toda a Faixa de Gaza” que deixou cadáveres “espalhados pelas ruas”, ou o bombardeamento[4] de abrigos da ONU abertos para acolher os que fugiam da violência. É conclusão também tentadora, baseada em relados de Khuza’a,[5] área no interior do território da Faixa, e que também foi cenário de mais um massacre pelos israelenses.


Mas descrever essa violência como ‘maldade em si’, como ‘perversão’ ou como ato sem outro objetivo além do assassinato em si deixa escapar a própria lógica que preside tudo que Israel está fazendo com sua Operação Linha de Proteção, agora, mas que de fato faz há muito tempo, ao longo de toda sua história.


Como diz Darryl Li, em “A Solução ‘Nenhum Estado’”,[6]

“Desde 2005, Israel vem desenvolvendo um experimento raro,[7] talvez sem precedentes, de gestão colonial na Faixa de Gaza,” procurando sempre “isolar os palestinos de qualquer contato com o mundo exterior, torná-los absolutamente dependentes da caridade externa” e, simultaneamente, cuidar de “absolver Israel de qualquer responsabilidade em relação a eles.”

Essa estratégia, prossegue Li, é o modo pelo qual Israel trabalha para manter maioria de judeus nos territórios que controla, de modo a poder continuar a negar direitos iguais para o restante da população.


Suprimir a resistência palestina[8] é crucial para o sucesso do experimento israelense. Mas há um corolário, a saber, uma interação cíclica entre o colonialismo israelense e o militarismo norte-americano. 


Como explica Bashir Abu-Manneh,[9] há uma relação entre o imperialismo norte-americano e as políticas sionistas.


Políticos norte-americanos creem que uma aliança com Israel ajuda os EUA a controlar o Oriente Médio. Assim sendo, os EUA viabilizam o colonialismo e a ocupação israelenses, o que, por sua vez, cria contextos para mais intervenções dos EUA na região, que podem ser usados para tentar aprofundar a hegemonia norte-americana.


O autor diz também que “os EUA têm determinado grandes resultantes econômicas e políticas” na região desde, pelo menos, 1967, e que Israel desempenha “papel crucial nas realizações norte-americanas. Em Israel-Palestina, o que se tem é que a força e uma paz colonial alternaram-se como principais instrumentos de política.” Mas, em todos os casos, permanece sempre “o mesmo objetivo, constante: a supremacia dos judeus na Palestina – o máximo possível de terra, com o mínimo possível de palestinos sobre ela.”


O que os dois analistas, Li e Abu-Manneh destacam é a preocupação de Israel com manter os palestinos em estado de impotência. Conduzida simultaneamente por sua própria agenda de ocupação com colonização e por sua função como parceira dos EUA no sistema geopolítico, Israel dedica-se a tentar equilibrar (i) seu desejo de maximizar o território que controla e (ii) o imperativo de minimizar o número de palestinos vivos nos territórios que Israel aspira a usar para seus próprios objetivos.


Um modo de destruir qualquer sinal do poder dos palestinos tem sido deixado bem à vista na Operação Linha de Proteção, durante a qual a violência dos israelenses foi aplicada a detonar quaisquer sinais da independência palestina – daí a conclamação que fez o ministro da Economia Naftali Bennett,[10] para “derrotar o Hamás.”


Resultado disso tudo, é que os palestinos não estão expostos exclusivamente à violência mais extrema. Também a capacidade de os palestinos viverem autonomamente na Palestina histórica tem sido atacada. A destruição da infraestrutura no recente ataque[11] contra a única usina de produção de eletricidade de toda a Faixa de Gaza é sinal bem claro disso. O massacre-crime israelense em curso não põe fim só à vida de indivíduos palestinos, mas também visa a arrancar dos palestinos como povo a capacidade de viver independentemente em sua terra tradicional histórica.


Quando nega aos refugiados o direito natural protegido por lei de retornar, Israel deixa ver abertamente a tática de que se serve para manter o quadro demográfico com que sonha, criando condições inóspitas para a existência autônoma dos palestinos; ao mesmo tempo, a mesma tática também pode assegurar a Israel “o máximo possível de terra, com o mínimo possível de palestinos sobre ela.”


A violência regida por essa lógica não é exclusividade do sionismo. É traço central no colonialismo e tem paralelo histórico, por exemplo, na Trilha das Lágrimas nos EUA ou no Canadá, com a limpeza étnica das planícies mediante o processo de provocar premeditadamente grandes fomes[12]  entre os povos nativos. A Operação Linha de Proteção, dos israelenses, hoje, é ação desse tipo.


Impedir que um povo proveja a própria sobrevivência é um meio de sabotar a capacidade de viverem autonomamente. Esse é o sentido do ataque de Israel contra 46 barcos pesqueiros[13] de Gaza, ou dos ataques do 16º Dia[14] da Operação Linha de Proteção contra as áreas plantadas no norte da Faixa de Gaza, na cidade de Gaza, na Faixa de Gaza Central, em Khan Yunis e  em Rafah. Assim é que se tem de entender que Israel tenha-se dedicado a destruir 2/3 dos moinhos de trigo[15] de Gaza, e unidades que produziam ração para 3.000 animais[16] (para nem falar dos animais cuja morte também foi provocada). Assim é que se deve interpretar o que a Dra. Sara Roy, de Harvard, descreve como deliberada destruição de longo prazo e o desmanche da economia da Faixa de Gaza,[17] ações que, a menos que haja aumento considerável na ajuda oferecida pelo Alto Comissariado para Refugiados da ONU, provocarão fome em massa.


Impedir absolutamente que os palestinos promovam a própria sobrevivência e de suas famílias é também roubar-lhes a capacidade de funcionar por conta própria. Essa é uma das implicações de “drogas psicotrópicas para pacientes de doenças mentais, trauma e ansiedade” terem desaparecido dos estoques de medicamentos e de o hospital de Shifa[18] “precisar com urgência de neurocirurgiões, anestesiologistas, cirurgiões plásticos e gerais e ortopedistas, além de 20 leitos para UTI, uma máquina digital C-ARM para cirurgias ortopédicas, três mesas de cirurgia e sistema de iluminação para todas as cinco salas cirúrgicas.” 


Essa é a ação – como dizem os Médicos sem Fronteiras, em conclamação[19] para que Israel “pare de bombardear civis cercados em locais sem saída” – que já matou dois paramédicos e feriu dois outros, quando tentavam resgatar feridos de Ash Shuja’iyeh. Essa é a implicação de Israel ter destruído 22   instalações de atendimento a doentes e feridos,[20] inclusive pelo menos um ataque direto[21] contra o hospital al-Aqsa e a destruição do hospital o hospital de reabilitação el-Wafa,[22] que foram atacados dias seguidos, várias vezes. 


Esses ataques a hospitais foram causa de uma carta aberta publicada num dos mais prestigiosos periódicos médicos do mundo, The Lancet,[23] na qual 24 médicos e cientistas relatam ter ficado “horrorizados ante o massacre de civis em ações militares em Gaza, disfarçadas como se fossem ações para punir terroristas”, “massacre que não poupou ninguém, inclusive pacientes em cadeiras de rodas, em camas hospitalares e em leitos de doentes em hospitais.” 


Ataques a instituições religiosas, traço que se vê em todos os projetos de ocupação com colonização, são outro modo de interferir na independência dos palestinos. 88 mesquitas de Gaza foram danificadas,[24] o que equivale a dizer que foram danificados 88 pontos nos quais as comunidades gazenses reuniam-se e tinham contato entre elas.


O ataque de Israel contra a cultura palestina também deve ser compreendido como ato de violência contra os palestinos como povo. As culturas não são estáticas e vivem processo infinito de construção, desconstrução e reconstrução das próprias narrativas, de tal modo que os grupos se autocompreendem como específicos e são compreendidos como tais por membros de culturas diferentes.


A capacidade de um povo para contar suas próprias histórias sobre eles mesmos é aspecto chave de sua existência autônoma. Impedir a capacidade de os palestinos desenvolverem essas práticas e respectivas narrativas é mais um crime de Israel, quando destrói a casa do poeta Othman Hussein[25] e a casa do artista Raed Issa;[26] quando mata o cameraman Khaled Reyadh Hamad[27] em Shujaiya e Hamdi Shihab, motorista da agência de notícias Media 24 de Gaza; quando ataca jornalistas falantes de árabe da al-Jazeera e da BBC;[28] ou quando destrói o prédio onde funcionava a rádio Sawt al-Watan.[29]


Minar a capacidade de um povo educar os seus jovens, treiná-los para trabalhar e ensiná-los a pensar criticamente é mais um meio para minar a possibilidade de existência independente. Por isso Israel destruiu completamente ou em parte, 133 escolas palestinas.[30]


Ao mesmo tempo em que destrói instituições culturais e educacionais para impedir que os palestinos reproduzam-se culturalmente, Israel promove matança em massa de 229 crianças palestinas, com 1.949 outras crianças feridas;[31] é o meio mais claro, e mais horrendo, de literalmente cortar a capacidade de os palestinos continuarem a existir como grupo. É o significado de Israel ter traumatizado 194 mil crianças,[32] dependentes hoje de assistência psiquiátrica. É o significado também de Israel ‘racionar’[33] o atendimento a “cerca de 45 mil grávidas na Faixa de Gaza, das quais 5 mil foram desalojadas.”


Israel impede também diretamente a vida dos palestinos quando destrói ou danifica gravemente as residências de 3.695 famílias palestinas,[34] e cria condições nas quais se torna virtualmente impossível levar avante as atividades do dia a dia que dão forma à continuidades de outras gerações. Israel é causa hoje de 1,2 milhão[35] de palestinos “não terem acesso, ou só terem acesso limitado a água e a serviços de esgoto,  devido a danos no sistema de eletricidade ou falta de combustível para fazer funcionar geradores.” 


Todos nós, cidadãos de estados que ajudam Israel a fazer o que faz, temos de forçar nossos governos a parar de colaborar com Israel. Enquanto não conseguirmos que parem, todos nós somos responsáveis por essa horrorosa violência lógica – que Israel ‘explica’ todos os dias. 




sábado, 2 de agosto de 2014

Carta ao povo brasileiro: por Gaza, pela Palestina, pela Humanidade!

FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil


Hoje, foram 160 mortos palestinos! O saldo dos ataques do estado terrorista de Israel no seu 22º dia, de 08/07 á 01/08, é trágico, uma catástrofe humanitária, que demonstra, aos olhos do mundo, a crueldade e covardia de um governo, de um estado fora da lei.

Faixa de Gaza – Palestina:

- 1.610 MORTOS , sendo 80% civis - 296 crianças!
- 8.760 FERIDOS
- 6.920 ataques aéreos (sem contar, os ataques por mar e terra)
- 9.245 casas destruídas
- 450.000 desabrigados/deslocados (25% da população da Faixa de Gaza)
- Estações de energia elétrica totalmente destruídas
- Redes de fornecimento de água e redes de esgoto , mais de 60% inoperantes

 Israel:

-72 mortos , sendo 14% civis

Não podemos, não devemos dar trégua a esse estado assassino, uma ameaça para toda a humanidade.

Agradecemos as milhares de manifestações de apoio e solidarriedade que temos recebido de todo o Brasil. Agradecemos a todos pelas centenas de atos públicos nas ruas de norte a sul do Brasil.

Agradecemos a atitude nobre e enérgica da Presidente Dilma em repudiar o massacre e retirar de Israel o nosso embaixador brasileiro.

Com todas as pressões nacionais e mundiais, o governo israelense continua seus crimes e afronta todas as leis do sistema jurídico internacional, não cumpre as resoluções da ONU, rasga a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Mais ações se fazem urgentes!

Pedimos à Presidente Dilma, na carta que lhe enviamos em 24/07/14, para que retire do Brasil o Embaixador de Israel e rompa os acordos comerciais, científicos e militares com Israel.

PEDIMOS A TODO O BRASIL, HOMENS E MULHERES,ORGANIZAÇÕES, ENTIDADES E MOVIMENTOS DE TODA A SOCIEDADE CIVIL:

- Que organizem mais e mais manifestações de repúdio ao massacre israelense contra Gaza;

- Que enviem milhões de mensagens para a Presidente Dilma, através do site “FALE COM A PRESIDENTA” -  https://sistema.planalto.gov.br/falepr2/index.php -  e escrevam:

1-   PRESIDENTE DILMA, EXPULSE O EMBAIXADOR DE ISRAEL!

2- PRESIDENTE DILMA, ROMPA OS CONTRATOS E ACORDOS MILITARES, CIENTÍFICOS E COMERCIAS COM ISRAEL!


Por Gaza, pela Palestina, pela humanidade!


Porto Alegre, 01 de agosto de 2014.


FEPAL - FEDERAÇÃO ÁRABE PALESTINA DO BRASIL




MENSAGENS DA FEPAL:







Não em meu nome, por Marcelo Gruman


O terrorismo israelense e as crianças palestinas


Na minha adolescência, tive a oportunidade de visitar Israel por duas vezes, ambas na primeira metade da década de 1990. Era estudante de uma escola judaica da zona sul da cidade do Rio de Janeiro. As viagens foram organizadas por instituições sionistas, e tinham por intuito apresentar à juventude diaspórica a realidade daquele Estado formado após o holocausto judaico da Segunda Guerra Mundial, e para o qual todo e qualquer judeu tem o direito de “retornar” caso assim o deseje. Voltar à terra ancestral. Para as organizações sionistas, ainda que não disposto a deixar a diáspora, todo e qualquer judeu ao redor do mundo deve conhecer a “terra prometida”, prestar-lhe solidariedade material ou simbólica, assim como todo muçulmano deve fazer, pelo menos uma vez na vida, a peregrinação a Meca. Para muitos jovens judeus, a visita a Israel é um rito de passagem, assim como para outros o destino é a Disneylândia.
A equivalência de Israel e Disneylândia tem um motivo. A grande maioria dos jovens não religiosos e sem interesse por questões políticas realizam a viagem apenas para se divertir. O roteiro é basicamente o mesmo: visita ao Muro das Lamentações, com direito a fotos em posição hipócrita de reza (já viram ateu rezando?), ao Museu da Diáspora, ao Museu do Holocausto, às Colinas do Golan, ao Deserto do Neguev e a experiência de tomar um chá com os beduínos, ir ao Mar Morto e boiar na água sem fazer esforço por conta da altíssima concentração de sal, a “vivência” de alguns dias num dos kibutzim ainda existentes em Israel e uma semana num acampamento militar, onde se tem a oportunidade de atirar com uma arma de verdade. Além, é claro, da interação com jovens de outros países hospedados no mesmo local. Para variar, brasileiros e argentinos, esquecendo sua identidade étnica comum, atualizavam a rivalidade futebolística e travavam uma guerra particular pelas meninas. Neste quesito, os argentinos davam de goleada, e os brasileiros ficavam a ver navios.
Minha memória afetiva das duas viagens não é das mais significativas. Aparte ter conhecido parentes por parte de mãe, a “terra prometida” me frustrou quando o assunto é a construção de minha identidade judaica. Achei os israelenses meio grosseiros (dizem que o “sabra”, o israelense “da gema”, é duro por natureza), a comida é medíocre (o melhor falafel que comi até hoje foi em Paris...), é tudo muito árido, a sociedade é militarizada, o serviço militar é compulsório, não existe “excesso de contingente”. A memória construída apenas sobre o sofrimento começava a me incomodar.
Nossos guias, jovens talvez dez anos mais velhos do que nós, andavam armados, o motorista do ônibus andava armado. Um dos nossos passeios foi em Hebron, cidade da Cisjordânia, em que a estrada era rodeada por telas para contenção das pedras atiradas pelos palestinos. Em momento algum os guias se referiram àquele território como “ocupado”, e hoje me envergonho de ter feito parte, ainda que por poucas horas, deste “finca pé” em território ilegalmente ocupado. Para piorar, na segunda viagem quebrei a perna jogando basquete e tive de engessá-la, o que, por outro lado, me liberou da experiência desagradável de ter de apertar o gatilho de uma arma, exatamente naquela semana íamos acampar com o exército israelense.
Sei lá, não me senti tocado por esta realidade, minha fantasia era outra. Não encontrei minhas raízes no solo desértico do Negev, tampouco na neve das colinas do Golan. Apesar disso, trouxe na bagagem uma bandeira de Israel, que coloquei no meu quarto. Muitas vezes meu pai, judeu ateu, não sionista, me perguntou o porquê daquela bandeira estar ali, e eu não sabia responder. Hoje eu sei por que ela NÃO DEVERIA estar ali, porque minha identidade judaica passa pela Europa, pelos vilarejos judaicos descritos nos contos de Scholem Aleichem, pelo humor judaico característico daquela parte do mundo, pela comida judaica daquela parte do mundo, pela música klezmer que os judeus criaram naquela parte do mundo, pelas estórias que meus avós judeus da Polônia contavam ao redor da mesa da sala nos incontáveis lanches nas tardes de domingo.
Sou um judeu da diáspora, com muito orgulho. Na verdade, questiono mesmo este conceito de “diáspora”. Como bem coloca o antropólogo norte-americano James Clifford, as culturas diaspóricas não necessitam de uma representação exclusiva e permanente de um “lar original”. Privilegia-se a multilocalidade dos laços sociais. Diz ele:
As conexões transnacionais que ligam as diásporas não precisam estar articuladas primariamente através de um lar ancestral real ou simbólico (...). Descentradas, as conexões laterais [transnacionais] podem ser tão importantes quanto aquelas formadas ao redor de uma teleologia da origem/retorno. E a história compartilhada de um deslocamento contínuo, do sofrimento, adaptação e resistência pode ser tão importante quanto a projeção de uma origem específica.
Há muita confusão quando se trata de definir o que é judaísmo, ou melhor, o que é a identidade judaica. A partir da criação do Estado de Israel, a identidade judaica em qualquer parte do mundo passou a associar-se, geográfica e simbolicamente, àquele território. A diversidade cultural interna ao judaísmo foi reduzida a um espaço físico que é possível percorrer em algumas horas. A submissão a um lugar físico é a subestimação da capacidade humana de produzir cultura; o mesmo ocorre, analogamente, aos que defendem a relação inexorável de negros fora do continente africano com este continente, como se a cultura passasse literalmente pelo sangue. O que, diga-se de passagem, só serve aos racialistas e, por tabela, racistas de plantão. Prefiro a lateralidade de que nos fala Clifford.
Ser judeu não é o mesmo que ser israelense, e nem todo israelense é judeu, a despeito da cidadania de segunda classe exercida por árabes-israelenses ou por judeus de pele negra discriminados por seus pares originários da Europa Central, de pele e olhos claros. Daí que o exercício da identidade judaica não implica, necessariamente, o exercício de defesa de toda e qualquer posição do Estado de Israel, seja em que campo for.
Muito desta falsa equivalência é culpa dos próprios judeus da “diáspora”, que se alinham imediatamente aos ditames das políticas interna e externa israelense, acríticos, crentes de que tudo que parta do Knesset (o parlamento israelense) é “bom para os judeus”, amém. Muitos judeus diaspóricos se interessam mais pelo que acontece no Oriente Médio do que no seu cotidiano. Veja-se, por exemplo, o número ínfimo de cartas de leitores judeus em jornais de grande circulação, como O Globo, quando o assunto tratado é a corrupção ou violência endêmica em nosso país, em comparação às indefectíveis cartas de leitores judeus em defesa das ações militaristas israelenses nos territórios ocupados. Seria o complexo de gueto falando mais alto? 
Não preciso de Israel para ser judeu e não acredito que a existência no presente e no futuro de nós, judeus, dependa da existência de um Estado judeu, argumento utilizado por muitos que defendem a defesa militar israelense por quaisquer meios, que justificam o fim. Não aceito a justificativa de que o holocausto judaico na Segunda Guerra Mundial é o exemplo claro de que apenas um lar nacional única e exclusivamente judaico seja capaz de proteger a etnia da extinção.
A dor vivida pelos judeus, na visão etnocêntrica, reproduzida nas gerações futuras através de narrativas e monumentos, é incomensurável e acima de qualquer dor que outro grupo étnico possa ter sofrido, e justifica qualquer ação que sirva para protegê-los de uma nova tragédia. Certa vez, ouvi de um sobrevivente de campo de concentração que não há comparação entre o genocídio judaico e os genocídios praticados atualmente nos países africanos, por exemplo, em Ruanda, onde tutsis e hutus se digladiaram sob as vistas grossas das ex-potências coloniais. Como este senhor ousa qualificar o sofrimento alheio? Será pelo número mágico? Seis milhões? O genial Woody Allen coloca bem a questão, num diálogo de Desconstruindo Harry (tradução livre):
- Você se importa com o Holocausto ou acha que ele não existiu?
- Não, só eu sei que perdemos seis milhões, mas o mais apavorante é saber que recordes são feitos para serem quebrados.
O holocausto judaico não é inexplicável, e não é explicável pela maldade latente dos alemães. Sem dúvida, o componente antissemita estava presente, mas, conforme demonstrado por diversos pensadores contemporâneos, dentre os quais insuspeitos judeus (seriam judeus antissemitas Hannah Arendt, Raul Hilberg e Zygmunt Bauman?), uma série de características do massacre está relacionada à Modernidade, à burocratização do Estado e à “industrialização da morte”, sofrida também por dirigentes políticos, doentes mentais, ciganos, eslavos, “subversivos” de um modo geral. Práticas sociais genocidas, conforme descritas pelo sociólogo argentino Daniel Feierstein (outro judeu antissemita?), estão presentes tanto na Segunda Guerra Mundial quanto durante o Processo de Reorganização Nacional imposto pela ditadura argentina a partir de 1976. Genocídio é genocídio, e ponto final.
A sacralização do genocídio judaico permite ações que vemos atualmente na televisão, o esmagamento da população palestina em Gaza, transformada em campo de concentração, isolada do resto do mundo. Destruição da infraestrutura, de milhares de casas, a morte de centenas de civis, famílias destroçadas, crianças torturadas em interrogatórios ilegais conforme descrito por advogados israelenses. Não, não são a exceção, não são o efeito colateral de uma guerra suja. São vítimas, sim, de práticas sociais genocidas, que visam, no final do processo, ao aniquilamento físico do grupo.
Recuso-me a acumpliciar-me com esta agressão. O exército israelense não me representa, o governo ultranacionalista não me representa. Os assentados ilegalmente são meus inimigos.
        Eu, judeu brasileiro, digo: ACABEM COM A OCUPAÇÃO!!!

(1) Marcelo Gruman é antropólogo.

Referências bibliográficas:
CLIFFORD, James. (1997). Diasporas, in Montserrat Guibernau and John Rex (Eds.) The Ethnicity Reader: Nationalism, Multiculturalism and Migration, Polity Press, Oxford.
Vídeo:
Tortura de crianças palestinas: https://www.youtube.com/watch?v=z5AkFlAeCHE

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