Por Yuli Novak, 32 anos, foi oficial da Força Aérea de Israel de 2000 a 2005, completou o seu serviço até ao posto de primeira-tenente. Desde 2013, é a diretora executiva da associação Breaking the Silence.
Há exatamente 12 anos, em Julho de 2002, a Força Aérea israelita lançou uma bomba de uma tonelada para cima da casa de Salah Shehadeh, chefe da ala militar do Hamas, em Gaza. Não é preciso ser-se um especialista para imaginar o que resta de uma casa atingida por uma bomba de uma tonelada. Não resta muito. Essa bomba matou não só Shehadeh mas também 14 civis, incluindo 8 crianças inocentes.
Nessa altura, eu era oficial de operações na Força Aérea israelita. Como muitos dos meus amigos, dei por mim, aos 20 anos, a carregar o fardo de uma enorme responsabilidade. Era responsável pelo esquadrão de aviação no terreno, passando ordens e informação do quartel-general da Força Aérea aos pilotos, preparando os aviões para operações, e dando apoio aos pilotos durante as saídas.
Depois da operação em que Shahadeh foi assassinado, Israel tremeu. Mesmo quando as Forças de Defesa de Israel insistiram que havia justificação operacional para o ataque, o público não conseguia aceitar este ataque a civis inocentes.
Vários intelectuais fizeram uma petição ao Supremo Tribunal, pedindo que examinasse a legalidade da ação. Poucos meses mais tarde, um grupo de pilotos na reserva publicou uma carta criticando a natureza destas ações de eliminação.
Enquanto soldados e oficiais habituados a levar a cabo as nossas missões sem perguntas desnecessárias, fomos afectados pela crítica do público. Mas Dan Halutz, o comandante da Força Aérea na altura, disse aos pilotos que deveriam “dormir bem à noite – não prestem atenção às críticas.”
Um mês mais tarde, perguntaram a Halutz o que sentia um piloto quando lança uma bomba de uma tonelada sobre uma casa. Ele disse: “Um leve abanão na asa do avião.” Para quem estivesse de fora, esta afirmação poderia soar fria e desligada, mas os meus amigos e eu confiávamos que os nossos comandantes tomassem as decisões moralmente certas, e voltávamos a focar-nos nas “coisas importantes” – a execução precisa das operações seguintes.
Uns meses mais tarde, fui nomeada comandante de um curso para oficiais da Força Aérea. Ensinei aos cadetes como levar a cabo as suas tarefas de modo profissional, e como aceitar responsabilidade pelas suas ações como oficiais. Estudamos as conclusões tiradas de anteriores operações da Força Aérea e as lições aprendidas com elas. Ensinei-lhes que as Forças de Defesa de Israel (IDF) são o exército mais moral do mundo, e que a Força Aérea é a força mais moral dentro das IDF. Tinha 20 anos, acreditava, com todo o meu coração, que estávamos a fazer o que tinha de ser feito. Se houvesse baixas, seriam um mal necessário. Se houvesse erros, seriam investigados, e seriam tiradas lições.
As coisas mudaram e agora não consigo ter esta certeza. Em 2002, o lançamento de uma bomba de uma tonelada numa casa resultando na morte de 14 civis era a excepção. Alguns meses depois do ataque à casa de Shehadeh, as IDF reconheceram que tinham errado ao lançar a bomba. Classificaram o incidente como uma falha de informação e disseram que se soubessem que havia civis na casa não teriam levado a cabo a operação.
Alguns anos depois, durante a operação Chumbo Endurecido [2008-2009], houve utilização generalizada da táctica de bombardear zonas densamente povoadas na Faixa de Gaza. Hoje, na operação Margem Protetora, a Força Aérea gaba-se de ter bombardeado Gaza com mais de 100 bombas de uma tonelada. O que antes era a excepção é hoje a regra.
Isto é o que se passa hoje. Notificamos os habitantes da destruição iminente de uma casa minutos antes de cair uma bomba – via mensagem de texto ou lançando uma pequena bomba como aviso. É o suficiente para transformar a casa num alvo legítimo de um ataque aéreo. Nas últimas duas semanas, dezenas de civis foram mortos através desta prática.
Casas de membros do Hamas tornaram-se alvos legítimos, independentemente do número de pessoas dentro das suas paredes. Ao contrário do que aconteceu em 2002, ninguém se preocupa em justificar ou apresentar uma desculpa. O que é pior é que quase ninguém protesta. Famílias inteiras desaparecem num segundo, e a opinião pública continua indiferente. De ano a ano, de uma operação militar a outra, as nossas linhas vermelhas morais estão a ser empurradas para cada vez mais longe. Já não é claro onde estão, nem sequer se sabemos que as estamos a ultrapassar. Onde estarão na próxima operação? Onde estarão daqui a dez anos?
Sei por experiência própria quão difícil é fazer perguntas durante alturas de conflito ativo quando se é um soldado. A informação que os oficiais no terreno e no ar obtêm em tempo real é sempre parcial. Por isso é que a responsabilidade de traçar a linha vermelha moral, e alertar quando a ultrapassamos, é da opinião pública.
Há exatamente 12 anos, em Julho de 2002, a Força Aérea israelita lançou uma bomba de uma tonelada para cima da casa de Salah Shehadeh, chefe da ala militar do Hamas, em Gaza. Não é preciso ser-se um especialista para imaginar o que resta de uma casa atingida por uma bomba de uma tonelada. Não resta muito. Essa bomba matou não só Shehadeh mas também 14 civis, incluindo 8 crianças inocentes.
Nessa altura, eu era oficial de operações na Força Aérea israelita. Como muitos dos meus amigos, dei por mim, aos 20 anos, a carregar o fardo de uma enorme responsabilidade. Era responsável pelo esquadrão de aviação no terreno, passando ordens e informação do quartel-general da Força Aérea aos pilotos, preparando os aviões para operações, e dando apoio aos pilotos durante as saídas.
Depois da operação em que Shahadeh foi assassinado, Israel tremeu. Mesmo quando as Forças de Defesa de Israel insistiram que havia justificação operacional para o ataque, o público não conseguia aceitar este ataque a civis inocentes.
Vários intelectuais fizeram uma petição ao Supremo Tribunal, pedindo que examinasse a legalidade da ação. Poucos meses mais tarde, um grupo de pilotos na reserva publicou uma carta criticando a natureza destas ações de eliminação.
Enquanto soldados e oficiais habituados a levar a cabo as nossas missões sem perguntas desnecessárias, fomos afectados pela crítica do público. Mas Dan Halutz, o comandante da Força Aérea na altura, disse aos pilotos que deveriam “dormir bem à noite – não prestem atenção às críticas.”
Um mês mais tarde, perguntaram a Halutz o que sentia um piloto quando lança uma bomba de uma tonelada sobre uma casa. Ele disse: “Um leve abanão na asa do avião.” Para quem estivesse de fora, esta afirmação poderia soar fria e desligada, mas os meus amigos e eu confiávamos que os nossos comandantes tomassem as decisões moralmente certas, e voltávamos a focar-nos nas “coisas importantes” – a execução precisa das operações seguintes.
Uns meses mais tarde, fui nomeada comandante de um curso para oficiais da Força Aérea. Ensinei aos cadetes como levar a cabo as suas tarefas de modo profissional, e como aceitar responsabilidade pelas suas ações como oficiais. Estudamos as conclusões tiradas de anteriores operações da Força Aérea e as lições aprendidas com elas. Ensinei-lhes que as Forças de Defesa de Israel (IDF) são o exército mais moral do mundo, e que a Força Aérea é a força mais moral dentro das IDF. Tinha 20 anos, acreditava, com todo o meu coração, que estávamos a fazer o que tinha de ser feito. Se houvesse baixas, seriam um mal necessário. Se houvesse erros, seriam investigados, e seriam tiradas lições.
As coisas mudaram e agora não consigo ter esta certeza. Em 2002, o lançamento de uma bomba de uma tonelada numa casa resultando na morte de 14 civis era a excepção. Alguns meses depois do ataque à casa de Shehadeh, as IDF reconheceram que tinham errado ao lançar a bomba. Classificaram o incidente como uma falha de informação e disseram que se soubessem que havia civis na casa não teriam levado a cabo a operação.
Alguns anos depois, durante a operação Chumbo Endurecido [2008-2009], houve utilização generalizada da táctica de bombardear zonas densamente povoadas na Faixa de Gaza. Hoje, na operação Margem Protetora, a Força Aérea gaba-se de ter bombardeado Gaza com mais de 100 bombas de uma tonelada. O que antes era a excepção é hoje a regra.
Isto é o que se passa hoje. Notificamos os habitantes da destruição iminente de uma casa minutos antes de cair uma bomba – via mensagem de texto ou lançando uma pequena bomba como aviso. É o suficiente para transformar a casa num alvo legítimo de um ataque aéreo. Nas últimas duas semanas, dezenas de civis foram mortos através desta prática.
Casas de membros do Hamas tornaram-se alvos legítimos, independentemente do número de pessoas dentro das suas paredes. Ao contrário do que aconteceu em 2002, ninguém se preocupa em justificar ou apresentar uma desculpa. O que é pior é que quase ninguém protesta. Famílias inteiras desaparecem num segundo, e a opinião pública continua indiferente. De ano a ano, de uma operação militar a outra, as nossas linhas vermelhas morais estão a ser empurradas para cada vez mais longe. Já não é claro onde estão, nem sequer se sabemos que as estamos a ultrapassar. Onde estarão na próxima operação? Onde estarão daqui a dez anos?
Sei por experiência própria quão difícil é fazer perguntas durante alturas de conflito ativo quando se é um soldado. A informação que os oficiais no terreno e no ar obtêm em tempo real é sempre parcial. Por isso é que a responsabilidade de traçar a linha vermelha moral, e alertar quando a ultrapassamos, é da opinião pública.
Fonte: http://www.publico.pt/mundo/noticia/onde-esta-a-linha-moral-de-israel-em-gaza-1664390
Podemos falar claramente ISRAEL É UM GOVERNO ASSASSINO E PRECISA SER DETIDO.
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