terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Fim da impunidade na Palestina: Israel já avista o banco dos réus

No encalço da adesão palestina ao Tribunal Penal Internacional (TPI), as análises sobre as suas consequências são variadas. Nesta quinta-feira (8), o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Ban Ki-Moon anunciou que o Estado da Palestina será membro da Corte a partir de 1º de abril, com período retroativo desde junho de 2014. Em resposta, as ameaças israelenses e dos EUA refletem a certeza de um impacto decisivo sobre o status quo.

Por Moara Crivelente*, para o Vermelho

Israel já avista o banco dos réus
Como explorado em artigos anteriores e segundo a mídia internacional, apreensiva com a resposta israelense (ou com o chacoalhar das estruturas da impunidade), os palestinos poderão acusar membros do Exército e os líderes sionistas pelos crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio (violações às quais se dedica o TPI) cometidos em seus territórios. Israel não ratificou o Estatuto de Roma, constitutivo do TPI, mas seus nacionais poderão ser julgados por crimes na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza, territórios palestinos ocupados.

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Por outro lado, análises sobre as estratégias da defesa israelense incluem o não-reconhecimento do Estado da Palestina por Israel e por seu maior aliado, os Estados Unidos. Aliás, porta-vozes estadunidenses já lançaram esta dica nos meios internacionais em reação à candidatura (em 31 de dezembro de 2014) e à aceitação da Palestina enquanto membro do TPI, anunciada nesta quinta. Para representantes como a embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power, a iniciativa palestina de recorrer ao direito internacional para tentar superar a persistência da ocupação sionista e sua impunidade é “contraproducente”.

Os Estados Unidos, além de patrocinadores (com ajuda militar e política decisivas e bilionárias desde a década de 1960) e aliados dedicados a Israel, são também a garantia de manutenção de uma situação aparentemente insuperável de estagnação, num “processo de paz” infindável e fadado ao fracasso. Monopolizando a mediação dos inócuos períodos de diálogos entre Israel e a Palestina, os EUA só conseguiram garantir o enraizamento e a disseminação da ocupação. Entretanto, o crescente apoio internacional à causa palestina pela autodeterminação, assim como os esforços da liderança pela efetivação do Estado da Palestina como sujeito de direito no cenário internacional, rende frutos que estão surpreendendo Israel.

Benjamin Netanyahu teme ser levado ao banco dos réusTambém nesta quinta, o ex-premiê (199-2001) e ex-ministro da Defesa (2007-2013) Ehud Barak, que serviu durante duas das últimas grandes ofensivas contra a Faixa de Gaza (“Chumbo Fundido”, em dezembro de 2008 e janeiro de 2009, e “Pilar de Defesa”, em novembro de 2012), deu uma entrevista ao jornal israelense Haaretz para dizer que o atual premiê Benjamin Netanyahu (foto), no poder desde 2009, está levando o país ao desastre. Barak, que carrega sua própria responsabilidade pelas violações israelenses, reconheceu o fortalecimento da causa palestina e disse pressionar Netanyahu e seu agressivo chanceler, Avigdor Lieberman, a realmente negociar com os palestinos “antes que seja tarde demais”. Este momento, para ele, está chegando. O isolamento de Israel é comparável, como o regime que impõe aos palestinos, ao apartheid na África do Sul, derrubado justamente pelo boicote internacional.

Israelenses e norte-americanos ameaçam os palestinos com sanções. Uma lei estadunidense recentemente aprovada impede o país de enviar o cerca de R$ 1 bilhão deste ano à Autoridade Nacional Palestina caso acuse Israel ao TPI, e Israel suspendeu ilegalmente o repasse de R$ 340 milhões em impostos coletados em nome da ANP, conforme um infeliz acordo de 1994 que acabou por entranhar a ocupação sionista na administração do governo e das vidas dos palestinos.

Embora tenha colaborado com a Palestina na proposta de resolução rechaçada pelo Conselho de Segurança da ONU em 30 de dezembro de 2014, a França alertou os palestinos contra a “batalha diplomática” que poderá irritar os israelenses e afastá-los dos diálogos, como se houvesse algum. É evidente a falta de compromisso de Israel com qualquer progresso diplomático, vide a expansão das colônias ilegais em territórios palestinos, mesmo durante o último período de negociações (julho de 2013 e abril de 2014), as “operações militares” contra a Cisjordânia e a Faixa de Gaza entre junho e agosto de 2014 e as frequentes ameaças e sanções. Além disso, o governo e a liderança sionista enfrentam um novo desafio do seu eleitorado na disputa pelo poder.

Batalha eleitoral e o desafio à impunidade

A última ofensiva contra Gaza, que matou cerca de 2.200 palestinos e devastou o estreito território sitiado, foi a única das três nos últimos cinco anos que não ocorreu à volta de eleições. Entretanto, suas consequências e a escalada extremista do governo levou à sua própria desintegração e à antecipação da corrida eleitoral. Adiantada em dois anos, a próxima eleição está marcada para março e já acarreta embates que podem mudar o cenário, abalando as estruturas da dominação política por parte da extrema-direita sionista. A pressão internacional e o isolamento de Israel certamente contribuíram para tanto, reconheceu Ehud Barak, do partido Atzmaut (Independência) fundado por ele em 2011, que não descartou a hipótese de concorrer ao cargo de primeiro-ministro.

Israel enfrentará julgamento no Tribunal Penal Internacional
Durante a “operação Margem Protetora” e seus 50 dias de bombardeios contra a Faixa de Gaza, o apoio popular ao governo e à própria ofensiva era estridente. As imagens da destruição não ficaram ausentes da mídia israelense, mas eram apresentadas como uma heroica e justa luta nacional “contra o terrorismo”, mesmo que grande parte dos mortos fossem civis, inclusive cerca de 600 crianças. A culpa, assim como pelo fracasso das negociações, foi atribuída aos próprios palestinos.

Entretanto, as coisas parecem ter mudado desde agosto, à medida que cresce o isolamento de Israel e a preocupação com as suas consequências. Embora a retórica e as práticas agressivas da liderança israelense se intensifiquem, a população começa a sentir os efeitos do isolamento. Na Europa, outro reduto do apoio sionista, milhões de pessoas protestaram e a pressão refletiu nos Parlamentos. Ao menos cinco, inclusive o Parlamento Europeu, pediram aos seus governos o reconhecimento do Estado da Palestina, enquanto a Suécia anunciou o reconhecimento de fato.

Por isso, a defesa israelense no TPI, caso o julgamento aconteça, terá pouca força se investir na continuidade da deslegitimação do Estado palestino. As reações israelenses de desespero diante das acusações refletem sua decadência desde a decisão do Conselho de Direitos Humanos da ONU de lançar outra investigação sobre os crimes de guerra perpetrados em julho e agosto de 2014 (cujo resultado deve sair junto com as eleições israelenses, em março deste ano), os posicionamentos de vários países contra a ofensiva, a Conferência entre Estados parte da quarta Convenção de Genebra sobre a proteção de civis em tempos de guerra, em dezembro, a submissão da proposta de resolução ao Conselho de Segurança (que incluía, mas não se limitava a um prazo para o fim da ocupação) e a própria adesão ao TPI.

Além disso, desde 2012, mais de 130 países já reconhecem o Estado palestino, e o presidente Mahmoud Abbas garantiu que, talvez na próxima semana, submeterá novamente a proposta de resolução ao Conselho de Segurança, esperando que sua nova conformação, desde 1º de janeiro, seja mais simpática à reivindicação de um fim acertado para a ocupação israelense e a independência da Palestina.

A seguir, os últimos documentos sobre a causa palestina diante do direito internacional humanitário e o rascunho de resolução apresentado ao Conselho de Segurança:









*Moara Crivelente é cientista política, jornalista e membro do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), assessorando a presidência do Conselho Mundial da Paz.

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Jan 2015







Dez 2014






Cartunista foi demitido de Charlie por piada 'antissemita'

Maurice Sinet e sua demissão do Charlie por antissemitismo



Do Brasil 247 – 15/01/15

O jornal Charlie Hebdo, que sofreu um atentado terrorista sob acusação de ter ofendido o profeta Maomé, demitiu em 2009 um de seus cartunistas por uma piada considerada antissemita.

O cartunista Maurice Sinet, que assina sob o pseudônimo Sine, foi desligado do semanário satírico após ironizar rumores de que o filho do ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy, planejava se converter ao judaísmo. "Este pequeno rapaz vai ter sucesso na vida", publicou.

Charlie Hebdo demite jornalista por antissemitismo


O comentário foi considerado uma alusão preconceituosa e o então editor da revista, Philippe Val, pediu para que ele se retratasse. Sine foi categórico: "prefiro ser castrado".


Após o ataque ocorrido na semana passada em Paris, Charlie virou símbolo da defesa da liberdade de expressão e continuou a desenhar o profeta Maomé apesar da revolta do mundo árabe.

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Veja também:

- Nota do Secretário Geral da FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil: "Eu não sou Charlie, estou Charlie"

Eu não sou Charlie, estou Charlie

Eu não sou Charlie Hebdo


EU SOU BRASILEIRO, PALESTINO, LIBANÊS, SÍRIO, ÁRABE E MUÇULMANO, EU SOU CIDADÃO DO MUNDO: EU NÃO SOU TERRORISTA, EU RESPEITO TODAS AS RELIGIÕES, NÃO OFENDO A FÉ E CRENÇA DE QUALQUER SER HUMANO, SEJA ATRAVÉS DA AÇÃO, DA PALAVRA, DA ESCRITA E DA CHARGE; EU RESPEITO TODAS AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DOS POVOS; EU NÃO TOLERO E COMBATO TODO O TIPO DE DISCRIMINAÇÃO, RACISMO E SEGREGAÇÃO, SEJA PELA COR, RELIGIÃO, NACIONALIDADE, CONDIÇÃO SOCIAL, GÊNERO OU SEXUALIDADE.

EU DEFENDO O ESTADO LAICO, SOU CONTRA O ESTADO TEOCRÁTICO. OS ESTADOS E GRUPOS QUE FALAM EM NOME DE UMA RELIGIÃO PARA OPRIMIR, OCUPAR, MASSACRAR, ROUBAR RIQUEZAS E TERRITÓRIOS DE OUTROS POVOS, NÃO ME REPRESENTAM.

EU DEFENDO A DEMOCRACIA E A LIBERDADE DE IMPRENSA; EU NÃO SOU CHARLIE, ESTOU COM CHARLIE, PORQUE A  OFENSA DAS CHARGES NÃO SE COMBATE COM OFENSA E VINGANÇA, NÃO SE COMBATE COM TERRORISMO E MORTE. LIBERDADE DE IMPRENSA PRECISA TER LIMITES, SOU CONTRA O USO DA LIBERDADE DOS FORTES E PODEROSOS PARA MANIPULAR E DISTORCER A REALIDADE, AS CRENÇAS, CULTURAS E OPINIÕES DE MAIORIAS E MINORIAS.

LAMENTO ESSA LIBERDADE DE IMPRENSA QUE QUANDO ISRAEL MATA CRIANÇAS PALESTINAS NAS ESCOLAS, NAS PRAIAS, NAS MESQUITAS, EM SUAS CASAS,  NÃO FAZ  AS CHARGES QUE O FATO MERECE, TORNANDO-SE ALIADA DO TERRORISMO DE ESTADO DE ISRAEL.

SE GOVERNOS E GRUPOS PODEROSOS DA IMPRENSA QUEREM COMBATER O TERRORISMO, QUE COMECEM EM SEU PRÓPRIO QUINTAL, ANTES DE POUSAREM COMO SANTOS DA LIBERDADE E DA DEMOCRACIA.

Jan/15


EMIR MOURAD - SECRETÁRIO GERAL DA FEPAL- FEDERAÇÃO ÁRABE PALESTINA DO BRASIL



Eu não sou Charlie, estou Charlie



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Exposição em São Paulo retrata trajetória de refugiados palestinos

Centro Cultural São Paulo traz fotografias e filmagens do arquivo das Nações Unidas; mostra percorre 70 anos da migração forçada e explora transformação dos personagens

por Camila Maciel, da Agência Brasil


Exposição fotográfica retrata situação dos refugiados palestinos
Crianças palestinas procuram por seus objetos, em casas destruídas por ataques israelenses na Faixa de Gaza, em agosto de 2014 - Foto: SHAREEF SARHAN/ UN (07/08/2014)


São Paulo – A vida dos refugiados palestinos estará retratada na exposição Uma Longa Jornada, em cartaz na capital paulista a partir do próximo sábado (24), na Praça da Biblioteca do Centro Cultural São Paulo. Com fotografias e filmagens do arquivo da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (Unrwa, na sigla em inglês), a mostra apresenta registros de pelo menos 70 anos dessa migração forçada. Ainda hoje, o conflito entre palestinos e israelenses na Faixa de Gaza provoca mortes e deslocamentos. A mostra é gratuita e fica aberta até o dia 15 de março.

Quarenta fotos e cinco curtas-metragens foram selecionados para a exposição no Brasil. O projeto já esteve em cidade como Roma, Jerusalém, Nova York e Marrocos. “O tema da exposição é ajuda humanitária e o trabalho da Unrwa. Não só os programas de urgência humanitária, mas os programas de educação e saúde”, explicou Theresa Jatobá, produtora da exposição. No dia da inauguração da mostra, a Organização das Nações Unidas (ONU) fará, às 16h, o debate "Refugiados da Palestina: ajuda humanitária e o papel do Brasil”.

O projeto arquitetônico da exposição no Brasil foi desenvolvido pelo Atelier Marko Brajovic, que apoia o evento. “Tudo foi pensado para que o espectador passe por uma realidade de imersão na vida dos refugiados da Palestina. É uma instalação que foge do padrão linear mais comum de exposição”, destacou Theresa. De acordo com ela, o espaço do centro cultural permitiu que a mostra seja visualizada de cima. “É uma estrutura circular. Ela faz menção a uma flor desabrochando”, antecipou.

A produtora destacou também um dos filmes, feito a partir dos registros de George Nemeh, um dos principais fotógrafos da Unrwa, que trabalhou na agência por cerca de 40 anos. “Ele fotografou pessoas durante 40 anos e visitou as que foram fotografadas no passado. Por exemplo, um bebê, que hoje é um homem. O reencontro dele com essas pessoas é muito interessante”, explicou. Ela acredita que essa conexão entre o passado e a atualidade, por meio do trabalho da agência da ONU, vai permitir que o espectador brasileiro consiga estar mais próximo da realidade do povo árabe.

A Unrwa estima que existam 5 milhões de refugiados palestinos. A agência foi criada em 1949, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, e entrou em operação no ano seguinte. São considerados refugiados da Palestina pela agência internacional aqueles que viviam no território entre junho de 1946 e 15 de maio de 1948, antes que tivesse início o conflito árabe-israelense naquele ano.



Programação

Uma Longa Jornada | 24 de janeiro de 2015 às 15h | Praça da Biblioteca do Centro Cultural São Paulo.

Debate de Inauguração | 24 de janeiro 2015 às 16h | Praça da Biblioteca do Centro Cultural São Paulo.

Duração da Exposição | 24 de jan a 15 de mar | 2015
terça a sexta-feira das 10h às 20h (entrada permitida até às 19h30)
sab, dom e feriados das 10h às 18h (entrada permitida até às 17h30)


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Ataque contra o jornal satírico Charlie Hebdo: um ataque contra o islã

 Ataque contra o jornal satírico Charlie Hebdo 


Por Mohamad Hadjab

O ataque ocorrido esta quarta-feira 07 de janeiro contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo não é só um ataque contra a liberdade de imprensa, e/ou contra o estado democrático de direito que a França encarna, mas, sobretudo um ataque contra os valores sagrados do Islã. Se nenhuma certeza comprova a origem islâmica dos autores desse atentado, ao gritarem "Deus é grande!" em árabe.. o mal foi feito.

Efetivamente, se os assassinos desse horrível atentado se expressaram em árabe por meio da expressão "Ala u akbar" (Deus é grande) enquanto acrescentaram querer vingar o profeta (Mohammed), foi o próprio islã, suas tradições, bem como seus valores que eles sujaram, atraiçoaram e assassinaram. Aqueles que são hoje e serão amanhã os principais reféns dessa barbaridade ocorrida na França são os membros da comunidade muçulmana (segunda maior religião praticada na França) que mais uma vez são injuriados, estigmatizados e acusados de todos os mais que se abaterão sobre a França como isso acontece já há mais de quinze anos. Na final das contas, a islamofobia é uma moeda política.

Os muçulmanos da França, sejam eles franceses ou residentes, devem manifestar sua indignação relembrando os fundamentos islâmicos, que são a paz e a tolerância. Aliás, o termo islã não contem o trilítero "Slm" que também originou a palavra árabe "Salam" que significa paz? Os mesmos muçulmanos devem cada vez mais se organizar na sociedade francesa à qual eles pertencem, defendo seu espaço dentro dela: eu farei minhas as palavras do pesquisador sociólogo argelino Abdelmalek Sayad : "Existir significa existir politicamente". Já chegou a hora desta frase escoar nos corações e mentes dos muçulmanos da França e do mundo inteiro antes de eles serem engolidos pela onda " à la mode" de islamofobia que não cessa de se estender na França e na Europa1 como isso já ocorreu nos anos 30 contra a comunidade judaica. Cada época precisa do seu bode expiatório e o islã foi designado em substituição ao judaísmo, comunismo ou outros!

Um dos principais sucessos literários nas livrarias francesas se chama "le suicide français" (O suicido francês) escrito pelo jornalista e ensaísta islamofóbico Eric Zemmour, que, numa entrevista dada ao jornal italiano "Corriere della Sera2" cogita a eventual deportação dos cinco milhões de muçulmanos vivendo no território francês. O escritor e premiado Michel Houellebeq que declarou que a religião mais babaca era o islã3, acabou de publicar uma obra intitulada "Soumission" (Submissão) que narra a chegada ao poder na França de um partido político muçulmano como se tratasse de uma novela profética exaltando o medo coletivo presente na França quando se trata do islã. Tantos sinais de alerta que mostram o quanto a islamofobia constitui um comércio lucrativo dentro de uma França que se afasta cada vez mais dos seus valores universais e entre eles a liberdade, a democracia, a separação do poder temporal e espiritual e também a liberdade de culto.

O jornal francês satírico 'Charlie Hebdo' - anteriormente libertário e anárquico - se tornou cada vez mais extremista e particularmente virulento contra os muçulmanos sob a nova direção de Philippe Val, acabou de perder bem como o país inteiro, seus melhores caricaturistas, sob as balas de assassinos. Eu não compartilho o humor e os ataques fáceis por meio de caricaturas contra os muçulmanos e sua religião, publicado pelo jornal francês sendo lucrativo, porém, como o fala essa frase geralmente atribuída ao filósofo das luzes Voltaire "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo". Mas isso não impede de afirmar que a liberdade também possui seus próprios limites.

Este ataque mostra o mal-estar social e econômico presente na sociedade francesa em relação a uma parte da sua população hoje em dia definida como muçulmana, e antigamente como árabe, cuja presença na França demonstra a relação ambígua que essa grande nação europeia mantém, não só com a outra margem do Mediterrâneo (Norte da África e, especialmente, com a sua ex-colônia Argélia), mas com parte da sua história feita de glória, conquista e miséria. As explosões racistas contra os muçulmanos se tornaram um esporte nacional na França, sendo que a maioria dessa comunidade ainda pertence ao Lumpen proletariado francês sem qualquer representação política ou econômica que lhe permite defender-se ou influenciar o debate político local. Se a França deve proceder a um verdadeiro exame de consciência sobre a colocação do árabe e do Islã no imaginário francês desde o século VIII, os muçulmanos devem reagir, lutando pela defesa dos seus direitos, mas também mostrando indignação quando radicais se substituem a eles cometendo o irreparável. Caso contrário, a situação pode piorar alargando o fosso e a incompreensão entre cidadãos levando a nação ao que mais desejam os inimigos da república: a um choque de civilizações.


MOHAMMED HADJAB

Especialista em Relações Internacionais.



1 http://noticias.r7.com/internacional/movimento-pegida-convoca-manifestacao-islamofobica-em-oslo-07012015

2 http://www.francetvinfo.fr/societe/zemmour-envisage-la-deportation-des-musulmans-cazeneuve-condamne_774555.html

3 http://www.huffingtonpost.fr/2015/01/06/michel-houellebecq-islam-soumission-musulman-religion_n_6372084.html

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Bob Fernandes / O atentado na França... e os ódios no Brasil

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