domingo, 19 de outubro de 2014

Parlamento inglês e Suécia reconhecem o Estado da Palestina

Parlamento inglês reconhece o Estado da Palestina


Muito mais do que simbólico.

Por Luiz Eça - Olhar o Mundo


O reconhecimento da Palestina como Estado independente pelo Reino Unido seria atribuição do primeiro-ministro, não do Parlamento. David Cameron só o faria como resultante de negociações entre os dois Estados.


No entanto, o fato da Câmara dos Comuns ter recomendado que o governo reconhecesse o Estado da Palestina tem um significado especial.

Afinal, é a tomada de posição do Parlamento de um dos países mais importantes  do Ocidente, num raro conflito com as diretrizes da Casa Branca.

Foi a expressão de uma maioria esmagadora – 242 a favor, contra apenas 12. Sendo que ficaram do lado dos  palestinos, não só deputados da oposição trabalhista, como também liberais e conservadores, do próprio partido de Cameron.

Não é comum na corte da rainha, parlamentares do governo  votarem contra posições do executivo.

Em cerca de 40 discursos, a questão palestina foi discutida amplamente, condenando-se as violências e ilegalidades israelenses.

Num deles, o deputado trabalhista, Graham Morris, opôs-se à vinculação  do reconhecimento da Palestina às negociações  com Israel:”Fazer o reconhecimento da Palestina depender de um acordo com Israel seria garantir a Israel o direito de veto à autodeterminação da Palestina. Reconhecimento não é uma ficha de barganha; é um direito palestino.”

Membro do Partido Conservador e ex-ministro, sir Alan Duncan, também focou este ângulo da questão: “A idéia de que ele (o reconhecimento) impediria as negociações, ou de algum modo as evitaria ou destruiria,  é claramente absurda; a Palestina ainda permaneceria ocupada e as negociações  continuariam até se acabar com a ocupação e chegar a acordos sobre  trocas de terras e fronteiras.”

Chamou  atenção a posição de outro deputado conservador, sir Richard  Otaway, chefe do comitê de assuntos do exterior da Câmara do Comuns.

Nos seus mais de 20 anos de vida política, ele sempre foi amigo de Israel, defendendo com entusiasmo seus interesses nacionais.

Mas as últimas posturas do governo de Telaviv, inclusive a expansão contínua de assentamentos, foram demais para ele.

Sem condições emocionais para mudar de lado, ele se absteve. Não deixou de mandar um recado: “Se eles (os governantes israelenses) estão perdendo gente como eu, irão perder uma porção de gente.”

Isso já está acontecendo mesmo no próprio Estado de Israel.

Veja o que disseram 363 personalidades  israelense em carta enviada à Câmara dos Comuns: ‘’Nós, israelenses, que nos preocupamos com o bem-estar de Israel, acreditamos que a existência e a segurança a longo prazo de Israel dependem da existência e da segurança a longo prazo da Palestina. Por isso, nós pedimos aos membros do Parlamento do Reino Unido para votarem a favor da moção (de  reconhecimento).”

Os promotores da iniciativa foram: dr.Alon Liel, ex diretor-geral do ministério do exterior; prof. Amiram Goldblum, fundador do movimento “Paz Agora” e Yehouda Shaul, pelo movimento “Quebrando o Silêncio”.

Assinam a carta, entre outros: Daniel Kahneman, Prêmio Nobel da economia e mais dois ex-ministros, quatro ex-deputados, três ex-embaixadores, quatro escritores, um ex-procurador geral e o general reformado Emanuel Shaked, do Corpo de Paraquedistas.

David Cameron não deve atender à Câmara dos Comuns.

Mas num próximo eventual governo trabalhista, as coisas vão mudar. A direção do partido determinou que todos os seus parlamentares  votassem pelo reconhecimento.

Seja como for, associando-se à posição igual já tomada pelo novo governo da Suécia, a Câmara dos Comuns do Reino Unido vai ajudar a incrementar a onda que se forma na Europa pró-Palestina independente.

Que também favorece os elementos moderados na revolução palestina. Eles podem apresentar o apoio do parlamento britânico como prova de que conseguir a independência é possível através de meios pacíficos.

Outros países já ameaçam aderir à causa da independência. A França, até agora ferrenha adversária, faz insinuações nessa direção.

Laurent Fabius, ministro do Exterior, declarou que caso “negociações se provarem  impossíveis ou não chegarem a uma conclusão…”, então a França reconhecerá a Palestina.

Provável já que, depois da última tentativa de acordo inviabilizada por Israel, os palestinos não aceitarão mais negociações bilaterais sem a interrupção de novos assentamentos, discussão dos temas básicos na implementação  da independência e o prazo de novembro de 2016 para a retirada completa das forças de ocupação.

Até agora Israel rejeitou ou ignorou essas pré-condições. Diante deste quadro, Netanyahu e seus pares já deveriam ter percebido que os sentimentos anti-Israel avançam de modo irresistível  mesmo na Europa.

Israel está em vias de isolamento na comunidade internacional.

Estaria na hora de repensar suas práticas e mudar enquanto há tempo.

Não vejo sinais de que eles estejam sequer admitindo discutir esta postura.

Confiam em Obama, ou melhor, na submissão de Obama ao Congresso, sob a influencia dominante dos lobbies pró-Israel, e do complexo industrial-militar,  interessado nos lucros e no poder causados pelas guerras de Israel, fartamente alimentadas por armas americanas.

Para os palestinos  e os árabes de modo geral, Obama já foi uma grande esperança de mudança na política externa dos EUA. Que passaria a os ver como amigos e a tratar suas questões com justiça e isenção.

No famoso discurso do Cairo, no início do seu mandato, Obama declarou que os EUA estavam “profundamente comprometidos com a soberania e a independência  da Palestina.”

O presidente americano até que procurou cumprir o prometido, acabando por desistir e apoiar Israel sempre , para o bem ou para o mal.

É fato que o Congresso americano, francamente pró-Israel, foi sempre uma poderosa barreira.

Quando em 2011, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, anunciou que pediria à ONU a admissão do seu país como Estado independente,  o Congresso agiu rápido.

Aprovou leis ordenando que o governo vetasse o reconhecimento da Palestina, sem um acordo negociado pelas duas partes (portanto. sem aprovação de Israel). E ameaçando retirar a ajuda à Cisjordânia, caso a ONU atendesse aos palestinos.

No ano seguinte, em novembro de 2012, a Assembléia Geral da ONU, por 138 votos contra 9, apoiou o ingresso da Palestina como Estado observador.

Ficaram ao lado de Israel, os EUA, a República Checa, o Canadá, o Panamá e algumas ilhas no oceano Pacífico.

Mas os EUA impediram que o Estado dos palestinos fosse aceito de maneira plena no Conselho de Segurança, pressionando para que não conseguisse os votos suficientes.

Há esperanças de que a posição da Câmara dos Comuns inglesa influencie de algum modo os congressistas americanos.

No ano passado, Obama e Cameron haviam decidido bombardear Damasco, sem que  comissão de inquérito tivesse concluído pelas culpas de Assad num ataque com bombas químicas.

Submetida essa bélica proposta ao parlamento inglês, foi, inesperadamente, rejeitada.

Assim o premier inglês teve de desistir. Repetindo os congressistas do Reino Unido, os congressistas americanos  tendiam a dizer “não” à proposta do governo de bombardear a capital de Assad.

Prevendo a derrota da sua proposta, Obama desistiu.

Há quem espere que algo assim aconteça  agora. Ou que, ao menos, deputados e senadores americanos não aprovem automaticamente leis implicando a Casa Branca em ações para deletar a iniciativa  palestina. Talvez  analisem a questão com mais cuidado, antes de tomar decisões ditadas pela turma do Israel, first.

Os pessimistas (melhor dizendo, realistas), duvidam.

O Congresso deverá promulgar leis que ameacem todos os envolvidos na causa palestina. Teriam pouco efeito.

Suas grandes armas, os cortes de fundo e as sanções comerciais, não poderão ser usadas contra os 60 países da Ásia, África e Europa que formam a coalizão anti-ISIS. Afinal, Obama está empenhado em agradá-los para que ajudem mais os americanos, com uma participação maior na guerra.

Também não é do interesse americano criar novos atritos com países fora da coalizão como o Brasil, a China, a Rússia, o Irã e os demais países da América Latina, que vem elegendo candidatos de centro-esquerda.

Só mesmo os palestinos poderiam ser alcançados pela mão pesada de Tio Sam.

Mas justo  num momento em que o mundo inteiro está comovido com as brutalidades da guerra de Gaza e da opressão aos palestinos?

Os ventos sopram fortemente a favor deles.

Os EUA se encontram numa situação bastante incômoda.

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Suécia reconhece a Palestina como um Estado independente


O primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, anunciou nesta sexta-feira (3) a decisão de seu país de reconhecer a Palestina como um Estado independente. Löfven considerou que esta medida vai ajudar a resolver o conflito israelense-palestino.

Suécia reconhece o Estado da Palestina
A solução requer "o reconhecimento mútuo e a convivência pacífica. Assim, a Suécia reconheceu o Estado da Palestina", disse o primeiro-ministro.

Se a Suécia confirmar esta iniciativa se tornará o primeiro país europeu com peso importante no velho continente a reconhecer o direito dos palestinos que foram privados pela ocupação de seu território por parte do regime israelense.

A decisão da Suécia provavelmente não será bem recebida pelo regime de Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE).

Estados Unidos e UE defendem que um Estado palestino independente só deve vir através de um processo de negociação, enquanto os palestinos rejeitaram esta iniciativa, considerando a Palestina um país soberano e independente que tem sido ocupado pelo regime de Tel Aviv.

A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (AGNU) adotou o reconhecimento de fato do Estado soberano da Palestina em 2012, mas a UE e a maioria dos países do bloqueio, não queriam fazer esse reconhecimento oficial.

Dentro da UE, alguns países, como a Hungria, a Polónia e a Eslováquia reconhecem a Palestina, mas eles fizeram antes de entrar para o bloco de 28 membros.


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Atritos entre Obama e Netanyahu se agravam



Netanyahu comte crimes de guerra contra o povo palestino

Por Luiz Eça- Olhar o Mundo 
Os desentendimentos entre os dois líderes datam do início do primeiro mandato do presidente americano.
Empolgado com as mudanças  prometidas em sua campanha eleitoral, Obama quis reunir palestinos e israelenses para negociarem a paz.
Como os palestinos exigiam que previamente Netanyahu parasse de expandir os assentamentos judaicos, Obama tentou convencer o israelense disso.
Argumentou, pediu, insistiu… mas Netanyahu ficou firme na negativa..
Obama teve de desistir.
Anos depois, veio com nova iniciativa: propôs negociações de paz na base dos limites de 1967, como, aliás,  determinara a ONU.
Inaceitável para Israel.
Isso significaria renunciar aos assentamentos (ou a parte deles), que se espalhavam pela Cisjordânia.
Sem perder tempo, Netanyahu voou para os EUA, onde passou um sabão no presidente americano em plena Casa Branca e foi recebido apoteoticamente pelo Congresso em peso.
Assustado, Obama  desculpou-se na sede da AIPAC, o maior lobby pró-Israel, alegando que fora mal entendido, lógico a realidade dos assentamentos tinha de ser respeitada, os limites de 1967 eram apenas uma base inicial sujeita a alterações…
Depois de duas derrotas contra Bibi, Obama finalmente parece estar ganhando a terceira disputa.
Apesar das furiosas e repetidas apóstrofes condenatórias do premier israelense, ele continua procurando chegar a um acordo com o Irã na questão nuclear.
Agora delineia-se , digamos, uma nova rusga, entre os dois chefes de Estado.
Durante os ataques a Gaza, os EUA, fiéis a sua tolerância infinita às transgressões israelenses, justificaram os bombardeios: Israel teria o direito de se defender.
Mas as coisas foam longe demais, com o assassínio de crianças, ataques a abrigos da ONU e destruição de escolas.
Obama acabou revelando publicamente sua irritação: o exército de Telaviv  tinha de fazer mais para proteger os civis.
No mês passado, quando Netanyahu foi à ONU para mais um show de catastrofismo (recebido friamente por metade do recinto vazio), ele reuniu-se com Obama.
O presidente dos EUA não estava nada satisfeito.
Tanto é que disse: ”Temos de encontrar um jeito de mudar o status quo de um modo que os cidadãos israelenses fiquem seguros…mas também que não haja a tragédia de crianças palestinas sendo assassinadas.”
Obama e Netanyahu, atritos se agravam
 Netanyahyu não deve ter gostado nada.
Gostou ainda menos quando Obama, alguns dias depois, criticou a aprovação de mais 2.600 assentamentos israelenses na Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Numa declaração pública, Obama condenou o projeto, avisando que ele afastaria Israel “mesmo dos seus mais próximos aliados”. E reafirmando que assentamentos judaicos na Palestina, comprometiam a paz na região.
Não fez nada mais do que acompanhar a ONU que sempre considerou ilegais  tanto os assentamentos, quanto a anexação de Jerusalém Oriental por Israel.
Mas para Netanyahu foi demais.
No domingo, 5 de outubro, em entrevista à rede de TV americana CBS, ele avançou no sinal:  não aceita restrições onde judeus podem viver e  judeus e árabes de Israel tem direito de construir casas onde quiserem.
Ou seja, rebela-se contra a proibição da ONU.
Sem contar que está de brincadeira quando fala que árabes de Israel podem  construir suas casas em qualquer parte.
Não há notícia de algum deles habitando qualquer dos assentamentos judaicos…
No entanto, talvez mais grave, foi o que veio a seguir.
O premier israelense disse estar perplexo,a fala de Obama estaria contra os valores americanos.
E completou: “E não é um bom augúrio para a paz. A idéia de que nós precisamos ter purificação étnica como uma condição para a paz… eu penso ser contra a paz.”
Taxar as considerações de um presidente dos EUA como contra os valores da América é algo um tanto agressivo.
Já a justificação dessa acusação é de uma ironia ridícula.
A expansão dos assentamentos judaicos sobre terras palestinas objetiva assegurar sua permanência em Israel, quando houver um Estado palestino.
Quanto mais assentamentos forem criados, mais terras palestinas  poderão ser anexadas a Israel.  Ficará muito difícil para o futuro Estado palestino recuperar estas áreas porque os assentados, conforme declarações gerais, não aceitariam passar a viver numa Palestina independente.
Além disso, muitos deles vivem em áreas tomadas de palestinos por formas de legitimidade discutível: desapropriações pelo exército, exigências legais absurdas, etc.
Purificação étnica é Israel quem faz, expulsando palestinos da “Área C da Cisjordânia, onde se localizam os assentamentos. De ano para ano a população palestina dessa região diminui sensivelmente.
Diante do desafio de Netanyahu, Obama reagiu à altura,através do porta-voz Josh Earnest: “O fato é que, quando se trata de valores americanos, são os valores americanos que emprestam a Israel inabalável apoio. São os valores americanos que nos levam a lutar e garantir recursos para assegurar a segurança de Israel de modo sensível.”
E acrescentou que os EUA financiaram e construíram o “Domo de Ferro” de Israel, o sistema que impediu  os foguetes do Hamas de atingirem seus alvos.
Acredito que Obama e Netanyahu tem divergências quanto ao Oriente Médio.
O americano bem que gostaria de cumprir suas promessas de imparcialidade e justiça, mas não tem coragem ou poder para enfrentar o Congresso e os lobbies pró-Israel.
No entanto, bem que procura tentar resolver os problemas da Palestina e do Irã nuclear, mesmo indo contra as posições de Netanyahu,  embora jamais vá até o fim.
Há muito Netanyahu sacou as idéias opostas de Obama, mas se mantém firme em suas posições, contando sempre com os parlamentares e os poderosos financiadores e grupos do Israel First.
Ultimamente parece que Obama  sente cada vez mais sua responsabilidade de  leader of the world, que deve defender direitos humanos e leis internacionais.
Sem contar que, também a população dos EUA vem aos poucos caminhando nessa direção, o que implica num choque, ainda incipiente, com Israel.
Assentamentos,  acordo de paz com o Irã e independência da Palestina obtêm números cada vez mais altos nas pesquisas americanas.
Especialmente na população jovem, até 30 anos, não existe mais tolerância total com ações israelenses condenadas pelos organismos internacionais.
Nesse último desentendimento, Obama , mesmo lembrando a amizade sem limites com Israel, não deixou de lembrar o que Israel deve a ele.
Num segundo momento, poderá cobrar esta pesada dívida, pressionando Netanyahu  a ser razoável, aceitando um acordo  que garantisse soberania e viabilidade ao Estado palestino.
Recursos ele teria: sem a mão amiga de Tio Sam, Israel ficaria numa situação muito difícil.
Provavelmente, o premier israelense não seria nada fácil de dobrar. Ele conta com uma vitória provável do muito mais aliado Partido Republicano nas eleições da duas casas do Congresso, em 6 de novembro.
Obama também sabe disso.
Não vai arriscar piorar a situação, perdendo votos judaico-americanos, que em maioria costumam ir para os democratas.
A dedução é que Netanyahu tem o presidente americano na mão.
Com o risco de estar sendo sonhador, eu gostaria de dizer que isso não é absolutamente certo.
Lembro que Eisenhower e Roosevelt tomaram importantes  decisões conflitantes com congressos hostis.
E que, no segundo mandato, presidentes costumam realizar seus projetos para ficarem na história de um modo louvável.
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Especial sobre as  Relações Brasil – Palestina, leia aqui:



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