Muito mais do que simbólico.
Por Luiz Eça - Olhar o Mundo
O reconhecimento da Palestina como Estado independente pelo
Reino Unido seria atribuição do primeiro-ministro, não do Parlamento. David
Cameron só o faria como resultante de negociações entre os dois Estados.
No entanto, o fato da Câmara dos Comuns ter recomendado que
o governo reconhecesse o Estado da Palestina tem um significado especial.
Afinal, é a tomada de posição do Parlamento de um dos países
mais importantes do Ocidente, num raro
conflito com as diretrizes da Casa Branca.
Foi a expressão de uma maioria esmagadora – 242 a favor,
contra apenas 12. Sendo que ficaram do lado dos
palestinos, não só deputados da oposição trabalhista, como também
liberais e conservadores, do próprio partido de Cameron.
Não é comum na corte da rainha, parlamentares do
governo votarem contra posições do
executivo.
Em cerca de 40 discursos, a questão palestina foi discutida
amplamente, condenando-se as violências e ilegalidades israelenses.
Num deles, o deputado trabalhista, Graham Morris, opôs-se à
vinculação do reconhecimento da
Palestina às negociações com
Israel:”Fazer o reconhecimento da Palestina depender de um acordo com Israel
seria garantir a Israel o direito de veto à autodeterminação da Palestina.
Reconhecimento não é uma ficha de barganha; é um direito palestino.”
Membro do Partido Conservador e ex-ministro, sir Alan
Duncan, também focou este ângulo da questão: “A idéia de que ele (o
reconhecimento) impediria as negociações, ou de algum modo as evitaria ou
destruiria, é claramente absurda; a
Palestina ainda permaneceria ocupada e as negociações continuariam até se acabar com a ocupação e
chegar a acordos sobre trocas de terras
e fronteiras.”
Chamou atenção a
posição de outro deputado conservador, sir Richard Otaway, chefe do comitê de assuntos do exterior
da Câmara do Comuns.
Nos seus mais de 20 anos de vida política, ele sempre foi
amigo de Israel, defendendo com entusiasmo seus interesses nacionais.
Mas as últimas posturas do governo de Telaviv, inclusive a
expansão contínua de assentamentos, foram demais para ele.
Sem condições emocionais para mudar de lado, ele se absteve.
Não deixou de mandar um recado: “Se eles (os governantes israelenses) estão
perdendo gente como eu, irão perder uma porção de gente.”
Isso já está acontecendo mesmo no próprio Estado de Israel.
Veja o que disseram 363 personalidades israelense em carta enviada à Câmara dos
Comuns: ‘’Nós, israelenses, que nos preocupamos com o bem-estar de Israel,
acreditamos que a existência e a segurança a longo prazo de Israel dependem da
existência e da segurança a longo prazo da Palestina. Por isso, nós pedimos aos
membros do Parlamento do Reino Unido para votarem a favor da moção (de reconhecimento).”
Os promotores da iniciativa foram: dr.Alon Liel, ex
diretor-geral do ministério do exterior; prof. Amiram Goldblum, fundador do
movimento “Paz Agora” e Yehouda Shaul, pelo movimento “Quebrando o Silêncio”.
Assinam a carta, entre outros: Daniel Kahneman, Prêmio Nobel
da economia e mais dois ex-ministros, quatro ex-deputados, três
ex-embaixadores, quatro escritores, um ex-procurador geral e o general
reformado Emanuel Shaked, do Corpo de Paraquedistas.
David Cameron não deve atender à Câmara dos Comuns.
Mas num próximo eventual governo trabalhista, as coisas vão
mudar. A direção do partido determinou que todos os seus parlamentares votassem pelo reconhecimento.
Seja como for, associando-se à posição igual já tomada pelo
novo governo da Suécia, a Câmara dos Comuns do Reino Unido vai ajudar a
incrementar a onda que se forma na Europa pró-Palestina independente.
Que também favorece os elementos moderados na revolução
palestina. Eles podem apresentar o apoio do parlamento britânico como prova de
que conseguir a independência é possível através de meios pacíficos.
Outros países já ameaçam aderir à causa da independência. A
França, até agora ferrenha adversária, faz insinuações nessa direção.
Laurent Fabius, ministro do Exterior, declarou que caso
“negociações se provarem impossíveis ou
não chegarem a uma conclusão…”, então a França reconhecerá a Palestina.
Provável já que, depois da última tentativa de acordo
inviabilizada por Israel, os palestinos não aceitarão mais negociações
bilaterais sem a interrupção de novos assentamentos, discussão dos temas
básicos na implementação da
independência e o prazo de novembro de 2016 para a retirada completa das forças
de ocupação.
Até agora Israel rejeitou ou ignorou essas pré-condições.
Diante deste quadro, Netanyahu e seus pares já deveriam ter percebido que os
sentimentos anti-Israel avançam de modo irresistível mesmo na Europa.
Israel está em vias de isolamento na comunidade
internacional.
Estaria na hora de repensar suas práticas e mudar enquanto
há tempo.
Não vejo sinais de que eles estejam sequer admitindo
discutir esta postura.
Confiam em Obama, ou melhor, na submissão de Obama ao
Congresso, sob a influencia dominante dos lobbies pró-Israel, e do complexo
industrial-militar, interessado nos
lucros e no poder causados pelas guerras de Israel, fartamente alimentadas por
armas americanas.
Para os palestinos e
os árabes de modo geral, Obama já foi uma grande esperança de mudança na
política externa dos EUA. Que passaria a os ver como amigos e a tratar suas
questões com justiça e isenção.
No famoso discurso do Cairo, no início do seu mandato, Obama
declarou que os EUA estavam “profundamente comprometidos com a soberania e a
independência da Palestina.”
O presidente americano até que procurou cumprir o prometido,
acabando por desistir e apoiar Israel sempre , para o bem ou para o mal.
É fato que o Congresso americano, francamente pró-Israel,
foi sempre uma poderosa barreira.
Quando em 2011, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade
Palestina, anunciou que pediria à ONU a admissão do seu país como Estado
independente, o Congresso agiu rápido.
Aprovou leis ordenando que o governo vetasse o
reconhecimento da Palestina, sem um acordo negociado pelas duas partes
(portanto. sem aprovação de Israel). E ameaçando retirar a ajuda à Cisjordânia,
caso a ONU atendesse aos palestinos.
No ano seguinte, em novembro de 2012, a Assembléia Geral da
ONU, por 138 votos contra 9, apoiou o ingresso da Palestina como Estado
observador.
Ficaram ao lado de Israel, os EUA, a República Checa, o
Canadá, o Panamá e algumas ilhas no oceano Pacífico.
Mas os EUA impediram que o Estado dos palestinos fosse
aceito de maneira plena no Conselho de Segurança, pressionando para que não
conseguisse os votos suficientes.
Há esperanças de que a posição da Câmara dos Comuns inglesa
influencie de algum modo os congressistas americanos.
No ano passado, Obama e Cameron haviam decidido bombardear
Damasco, sem que comissão de inquérito
tivesse concluído pelas culpas de Assad num ataque com bombas químicas.
Submetida essa bélica proposta ao parlamento inglês, foi,
inesperadamente, rejeitada.
Assim o premier inglês teve de desistir. Repetindo os
congressistas do Reino Unido, os congressistas americanos tendiam a dizer “não” à proposta do governo
de bombardear a capital de Assad.
Prevendo a derrota da sua proposta, Obama desistiu.
Há quem espere que algo assim aconteça agora. Ou que, ao menos, deputados e
senadores americanos não aprovem automaticamente leis implicando a Casa Branca
em ações para deletar a iniciativa
palestina. Talvez analisem a
questão com mais cuidado, antes de tomar decisões ditadas pela turma do Israel,
first.
Os pessimistas (melhor dizendo, realistas), duvidam.
O Congresso deverá promulgar leis que ameacem todos os envolvidos na causa palestina. Teriam pouco efeito.
Suas grandes armas, os cortes de fundo e as sanções
comerciais, não poderão ser usadas contra os 60 países da Ásia, África e Europa
que formam a coalizão anti-ISIS. Afinal, Obama está empenhado em agradá-los
para que ajudem mais os americanos, com uma participação maior na guerra.
Também não é do interesse americano criar novos atritos com
países fora da coalizão como o Brasil, a China, a Rússia, o Irã e os demais
países da América Latina, que vem elegendo candidatos de centro-esquerda.
Só mesmo os palestinos poderiam ser alcançados pela mão
pesada de Tio Sam.
Mas justo num momento
em que o mundo inteiro está comovido com as brutalidades da guerra de Gaza e da
opressão aos palestinos?
Os ventos sopram fortemente a favor deles.
Os EUA se encontram numa situação bastante incômoda.
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Suécia reconhece a Palestina como um Estado independente
O primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, anunciou nesta
sexta-feira (3) a decisão de seu país de reconhecer a Palestina como um Estado
independente. Löfven considerou que esta medida vai ajudar a resolver o
conflito israelense-palestino.
A solução requer "o reconhecimento mútuo e a
convivência pacífica. Assim, a Suécia reconheceu o Estado da Palestina",
disse o primeiro-ministro.
Se a Suécia confirmar esta iniciativa se tornará o primeiro
país europeu com peso importante no velho continente a reconhecer o direito dos
palestinos que foram privados pela ocupação de seu território por parte do
regime israelense.
A decisão da Suécia provavelmente não será bem recebida pelo
regime de Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE).
Estados Unidos e UE defendem que um Estado palestino
independente só deve vir através de um processo de negociação, enquanto os
palestinos rejeitaram esta iniciativa, considerando a Palestina um país
soberano e independente que tem sido ocupado pelo regime de Tel Aviv.
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (AGNU)
adotou o reconhecimento de fato do Estado soberano da Palestina em 2012, mas a
UE e a maioria dos países do bloqueio, não queriam fazer esse reconhecimento
oficial.
Dentro da UE, alguns países, como a Hungria, a Polónia e a
Eslováquia reconhecem a Palestina, mas eles fizeram antes de entrar para o
bloco de 28 membros.
Fonte: Hispan TV
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Especial sobre as Relações Brasil – Palestina, leia aqui:
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