O Dia da Terra (em árabe: يوم الأرض, Yom al-Ard) é comemorado anualmente em 30
de março e marca, para os palestinos, os eventos ocorridos nesse dia, em 1976,
quando uma greve geral e passeatas foram organizadas nas cidades árabes de
Israel - da Galileia ao Negev -, em reação ao anúncio do plano do governo
israelense de expropriação de uma área de 25.000 dunams (250.000 m²) na
Galiléia - por "razões de segurança e para construção de
assentamentos". Além disso, uma área ainda maior, situada em três aldeias
na área de Al-Mil, foi declarada zona militar fechada, visando a construção
nove assentamentos judaicos. Os árabes
de Israel responderam com uma greve geral e manifestações de rua. O exército
israelense reprimiu as manifestações, e seis árabes foram mortos, na área de Al
Jahil.
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Palestinos: O Dia da Terra
Por Maurício Tragtenberg*
Publicado na Folha de S. Paulo em 29.03.1985.
Amanhã, dia 30, o
povo palestino comemora o “Dia da Terra”, que surgiu como lembrança histórica
da resistência que em 1976, os vários palestinos da Galiléia (território
ocupado em 1948) manifestaram contra a invasão e ocupação de suas terras pelo
Estado em Israel.
Como acontece nessas
ocasiões houve repressão e violência por parte das autoridades militares de
ocupação, onde foram indiscriminadamente atingidos homens, mulheres, velhos e
crianças. É impossível destruir um povo que por mais de trinta séculos
construiu sua cultura, suas obras materiais e espirituais.
Enquadrada no plano
da destruição da cultura e identidade do povo palestino estão as universidades
palestinas construídas nas ‘zonas ocupadas’ pelo Estado em Israel.
Através da Ordenança
Militar 854, uma das 1.080 ordenações militares que modificam a legislação
jordaniana, em vigor na Cisjordânia, o Estado detém em suas mãos a permissão de
funcionamento de qualquer instituição educacional, que implica no controle
pelas autoridades do pessoal acadêmico, dos programas e manuais de ensino.
Uma das iniciativas
que afetou gravemente o funcionamento das universidades palestinas nas ‘zonas
ocupadas’ foi que a partir de 1983 os professores estrangeiros –na realidade
palestinos com passaportes de diversas nacionalidades estrangeiras – tenham que
assinar uma declaração, segundo a qual, comprometem-se a não dar apoio algum à
OLP nem a qualquer organização terrorista. Ante a recusa unânime do corpo de
professores em assinar tal ignominioso papel, a repressão foi terrível.
A Universidade
d’An-Najah teve dezoito professores expulsos, enquanto outros três que estavam
no Exterior foram proibidos de ingressar na Cisjordânia. Bir-Zeit perdeu cinco
e a Universidade de Bethléem perdeu doze de seus professores.
O fechamento
temporário de universidades é outra medida que as “autoridades” de ocupação
lançam mão; entre 1981/2 a Universidade de Bir-Zeit ficou fechada sete meses. A
Universidade de An-Najah em 1982/3 ficou fechada durante três meses
consecutivos, as Universidades de Bethléem e Hebron conheceram igual destino.
Com o fim de vencer
a resistência cultural palestina, a detenção de estudantes pelos motivos mais
fúteis é coisa comum em todas as universidades da Cisjordânia. Os detidos são
confinados na prisão de Fara’a, no Vale do Jordão. Segundo a advogada Lea
Tsemel, o detido, conforme a “lei de urgência” (do período do Mandato
Britânico) pode ficar incomunicável durante dezoito dias, sem culpabilidade
definida nem visita de advogado. Por trazer consigo um panfleto ilegal o detido
pode assim ficar durante 48 dias.
O “tratamento” é o
mais degradante possível: duchas frias, golpes, insultos.
O presidente do
Conselho de Estudantes de An-Najah, condenado a seis anos de prisão em 1974,
não só afirmou ter sido torturado como também afirmou: “todos os prisioneiros
palestinos são torturados.”
Porém, a
Universidade de Bir-Zeit é um foco de resistência cultural palestina; organiza
atividades culturais fundada na cultura popular palestina. Possui uma
biblioteca significativa aberta à consulta pública.
Os dados a respeito
da situação de resistência cultural palestina acima descrita nos foram
fornecidos por Sônia Dayan-Herzbrun e Paul Kessler, que testemunham: “O fato de
sermos judeus não afeta nossa objetividade em relação ao tema tratado. A
consciência de nossa identidade judaica e das responsabilidades inerentes a ela
nos levaram a participar do Centro de Cooperação com a Universidade Bir-Zeit.”
(Le Monde Diplomatique, julho de 1984)
É o que também pensamos. O “Dia da Terra” é a reafirmação de
um povo que pode ser expropriado, espezinhado, torturado, caluniado;vencido
nunca.
* Maurício Tragtenberg,
54, professor do Departamento de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas
SP) e da PUC-SP, escreveu, entre outros livros, “Administração, Poder e
Ideologia.
O texto acima foi publicado no site:
http://www.espacoacademico.com.br/028/28mt_29031985.htm
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