domingo, 3 de agosto de 2014

A lógica da violência israelense

30/7/2014,  Jacobin Magazine.
Por Greg Shupak, Professor de estudos de mídia da Universidade de Guelph, no Canadá.
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


"Todos nós, cidadãos de estados que ajudam Israel a fazer o que faz, temos de forçar nossos governos a parar de colaborar com Israel. Enquanto não conseguirmos que parem, todos nós somos responsáveis por essa horrorosa violência lógica – que Israel ‘explica’ todos os dias" 


Exército terrorista de Israel


A violência dos israelenses não é ‘sem sentido’: ela segue uma lógica colonial.

Entende-se que, para muitos, as ações de Israel na Faixa de Gaza sejam massacre e carnificina como tais. É interpretação plausível para a matança[1] de 1.284 palestinos, pelo menos 75% dos quais são civis, e ferir outros 7.100.


Ver Israel como dedicado a derramamento gratuito de sangue parece até mais razoável, como conclusão, à luz do massacre[2] de 63 pessoas em Shujaiya depois[3] de “uso extensivo de fogo de artilharia em dúzias de áreas populosas em toda a Faixa de Gaza” que deixou cadáveres “espalhados pelas ruas”, ou o bombardeamento[4] de abrigos da ONU abertos para acolher os que fugiam da violência. É conclusão também tentadora, baseada em relados de Khuza’a,[5] área no interior do território da Faixa, e que também foi cenário de mais um massacre pelos israelenses.


Mas descrever essa violência como ‘maldade em si’, como ‘perversão’ ou como ato sem outro objetivo além do assassinato em si deixa escapar a própria lógica que preside tudo que Israel está fazendo com sua Operação Linha de Proteção, agora, mas que de fato faz há muito tempo, ao longo de toda sua história.


Como diz Darryl Li, em “A Solução ‘Nenhum Estado’”,[6]

“Desde 2005, Israel vem desenvolvendo um experimento raro,[7] talvez sem precedentes, de gestão colonial na Faixa de Gaza,” procurando sempre “isolar os palestinos de qualquer contato com o mundo exterior, torná-los absolutamente dependentes da caridade externa” e, simultaneamente, cuidar de “absolver Israel de qualquer responsabilidade em relação a eles.”

Essa estratégia, prossegue Li, é o modo pelo qual Israel trabalha para manter maioria de judeus nos territórios que controla, de modo a poder continuar a negar direitos iguais para o restante da população.


Suprimir a resistência palestina[8] é crucial para o sucesso do experimento israelense. Mas há um corolário, a saber, uma interação cíclica entre o colonialismo israelense e o militarismo norte-americano. 


Como explica Bashir Abu-Manneh,[9] há uma relação entre o imperialismo norte-americano e as políticas sionistas.


Políticos norte-americanos creem que uma aliança com Israel ajuda os EUA a controlar o Oriente Médio. Assim sendo, os EUA viabilizam o colonialismo e a ocupação israelenses, o que, por sua vez, cria contextos para mais intervenções dos EUA na região, que podem ser usados para tentar aprofundar a hegemonia norte-americana.


O autor diz também que “os EUA têm determinado grandes resultantes econômicas e políticas” na região desde, pelo menos, 1967, e que Israel desempenha “papel crucial nas realizações norte-americanas. Em Israel-Palestina, o que se tem é que a força e uma paz colonial alternaram-se como principais instrumentos de política.” Mas, em todos os casos, permanece sempre “o mesmo objetivo, constante: a supremacia dos judeus na Palestina – o máximo possível de terra, com o mínimo possível de palestinos sobre ela.”


O que os dois analistas, Li e Abu-Manneh destacam é a preocupação de Israel com manter os palestinos em estado de impotência. Conduzida simultaneamente por sua própria agenda de ocupação com colonização e por sua função como parceira dos EUA no sistema geopolítico, Israel dedica-se a tentar equilibrar (i) seu desejo de maximizar o território que controla e (ii) o imperativo de minimizar o número de palestinos vivos nos territórios que Israel aspira a usar para seus próprios objetivos.


Um modo de destruir qualquer sinal do poder dos palestinos tem sido deixado bem à vista na Operação Linha de Proteção, durante a qual a violência dos israelenses foi aplicada a detonar quaisquer sinais da independência palestina – daí a conclamação que fez o ministro da Economia Naftali Bennett,[10] para “derrotar o Hamás.”


Resultado disso tudo, é que os palestinos não estão expostos exclusivamente à violência mais extrema. Também a capacidade de os palestinos viverem autonomamente na Palestina histórica tem sido atacada. A destruição da infraestrutura no recente ataque[11] contra a única usina de produção de eletricidade de toda a Faixa de Gaza é sinal bem claro disso. O massacre-crime israelense em curso não põe fim só à vida de indivíduos palestinos, mas também visa a arrancar dos palestinos como povo a capacidade de viver independentemente em sua terra tradicional histórica.


Quando nega aos refugiados o direito natural protegido por lei de retornar, Israel deixa ver abertamente a tática de que se serve para manter o quadro demográfico com que sonha, criando condições inóspitas para a existência autônoma dos palestinos; ao mesmo tempo, a mesma tática também pode assegurar a Israel “o máximo possível de terra, com o mínimo possível de palestinos sobre ela.”


A violência regida por essa lógica não é exclusividade do sionismo. É traço central no colonialismo e tem paralelo histórico, por exemplo, na Trilha das Lágrimas nos EUA ou no Canadá, com a limpeza étnica das planícies mediante o processo de provocar premeditadamente grandes fomes[12]  entre os povos nativos. A Operação Linha de Proteção, dos israelenses, hoje, é ação desse tipo.


Impedir que um povo proveja a própria sobrevivência é um meio de sabotar a capacidade de viverem autonomamente. Esse é o sentido do ataque de Israel contra 46 barcos pesqueiros[13] de Gaza, ou dos ataques do 16º Dia[14] da Operação Linha de Proteção contra as áreas plantadas no norte da Faixa de Gaza, na cidade de Gaza, na Faixa de Gaza Central, em Khan Yunis e  em Rafah. Assim é que se tem de entender que Israel tenha-se dedicado a destruir 2/3 dos moinhos de trigo[15] de Gaza, e unidades que produziam ração para 3.000 animais[16] (para nem falar dos animais cuja morte também foi provocada). Assim é que se deve interpretar o que a Dra. Sara Roy, de Harvard, descreve como deliberada destruição de longo prazo e o desmanche da economia da Faixa de Gaza,[17] ações que, a menos que haja aumento considerável na ajuda oferecida pelo Alto Comissariado para Refugiados da ONU, provocarão fome em massa.


Impedir absolutamente que os palestinos promovam a própria sobrevivência e de suas famílias é também roubar-lhes a capacidade de funcionar por conta própria. Essa é uma das implicações de “drogas psicotrópicas para pacientes de doenças mentais, trauma e ansiedade” terem desaparecido dos estoques de medicamentos e de o hospital de Shifa[18] “precisar com urgência de neurocirurgiões, anestesiologistas, cirurgiões plásticos e gerais e ortopedistas, além de 20 leitos para UTI, uma máquina digital C-ARM para cirurgias ortopédicas, três mesas de cirurgia e sistema de iluminação para todas as cinco salas cirúrgicas.” 


Essa é a ação – como dizem os Médicos sem Fronteiras, em conclamação[19] para que Israel “pare de bombardear civis cercados em locais sem saída” – que já matou dois paramédicos e feriu dois outros, quando tentavam resgatar feridos de Ash Shuja’iyeh. Essa é a implicação de Israel ter destruído 22   instalações de atendimento a doentes e feridos,[20] inclusive pelo menos um ataque direto[21] contra o hospital al-Aqsa e a destruição do hospital o hospital de reabilitação el-Wafa,[22] que foram atacados dias seguidos, várias vezes. 


Esses ataques a hospitais foram causa de uma carta aberta publicada num dos mais prestigiosos periódicos médicos do mundo, The Lancet,[23] na qual 24 médicos e cientistas relatam ter ficado “horrorizados ante o massacre de civis em ações militares em Gaza, disfarçadas como se fossem ações para punir terroristas”, “massacre que não poupou ninguém, inclusive pacientes em cadeiras de rodas, em camas hospitalares e em leitos de doentes em hospitais.” 


Ataques a instituições religiosas, traço que se vê em todos os projetos de ocupação com colonização, são outro modo de interferir na independência dos palestinos. 88 mesquitas de Gaza foram danificadas,[24] o que equivale a dizer que foram danificados 88 pontos nos quais as comunidades gazenses reuniam-se e tinham contato entre elas.


O ataque de Israel contra a cultura palestina também deve ser compreendido como ato de violência contra os palestinos como povo. As culturas não são estáticas e vivem processo infinito de construção, desconstrução e reconstrução das próprias narrativas, de tal modo que os grupos se autocompreendem como específicos e são compreendidos como tais por membros de culturas diferentes.


A capacidade de um povo para contar suas próprias histórias sobre eles mesmos é aspecto chave de sua existência autônoma. Impedir a capacidade de os palestinos desenvolverem essas práticas e respectivas narrativas é mais um crime de Israel, quando destrói a casa do poeta Othman Hussein[25] e a casa do artista Raed Issa;[26] quando mata o cameraman Khaled Reyadh Hamad[27] em Shujaiya e Hamdi Shihab, motorista da agência de notícias Media 24 de Gaza; quando ataca jornalistas falantes de árabe da al-Jazeera e da BBC;[28] ou quando destrói o prédio onde funcionava a rádio Sawt al-Watan.[29]


Minar a capacidade de um povo educar os seus jovens, treiná-los para trabalhar e ensiná-los a pensar criticamente é mais um meio para minar a possibilidade de existência independente. Por isso Israel destruiu completamente ou em parte, 133 escolas palestinas.[30]


Ao mesmo tempo em que destrói instituições culturais e educacionais para impedir que os palestinos reproduzam-se culturalmente, Israel promove matança em massa de 229 crianças palestinas, com 1.949 outras crianças feridas;[31] é o meio mais claro, e mais horrendo, de literalmente cortar a capacidade de os palestinos continuarem a existir como grupo. É o significado de Israel ter traumatizado 194 mil crianças,[32] dependentes hoje de assistência psiquiátrica. É o significado também de Israel ‘racionar’[33] o atendimento a “cerca de 45 mil grávidas na Faixa de Gaza, das quais 5 mil foram desalojadas.”


Israel impede também diretamente a vida dos palestinos quando destrói ou danifica gravemente as residências de 3.695 famílias palestinas,[34] e cria condições nas quais se torna virtualmente impossível levar avante as atividades do dia a dia que dão forma à continuidades de outras gerações. Israel é causa hoje de 1,2 milhão[35] de palestinos “não terem acesso, ou só terem acesso limitado a água e a serviços de esgoto,  devido a danos no sistema de eletricidade ou falta de combustível para fazer funcionar geradores.” 


Todos nós, cidadãos de estados que ajudam Israel a fazer o que faz, temos de forçar nossos governos a parar de colaborar com Israel. Enquanto não conseguirmos que parem, todos nós somos responsáveis por essa horrorosa violência lógica – que Israel ‘explica’ todos os dias. 




sábado, 2 de agosto de 2014

Carta ao povo brasileiro: por Gaza, pela Palestina, pela Humanidade!

FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil


Hoje, foram 160 mortos palestinos! O saldo dos ataques do estado terrorista de Israel no seu 22º dia, de 08/07 á 01/08, é trágico, uma catástrofe humanitária, que demonstra, aos olhos do mundo, a crueldade e covardia de um governo, de um estado fora da lei.

Faixa de Gaza – Palestina:

- 1.610 MORTOS , sendo 80% civis - 296 crianças!
- 8.760 FERIDOS
- 6.920 ataques aéreos (sem contar, os ataques por mar e terra)
- 9.245 casas destruídas
- 450.000 desabrigados/deslocados (25% da população da Faixa de Gaza)
- Estações de energia elétrica totalmente destruídas
- Redes de fornecimento de água e redes de esgoto , mais de 60% inoperantes

 Israel:

-72 mortos , sendo 14% civis

Não podemos, não devemos dar trégua a esse estado assassino, uma ameaça para toda a humanidade.

Agradecemos as milhares de manifestações de apoio e solidarriedade que temos recebido de todo o Brasil. Agradecemos a todos pelas centenas de atos públicos nas ruas de norte a sul do Brasil.

Agradecemos a atitude nobre e enérgica da Presidente Dilma em repudiar o massacre e retirar de Israel o nosso embaixador brasileiro.

Com todas as pressões nacionais e mundiais, o governo israelense continua seus crimes e afronta todas as leis do sistema jurídico internacional, não cumpre as resoluções da ONU, rasga a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Mais ações se fazem urgentes!

Pedimos à Presidente Dilma, na carta que lhe enviamos em 24/07/14, para que retire do Brasil o Embaixador de Israel e rompa os acordos comerciais, científicos e militares com Israel.

PEDIMOS A TODO O BRASIL, HOMENS E MULHERES,ORGANIZAÇÕES, ENTIDADES E MOVIMENTOS DE TODA A SOCIEDADE CIVIL:

- Que organizem mais e mais manifestações de repúdio ao massacre israelense contra Gaza;

- Que enviem milhões de mensagens para a Presidente Dilma, através do site “FALE COM A PRESIDENTA” -  https://sistema.planalto.gov.br/falepr2/index.php -  e escrevam:

1-   PRESIDENTE DILMA, EXPULSE O EMBAIXADOR DE ISRAEL!

2- PRESIDENTE DILMA, ROMPA OS CONTRATOS E ACORDOS MILITARES, CIENTÍFICOS E COMERCIAS COM ISRAEL!


Por Gaza, pela Palestina, pela humanidade!


Porto Alegre, 01 de agosto de 2014.


FEPAL - FEDERAÇÃO ÁRABE PALESTINA DO BRASIL




MENSAGENS DA FEPAL:







Não em meu nome, por Marcelo Gruman


O terrorismo israelense e as crianças palestinas


Na minha adolescência, tive a oportunidade de visitar Israel por duas vezes, ambas na primeira metade da década de 1990. Era estudante de uma escola judaica da zona sul da cidade do Rio de Janeiro. As viagens foram organizadas por instituições sionistas, e tinham por intuito apresentar à juventude diaspórica a realidade daquele Estado formado após o holocausto judaico da Segunda Guerra Mundial, e para o qual todo e qualquer judeu tem o direito de “retornar” caso assim o deseje. Voltar à terra ancestral. Para as organizações sionistas, ainda que não disposto a deixar a diáspora, todo e qualquer judeu ao redor do mundo deve conhecer a “terra prometida”, prestar-lhe solidariedade material ou simbólica, assim como todo muçulmano deve fazer, pelo menos uma vez na vida, a peregrinação a Meca. Para muitos jovens judeus, a visita a Israel é um rito de passagem, assim como para outros o destino é a Disneylândia.
A equivalência de Israel e Disneylândia tem um motivo. A grande maioria dos jovens não religiosos e sem interesse por questões políticas realizam a viagem apenas para se divertir. O roteiro é basicamente o mesmo: visita ao Muro das Lamentações, com direito a fotos em posição hipócrita de reza (já viram ateu rezando?), ao Museu da Diáspora, ao Museu do Holocausto, às Colinas do Golan, ao Deserto do Neguev e a experiência de tomar um chá com os beduínos, ir ao Mar Morto e boiar na água sem fazer esforço por conta da altíssima concentração de sal, a “vivência” de alguns dias num dos kibutzim ainda existentes em Israel e uma semana num acampamento militar, onde se tem a oportunidade de atirar com uma arma de verdade. Além, é claro, da interação com jovens de outros países hospedados no mesmo local. Para variar, brasileiros e argentinos, esquecendo sua identidade étnica comum, atualizavam a rivalidade futebolística e travavam uma guerra particular pelas meninas. Neste quesito, os argentinos davam de goleada, e os brasileiros ficavam a ver navios.
Minha memória afetiva das duas viagens não é das mais significativas. Aparte ter conhecido parentes por parte de mãe, a “terra prometida” me frustrou quando o assunto é a construção de minha identidade judaica. Achei os israelenses meio grosseiros (dizem que o “sabra”, o israelense “da gema”, é duro por natureza), a comida é medíocre (o melhor falafel que comi até hoje foi em Paris...), é tudo muito árido, a sociedade é militarizada, o serviço militar é compulsório, não existe “excesso de contingente”. A memória construída apenas sobre o sofrimento começava a me incomodar.
Nossos guias, jovens talvez dez anos mais velhos do que nós, andavam armados, o motorista do ônibus andava armado. Um dos nossos passeios foi em Hebron, cidade da Cisjordânia, em que a estrada era rodeada por telas para contenção das pedras atiradas pelos palestinos. Em momento algum os guias se referiram àquele território como “ocupado”, e hoje me envergonho de ter feito parte, ainda que por poucas horas, deste “finca pé” em território ilegalmente ocupado. Para piorar, na segunda viagem quebrei a perna jogando basquete e tive de engessá-la, o que, por outro lado, me liberou da experiência desagradável de ter de apertar o gatilho de uma arma, exatamente naquela semana íamos acampar com o exército israelense.
Sei lá, não me senti tocado por esta realidade, minha fantasia era outra. Não encontrei minhas raízes no solo desértico do Negev, tampouco na neve das colinas do Golan. Apesar disso, trouxe na bagagem uma bandeira de Israel, que coloquei no meu quarto. Muitas vezes meu pai, judeu ateu, não sionista, me perguntou o porquê daquela bandeira estar ali, e eu não sabia responder. Hoje eu sei por que ela NÃO DEVERIA estar ali, porque minha identidade judaica passa pela Europa, pelos vilarejos judaicos descritos nos contos de Scholem Aleichem, pelo humor judaico característico daquela parte do mundo, pela comida judaica daquela parte do mundo, pela música klezmer que os judeus criaram naquela parte do mundo, pelas estórias que meus avós judeus da Polônia contavam ao redor da mesa da sala nos incontáveis lanches nas tardes de domingo.
Sou um judeu da diáspora, com muito orgulho. Na verdade, questiono mesmo este conceito de “diáspora”. Como bem coloca o antropólogo norte-americano James Clifford, as culturas diaspóricas não necessitam de uma representação exclusiva e permanente de um “lar original”. Privilegia-se a multilocalidade dos laços sociais. Diz ele:
As conexões transnacionais que ligam as diásporas não precisam estar articuladas primariamente através de um lar ancestral real ou simbólico (...). Descentradas, as conexões laterais [transnacionais] podem ser tão importantes quanto aquelas formadas ao redor de uma teleologia da origem/retorno. E a história compartilhada de um deslocamento contínuo, do sofrimento, adaptação e resistência pode ser tão importante quanto a projeção de uma origem específica.
Há muita confusão quando se trata de definir o que é judaísmo, ou melhor, o que é a identidade judaica. A partir da criação do Estado de Israel, a identidade judaica em qualquer parte do mundo passou a associar-se, geográfica e simbolicamente, àquele território. A diversidade cultural interna ao judaísmo foi reduzida a um espaço físico que é possível percorrer em algumas horas. A submissão a um lugar físico é a subestimação da capacidade humana de produzir cultura; o mesmo ocorre, analogamente, aos que defendem a relação inexorável de negros fora do continente africano com este continente, como se a cultura passasse literalmente pelo sangue. O que, diga-se de passagem, só serve aos racialistas e, por tabela, racistas de plantão. Prefiro a lateralidade de que nos fala Clifford.
Ser judeu não é o mesmo que ser israelense, e nem todo israelense é judeu, a despeito da cidadania de segunda classe exercida por árabes-israelenses ou por judeus de pele negra discriminados por seus pares originários da Europa Central, de pele e olhos claros. Daí que o exercício da identidade judaica não implica, necessariamente, o exercício de defesa de toda e qualquer posição do Estado de Israel, seja em que campo for.
Muito desta falsa equivalência é culpa dos próprios judeus da “diáspora”, que se alinham imediatamente aos ditames das políticas interna e externa israelense, acríticos, crentes de que tudo que parta do Knesset (o parlamento israelense) é “bom para os judeus”, amém. Muitos judeus diaspóricos se interessam mais pelo que acontece no Oriente Médio do que no seu cotidiano. Veja-se, por exemplo, o número ínfimo de cartas de leitores judeus em jornais de grande circulação, como O Globo, quando o assunto tratado é a corrupção ou violência endêmica em nosso país, em comparação às indefectíveis cartas de leitores judeus em defesa das ações militaristas israelenses nos territórios ocupados. Seria o complexo de gueto falando mais alto? 
Não preciso de Israel para ser judeu e não acredito que a existência no presente e no futuro de nós, judeus, dependa da existência de um Estado judeu, argumento utilizado por muitos que defendem a defesa militar israelense por quaisquer meios, que justificam o fim. Não aceito a justificativa de que o holocausto judaico na Segunda Guerra Mundial é o exemplo claro de que apenas um lar nacional única e exclusivamente judaico seja capaz de proteger a etnia da extinção.
A dor vivida pelos judeus, na visão etnocêntrica, reproduzida nas gerações futuras através de narrativas e monumentos, é incomensurável e acima de qualquer dor que outro grupo étnico possa ter sofrido, e justifica qualquer ação que sirva para protegê-los de uma nova tragédia. Certa vez, ouvi de um sobrevivente de campo de concentração que não há comparação entre o genocídio judaico e os genocídios praticados atualmente nos países africanos, por exemplo, em Ruanda, onde tutsis e hutus se digladiaram sob as vistas grossas das ex-potências coloniais. Como este senhor ousa qualificar o sofrimento alheio? Será pelo número mágico? Seis milhões? O genial Woody Allen coloca bem a questão, num diálogo de Desconstruindo Harry (tradução livre):
- Você se importa com o Holocausto ou acha que ele não existiu?
- Não, só eu sei que perdemos seis milhões, mas o mais apavorante é saber que recordes são feitos para serem quebrados.
O holocausto judaico não é inexplicável, e não é explicável pela maldade latente dos alemães. Sem dúvida, o componente antissemita estava presente, mas, conforme demonstrado por diversos pensadores contemporâneos, dentre os quais insuspeitos judeus (seriam judeus antissemitas Hannah Arendt, Raul Hilberg e Zygmunt Bauman?), uma série de características do massacre está relacionada à Modernidade, à burocratização do Estado e à “industrialização da morte”, sofrida também por dirigentes políticos, doentes mentais, ciganos, eslavos, “subversivos” de um modo geral. Práticas sociais genocidas, conforme descritas pelo sociólogo argentino Daniel Feierstein (outro judeu antissemita?), estão presentes tanto na Segunda Guerra Mundial quanto durante o Processo de Reorganização Nacional imposto pela ditadura argentina a partir de 1976. Genocídio é genocídio, e ponto final.
A sacralização do genocídio judaico permite ações que vemos atualmente na televisão, o esmagamento da população palestina em Gaza, transformada em campo de concentração, isolada do resto do mundo. Destruição da infraestrutura, de milhares de casas, a morte de centenas de civis, famílias destroçadas, crianças torturadas em interrogatórios ilegais conforme descrito por advogados israelenses. Não, não são a exceção, não são o efeito colateral de uma guerra suja. São vítimas, sim, de práticas sociais genocidas, que visam, no final do processo, ao aniquilamento físico do grupo.
Recuso-me a acumpliciar-me com esta agressão. O exército israelense não me representa, o governo ultranacionalista não me representa. Os assentados ilegalmente são meus inimigos.
        Eu, judeu brasileiro, digo: ACABEM COM A OCUPAÇÃO!!!

(1) Marcelo Gruman é antropólogo.

Referências bibliográficas:
CLIFFORD, James. (1997). Diasporas, in Montserrat Guibernau and John Rex (Eds.) The Ethnicity Reader: Nationalism, Multiculturalism and Migration, Polity Press, Oxford.
Vídeo:
Tortura de crianças palestinas: https://www.youtube.com/watch?v=z5AkFlAeCHE

terça-feira, 29 de julho de 2014

Onde está a linha moral de Israel em Gaza?


Massacre de Israel em Gaza na Palestina. Charge de Carlos Latuff.



Por Yuli Novak, 32 anos, foi oficial da Força Aérea de Israel de 2000 a 2005, completou o seu serviço até ao posto de primeira-tenente. Desde 2013, é a diretora executiva da associação Breaking the Silence.

Há exatamente 12 anos, em Julho de 2002, a Força Aérea israelita lançou uma bomba de uma tonelada para cima da casa de Salah Shehadeh, chefe da ala militar do Hamas, em Gaza. Não é preciso ser-se um especialista para imaginar o que resta de uma casa atingida por uma bomba de uma tonelada. Não resta muito. Essa bomba matou não só Shehadeh mas também 14 civis, incluindo 8 crianças inocentes.

Nessa altura, eu era oficial de operações na Força Aérea israelita. Como muitos dos meus amigos, dei por mim, aos 20 anos, a carregar o fardo de uma enorme responsabilidade. Era responsável pelo esquadrão de aviação no terreno, passando ordens e informação do quartel-general da Força Aérea aos pilotos, preparando os aviões para operações, e dando apoio aos pilotos durante as saídas.

Depois da operação em que Shahadeh foi assassinado, Israel tremeu. Mesmo quando as Forças de Defesa de Israel insistiram que havia justificação operacional para o ataque, o público não conseguia aceitar este ataque a civis inocentes.

Vários intelectuais fizeram uma petição ao Supremo Tribunal, pedindo que examinasse a legalidade da ação. Poucos meses mais tarde, um grupo de pilotos na reserva publicou uma carta criticando a natureza destas ações de eliminação.

Enquanto soldados e oficiais habituados a levar a cabo as nossas missões sem perguntas desnecessárias, fomos afectados pela crítica do público. Mas Dan Halutz, o comandante da Força Aérea na altura, disse aos pilotos que deveriam “dormir bem à noite – não prestem atenção às críticas.”

Um mês mais tarde, perguntaram a Halutz o que sentia um piloto quando lança uma bomba de uma tonelada sobre uma casa. Ele disse: “Um leve abanão na asa do avião.” Para quem estivesse de fora, esta afirmação poderia soar fria e desligada, mas os meus amigos e eu confiávamos que os nossos comandantes tomassem as decisões moralmente certas, e voltávamos a focar-nos nas “coisas importantes” – a execução precisa das operações seguintes.

Uns meses mais tarde, fui nomeada comandante de um curso para oficiais da Força Aérea. Ensinei aos cadetes como levar a cabo as suas tarefas de modo profissional, e como aceitar responsabilidade pelas suas ações como oficiais. Estudamos as conclusões tiradas de anteriores operações da Força Aérea e as lições aprendidas com elas. Ensinei-lhes que as Forças de Defesa de Israel (IDF) são o exército mais moral do mundo, e que a Força Aérea é a força mais moral dentro das IDF. Tinha 20 anos, acreditava, com todo o meu coração, que estávamos a fazer o que tinha de ser feito. Se houvesse baixas, seriam um mal necessário. Se houvesse erros, seriam investigados, e seriam tiradas lições.

As coisas mudaram e agora não consigo ter esta certeza. Em 2002, o lançamento de uma bomba de uma tonelada numa casa resultando na morte de 14 civis era a excepção. Alguns meses depois do ataque à casa de Shehadeh, as IDF reconheceram que tinham errado ao lançar a bomba. Classificaram o incidente como uma falha de informação e disseram que se soubessem que havia civis na casa não teriam levado a cabo a operação.

Alguns anos depois, durante a operação Chumbo Endurecido [2008-2009], houve utilização generalizada da táctica de bombardear zonas densamente povoadas na Faixa de Gaza. Hoje, na operação Margem Protetora, a Força Aérea gaba-se de ter bombardeado Gaza com mais de 100 bombas de uma tonelada. O que antes era a excepção é hoje a regra.

Isto é o que se passa hoje. Notificamos os habitantes da destruição iminente de uma casa minutos antes de cair uma bomba – via mensagem de texto ou lançando uma pequena bomba como aviso. É o suficiente para transformar a casa num alvo legítimo de um ataque aéreo. Nas últimas duas semanas, dezenas de civis foram mortos através desta prática.

Casas de membros do Hamas tornaram-se alvos legítimos, independentemente do número de pessoas dentro das suas paredes. Ao contrário do que aconteceu em 2002, ninguém se preocupa em justificar ou apresentar uma desculpa. O que é pior é que quase ninguém protesta. Famílias inteiras desaparecem num segundo, e a opinião pública continua indiferente. De ano a ano, de uma operação militar a outra, as nossas linhas vermelhas morais estão a ser empurradas para cada vez mais longe. Já não é claro onde estão, nem sequer se sabemos que as estamos a ultrapassar. Onde estarão na próxima operação? Onde estarão daqui a dez anos?

Sei por experiência própria quão difícil é fazer perguntas durante alturas de conflito ativo quando se é um soldado. A informação que os oficiais no terreno e no ar obtêm em tempo real é sempre parcial. Por isso é que a responsabilidade de traçar a linha vermelha moral, e alertar quando a ultrapassamos, é da opinião pública.


Fonte: http://www.publico.pt/mundo/noticia/onde-esta-a-linha-moral-de-israel-em-gaza-1664390

segunda-feira, 28 de julho de 2014

BRASIL-PALESTINA: FERIADO DO TÉRMINO DO RAMADAN, EID AL FITR.




Criança palestina e o ramo de oliveria da paz





Que a palavra de Allah no sagrado Alcorão e as mensagens do Profeta Muhammad (SAW) tragam saúde, alegria, paz e prosperidade para todos os muçulmanos, para todos os amigos e amigas de todas as religiões, etnias e nacionalidades.

Hoje, ao término do sagrado mês do Ramadan para todos os muçulmanos no mundo, oramos para que a cada ano se renovem as esperanças e energias para continuarmos a árdua jornada de construção de um mundo mais justo e solidário.

Oramos para que os governantes árabes reflitam e revejam as suas prioridades, que as riquezas produzidas e os poderes conquistados estejam a serviço dos povos, que as suas consciências sejam iluminadas pelos clamores de sua população pobre e oprimida.

Oramos para que o povo e governo brasileiro continuem trilhando o caminho da eliminação da miséria e das desigualdades sociais. Continuem elevando os níveis de desenvolvimento da economia, da distribuição de renda, da saúde e educação. Que cada brasileiro possa continuar tendo orgulho dele mesmo e do seu país, gigante que é, não se apequene.

Oramos pelo sofrido e heróico povo palestino para que no próximo Ramadan seja hasteada  a bandeira palestina em Jerusalém livre, capital do Estado da Palestina soberano e independente. Que reine a justiça, a liberdade e a paz na Palestina e em todo o oriente médio.

Oramos para que os direitos nacionais inalienáveis do povo palestino ao retorno e autodeterminação sejam implementados conforme o direito internacional e as resoluções da ONU – Organização das Nações Unidas.

Oramos para que os governantes de Israel e dos Estados Unidos da América parem de massacrar o povo palestino, seus homens e mulheres, crianças e idosos. Que nunca mais usem suas armas para matar a Palestina nação, a Palestina história e cultura.

Oramos para que entre o céu e a terra, nenhum país, nenhum governante, nenhum ser humano apresente consideração politica, militar, religiosa, econômica ou de segurança que justifique o  genocídio de um povo, a limpeza étnica que se comete na palestina.

No início desse mês sagrado do Ramadan nossa mensagem tratou de situações de tristezas e alegrias. As tristezas aumentaram e a esperança também!

Depois da oração, a fé verdadeira determina ação.

Vimos essa fé pela justiça e contra as barbaridades que Israel comete contra a população palestina transformada em ações dignas do Brasil,  um ator politico e diplomático  de moral gigante, nobre, respeitador e amigo dos povos e nações, desafiando, com a força do direito e da legitimidade, um gigante anão imoral, transgressor das leis internacionais , colonizador e ocupante de terras que não lhe pertencem, nem por força de lei divina e nem pelas leis do direito internacional.

Agradecemos ao governo brasileiro pelas atitudes históricas de apoio à Palestina e as recentes decisões, a nível nacional e internacional,  para que o sofrimento trágico do povo palestino seja abreviado e se estabeleça o cessar fogo e se investigue a situação dos direitos humanos na faixa de gaza.

Agradecemos ao povo brasileiro e suas entidades civis pelo apoio e solidariedade histórica com o povo palestino e pelas manifestações que acontecem em inúmeras cidades de norte a sul do país.

Pedimos que esse clamor por paz, justiça e liberdade para o povo palestino continue aumentando. Que a voz do Brasil não se cale até que Israel ponha fim ao bloqueio econômico e geográfico da faixa de gaza por ar, mar e terra e que dura sete anos. Até que cessem os ataques, até que os direitos nacionais do povo palestino sejam respeitados e cumpridos.

Pedimos que as bandeiras do brasil e da palestina sigam levantadas em todo o país.



Que a cada ano vocês estejam em paz, saúde e prosperidade!

Kullu a’am ua antum bikhair!



FEDERAÇÃO ÁRABE PALESTINA DO BRASIL



FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil











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CARTA DA FEPAL À PRESIDENTE DILMA

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Quando o anão moral Israel atacará o gigante Brasil?

Quando o anão moral Israel atacará o gigante Brasil?


Por Ualid Rabah*


                A reação de Israel à nota diplomática brasileira de condenação dos crimes em andamento em Gaza é consoante ao seu momento de barbárie mais aguda, que faz haver, em suas diligências civil e militar, cegueira quase que total do que se dá no mundo. Na verdade, sua reação verbal se deu nestes termos porque Israel não pode atacar belicamente o Brasil. Ou seja: atacaram com as palavras com a virulência que se auto impuseram por não lhes ser possível fazer o que de fato desejavam, qual seja, atacar o Brasil por sua insolente independência, tal qual fazem hoje com Gaza.


                Israel, com isso, prova o quanto é um país agressivo, arrogante, que imagina poder resolver as questões que lhe afetam pela imposição, através das armas ou por meio da chantagem imoral à devassidão, de seus pontos de vista unilaterais e ao arrepio de todo o regramento legal internacional, algo que lhe vinha sendo possível desde que passou a existir sob os escombros e cadáveres da Palestina limpada etnicamente. O atual momento, no qual as realidades parecem destoar do que espera a mimada Israel, leva seus dirigentes à insânia e às manifestações tresloucadas, agora dirigidas contra o Brasil, uma nação soberana e com a qual mantém relações diplomáticas e econômicas plenas.


                Esta manifestação absolutamente inaceitável é, para muito além de razão de indignação de cada brasileiro, um alerta do que de mais grave há por trás: o quanto Israel representa de perigo para a humanidade, algo já detectado em sondagens de opinião na Europa, nas quais o estado pretendido como judaico é apontado pela maioria dos consultados como o maior perigo à paz mundial. Frente à grosseira manifestação de Israel, repercutida por organizações que se auto intitulam representativas das comunidades judaicas, especialmente no Brasil, fica a pergunta: o que este estado fará quando instado pela comunidade internacional, por meio de resoluções cogentes não vetadas pelos EUA, a cumprir com suas obrigações e, ao fim e ao cabo, estar obrigado a reconhecer todos os direitos civis, humanitários e nacionais dos palestinos? Utilizará as armas nucleares que detém e seus arsenais químicos e bacteriológicos em insana reação armada, com a qual visará intimidar o mundo por meio de ameaça de hecatombe?


                Não são poucos os que assim suspeitam, seja pela forma com que nasceu Israel, baseado na expulsão de metade ou mais de toda a população palestina, seja pela forma com que existiu até os dias atuais, sempre optando pela guerra em lugar das soluções negociadas, e destas, quando impostas pelas circunstâncias, desviou o quanto pôde, sempre construindo, tempos a seguir, e artificialmente, novas razões de ruptura da calmaria e em novo banho de sangue fazendo mergulharem os palestinos e os povos vizinhos, destacando-se o libanês.


                O mundo precisa estar alerta. A reação despropositada de Israel para com um país que sempre foi, em muitas medidas, seu amigo, nos dá muitas pistas do que de fato está se transformando este estado. O ataque sem precedentes ao Brasil, em linguagem que a diplomacia, em regra, não admite, é equivalente à sua reação às reivindicações palestinas, com a diferença de que contra o povo palestino a reação se dá por meio de armas, sem nenhuma medida de proporcionalidade ou cuidado com as destruições e mortes, olímpicas quando comparadas com qualquer consequência sofrida por Israel. Por enquanto suas reações, ainda que tresloucadas, frente a postura justas de países como o Brasil, são verbais. No entanto, ela se dará por meio das armas, um dia, contra qualquer país que ouse lhe reprimir frente aos crimes que comete se nada for feito para frear a sanha assassina de Israel.

Além do mais, Israel, na condição de anão moral que é, não reúne nenhuma condição que lhe autorize classificar o Brasil como anão político, algo inclusive longe de ser verdadeiro, visto que o Brasil vive seu momento de maior protagonismo internacional, qual seja, deixando de ser o anão político e diplomático que já foi, bem como de irrelevante, ao menos na ilógica ótica de Israel, país artificial e baseado na limpeza étnica. Inclusive Israel deve ao Brasil, em boa medida, a aprovação da malfadada resolução 181 da ONU, a da partilha da Palestina, da qual resultou a sua auto criação e a varrição étnica dos palestinos, esta a causa direta do que hoje ocorre, nada mais do que o mero efeito da verdadeira causa.


A nossa máxima indignação aos insultos israelenses se dá, inclusive e especialmente, porque o anão diplomático, e que prefere recorrer às armas contra população indefesa, e irrelevante, inclusive para o Brasil altivo de hoje, é Israel. Relevantes, para o Brasil, são as nações que respeitam os direitos humanos e o direito internacional, jamais o contrário. Israel, pela sua atitude frente ao Brasil, deu mais provas de sua inaptidão para a diplomacia e de sua já manifesta e perceptível irrelevância para o concerto das nações, já por demais demonstrada, em sucessivas ocasiões na ONU, organismo no qual este estado facínora só conta com seu próprio voto, o dos EUA, este com poder de veto, garantidor da sua olímpica impunidade, e de no máximo mais três a cinco outros votos, não raro de micro estados insulares cujas atividades são "bancárias" e sem fiscalizações, ou seja, que lavam dinheiro oriundo de toda a criminalidade global.


O Brasil, ao contrário do que diz Israel, é um gigante em muitos sentidos, dos quais vale destacar, como marca verdadeira de sua já visível condição de potência a: econômica (está entre as 6 maiores economias do mundo, a julgar como aceitáveis os atuais parâmetros de medição das riquezas produzidas a cada ano), alimentar, hídrica (hidráulica para a energia e para a água potável indispensável á vida), biogenética, ambiental, científica, territorial, energética (inclusive e muito fortemente em termos nucleares, com um dos processamentos mais modernos de urânio, com planta industrial nacional, bem como gasífera e petrolífera quase inigualável, para não falar das capacidade e tecnologia em energias renováveis a partir da biomassa), marítima (pela extensão continental de sua costa oceânica e pelo complexo sistema de embarcações e submarinos que vem desenvolvendo para sua defesa, especialmente, neste momento, das riquezas do pré-sal), política e diplomática (lidera o Mercosul e a Unasul e é um dos países integrantes dos chamados BRICs, cuja união e últimas resolução estão a impor um novo mundo multipolar, que desafia o atual, unipolar e no qual se sustentam regimes párias, como o israelense) e, por fim, ainda que haja quem disto não goste, militar, especialmente agora que o Brasil resolveu construir um exército à altura de sua importância estratégica, engajado na defesa nacional frente aos perigos provocados pelos inimigos notórios deste novo mundo que busca nossa nação arquitetar, juntamente com outras grandes nações desejosas deste mesmo novo alvorecer global.


As circunstâncias acima elencadas são aquelas em regra perceptíveis para a definição de uma potência, ainda que apenas nascente fosse. Entretanto, há outros fatores menos conhecidos e presentes no Brasil de hoje. Destacam-se dois, ao menos: o combate à miséria e o combate ao racismo. Como o Brasil vem promovendo estas duas agendas internamente com indubitável sucesso, não há dúvidas de que nosso país cria novos paradigmas que servem de exemplos para outros países, o que implica dizer, em grossas palavras, que esta nova potência da solidariedade está, com seu exemplo, mexendo num mundo em que poucas nações se servem justamente da miséria e do racismo para pilhar nações e continentes inteiros, algo que se dá por meio de intrincados mecanismos econômicos, financeiros, políticos e diplomáticos, universo no qual se inserem as malfadadas patentes de alimentos e medicamentos (pequeno exemplo, pois há muito mais) e militares, estes últimos somente possíveis porque o mundo após a chamada 2ª guerra mundial foi arquitetado para obedecer ao que ditado por organismos multilaterais absolutamente hegemonizados pelas potências vencedoras deste conflito armado, no qual, portanto, são possíveis desde que deles sejam beneficiárias as mesmas nações que o construíram. E o Brasil não tem se limitado a dar o exemplo. Nestes dois particulares (combates à miséria e ao racismo), o Brasil tem exportado suas experiências, mais fortemente para o continente africano e para outras nações sul americanas, mas já ensaiando leva-las para mais longe.


Assim colocada as coisas, não há como restarem dúvidas quanto ao estado que detém a condição de anão, no caso político, mas também moral. Este é olimpicamente Israel, hoje um estado pária, cujos dirigentes, civis e militares, têm seus movimentos limitados a pouquíssimos países devido ao temor de prisão para responderem por seus inauditos crimes de lesa humanidade, mais notoriamente promovidos contra os palestinos, mas não só, posto que já é de conhecimento da humanidade sua implicação em crimes de escala planetária, sendo pequeno exemplo sua atuação ativa em quase todos os golpes militares havidos nas Américas do Sul e central, regimes golpistas aos quais emprestou treinamento em torturas e assassinatos. E, de outro lado, não há nenhuma dúvida quanto ao colossal Brasil como o gigante que é em nossos dias, inclusive como a primeira nação que se faz potência sem ser imperialista, o que coloca, em igual tempo, os anões políticos e diplomáticos nas prateleiras das irrelevâncias históricas que, no caso de Israel, conta com a agravante de ser um anão moral, pois nenhuma outra nação no mundo se serve de aberto regime de apartheid e da limpeza étnica para existir, desde o nascedouro até nossos dias.



* UALID RABAH é Diretor de Relações Institucionais da FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil



FEPAL-Federação Árabe Palestina do Brasil


Leia também:


DE CEGOS E DE ANÕES    


Por Mauro Santayana no Jornal do Brasil: http://migre.me/kDAyg




O brasil não entende nada de diplomacia, diz o imoral Israel




































quinta-feira, 24 de julho de 2014

Carta aberta à Presidente Dilma - Massacre em Gaza





FIM IMEDIATO DO MASSACRE ISRAELENSE EM GAZA: CESSAR FOGO JÁ!





Porto Alegre, 24 de julho de 2014.




Excelentíssima Presidente da República Federativa do Brasil


Senhora Dilma Vana Rousseff,




Desde o primeiro dia (08/07/14) da ofensiva criminosa de Israel à Faixa de Gaza, na Palestina, até o seu 15º dia (22/07/2014) o resultado é um verdadeiro massacre contra o povo palestino:


- 631 mortos, entre eles, 161 crianças, 66 mulheres e 35 idosos.


- 4010 feridos, entre eles, 1213 crianças, 698 mulheres e 161 idosos.


- O número de desabrigados já ultrapassou os 100.000.


Até o dia 21/07/2014, 14º dia da ofensiva, Israel executou 15041 ataques, sendo disparados 4349 mísseis pela força aérea, 4367 bombas pela marinha e 6325 bombas pelo exército.


Cerca de 50 famílias palestinas tiverem a maioria dos seus membros mortos, num total de 231 vítimas. A casa da família “Abu Jamea”, na cidade de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza , que abrigava 5 famílias em seus três andares, foi dizimada, resultando na morte de 26 pessoas, incluindo 18 crianças. A casa da família “Al Kilani”, no centro da Cidade de Gaza, matou 11 pessoas, incluindo 5 crianças, além do pai, mãe e irmãos.


Foram alvejadas 45 mesquitas, das quais 7 foram destruídas completamente. No Bairro de Shijahia, na região leste da Cidade de Gaza, 75 pessoas foram mortas e as famílias procuravam a Igreja Ortodoxa de São Porfírio para se refugiarem. Os dois cemitérios, cristão e muçulmano, adjacentes à Igreja foram bombardeados. Dez hospitais e clínicas médicas e 6 estações de água e esgoto que atendem a mais de 600 mil palestinos foram bombardeadas. Os prejuízos materiais já ultrapassam os 3 bilhões de dólares.


Desde 2006 Israel impõe um bloqueio politico, econômico e militar por ar, mar e terra à Faixa de Gaza, ocasionando terríveis  consequências humanitárias aos palestinos, onde um dos resultados denunciados é o índice de desemprego que passa dos 50%.


Acusamos Israel como único responsável por essa tragédia humanitária, por esse massacre da população civil palestina. Nenhuma consideração politica justifica o massacre que Israel executa aos olhos do mundo e de seu principal protetor, o governo dos Estados Unidos da América.


Considerando a posição do Brasil pela resolução pacifica do conflito palestino israelense em consonância com as resoluções da ONU;


Considerando o crescente papel que o Brasil vem exercendo na solidariedade com o povo palestino, através de acordos de cooperação em diversas áreas com o governo palestino;


Considerando a nota do Itamaraty de 17/07/2014, onde “O Governo brasileiro condena veementemente os bombardeios israelenses a Gaza, com uso desproporcional da força”;


Considerando que o Brasil mantém relações diplomáticas, comerciais e científicas com Israel, que  viola sistematicamente o Direito Internacional, as resoluções do Conselho de Segurança da ONU e sua Assembleia Geral, as Convenções de Genebra e seus Protocolos Adicionais e a Declaração Universal dos Direitos Humanos;


Solicitamos à Senhora, com todo o respeito e consideração, presidenta do nosso querido país, onde povo e governo sempre foram solidários com o sofrimento e a causa do povo palestino, que :


- Envide todos os esforços necessários para que se estabeleça o cessar fogo imediato;


- Ordene a retirada do  Embaixador de Israel do território brasileiro e que seu regresso esteja condicionado ao estabelecimento do cessar fogo reconhecido pelas partes envolvidas;


- Envie toda a ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, especialmente suprimentos para assistência médica de emergência e hospitalar em geral;


- Exija que Israel cesse incondicionalmente o bloqueio  à Faixa de Gaza;


- Suspenda os estudos, análises e financiamentos dos Acordos de Cooperação Bilateral em Pesquisa e Desenvolvimento Industrial com Israel;


- Cesse toda e qualquer cooperação militar com Israel.




Respeitosamente,






Elayyan Aladdin                                                             Emir Mourad

Presidente                                                                     Secretário Geral


FEPAL – FEDERAÇÃO ÁRABE PALESTINA DO BRASIL




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