sábado, 9 de agosto de 2014

Empresa denunciada por cartel no Metrô/SP financia Israel

Maren Mantovani faz denúncia contra Alstom
Diante dos bombardeios incessantes de Israel sobre a Faixa de Gaza, expulsando o povo palestino de forma brutal, atingindo principalmente os civis, a Federação Nacional dos Metroviários - FENAMETRO resgatou a entrevista realizada entre os dias 02 e 03 de novembro de 2013, durante a reunião dos diretores da federação com a diretora de Relações Internacionais da Campanha Palestina contra o Muro do Apartheid, Maren Mantovani.

Maren falou das ofensivas da multinacional francesa Alstom contra os metroviários e a população palestina. Em sua apresentação Maren destacou o papel exercido pela Alstom como cúmplice no processo de colonização, ocupação e apartheide israelense contra o povo palestino através de seus contratos ilegais na construção e exploração de uma linha de metrô em Jerusalém.

“A Alstom lucra com a privatização dos transportes públicos, a corrupção e a exploração de trabalhadores em todo o mundo”, denunciou Maren. “O povo palestino, a classe trabalhadora e os povos oprimidos têm uma causa comum contra o interesse social, o colonialismo e o imperialismo” observou a dirigente.

Segundo dados apresentados por Maren as francesas Alstom e Veolia são os maiores investidores internacionais no consórcio Citypass, que ganhou em 2002 o direito concedido pelas autoridades ocupantes israelenses à viabilização e construção de uma linha de transporte metroviário em Jerusalém, no valor de cerca de 500 milhões de euros.

O projeto, uma parceria público-privada (PPP) entre o governo de ocupação israelense e o consórcio, depende da vontade das multinacionais para fornecer uma enorme injeção de capital ao Estado. “Por sua vez a Alstom e a Veolia colheram lucros significativos ao longo de um período de trinta anos - dinheiro manchado com o sangue e o sofrimento dos palestinos sob ocupação”, disse.

A empresa Alston cumpre um papel fundamental na tentativa de Israel de fazer a sua anexação ilegal de Jerusalém Oriental palestina de forma abusiva e massacrante. “Além do processo de privatização do transporte local, o que torna a luta comum dos trabalhadores palestinos e brasileiros contra a multinacional, que também enfrentam com precarização do sistema e as relações de trabalho”.

Por isso, a luta contra o Muro do Apartheid está intrinsecamente centrada “contra a colonização e a construção de guetos através de muros, militarização, urbanizações, estradas e infraestruturas exclusivas para judeus destinados à extinção do patrimônio e o futuro do povo e contra a limpeza étnica de Jerusalém e a atual expulsão do povo palestino de suas casas”.


Israel destrói a vida dos palestinos

Maren destacou que desde a sua criação, em 1948, Israel vem expulsando palestinos de forma contínua de suas casas e terras. A parte oriental de Jerusalém, ocupada em 1967, está hoje sob severo ataque de limpeza étnica. Casas palestinas são destruídas, os palestinos que vivem a gerações na cidade têm o seu direito de viver cerceado isso quando não são brutalmente expulsos de suas casas.

Além disso, ressaltou que o Muro do Apartheid isola completamente a cidade do resto do território palestino ocupado. “No lugar da população palestina, Israel implanta assentamentos ilegais só para os judeus e constrói a infraestrutura do apartheid - entre eles, o metrô, que será construído ilegalmente para servir a esses assentamentos”, denunciou Maren.

Como resultado da campanha global para derrotar a Alstom e a Veolia, instituições financeiras em toda a Europa já venderam suas ações nas duas empresas e as autoridades públicas no Reino Unido França, Suécia, Austrália, EUA têm excluído essas empresas de licitações em contratos públicos. Trabalhadores dos transportes na Irlanda recusaram-se treinar o pessoal para a construção do metrô de apartheid.

“É preciso unidade dos metroviários para derrotar os interesses corporativistas da Alstom”, destacou Maren Mantovani.

Alstom e o processo de corrupção no Brasil

Ao contrário do Brasil, onde o próprio presidente do Metrô de São Paulo, Luiz Antonio Carvalho Pacheco, assume a existência de cartel (acordo ilegal, firmado entre empresas para evitar a concorrência e elevar preços de produtos e serviços) envolvendo a multinacional Alstom, nenhum contrato foi encerrado e muito menos a empresa francesa deixou de participar das licitações do governo.

Sempre é importante relembrar que em maio deste ano, a Siemens denunciou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em troca de punições menos rígidas que a empresa teria pago propinas a autoridades dos governos do PSDB de São Paulo, formando um cartel com outras empresas, como Alstom, Bombardier, CAF e Mitsui. Segundo o esquema denunciado as fraudes ocorreram no processo de licitação pública para venda e manutenção de metrôs e trens metropolitanos nos governos Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, entre os anos de 1990 e 2000.

Além disso, as multinacionais combinavam entre si quem seria os vencedores das concorrências públicas para forçar os preços e garantir o superfaturamento – o esquema foi apontado nos metrôs de São Paulo e Brasília. O processo vem sendo investigado pelo Cade, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual de São Paulo e Polícia Federal, no entanto, até agora ninguém foi punido.

Juliana Silva

Redação - Fenametro

Acordo entre governo do RS e empresa de armas israelense pode ser cancelado

07 de agosto de 2014

 Jornalismo B - Alexandre Haubrich

O acordo entre o governo do estado do Rio Grande do Sul e a AEL, subsidiária da israelense Elbit, tem boas chances de ser cancelado, de acordo com fontes de dentro do governo consultadas pelo Jornalismo B.

A Elbit Systems é uma das principais empresas de armas de Israel, e foi a responsável pela construção do muro na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel. Prejudicado pela perda de um edital no valor de R$ 2,4 bilhões da Finep, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e pela pressão social após os ataques israelenses à Faixa de Gaza, o acordo poderá ser enterrado nas próximas semanas.

Governo pode cancelar acordo com empresa de armas israelense


Segundo as fontes consultadas pelo Jornalismo B, o acordo entre o governo gaúcho e a AEL havia nascido de um objetivo concreto, a disputa do edital da Finep chamado “Inova Aerodefesa”. Como não houve a conquista do edital, cujo resultado saiu ainda no ano passado – sem grande divulgação para não atrapalhar um possível avanço do acordo – o que sobra é a questão política. Com a atual ofensiva israelense em Gaza, a pressão de lado a lado aumentou.

O acordo dava conta da construção de um polo de pesquisas aeroespacial, em uma parceria que incluía também universidades gaúchas. O programa aeroespacial gaúcho tem outros projetos, inclusive com a Universidade Federal de Santa Maria, o que não tornaria necessário insistir em um acordo que pode ser prejudicial politicamente e trazer pouca vantagem econômica. A gravidade dos acontecimentos na Palestina e a pressão da comunidade palestina e de movimentos de solidariedade fortaleceram a tese de cancelar o acordo.


Enquanto isso, em reunião realizada na tarde desta quinta-feira entre o governador Tarso Genro e o embaixador palestino Ibrahim Al Zeben, ficou definido que o governo iniciará uma campanha de solidariedade aos refugiados com coleta de alimentos, remédios e recursos para a reconstrução de Gaza.
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07/08/2014




11/08/2014



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As relações militares entre Brasil e Israel - 01 - 02 - 03 - 04 - 05 - 06 - 07




sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Judaísmo não é sionismo

“Não é ser antissemita negar aos grupos dominantes do sionismo o direito de cometer crimes de limpeza étnica… “

Israel, sionismo, judaismo e antissemitismo
                                                                                                         Em primeiro plano, na montagem, Bibi Netanyahu


O Conversa Afiada reproduz artigo enviado por Breno​ Altman:


O presidente da Confederação Israelita do Brasil, Claudio Lottenberg, publicou nesta Folha um artigo instigante. O título embute uma premissa fundamental: “Antissionismo é antissemitismo”. Trata-se de conveniente cláusula para interdição do debate: não seria possível confrontar as ideias de Theodore Herzl sem se confundir com os que levaram seis milhões de judeus ao extermínio.

Tal escudo moral, amparado na vitimização, resvala para o cinismo. Sucessivos governos sionistas, afinal, transformaram Israel em país ocupante de territórios alheios, impedindo a soberania de outro povo, o palestino. Os requintes de brutalidade para manter essa dominação colonial, nos últimos anos, ofendem a comunidade internacional. O álibi do Holocausto, nessas circunstâncias, constitui insulto à humanidade e à memória judaica.

Lottenberg nem sequer se refere ao massacre de Gaza, mesmo diante dos corpos de mulheres e crianças. Prefere apresentar versão edulcorada do sionismo, que seria “a expressão moderna da autodeterminação nacional judaica”. Não faz qualquer questão de se diferenciar dos bandos mais reacionários, como o Likud de Benjamin Netanyahu.

O autor vai ainda mais longe. Para ele, os judeus “definem-se por uma religião (o judaísmo), uma língua (o hebraico) e uma terra (Israel)”. De uma penada, expurgou, por exemplo, os judeus que são ateus, aqueles cuja língua é a do país no qual vivem e os que não consideram primordial a existência de Israel.

Atualmente hegemônico entre os judeus, o sionismo é apenas uma corrente de opinião, que se caracteriza por abordagem nacionalista. Não equivale a eventual código histórico-cultural dos povos judeus. Trata-se tão somente de uma orientação político-ideológica fundida à religião e ao Estado.

O epicentro de seu discurso sempre foi a criação de uma “pátria judaica”. Vários dos fundadores do sionismo eram agnósticos, mas selaram aliança com chefes religiosos para reforçar seu poderio, ainda que às custas de construir o Estado de Israel como entidade confessional.

Ao contrário da autodeterminação dos negros na África do Sul pós-Mandela, forjando uma república laica e não racial, o nacionalismo sionista pressupõe supremacia judaica e religião estatal. Essa concepção levou a uma nação com tripla personalidade: democracia para judeus, cidadania de segunda classe para árabes-israelenses e regime de apartheid para palestinos dos territórios ocupados.

Nem todos os sionistas, é verdade, são defensores do colonialismo. Muitos, como o próprio Lottenberg, são partidários da solução dos dois Estados e da retirada para as fronteiras anteriores a 1967. Constitui manobra repulsiva, porém, afirmar que seja antissemitismo a contraposição ao sionismo. Essa é a lógica que dirigentes sionistas sempre quiseram impor aos críticos da política belicista e expansionista de Israel.

Não é ser antissemita negar aos grupos dominantes do sionismo o direito de cometer crimes de limpeza étnica, discriminação e agressão armada contra o povo palestino.

Não são definitivamente antissemitas os judeus que, honrando longa história de participação nas lutas pela emancipação dos povos e pela paz, se apresentam para combater a doutrina supremacista que rege o Estado de Israel.

BRENO ALTMAN, 52, jornalista, é diretor do site Opera Mundi

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Uma venerável voz judia a favor da paz

Henry Siegman, rabino e ex-diretor executivo do Congresso Judeu Norte-americano e do Conselho de Sinagogas dos Estados Unidos, sustenta que a ocupação israelense dos territórios palestinos deve terminar

Por Amy Goodman, artigo publicado em Truthdig em 30 de julho de 2014. Tradução para português de Carlos Santos para Esquerda.net*


Henry Siegman, uma importante voz judia a favor da paz

O ataque de Israel contra a população palestina da Faixa de Gaza já leva mais de três semanas. O atual ataque militar terrestre, marítimo e aéreo dura há mais tempo que o terrível ataque de 2008/2009, no qual morreram 1.400 palestinos. O número de mortos é de pelo menos 1.400 pessoas, na sua grande maioria civis [1]. No momento de escrever esta coluna, as Nações Unidas confirmaram que uma escola da ONU em Gaza, em que milhares de civis estavam refugiados, foi atacada pelas Forças de Defesa israelitas, deixando um saldo de pelo menos 20 pessoas mortas. As Nações Unidas informaram 17 vezes as coordenadas exatas do refúgio às forças israelitas.

Democracy Now! entrevistou Henry Siegman, uma referência do pensamento judeu nos Estados Unidos e presidente do “US/Middle East Project” (Projeto Médio Oriente/Estados Unidos). Siegman é rabino e ex-diretor executivo do Congresso Judeu Norte-americano e do Conselho de Sinagogas dos Estados Unidos, duas das principais organizações judias do país. Siegman sustenta que a ocupação israelita dos territórios palestinianos deve terminar.

“Há um dito talmúdico na ‘Ética dos pais’ que sustenta ‘Não julgues o teu próximo enquanto não tiveres estado no seu lugar’. Então, a minha primeira pergunta ao abordar qualquer problema relacionado com a questão israelense-palestina é: que faríamos se estivéssemos no seu lugar’. Que sucederia se a situação se revertesse e a população judia fosse sitiada ou se lhe dissessem: ‘Damos-lhes menos de 2% da Palestina. Agora comportem-se. Nada de resistência e permitam-nos tratar do resto’. Será que algum judeu diria que é uma proposta razoável?”.

Siegman continuou: “Nas circunstâncias atuais, Israel tem o direito de fazer o que está a fazer agora e, certamente, como se sustentou, inclusive o presidente dos Estados Unidos o afirmou em reiteradas ocasiões, nenhum país aceitaria viver sob essa ameaça permanente. Ainda que lhe tenha faltado dizer, e é o que invalida e mina o princípio, que nenhum país nem nenhuma população aceitaria viver do modo a que se obrigou a viver as pessoas de Gaza. E, portanto, isto também invalida essa equação moral que põe Israel no lugar da vítima que deve atuar para evitar que a situação continue desta maneira. E os nossos meios de comunicação raramente assinalam que os palestinos de Gaza ou o Hamas, a organização que dirige Gaza, que são os atacantes, também têm o direito a ter uma vida normal e digna e que eles também devem pensar ‘que podemos fazer para pôr fim a esta situação?’”.

Henry Siegman nasceu na Alemanha em 1930. Ele e a sua família foram perseguidos pelos nazistas. “Vivi dois anos sob a ocupação nazista, a maior parte do tempo correndo de um lugar para outro, escondendo-me. Sempre pensei que a lição mais importante do Holocausto não é que existe o mal, que há pessoas malvadas no mundo que podem fazer as coisas mais cruéis e inimagináveis. Essa não foi a principal aprendizagem do Holocausto. A grande aprendizagem do Holocausto é que a gente de bem, cultivada, que geralmente consideraríamos boas pessoas, podem permitir que esse mal se imponha. A população alemã, que não eram monstros, permitiu que a máquina nazista fizesse o que fez”.

O pai de Siegman foi um dos líderes do movimento sionista europeu, que reclamava uma pátria para o povo judeu. Siegman contou: “Eu era um fervoroso sionista desde criança. Lembro-me que no barco que me trouxe aqui, quando estávamos vindo para os Estados Unidos e teria 10 ou 11 anos de idade, escrevia poesia e canções sobre o céu azul da Palestina. Naquela época denominávamo-la Palestina”.

Nos Estados Unidos, Henry Siegman converteu-se numa importante referência da vida judia norte-americana. Quando lhe pedi que refletisse sobre o ataque atual contra Gaza, sustentou: “É desastroso. Tanto em termos políticos como do ponto de vista humanitário. Quando alguém se põe a pensar que isto é o que faz falta para que Israel sobreviva, que o sonho sionista se baseia no assassinato reiterado de pessoas inocentes à escala que vemos hoje na televisão, trata-se de uma crise muito profunda do pensamento de todos os que estamos comprometidos com a criação de um Estado e do seu sucesso”.

Pedi a Siegman que olhasse para um fragmento do programa “Face the Nation”, da cadeia CBS. O apresentador, Bob Schieffer, finalizou recentemente o programa com o seguinte comentário: “No Oriente Médio, o povo palestino encontra-se sob o controle de um grupo terrorista que embarcou numa estratégia para que as suas próprias crianças sejam assassinadas para conseguir a compaixão pela sua causa. Esta estratégia talvez esteja funcionando, pelo menos em algumas partes. Na semana passada, encontrei uma citação de há muitos anos de Golda Meir, uma das primeiras líderes de Israel, que bem poderia ter sido pronunciada ontem: ‘Podemos perdoar aos árabes por matar os nossos filhos’, afirmou, ‘mas jamais poderemos perdoá-los por nos obrigar a matar os seus filhos’”.

Siegman disse que tinha visto o programa e respondeu: “Conheci a Golda Meir e escutei o seu comentário. Naquele tempo pensei —e agora também penso— que é uma declaração terrivelmente hipócrita. Essa declaração foi feita pela mesma mulher que disse: ‘Os palestinos… não existem os palestinos. Eu sou palestina’. Se não queres matar os palestinos, se te provoca tanta dor, não deves matá-los. Podes dar-lhes os seus direitos e podes pôr fim à ocupação. E, culpar os palestinos pela ocupação e pelo assassinato de inocentes de que estamos a ser testemunhas neste momento em Gaza? Por quê? Por querer um Estado próprio? Por querer o que os judeus quiseram e conseguiram? Acho, para dizê-lo em termos suaves, pouco digno de admiração. Há algo profundamente hipócrita na sua declaração original e na repetição agora como uma grande reflexão moral”.

Enquanto os Estados Unidos continuam a fornecer armas a Israel, mais de 250 crianças morreram em Gaza. Em lugar de lhes dar armas, os Estados Unidos e o resto do mundo deveriam pressionar Israel para que ponha fim à matança.

Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps para o espanhol. 





[1] Nota do Blog Sanaúd-Voltaremos: No 25ºdia (08/07 a 04/08) do massacre que Israel comete contra a população de Gaza, o numero de mortos ultrapassou os 1845 e mais de 9600 feridos, sendo a imensa maioria de crianças, mulheres e idosos.

domingo, 3 de agosto de 2014

A lógica da violência israelense

30/7/2014,  Jacobin Magazine.
Por Greg Shupak, Professor de estudos de mídia da Universidade de Guelph, no Canadá.
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


"Todos nós, cidadãos de estados que ajudam Israel a fazer o que faz, temos de forçar nossos governos a parar de colaborar com Israel. Enquanto não conseguirmos que parem, todos nós somos responsáveis por essa horrorosa violência lógica – que Israel ‘explica’ todos os dias" 


Exército terrorista de Israel


A violência dos israelenses não é ‘sem sentido’: ela segue uma lógica colonial.

Entende-se que, para muitos, as ações de Israel na Faixa de Gaza sejam massacre e carnificina como tais. É interpretação plausível para a matança[1] de 1.284 palestinos, pelo menos 75% dos quais são civis, e ferir outros 7.100.


Ver Israel como dedicado a derramamento gratuito de sangue parece até mais razoável, como conclusão, à luz do massacre[2] de 63 pessoas em Shujaiya depois[3] de “uso extensivo de fogo de artilharia em dúzias de áreas populosas em toda a Faixa de Gaza” que deixou cadáveres “espalhados pelas ruas”, ou o bombardeamento[4] de abrigos da ONU abertos para acolher os que fugiam da violência. É conclusão também tentadora, baseada em relados de Khuza’a,[5] área no interior do território da Faixa, e que também foi cenário de mais um massacre pelos israelenses.


Mas descrever essa violência como ‘maldade em si’, como ‘perversão’ ou como ato sem outro objetivo além do assassinato em si deixa escapar a própria lógica que preside tudo que Israel está fazendo com sua Operação Linha de Proteção, agora, mas que de fato faz há muito tempo, ao longo de toda sua história.


Como diz Darryl Li, em “A Solução ‘Nenhum Estado’”,[6]

“Desde 2005, Israel vem desenvolvendo um experimento raro,[7] talvez sem precedentes, de gestão colonial na Faixa de Gaza,” procurando sempre “isolar os palestinos de qualquer contato com o mundo exterior, torná-los absolutamente dependentes da caridade externa” e, simultaneamente, cuidar de “absolver Israel de qualquer responsabilidade em relação a eles.”

Essa estratégia, prossegue Li, é o modo pelo qual Israel trabalha para manter maioria de judeus nos territórios que controla, de modo a poder continuar a negar direitos iguais para o restante da população.


Suprimir a resistência palestina[8] é crucial para o sucesso do experimento israelense. Mas há um corolário, a saber, uma interação cíclica entre o colonialismo israelense e o militarismo norte-americano. 


Como explica Bashir Abu-Manneh,[9] há uma relação entre o imperialismo norte-americano e as políticas sionistas.


Políticos norte-americanos creem que uma aliança com Israel ajuda os EUA a controlar o Oriente Médio. Assim sendo, os EUA viabilizam o colonialismo e a ocupação israelenses, o que, por sua vez, cria contextos para mais intervenções dos EUA na região, que podem ser usados para tentar aprofundar a hegemonia norte-americana.


O autor diz também que “os EUA têm determinado grandes resultantes econômicas e políticas” na região desde, pelo menos, 1967, e que Israel desempenha “papel crucial nas realizações norte-americanas. Em Israel-Palestina, o que se tem é que a força e uma paz colonial alternaram-se como principais instrumentos de política.” Mas, em todos os casos, permanece sempre “o mesmo objetivo, constante: a supremacia dos judeus na Palestina – o máximo possível de terra, com o mínimo possível de palestinos sobre ela.”


O que os dois analistas, Li e Abu-Manneh destacam é a preocupação de Israel com manter os palestinos em estado de impotência. Conduzida simultaneamente por sua própria agenda de ocupação com colonização e por sua função como parceira dos EUA no sistema geopolítico, Israel dedica-se a tentar equilibrar (i) seu desejo de maximizar o território que controla e (ii) o imperativo de minimizar o número de palestinos vivos nos territórios que Israel aspira a usar para seus próprios objetivos.


Um modo de destruir qualquer sinal do poder dos palestinos tem sido deixado bem à vista na Operação Linha de Proteção, durante a qual a violência dos israelenses foi aplicada a detonar quaisquer sinais da independência palestina – daí a conclamação que fez o ministro da Economia Naftali Bennett,[10] para “derrotar o Hamás.”


Resultado disso tudo, é que os palestinos não estão expostos exclusivamente à violência mais extrema. Também a capacidade de os palestinos viverem autonomamente na Palestina histórica tem sido atacada. A destruição da infraestrutura no recente ataque[11] contra a única usina de produção de eletricidade de toda a Faixa de Gaza é sinal bem claro disso. O massacre-crime israelense em curso não põe fim só à vida de indivíduos palestinos, mas também visa a arrancar dos palestinos como povo a capacidade de viver independentemente em sua terra tradicional histórica.


Quando nega aos refugiados o direito natural protegido por lei de retornar, Israel deixa ver abertamente a tática de que se serve para manter o quadro demográfico com que sonha, criando condições inóspitas para a existência autônoma dos palestinos; ao mesmo tempo, a mesma tática também pode assegurar a Israel “o máximo possível de terra, com o mínimo possível de palestinos sobre ela.”


A violência regida por essa lógica não é exclusividade do sionismo. É traço central no colonialismo e tem paralelo histórico, por exemplo, na Trilha das Lágrimas nos EUA ou no Canadá, com a limpeza étnica das planícies mediante o processo de provocar premeditadamente grandes fomes[12]  entre os povos nativos. A Operação Linha de Proteção, dos israelenses, hoje, é ação desse tipo.


Impedir que um povo proveja a própria sobrevivência é um meio de sabotar a capacidade de viverem autonomamente. Esse é o sentido do ataque de Israel contra 46 barcos pesqueiros[13] de Gaza, ou dos ataques do 16º Dia[14] da Operação Linha de Proteção contra as áreas plantadas no norte da Faixa de Gaza, na cidade de Gaza, na Faixa de Gaza Central, em Khan Yunis e  em Rafah. Assim é que se tem de entender que Israel tenha-se dedicado a destruir 2/3 dos moinhos de trigo[15] de Gaza, e unidades que produziam ração para 3.000 animais[16] (para nem falar dos animais cuja morte também foi provocada). Assim é que se deve interpretar o que a Dra. Sara Roy, de Harvard, descreve como deliberada destruição de longo prazo e o desmanche da economia da Faixa de Gaza,[17] ações que, a menos que haja aumento considerável na ajuda oferecida pelo Alto Comissariado para Refugiados da ONU, provocarão fome em massa.


Impedir absolutamente que os palestinos promovam a própria sobrevivência e de suas famílias é também roubar-lhes a capacidade de funcionar por conta própria. Essa é uma das implicações de “drogas psicotrópicas para pacientes de doenças mentais, trauma e ansiedade” terem desaparecido dos estoques de medicamentos e de o hospital de Shifa[18] “precisar com urgência de neurocirurgiões, anestesiologistas, cirurgiões plásticos e gerais e ortopedistas, além de 20 leitos para UTI, uma máquina digital C-ARM para cirurgias ortopédicas, três mesas de cirurgia e sistema de iluminação para todas as cinco salas cirúrgicas.” 


Essa é a ação – como dizem os Médicos sem Fronteiras, em conclamação[19] para que Israel “pare de bombardear civis cercados em locais sem saída” – que já matou dois paramédicos e feriu dois outros, quando tentavam resgatar feridos de Ash Shuja’iyeh. Essa é a implicação de Israel ter destruído 22   instalações de atendimento a doentes e feridos,[20] inclusive pelo menos um ataque direto[21] contra o hospital al-Aqsa e a destruição do hospital o hospital de reabilitação el-Wafa,[22] que foram atacados dias seguidos, várias vezes. 


Esses ataques a hospitais foram causa de uma carta aberta publicada num dos mais prestigiosos periódicos médicos do mundo, The Lancet,[23] na qual 24 médicos e cientistas relatam ter ficado “horrorizados ante o massacre de civis em ações militares em Gaza, disfarçadas como se fossem ações para punir terroristas”, “massacre que não poupou ninguém, inclusive pacientes em cadeiras de rodas, em camas hospitalares e em leitos de doentes em hospitais.” 


Ataques a instituições religiosas, traço que se vê em todos os projetos de ocupação com colonização, são outro modo de interferir na independência dos palestinos. 88 mesquitas de Gaza foram danificadas,[24] o que equivale a dizer que foram danificados 88 pontos nos quais as comunidades gazenses reuniam-se e tinham contato entre elas.


O ataque de Israel contra a cultura palestina também deve ser compreendido como ato de violência contra os palestinos como povo. As culturas não são estáticas e vivem processo infinito de construção, desconstrução e reconstrução das próprias narrativas, de tal modo que os grupos se autocompreendem como específicos e são compreendidos como tais por membros de culturas diferentes.


A capacidade de um povo para contar suas próprias histórias sobre eles mesmos é aspecto chave de sua existência autônoma. Impedir a capacidade de os palestinos desenvolverem essas práticas e respectivas narrativas é mais um crime de Israel, quando destrói a casa do poeta Othman Hussein[25] e a casa do artista Raed Issa;[26] quando mata o cameraman Khaled Reyadh Hamad[27] em Shujaiya e Hamdi Shihab, motorista da agência de notícias Media 24 de Gaza; quando ataca jornalistas falantes de árabe da al-Jazeera e da BBC;[28] ou quando destrói o prédio onde funcionava a rádio Sawt al-Watan.[29]


Minar a capacidade de um povo educar os seus jovens, treiná-los para trabalhar e ensiná-los a pensar criticamente é mais um meio para minar a possibilidade de existência independente. Por isso Israel destruiu completamente ou em parte, 133 escolas palestinas.[30]


Ao mesmo tempo em que destrói instituições culturais e educacionais para impedir que os palestinos reproduzam-se culturalmente, Israel promove matança em massa de 229 crianças palestinas, com 1.949 outras crianças feridas;[31] é o meio mais claro, e mais horrendo, de literalmente cortar a capacidade de os palestinos continuarem a existir como grupo. É o significado de Israel ter traumatizado 194 mil crianças,[32] dependentes hoje de assistência psiquiátrica. É o significado também de Israel ‘racionar’[33] o atendimento a “cerca de 45 mil grávidas na Faixa de Gaza, das quais 5 mil foram desalojadas.”


Israel impede também diretamente a vida dos palestinos quando destrói ou danifica gravemente as residências de 3.695 famílias palestinas,[34] e cria condições nas quais se torna virtualmente impossível levar avante as atividades do dia a dia que dão forma à continuidades de outras gerações. Israel é causa hoje de 1,2 milhão[35] de palestinos “não terem acesso, ou só terem acesso limitado a água e a serviços de esgoto,  devido a danos no sistema de eletricidade ou falta de combustível para fazer funcionar geradores.” 


Todos nós, cidadãos de estados que ajudam Israel a fazer o que faz, temos de forçar nossos governos a parar de colaborar com Israel. Enquanto não conseguirmos que parem, todos nós somos responsáveis por essa horrorosa violência lógica – que Israel ‘explica’ todos os dias. 




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