terça-feira, 28 de agosto de 2012

ISRAEL SE AUTO JULGOU INOCENTE PELO ASSASSINATO DE RACHEL CORRIE



Manifestantes em todo mundo pedem justiça para Rachel Corrie

28 de Agosto de 2012

A ativista americana Rachel Corrie, 23 anos, se colocou diante de uma escavadeira do exército de Israel para tentar impedir que casas palestinas fossem derrubadas em Gaza, em 16 de março de 2003. Não adiantou. Acabou atropelada e morta pela escavadeira. Nesta terça-feira (28), quando movimentos pela libertação da Palestina em todo mundo protestam contra sua morte, o tribunal israelense de Haifa julgou a morte como acidental.






A morte violenta de Corrie, tendo em vista que o piloto da escavadeira fez questão de passar três vezes em cima de seu corpo, no campo de Rafah, na Faixa de Gaza, está sendo lembranda durante todo o dia de hoje. A ativista fazia parte de International Solidarity Movement (ISM) que defende a causa palestina.

Limpeza étnica

 A ação que matou Rachel Corrie, ativista do ISM (International Solidarity Movement), foi noticiada um dia depois, pelo jornal israelense Haaretz, como “rotineira”. Infelizmente, são rotineiros o assédio militar, a tortura e os assassinatos cometidos pelo exército israelense contra o povo palestino. Milhares de casas continuam a ser demolidas arbitrariamente nos territórios ocupados, como parte da estratégia do Estado israelense de dar sequência a um plano deliberado de expulsão de palestinos, iniciado, segundo historiadores palestinos e israelenses ainda antes de sua criação, em 15 de maio de 1948. Naquele ano, em seis meses, foram destruídas 530 aldeias e cidades palestinas e expulsos de suas casas e terras 800 mil habitantes nativos.

 As políticas de expulsão dos palestinos de suas próprias casas, nunca mais pararam. Neste mês de agosto Israel anunciou a destruição de 12 comunidades palestinas e a expulsão de seus mais de 1.500 moradores. Desde o início de 2012 mais de 2 mil pessoas foram afetadas pelo deslocamento forçado, imposto por Israel. Esses crimes objetivam tornar impossível o estabelecimento de um Estado Palestino livre e soberano.

 Rachel Corrie não é uma vítima isolada nem mesmo entre ativistas. Outros já foram assassinados e feridos por prestar solidariedade à luta palestina. Embora não tenha conseguido impedir que mais uma casa palestina se somasse à triste estatística das demolições, Rachel, com seu gesto heróico, fez com que o número de ativistas internacionais aumentasse, e com que crescesse a solidariedade à Palestina. A luta de sua família por justiça tem alertado o mundo para a situação dos palestinos, engrossando as fileiras daqueles que exigem o fim da política de ocupação, apartheid y limpeza étnica.

 Além de sua batalha nos tribunais israelenses, os pais de Rachel Corrie lutam para que governos e empresas rompam contratos com a Caterpillar, marca do equipamento que assassinou sua filha. Recentemente obtiveram uma vitória por meio do movimento BDS – que reivindica boicote, desinvestimento e sanções a Israel enquanto a ocupação, o apartheid e a limpeza étnica da Palestina se mantiverem –, quando a Caterpillar perdeu os investimentos da poderosa TIAA-CREF, fundo de investimentos estadunidense.

Julgamento

 Em uma decisão lida no tribunal, o juiz Oded Gérson classificou a morte de Corrie como "um acidente lamentável", mas alegou que o Estado não era responsável pelo "incidente" e que o mesmo teria ocorrido durante o que ele chamou de uma "situação em tempo de guerra."

 O juiz explicou, ainda, que os soldados teriam feito o máximo para manter as pessoas longe do local, advertindo a todo momento os ativistas. Gérson explicou que o campo de visão do  operador do trator era limitado. "A pessoa estava em um ponto cego e o operador não podia vê-la", acrescentou.

 O Procurador Husain Abu Husain, que representou a família de Corrie na audiência, disse que, "O tribunal sancionou o prejuízo de pessoas inocentes e a violação dos direitos humanos básicos. Esta é uma decisão ruim para os direitos humanos e o direito internacional." Husain disse que a família pretende recorrer da decisão para o Supremo Tribunal.

 "Estou ferida," declarou a mãe de Corrie, Cindy, após o veredito.

Fórum Social Mundial Palestina Livre

 A solidariedade internacional ocorre três meses do início do Fórum Social Mundial Palestina Livre, encontro mundial histórico que será realizado entre 28 de novembro e 1 de dezembro de 2012, em Porto Alegre, e que vem sendo construído por dezenas de organizações da sociedade civil brasileira, palestina e internacional. Durante o evento, os movimentos prometem uma grande mobilização para buscar justiça pela morte de Corrie e milhares de palestinos.

O FSMPL contará com grandes conferências distribuídas em cinco eixos centrais:

 1. autodeterminação e direito de retorno;

 2. direitos humanos e direito internacional;

 3. movimentos sociais e formas de resistência;

 4. por um mundo sem muros e sem racismo;

 5. BDS e estratégias de luta.

 Também estão programados espetáculos artísticos e mostras culturais. Em 29 de novembro, está prevista uma grande manifestação para celebrar o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.  Mais informações pelo site: http://rachelcorriefoundation.org/trial .

 Siga o julgamento no Twitter: @rcfoundation Siga e participe das manifestações no twitter #wsfpalestine #rachelcorrie Divulgue em sua rede social.

 Mais informações sobre o FSM Palestina Livre em www.wsfpalestine.net

 com informações da Ciranda e do Haaretz

Fonte: http://www.vermelho.org.br/tvvermelho/noticia.php?id_secao=9&id_noticia=192356


Rachel Corrie, the courage to resist


Rachel Corrie, a coragem de resistir


sábado, 25 de agosto de 2012

FEDERAÇÃO PALESTINA PARTICIPA DE AÇÕES EM APOIO AOS REFUGIADOS E À REALIZAÇÃO DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL PALESTINA LIVRE


Governo garante apoio à refugiados e realizará o Fórum Social Palestina Livre


Nos últimos meses, a Direção da FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil, entidade que representa os palestinos e seus descendentes no Brasil, participou de ações para incrementar o apoio aos refugiados palestinos e à realização do Fórum Social Mundial Palestina Livre que acontecerá na cidade de Porto Alegre nos dias 28, 29, 30/nov e 01/dez de 2012.

No ultimo dia 16, a FEPAL esteve reunida com o Governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro e com o Comissário Geral de Assistência aos Refugiados Palestinos da Agência das Nações Unidas (UNRWA), Filippo Grandi. 


O Governador anunciou a formação de um Comitê de apoio aos refugiados e conforme o Secretário de Justiça e Direitos Humanos, Fabiano Pereira, "uma série de entidades governamentais e da sociedade civil discutiu para que não tivéssemos ações esfaceladas ou desconectadas e que era muito importante que tivéssemos um comitê". Entre as entidades estão a ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e a FEPAL - Federação Árabe-Palestina do Brasil.

Ainda durante a quinta-feira (16), Filippo Grandi se reuniu com o Prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, no final da manhã e se encontrou à tarde com líderes da Federação Árabe-Palestina do Brasil (FEPAL) e com organizadores do Fóurm Social Mundial Palestina Livre.


O Comissário-Geral também esteve em reunião na Prefeitura de Porto Alegre, com o Secretário de Governança, Cezar Busatto, e com a secretária municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana (SMDHSU), Sônia D'Ávila. Ela anunciou a criação do Núcleo de Políticas para Refugiados da prefeitura. A reunião foi pautada para tratar da situação de refugiados em Porto Alegre, com base no decreto 13.717/2002, emitido pela Prefeitura de Porto Alegre, que estabelece as regras para convênio com entidades que permitam a recepção de refugiados.

Filippo Grandi afirmou os conceitos de coragem do povo gaúcho e os valores conciliadores de Porto Alegre, além da experiência da prefeitura em resolver impasses por ter se preparado para sediar o Fórum Social Mundial. "Precisamos de apoio para sensibilizar a opinião pública brasileira com as questões da comunidade palestina", disse Filippo Grandi.

Antes da visita ao Rio Grande do Sul, Fillipo Grandi esteve com o Ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota. Em entrevista aos jornalistas, Grandi afirmou: “Vim agradecer ao governo brasileiro pelas contribuições financeiras, que têm aumentado nos últimos dois anos. Discuti com o governo a possibilidade de tornar essas doações estáveis e previsíveis, para que o Brasil possa trazer seus recursos e sua voz no debate sobre os refugiados palestinos”

 “Em maio deste ano, o governo brasileiro já havia se comprometido a aumentar suas dações em 700% para o ano que vem, passando a contribuir com 7,5 milhões de dólares. A UNRWA auxilia cerca de 5 milhões de refugiados palestinos com programas de saúde, educação e assistência social. A maioria vive em assentamentos na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, na Jordânia, na Síria e no Líbano" continuou Fellipo Grandi.

Fillipo convidou o Brasil a integrar o Conselho Consultivo da UNRWA e o Ministro Patriota demonstrou interesse. “Caso se concretize, o Brasil será o primeiro país da América Latina e dos Brics (grupo de países emergentes formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China), e poderá decidir as políticas da UNRWA. Hoje, a agência tem 23 países integrantes.”

Artigos que serviram de fonte para a matéria acima:






.....................................................................................................


NOTICIAS PUBLICADAS SOBRE O FSMPL - FÓRUM SOCIAL MUNDIAL PALESTINA LIVRE


CONVOCATÓRIA PARA O FORUM SOCIAL MUNDIAL PALESTINA LIVRE

APOIO À ROGER WATERS E SUAS DECLARAÇÕES SOBRE A PALESTINA


- FÓRUM PALESTINA LIVRE É LANÇADO EM PORTO ALEGRE


- Estado da Palestina é tema de reunião do FST













terça-feira, 14 de agosto de 2012

As contradições do Estado judeu democrático





Nelson Mandela, free Palestine, boycott Israel

Lei contra infiltração prevê pena de 3 anos de prisão, sem direito à julgamento, à todos os imigrantes que entrarem ilegalmente em Israel, sem fazer distinção entre imigrantes ilegais e os refugiados. Está cada vez mais claro que o modelo sionista prevê um Estado excludente e colonizador

"Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós."

José Saramago


Por Luciana Garcia de Oliveira*

Sob o prisma do “problema judeu” emergido desde os pogroms e o antijudaísmo na Europa, há que se notar a terrível semelhança no tratamento aos palestinos nos territórios ocupados e, mais atualmente, aos imigrantes africanos em Israel, Estado criado em 1948, oficialmente como refúgio para os judeus, vítimas das perseguições na Europa e na União Soviética e para os sobreviventes do holocausto nazista.

Isso porque, no início de 2012, em mais uma decisão arbitrária do parlamento israelense, foi aprovada uma lei, denominada de Lei contra infiltração, que prevê pena de 3 anos de prisão, sem direito à julgamento, à todos os imigrantes que entrarem ilegalmente no país, sem fazer distinção entre imigrantes ilegais e os refugiados. Cabe ressaltar, no entanto, que o Estado de Israel é membro signatário da Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados, por isso teria o dever de conceder asilo político a esses imigrantes, uma vez que o status de refugiado é conferido a todo imigrante que corre risco de vida ao regressar ao seu país de origem, como é justamente o caso dos imigrantes advindos de países como a Eritréia e o Sudão, com grande incidência de guerras civis, massacres e crimes de genocídio.

Esse dispositivo legal, foca especialmente os imigrantes africanos de uma maneira geral, sobretudo os 157 africanos já reconhecidos pelo Ministério do Interior como refugiados, que entraram no país por terra através da fronteira Israel-Egito, pelo deserto do Sinai. Assim, para conter esse tipo de “infiltração” as autoridades israelenses, começaram a construir, desde janeiro, uma cerca ao longo da fronteira com o Egito. Além dessa medida, está prevista a construção de um grande campo de detenção que será localizado no sul do país, denominado Saharonim, com capacidade para 10 mil imigrantes e que deverá abrigar inclusive crianças que entrarem de maneira irregular no país.

É estimado, no entanto, que esses imigrantes representam cerca de 10% da população local de Tel Aviv, cujo total populacional gira em torno de 400 mil habitantes. E, o desagrado da sociedade israelense com relação aos imigrantes do Sudão e da Eritréia tem sido demonstrado muito além das medidas judiciais. Foi em meados do mês de abril que foi registrada ocorrência de que quatro casas e uma creche de refugiados africanos em Tel Aviv, haviam sido alvos de bombas incendiárias, em um ataque atribuído a um grupo de extrema direita, “Comitê contra infiltrados”, cuja bandeira é a defesa da qualidade de vida dos moradores e contra a desvalorização dos imóveis quando há incidência da presença dos refugiados nos espaços públicos como ruas, parques e praças de determinados bairros da capital de Israel.

Mais pra frente, em maio, houve ocorrência de que centenas de manifestantes israelenses atacaram covardemente alguns imigrantes africanos e depredaram muitas lojas e veículos, após um comício organizado por moradores de Tel Aviv contrários à presença dos africanos no país. O evento político contou inclusive com a presença de alguns deputados do partido Likud e de outros partidos de coalizão do governo. Segundo a jornalista Guila Flint, foi durante esse evento que a deputada Miri Regev chamou os imigrantes africanos de “câncer em nosso corpo”. 

Ações violentas

Todas as ações violentas contra esses indivíduos foram atribuídas ao governo de Israel, de acordo com as palavras de Sigal Rozen, diretora da ONG Moked, instituição de defesa dos direitos humanos dos imigrantes africanos. Segundo a ativista, citada no artigo Imigrantes africanos são perseguidos por multidão e agredidos após comício em Tel Aviv, “os líderes do governo, que chamam os refugiados de ‘infiltradores de trabalho’ e incitam os moradores contra eles, são os responsáveis pela violência”. De acordo com as palavras de Rozen, o primeiro ministro Benjamin Netanyahu teria alegado publicamente que a “inundação” de imigrantes africanos em Israel representa uma “ameaça à segurança e ao caráter judaico e democrático de Israel”.

Essas ações violentas geralmente correspondem à opinião de grande parcela dos moradores da cidade, como a de Benny Shlomo, que na matéria intitulada Presença crescente de imigrantes africanos gera polêmica em Israel, afirmou que todos os imigrantes em situação irregular, sem exceção, deveriam ser “imediatamente expulsos”, muito devidamente ao suposto aumento do índice de criminalidade nos bairros onde há predomínio da presença desses imigrantes. Nesse sentido, segundo o departamento de pesquisa do Parlamento israelense, foi apontado que o índice médio de criminalidade entre o total de imigrantes em situação irregular é de 2,04%, enquanto o índice na população geral é de 4,99%, segundo a mesma matéria.

É demostrado, por sua vez que, o aumento da violência em Israel está diretamente relacionado ao aumento do número de refugiados no país nos últimos anos. Sobre isso, o comandante de polícia, Yohanan Danino defende que, para conter o aumento da criminalidade entre os imigrantes africanos (ou pelo menos evitar que a situação piore), é necessário que o Estado permita que eles trabalhem para que possam se sustentar. Porém, o governo não lhes concedem empregos formais.

Irmãos africanos e palestinos

A situação vivida pelos imigrantes africanos é muito semelhante à situação de milhares de palestinos: em ambos os casos não são concedidos status legal dentro de Israel. O que torna tanto os palestinos como os africanos seres invisíveis e à mercê de quem quer explorá-los. A única diferença, apontada no artigo Today Israel moved one step closer to nazi Germany circa 1938, é que os africanos, particularmente, encontram-se dentro do corpo político de Israel, enquanto os palestinos já foram afastados e excluídos da política sionista.

Entre as muitas causas alegadas para a discriminação dos palestinos e dos demais estrangeiros (não-judeus) em Israel, atribui-se a “ameaça demográfica” um destaque especial, uma vez que a defesa do caráter judaico- sionista de Israel é consenso entre todos os sionistas. Diante desse modelo de “Estado judeu democrático”, é sumariamente defendido que algumas medidas drásticas devem ser tomadas contra os imigrantes, sobretudo os da África e os palestinos, ao contrário, haverá uma redução considerável da população judaica nas próximas décadas.

Esse tipo de ameaça pôde ser comprovada, muito recentemente, em um programa de rádio em Israel, a qual o Ministro do Interior, de maneira bastante alarmista, afirmou: “Eu quero que todos sejam capazes de andar pelas ruas sem medo ou receio ... Os imigrantes estão prestes à dar à luz à cetenas de milhares, e o sonho sionista esta morrendo”.

Ainda, durante toda a onda de violência física e verbal contra os refugiados africanos em Israel, muitos judeus etíopes têm sofrido, da mesma forma, com o racismo contra os negros, desde o ano passado, quando houve uma grande incidência de manifestações de rua por parte da comunidade etíope, após algumas escolas se recusarem a matricular alunos etíopes e alguns condomínios proibirem o aluguel de apartamentos aos membros dessa comunidade.

Foram, inclusive, durante as perseguições aos africanos nesse ano que um advogado etíope teve a iniciativa de confeccionar algumas camisetas com os seguintes dizeres: “cuidado, não sou infiltrado africano”, com a estrela de Davi estampada em fundo amarelo. O que, por outro lado, desagradou muitos ativistas etíopes, sobretudo os integrantes do grupo Young Ethiopian Students (YES), os quais discordaram veementemente desse gesto, sob a alegação de que o slogan da camiseta passa a mensagem de que os judeus etíopes querem se diferenciar dos demais imigrantes africanos. O que, de certa forma, poderia legitimar todas as agressões cometidas.

De fato, todas essas ações e discursos discriminatórios e racistas são ainda mais assustadores quando advindos por parte daqueles que, como Hannah Arendt, já foram perseguidos no passado. E, justamente essa passagem trágica do passado judaico, fomentou muitas manifestações em Israel sob o slogans “We are all refugees” (“nós somos todos refugiados”), numa clara alusão ao passado e ao reconhecimento sincero do sofrimento dos imigrantes africanos.

A contradição

Ao reafirmar-se como “Estado judeu democrático, Israel torna-se uma contradição. Por um lado, serviu desde antes de sua proclamação como um “lar nacional para o povo judeu” (descrito na declaração Balfour), por outro lado, um grupo extremista endossado por muitos cidadãos israelenses, exercem contra os palestinos e, mais recentemente contra os refugiados africanos, tudo o que foram submetidos no passado. Toda brutalidade cometida contra os não-judeus em Israel, nos revela que Israel não pode ser considerado um Estado Democrático. Ao contrário, é cada vez mais claro que o modelo sionista prevê um Estado excludente e colonizador, que não respeita os seus vizinhos, muito menos sua própria população que, cada vez mais, é confundida com a imagem truculenta e negativa de seus governantes e de seu exército.

Assim, de acordo com o seguinte adágio “Deus nos concedeu a memória, mas também o esquecimento”, é possível concluir que, para esquecer, é preciso lembrar. O que torna toda a tragédia, exílio e totalitarismo do passado bastante presente na história de Israel.


* Luciana Garcia de Oliveira– Pós-graduanda em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP).



REFERÊNCIAS:


ABUNIMAH, Ali. Israel will collapse unless africans and palestinians are expelled, fenced, says legal advocate. Disponível em: http://electronicintifada.net/blogs/ali-abunimah/israel-will-collapse-unless-africans-and-palestinians-are-expelled-fenced-says;


ARENDT, Hannah. We refugees. The memorah journal, 1943.

CANNING, Paul. “Pogrom” on africans refugees in Tel Aviv.  

FLINT, Guila. Imigrantes africanos são perseguidos por multidão e agredidos após comício em Tel Aviv. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/ultimas_noticias/2012/05/120524_telavivimigrantes_gf.shtml

FLINT, Guila. Presença crescente de imigrantes africanos gera polêmica em Israel. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/05/120522_refugiados_gf.shtml;

FLINT, Guila. Casas de refugiados africanos são alvos de bombas incendiárias em Israel. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/04/120427_israel_ataques_refugiados_gf.shtml;

FLINT, Guila. Lei aprovada em Israel prevê prisão sem julgamento para imigrantes ilegais. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/01/120110_africanos_israel_gf.shtml;

Today, Israel moved one step closer to nazi germany circa 1938. Disponível em: http://networkedblogs.com/y1gL8;



Nelson Mandela prisioneiro na Palestina-Jerusalem- Charge de Latuff

sábado, 4 de agosto de 2012

CRIANÇAS PALESTINAS APRENDEM CAPOEIRA


 




Crianças palestinas aprendem capoeira para superar realidade do conflito

Em parceira com a ONU, ONG liderada por brasileiro ensina as técnicas da capoeira nos territórios ocupados

Sob uma enorme tenda na Cidade Velha de Jerusalém Oriental, cerca de 20 adolescentes e crianças palestinas se movem ao som dos tambores de capoeira, uma expressão cultural afro-brasileira que mistura dança, acrobacia e artes marciais e que está se enraizando na Cisjordânia.

                                            IPS

Crianças palestinas praticam a capoeira em Jerusalém Oriental
Crianças palestinas praticam a capoeira em Jerusalém Oriental. 
Prática ajuda a amenizar os impactos da ocupação israelense

"Na capoeira eles encontram um espaço seguro para despejar a energia e a agressividade. Há muito o que se aprender sobre o controle dos nossos movimentos, de nós mesmos, da capacidade de nos expressar e também dos cuidados com aqueles que estão ao nosso redor", explica Jorge Goia, professor brasileiro responsável pela aula.

"Por ser um tipo de arte marcial, requer muita disciplina para se fazer parte de um grupo e trabalhar juntos. Eu acho que tem um forte impacto sobre os meninos", diz Goia ao IPS.

A ONG Bidna Capoeira (queremos capoeira, em árabe) começou a ensinar crianças e jovens em março do ano passado em campos de refugiados da Cisjordânia. Cerca de 800 pessoas já participaram do programa.

Hoje os cursos são desenvolvidos nos campos de refugiados de Shuafat, em Jerusalém Oriental, e Jalazone, em Ramallah, no centro de Cisjordânia. O objetivo continua sendo capacitar os jovens e oferecer-lhes um espaço saudável e positivo para desabafar suas frustrações.

"A capoeira pode ser uma ferramenta poderosa para aumentar a confiança das crianças e o sentimento de pertencimento. [A capoeira] é praticada em grupos e é necessário que as pessoas cantem e toquem instrumentos, e é assim que se cria a ideia de que você faz parte de algo e que todos se ajudam a se desenvolver e a aprender ", afirma.

Ahmad, de 6 anos, começou em fevereiro as aulas de capoeira na Cidade Velha. "É algo novo. Ele tinha feito karatê e natação, mas a mudança é boa", diz o pai, Sahar Qawasmeh, de Beit Hanina, Jerusalém Oriental. "Eu tinha visto isso em alguns festivais. [Com a capoeira], Ahmad percebe sua força e gosta disso", conta.

Superação

O impacto tem sido evidente, segundo Ilona Kassissieh, oficial de informação pública da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio), que colaborou com a Bidna Capoeira na organização de aulas nos acampamentos da Cisjordânia.

"As crianças aprenderam muito, estavam entusiasmadas e puderam evoluir muito rápido", afirma Kassissieh à IPS. Oferecer atividades extracurriculares para crianças que vivem em campos de refugiados abre uma oportunidade para que elas fujam das dificuldades diárias.

"Os refugiados em geral, e as crianças em particular, estão em um setor vulnerável porque vivem em circunstâncias muito difíceis. A infraestrutura não ajuda para que eles recebam os elementos necessários para se levar uma vida normal", explica.

"Este tipo de atividade extracurricular é sempre benéfico e deixa um impacto positivo. Cria um mecanismo de sobrevivência que lhes permite pensar a partir de outras perspectivas e colocar suas energias em algo que eles gostam e que gostariam de saber mais", afirma Kassissieh.

Além disso, disse Jorge Goia, a história da capoeira como movimento de base das comunidades oprimidas no Brasil permite uma conexão direta com os palestinos que suportam a ocupação e a dominação de Israel.

"A capoeira foi criada pelos escravos no Brasil, pessoas oprimidas que a usavam para se fortalecer, ganhar confiança sobre si mesmas e, assim, atender todas as necessidades que se tem quando você vive em condições opressivas", diz.

"O interesse é em fugir e aprender a lidar com uma situação onde você é o fraco. Não possui armas, apenas seu corpo. Como se faz para sobreviver? Como você pode escapar da opressão?”.

domingo, 29 de julho de 2012

PALESTINA NAS OLIMPIADAS 2012: VITÓRIA DE UMA NAÇÃO MASSACRADA!




Os atletas palestinos nos jogos olímpicos de Londres-2102 são embaixadores do seu povo, embaixadores da paz, justiça e liberdade.

Não importam as medalhas, a presença da Palestina representa uma importante vitória. Os atletas embaixadores afirmam para o mundo que a Palestina é uma nação, é um povo, é um território, é uma cultura milenar, é uma causa e que a brutalidade da ocupação e colonização israelense não dobrará de joelhos esse povo altivo, esse povo que luta pelo retorno dos refugiados aos seus lares e propriedades e pelo estabelecimento do seu Estado livre, soberano e independente, com Jerusalém Capital.


         Desfile da delegação palestina e o orgulho do judoca Maher Abu 
Rmeileh ao erguer a bandeira 




A  atleta Wourud Sawalha : “tenho grande responsabilidade, estou cumprindo uma missão nacional”.  Israel e EUA, a despeito da vontade dos países do mundo, jogam para que a missão de Woroud não seja cumprida.


........................................................................




A vitoriosa delegação palestina nas Olimpíadas de Londres


Delegação palestina nas Olimpíadas de Londres


Por Ana Helena Tavares(*)

O que é mesmo vencer e perder numa Olimpíada? Será que naquela que tantas vezes se define como uma confraternização mundial através do esporte vencer se resume a uma medalha de ouro no peito? Não posso crer.

E a pequena, porém sorridente, delegação palestina, desfilando livre na cerimônia de abertura, onde fica nessa história?

Por que será que a imprensa não lhes dá destaque? Será porque eles não têm chance de medalha ou será porque não estão preocupados com isso?

Já chegam vencedores. A sombra do belicismo daqueles a quem a paz não interessa não foi capaz de lhes deter. Em Londres, o amanhã se apressa.

Clareia-se o sol entre os descendentes dos filisteus. E flâmulas tremulam elevando o nome de uma terra maltratada pelo imperialismo.

Os generais de Israel – e da América fel – se roem. Após lançar tantos fungos danosos à humanidade, cravando de mortes a terra onde Cristo escolheu viver, impedindo o broto de chegar à mocidade, fazendo vidas valerem menos que poder e tapando o sol com balas de canhão.

Mas em Londres, apesar do olhar gélido da rainha, misturam-se cores num mundo de muitos ventos e costura-se a esperança como um jogral.

Sim, lágrimas em Gaza ainda jorram, o mal continua aí. Mas o reconhecimento desse povo como delegação transforma a vida numa possibilidade menos vil.

Faz da noite dama menos prepotente e faz do futuro algo viável de sonhar.

*Ana Helena Tavares é editora do site “Quem tem medo da democracia?”


........................................................................


Atleta palestino faz história ao conquistar índice olímpico



O judoca Maher Abu Rmeileh fez história ao se tornar o primeiro atleta palestino a garantir índice para participar dos Jogos Olímpicos, em Londres, entre julho e agosto deste ano. Desde 1996, a Palestina só tinha participado do evento com delegação de esportistas convidados pelo Comitê Olímpico Internacional. Comerciante nos arredores de Jerusalém, o atleta de 28 anos acorda diariamente às 5h para treinar duas horas pela manhã, antes do expediente em uma loja de roupas e bolsas. Após o horário de trabalho, são mais duas horas de treino. Apesar de sonhar com uma medalha de ouro, o lutador carrega consigo um desejo mais imediato: que o Comitê Olímpico Palestino lhe conceda a honra de ser o porta-bandeira da Palestina na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, que acontecerá no próximo dia 27 de julho.



Judoca palestino dribla rivalidade com Israel e será o primeiro do país a competir por mérito


O técnico de Rmeileh, Hani Halabi, que também é o chefe da confederação de judô palestina, diz que não há cooperação entre os países. “A confederação israelense tentou organizar eventos conjuntos várias vezes, mas nós recusamos. Eu não posso pedir que um menino palestino compita contra um israelense enquanto seu pai está na cadeia ou sua casa foi demolida. E ele não pode passar pelos postos de controle”, diz Halabi.




........................................................................


NATAÇÃO


Delegação participa apenas pela quinta vez dos Jogos Olímpicos



........................................................................




Palestina nas Olimpíadas de Londres - 2012
A partir da esquerda: 
- Maher Abu Rmeilah, 28 anos, judô,  de Jerusalém - Capital da Palestina -  TPOI -Território Palestino Ocupados por Israel

- Woroud Sawalha, 20 anos, corrida 800 metros, de  Alshemalia - Distrito de Nablus - TPOI 
- Ahmed Gebril, 21 anos, natação 400 metros estilo livre, pais palestinos, nascido no Egito

- Sabine Hazboun, 18 anos, natação 50 metros estilos borboleta e livre, de Belém -TPOI

- Bahha Al Farra, 21 anos, corrida de 400 metros, de Khan Younes - Faixa de Gaza - TPOI


........................................................................




sábado, 28 de julho de 2012

O VÉU CARCERÁRIO QUE APRISIONA A PALESTINA




Depois de uma greve de fome, prisioneiros políticos palestinos obtiveram um acordo que estipula o fim do isolamento, a limitação das detenções administrativas e direitos de visita às famílias. Porém, O sistema carceráro israelense permanece um instrumento essencial de controle dos territórios ocupados e da população


Portesto pela libertação da prisioneira palestina Hana Shalabi
(Defensores da prisioneira Hana Shalabi exibem seu retrato em protesto diante
da Cruz Vermelha em Jerusalém Ocidental)


por Stéphanie Latte Abdallah

Os palestinos falam em “prisioneiros de guerra” (asra) ou prisioneiros políticos; por outro lado, os que trabalham nas prisões israelenses evocam a expressão “detentos por segurança”, qualificação que não corresponde a nenhuma realidade legal e que depende de decisões do Exército, dos serviços de informação (Shin Beth) e da administração penitenciária. Essa categoria é reservada aos palestinos, tenham ou não cidadania israelense. Mais duras que as destinadas a outros presos, as condições de interrogatório, o acesso a um advogado e o tipo de detenção são constantemente reavaliados em função da situação política e de segurança. As penas são pesadas: condenações perpétuas segundo o número de mortes israelenses causadas direta ou indiretamente; e ausência quase completa de qualquer flexibilidade ou reavaliação da pena.

 O sistema carcerário destinado aos palestinos não foi elaborado somente como forma de sanção para os delitos demonstrados e provados: ligado ao sistema judiciário militar, tem sido um dos modos de governar a população. Assim, desde 1967, cerca de 40% dos homens passaram pelas prisões israelenses. Após a assinatura dos acordos de Oslo, em 1993, a maior parte dos prisioneiros foi libertada. A partir de setembro de 2000 e da Segunda Intifada, as detenções tornaram-se maciças e a população carcerária chegou a 8 mil detentos em meados da década de 2000. Em 30 de março de 2012, pouco depois da libertação de 1.027 palestinos em troca do soldado israelense Gilad Shalit, no fim de 2011, os presos somavam 4.386.1

 A partir de 2002, com os bloqueios, as incursões regulares do Exército e os assassinatos premeditados, essas prisões permitiram a gestão a distância dos territórios palestinos. A Cisjordânia foi recortada em centenas de enclaves monitorados por um sistema de pontos de controle fixos e móveis ao redor das cidades e vilarejos palestinos.

 Esse véu carcerário constitui o dispositivo mais importante de reconhecimento e controle da população ocupada, que, regido pela justiça militar, funciona por meio dos serviços de informação. Esse sistema repousa sobre um regime de provas baseado nos próprios interesses de Israel ou de terceiros. As confissões que os interrogatórios querem obter a qualquer preço justificaram a utilização de pressões físicas e psicológicas intensas similares à tortura – incentivadas pelo relatório Landau de 1987 −2 até que uma decisão da Suprema Corte israelense colocou um limite em 1999.

 As confissões, contudo, permanecem essenciais na medida em que 95% dos processos não avançam: os casos se ajustam por uma negociação da pena entre advogados e juízes, o que requer primeiramente a confissão do acusado. As autoridades judiciárias militares impulsionam essas negociações para evitar os processos, e aqueles que se recusam a aceitar essas condições são condenados de forma ainda mais pesada após procedimentos intermináveis. A quase totalidade dos detentos é declarada culpada,3 o que justifica aos olhos da opinião pública israelense e internacional as prisões em massa e as modalidades – contestáveis – do funcionamento dessa justiça militar.

 Em 2008, após três anos na prisão, o franco-palestino Salah Hamuri foi declarado culpado pela bala que matou o dirigente do partido ultraortodoxo Shas Ovadia Yussef e foi condenado a sete anos de prisão depois da negociação: ele confessou sua atividade militante na juventude da Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP). Após o julgamento, as autoridades francesas, invocando o respeito da decisão da justiça local, não voltaram a se mobilizar pelo tema.

 Os delitos qualificados como “de segurança”, definidos pelo Exército como “atividade terrorista hostil”, representavam 47% das acusações em 2007. Contudo, a maior parte não correspondia a atos que resultaram em mortes nem a preparativos de atentados, mas simplesmente ao fato de o detento ter algum vínculo com uma “organização ilegal”.4 A classificação abrange todos os partidos políticos palestinos e uma série de associações e ONGs, e a lista não para de crescer. No rol ainda figura o Fatah − autor dos acordos de Oslo, ocasião em que se reconheceu a nação israelense em suas fronteiras pré-1967 −, declarado “organização terrorista” em 1986. Atualmente, mesmo os militantes engajados em mobilizações pacíficas de comitês de resistência popular (de localidades como Nailin, Beilin, Nabi Saleh etc.) são frequentemente detidos.

 

 218 menores na prisão

 Esse sistema permite prender quase todo mundo, homens e mulheres, a partir dos 12 anos. Os menores ficam sob a guarda da justiça militar e podem ser transferidos às mesmas prisões dos adultos a partir dos 16 anos, e não aos 18, como estipulam a Constituição civil israelense e o direito internacional. Essa especificidade da justiça militar começou a ser questionada no fim de 2011. Em 1º de maio de 2012, 218 menores foram presos, dos quais 33 com idade inferior a 16 anos.5

 Real e virtual, o véu carcerário desconstrói qualquer temporalidade. Os palestinos podem ser presos por qualquer ato e por seus laços familiares, sociais e políticos atuais, passados e até mesmo futuros. As disposições da prisão administrativa autorizam que uma pessoa seja mantida detida por seis meses, renováveis por várias vezes, com a discrição do Shin Beth, sem que nenhuma acusação formal seja necessária; no início de maio de 2012, 308 pessoas estavam nessas condições. Outros podem permanecer presos inclusive após a própria morte, em necrotérios ou cemitérios com esse fim. Para essas prisões contínuas, os serviços de informação recrutam colaboradores, infiltram-se na sociedade, negociam serviços e alimentam uma rede de informação considerável sobre a vida política, social e cotidiana dos palestinos. Após os acordos de Oslo, as prisões, antes em territórios ocupados, foram transferidas para Israel. A esse deslocamento, soma-se, desde 2003, a integração dessas casas de detenção ao sistema carcerário civil israelense, sob a autoridade unicamente do Shabas – órgão administrador do sistema penitenciário israelense. Essas mudanças contribuem para a diluição das fronteiras entre Israel e os territórios palestinos, perenizam a ocupação militar ao normalizá-la em suas instituições e a tornam invisível. Ademais, negligenciam a IV Convenção de Genebra, segundo a qual as populações ocupadas devem ser detidas em seu próprio território. O ministro palestino dos prisioneiros pretende levar às instâncias internacionais essa questão do estatuto jurídico até agora indeterminada para os prisioneiros palestinos.

 A passagem das prisões militares à tutela do Serviço de Prisões foi justificada pela possibilidade de redução dos custos da política carcerária como um todo em função das competências profissionais do Shabas e por motivos humanitários, como a melhoria das condições de detenção. Os serviços de informação, contudo, desempenharam um papel essencial nessa decisão. Membros de direito do conselho de administração do Shabas, eles participam atualmente das decisões e contribuíram muito para a nova administração carcerária inaugurada em 2003.

 A diminuição dos custos de detenção foi facilitada pela Autoridade Palestina: com a retomada das detenções em massa, o papel do Ministério dos Prisioneiros de Guerra e Ex-Detentos, criado em 1998, cresceu, assim como seu investimento financeiro. A Autoridade Palestina transfere por mês entre 20 e 25 milhões de shekels (R$ 10,5 milhões e R$ 13 milhões) a Israel, participando, com seus financiadores europeus e internacionais, dos custos de detenção. O ministério oferece assistência jurídica e paga a quantia destinada às compras na loja da prisão.

 Em agosto de 2004, o Shabas reduziu consideravelmente a quantidade de alimentos e os produtos de primeira necessidade fornecidos aos detentos (detergentes, sabão, uniformes, sapatos etc.). As compras cotidianas na loja da prisão – cujas tarifas aumentaram desde sua privatização – tornaram-se, portanto, necessárias. A Autoridade Palestina também deposita uma quantia por mês a todos os detentos “de segurança”, palestinos ou árabes. Nos casos que correspondem, também financia seus estudos na Universidade Aberta de Tel-Aviv, a única autorizada pelo Shabas, que é privada e com cursos em hebraico.

 Desde 2011, entre as medidas repressivas tomadas em função da manutenção em cativeiro do soldado Shalit, suspenderam-se os estudos superiores e a possibilidade de completar o ensino médio, assim como a disposição de livros e materiais para escrever. Além disso, recentemente, o Shabas instaurou em suas punições habituais (solitária, isolamento prolongado às vezes de anos, privação de visitas etc.) um sistema de multas (400 shekels, ou R$ 210) por qualquer infração às regras internas da prisão. As sanções financeiras se tornaram sistemáticas nos últimos anos, e para impedir a continuidade dessa inflação carcerária a Autoridade Palestina limitou seu apoio a 4 mil shekels por prisioneiro para afiançar as multas dos tribunais.

 As autoridades penitenciárias trataram de agudizar a cisão ocorrida entre o Hamas e o Fatah em 2007. Os prisioneiros foram acomodados em diferentes alas, divididos em afiliados aos partidos religiosos (Hamas e Jihad islâmica) e membros de partidos políticos (Fatah, FPLP, Frente Democrática pela Libertação da Palestina e comunistas).

 Os prisioneiros também foram separados em função de sua cidadania e posição social, seguindo as mesmas linhas de fragmentação e isolamento em vigor nos territórios ocupados, em um paralelo cada vez mais marcado pelo dentro e fora. Os palestinos ditos “de 1948” – cidadãos de Israel e de Jerusalém Leste – foram tratados da mesma forma e em geral isolados dos outros prisioneiros, medida acorde à perspectiva israelense de incorporação total da Cidade Santa. Considerados prisioneiros “de segurança”, são, pela condição de “inimigos do interior”, condenados de forma mais pesada que os palestinos dos territórios. É por essa razão que, no fim de 2011, a libertação excepcional de 48 cidadãos de Jerusalém e sete palestinos “de 1948” foi interpretada como uma das vitórias do Hamas nesse acordo.

 Segundo o testemunho de Walid Dacca, encarcerado há vinte anos6 em distintos estabelecimentos, o Shabas multiplicou as separações em função de distinções geográficas ou mesmo familiares: os residentes de cidades foram afastados dos residentes de campos e vilarejos; os originários de Ramallah foram distinguidos dos de Nablus, Jenine ou Hebron.

 

 Individualismo e passividade

 O deslocamento das prisões para Israel restringiu as visitas familiares (limitadas desde 1996 apenas aos parentes de primeiro grau: pais, filhos, irmãs e irmãos), que necessitam, agora, de permissão para entrar no território israelense, em geral recusada por motivos de “segurança” ou contestação dos laços de parentesco. São principalmente mulheres que visitam os detentos, ou filhos sozinhos, sem acompanhantes. Desde 2004, a regra determina que não haja contato físico nas visitas, à exceção dos menores de 6 anos, que podem ter contato com os presos. Em geral, as conversas se desenrolam através de um vidro e por intermédio de um telefone.

 Esses mecanismos de isolamento crescente se apoiam, igualmente, em uma lógica neoliberal de promoção material dos prisioneiros destinada a incentivar o individualismo e a passividade. Em algumas prisões, as condições antes deploráveis mudaram radicalmente com a integração ao Shabas e a reforma ou construção de novos prédios: em Ofer, Ksiot ou Hadarim, há uma nova ala de estilo norte-americano equipada com todo conforto, cozinha, máquina de lavar roupa. As novas tecnologias tornam mais visíveis o controle e a privação de liberdade − os próprios detentos fecham suas portas antes que o guarda acione o sistema centralizado de trancamento de uma centena de células; outros vivem em um espaço “independente” sem ver os vigilantes, dedicados “livremente” às suas ocupações. Essa normalização pelo conforto material visa sobretudo – mas não somente – às figuras proeminentes da prisão, gerando uma desigualdade no tratamento que se torna fator ativo na desassociação entre os presos.

 Essa política pretende favorecer a solidão dos encarcerados. O esporte e os divertimentos televisivos foram substituídos por atividades de formação política e cultural ou pela leitura – espaços que até então vêm sendo o eixo da socialização dos prisioneiros.

 A banalidade da experiência carcerária e as idas e vindas entre fora e dentro criam uma porosidade cada vez maior entre a vida na prisão e a vida no exterior. Os detentos têm a sensação de que possuem uma vida para além e apesar da prisão – como atestam a multiplicação por cinco dos universitários em detenção no período pós-Oslo e os incentivos ao casamento. Diante da fragmentação induzida pela prisão, as tecnologias da comunicação substituem os laços efetivos e militantes: a partir de 2002-2003, os telefones celulares entraram em certas prisões de homens e facilitaram o diálogo com o exterior, criando um mercado negro e uma ferramenta de vigilância por parte das autoridades penitenciárias. O acesso à internet e a criação de perfis no Facebook alimentados por parentes ou ONGs permitem que esses prisioneiros existam virtualmente no exterior e dão uma nova ressonância coletiva às mobilizações dos prisioneiros.


Stéphanie Latte Abdallah


 *Stéphanie Latte Abdallahé pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS-Iremam, Aix-en-Provence) e autora, com Cédric Parizot (orgs.), da obra A l’ombre du mur: Palestiniens et Israéliens entre séparation et occupation [À sombra do muro: palestinos e israelenses entre separação e ocupação], Actes Sud, Arles, 2011.


Ilustração: Ammar-Awad/Reuters



 1.Fonte: . Esses números não incluem os palestinos de 1948, cidadãos de Israel.

2.Comissão israelense criada após a morte em detenção de dois prisioneiros palestinos e dirigida pelo juiz Moshe Landau, presidente da Suprema Corte. Reconheceu o uso sistemático da tortura nas prisões israelenses, mas decidiu estabelecer regras autorizando o “uso moderado de pressões físicas”.

 3.“Guilty, membership and activity in unlawful associations − Military courts 2008” [Culpa, pertencimento e atividade em associações ilegais − Cortes militares 2008], Machsom Watch, Tel-Aviv, 2008. Disponível em: .

 4.Ibidem.

 5.Disponível em: .

 6“Consciousness molded. Or: of the re-identification of torture” [Consciência moldada. Ou: sobre a reidentificação da tortura]. In: Abeer Baker e Anat Matar (orgs.), Threat:  Palestinian political prisoners in Israel[Ameaça: prisioneiros políticos palestinos em Israel], Pluto Press, Londres, 2011.


 


03 de Julho de 2012

Seguidores: