Criticar Israel não é antissemitismo
23/02/2012
*Luciana Garcia de Oliveira
Um minucioso resgate histórico sobre a formação do Estado de Israel no Oriente Médio permite constatar que sua fundação, em 1948, ocorreu em meio a uma série de conflitos, rebeliões, genocídios e ataques terroristas, frequente da parte dos sionistas (sobretudo por parte dos adeptos ao chamado sionismo revisionista que tinha como mentor Ze'ev Jabotinsky), o que corroborou de fato para um clima de insegurança, sem precedentes. Por isso, não é exagero algum constatar que a formação de Israel esta estritamente aliada à violência e à conduta bélica, então legitimadas pelo discurso da segurança e da proteção à existência do Estado.
Após tantos conflitos, o até então crescente isolamento internacional de Israel, sobretudo após a guerra árabe-israelense em outubro de 1973, exacerbou segundo o professor Norman Filkenstein (um judeu), o medo por parte dos judeus residentes nos Estados Unidos e no mundo quanto à vulnerabilidade do Estado. Em decorrência disso, o assunto referente à incidência de um novo antissemitismo não apenas emergiu, como se tornou cada vez mais incontestável e institucionalizado em muitos veículos, sobretudo nos meios de comunicação de massa.
A partir desse momento foi criada em muitos meios de comunicação e em obras didáticas e acadêmicas uma linha de continuidade entre a perseguição nazista e o avanço da resistência árabe-palestina. Essa relação, falsa, tinha como objetivo impedir que as críticas ao Estado de Israel (atualmente governado por um dos partidos da extrema-direita, o Likud) fossem proferidas e divulgadas.
Por outro lado, são ainda muito poucos os que sabem ao certo, o verdadeiro significado de determinadas expressões como, “semitismo” e “antissemitismo”, muito veiculadas quando o assunto abordado são as ações de Israel no combate a resistência palestina na Faixa de Gaza e na incidência de conflitos que o exército israelense e os colonos da Cisjordânia impigem à população palestina.
Para começar, o termo “antissemitismo” é considerado extremamente problemático, sobretudo quando utilizado para descrever a percepção palestina (ou árabe) quanto aos judeus e ao judaísmo, uma vez que os árabes são povos semitas. Justamente por isso, o termo mais adequado para referir-se à discriminação contra os judeus é “antijudaísmo”.
Esse rigor científico deveria estar presente em todas as matérias jornalísticas, antes que seus autores decidissem acusar alguém (ou alguma instituição) de cometer “atos antissemita”. De acordo com a obra A Muralha de Ferro do professor Avi Shlaim (p. 21), “Israel tem sido consideravelmente mais bem-sucedida do que seus oponentes árabes em transmitir com êxito a sua versão dos acontecimentos.” Nesse sentido, a versão israelense, como qualquer história nacionalista, é unilateral e bastante útil aos seus próprios interesses.
Essa versão foi apresentada exatamente assim, num artigo recém publicado no blog do Reinaldo Azevedo (colunista da revista Veja), sob a forma de uma reação desproporcional à iniciativa do sindicato dos jornalistas de São Paulo de promover um curso sobre “A questão palestina e o conflito no Oriente Médio”.
Em um dos muitos trechos ofensivos do artigo, o colunista acusa o sindicato de tentar promover “proselitismo em favor da causa palestina e contra a existência do Estado de Israel”. Essa afirmativa, nos permite constatar que para alguns formadores de opinião, a simples manutenção ou a existência de cursos, obras, músicas, fotos e/ou qualquer manifestação artística, cultural ou política que trate da questão palestina, mostrando a versão palestina dos fatos, implica diretamente promover uma violência contra a comunidade judaica, sem distinção alguma. Muita ingenuidade seria afirmar que todos os judeus e israelenses são culpados pelas mortes, torturas, humilhações e pilhagens na Palestina.
Aqueles que conhecem minimamente a história do movimento sionista e do nacionalismo palestino, adquiriram esse saber, justamente porque tiveram acesso às obras referentes ao assunto que, em sua grande maioria são de intelectuais e acadêmicos israelenses, europeus e norte-americanos de origem judaica. As chamadas “obras revisionistas”, como são conhecidas, são resultado de uma vasta pesquisa (em fontes primárias), realizada por um grupo de historiadores em Israel, a fim de coletar informações acerca da história da fundação de seu próprio Estado. Foi através, desse árduo trabalho que muitos concluíram que a história, conhecida oficialmente como a guerra de Independência de 1948 significou, para os palestinos, a Nakba (catástrofe, em português). O desequilíbrio de forças entre as duas partes era tão grande – grupos paramilitares formados por europeus bem treinados e armados, os sionistas, contra uma população agrária desarmada, a palestina - que foi impossível para esses profissionais qualificar aquelas ações como guerra ou confronto.
As pesquisas nos arquivos e testemunhais (que incluíram palestinos sobreviventes e militares sionistas que participaram do evento) demostraram que nesse mesmo período os palestinos perderam cerca de 78% de seu território (a Palestina histórica), o que provocou , além da tragédia, para o povo palestino, da perda de tudo aquilo que possuíam, de seu próprio país, um problema que se estende até os dias atuais, a questão dos milhares de refugiados palestinos.
É um grave equívoco auferir qualquer resultado de pesquisas acadêmicas como “falácias marxistas”, conforme foi mencionado em uma das opiniões proferidas por um dos seguidores do blog em questão. Muito embora a maior parte desses historiadores possua uma visão política muito clara, um posicionamento de respeito aos direitos humanos e, sobretudo um discurso crítico às ações israelenses, eles o fazem simplesmente porque têm a segurança de poder comprovar todas as informações e todos os dados divulgados. É, justamente por isso que, suas obras tornaram-se referência para todos os pesquisadores do tema Israel – Palestina.
O direito ao contraditório é permitido para qualquer pessoa ou grupo que se sinta ofendido com determinados discursos, em especial quando há incitação real à violência, à determinado indivíduo ou povo, o que não é absolutamente o caso de um curso elucidativo. Ao contrário, existe uma tentativa clara de desqualificar a idéia e a própria ministrante, a jornalista Baby Abrão, e de tirar conclusões sem fundamento no texto apresentado como sendo o do curso (como é o caso da “negação da existência de Israel”), com base no receio de que algumas informações sejam divulgadas e, principalmente, de que o público se aproprie dessas mesmas informações e construa, por iniciativa própria, uma análise crítica da situação no Oriente Médio.
Esse receio é legítimo, tendo em vista a quantidade de informações divulgadas, também para o grande público, sobre as atrocidades cometidas pelo exército israelense contra a população palestina (incluindo crianças), em documentários, filmes, livros, revistas, jornais, blogs, fotos e nas artes plásticas. Essas informações dificultam e constrangem a ação dos “defensores de Israel”. Defender Israel não é acobertar ações violentas contra populações civis em nome de “razões de segurança”, como propaga o governo israelense, mas denunciar esses abusos a fim de evitar que essa nação seja palco de atos que violam os Direitos Humanos e a legislação internacional. E, sobretudo para impedir que sua população, como um todo, não seja confundida com aqueles que cometeram crimes bárbaros no passado e que continuam a cometê-los no presente.
* Luciana Garcia de Oliveira– Pós-graduanda em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP).
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OS ARTIGOS ABAIXO FORAM ESCRITOS POR JUDEUS, MUÇULMANOS, CRISTÃOS E ATEUS.
A JULGAR PELO CONCEITO SIONISTA DE ISRAEL, SÃO TODOS ANTISEMITAS!
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