terça-feira, 5 de abril de 2011

A historia não é eterna!


Por Emir Mourad

“Não se pode esquecer que a história é cruel com aqueles que pensam que ela é eterna, porque ela não é eterna. Ela muda a face, muda as exigências e pode se converter num abismo e afogar aqueles que não percebem que é momento de mudar de rumo” Florestan Fernandes- Professor, Sociólogo e escritor.

 
O regime democrático é uma das formas que os povos utilizam para fazer avançar suas lutas e reinvidicacoes políticas, sociais, culturais e econômicas.

Desde 1948, quando Israel assaltou e ocupou 78% da Palestina, qual tem sido o resultado dos governos e regimes árabes até os dias de hoje em suas políticas externas e internas? O que dizer quando um jovem universitário na Tunísia, desempregado, ateia fogo no seu próprio corpo, para protestar contra os agentes do governo que queriam dinheiro para liberar sua "banquinha" de frutas, e se torna o primeiro símbolo das revoltas que fazem tremer as terras árabes?

Estou plenamente consciente de que quando as potencias ocidentais, em nome de “proteger civis” bombardeiam a Líbia e matam civis dos dois lados, como denuncia o Bispo Apostólico Romano de Trípoli, escondem a sua verdadeira motivação de controlar o Norte da África, tentando estabelecer uma nova geopolítica imperialista na região e, ao mesmo tempo, assegurar o domínio do ouro negro. O Iraque foi invadido e ocupado pelas tropas dos Estados Unidos e seus aliados, em nome da existência em poder do governo iraquiano de “armas de destruição em massa”, armas essas que nunca foram encontradas! Alegavam também que o regime de Saddam era aliado da Osama Bin Laden, o mesmo que era chamado, por figuras do governo estadunidense, de “libertador” quando combatia as tropas da união soviética no Afeganistão!

A América Latina viveu um período de ditaduras militares e hoje vivemos um processo de consolidação de governos eleitos pelo povo, com a ampliação de conquistas políticas e econômicas. O povo árabe não tem direito a essas conquistas tal qual os povos da America Latina?  Quando o General Galtieri, da Argentina, Chefe da Junta militar em 1982, sofria o desgaste e uma oposição interna e regional crescente a seu regime ditatorial, levantou a bandeira “As Malvinas são argentinas” e grande parte da esquerda apoiou esse chamado, por acaso apoiavam a ditadura do General?

Que dilema é esse? Apoiar as manifestações onde os governos são aliados dos Estados Unidos e combater as outras onde os governos têm histórico antiimperialista e colonialista? Não tenham receio de estar ao lado da história!  Não tenhamos receio nenhum de exigir o cessar fogo na Líbia e que todos os povos da região tenham a liberdade de manifestação e opinião, de lutar por trabalho, por distribuição das riquezas, por uma vida mais digna e justa.

Nenhum governo estará a salvo no mundo árabe a não ser que esteja em sintonia com os clamores, verdadeiros e acumulados, de camadas e setores significativos de suas populações. Quem souber ouvir as vozes da rua, quem souber conduzir o processo de negociação, estará à altura de continuar a levantar as bandeiras do antiimperialismo e da libertação da Palestina! Não se trata de apoiarmos este ou aquele governo, este ou aquele partido, se trata de respeitar a soberania dos povos e nações, de enxergar nas revoltas e manifestações uma singular chance dos países árabes alcançarem novos patamares de desenvolvimento e convivência harmoniosa entre governos e povos. E que cada povo tenha a liberdade de se manifestar contra ou a favor do seu governo. Se governos devem cair ou não, que prevaleça o julgamento popular e não as botas militares ocidentais imperialistas e seus aliados de plantão, Israel e os  agentes entreguistas na região. Qualquer gota de sangue árabe não pode ser negociada em nome de nenhum barril de petróleo!

Sim, apoio a autodeterminação dos povos!

Sim, sou contra a intervenção militar regional ou ocidental nos países árabes, em todas as suas formas, seja sob qualquer pretexto!

Os processos de transformações e mudanças estão recheados de enganos, manobras, contradições, inimigos, adversários e aliados. Mas quem disse que reformas, revoluções, levantes e manifestações populares seguem uma reta linear e uniforme?

A história não é eterna e a liberdade custa caro!





Um comentário:

  1. Caro Emir, brilhante! "Não tenham receio de estar ao lado da história! Não tenhamos receio nenhum de exigir o cessar fogo na Líbia e que todos os povos da região tenham a liberdade de manifestação e opinião, de lutar por trabalho, por distribuição das riquezas, por uma vida mais digna e justa."

    Abraço,

    Claudio Daniel

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