terça-feira, 28 de junho de 2011

CUT em campanha pelo Estado Palestino, já!


CUT em campanha pelo Estado Palestino, já!

20/06/2011

Embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben é recebido por lideranças cutistas na sede nacional


Quintino Severo, João Felício e Artur Henrique (CUT), Embaixador Ibrahim Alzeben, Elayan Alladin e Emir Mourad
O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, visitou a sede nacional da CUT na tarde desta segunda-feira (20) onde foi recebido por membros da executiva, que manifestaram a solidariedade da Central à luta contra a agressão israelense e pelo reconhecimento do direito do povo palestino a uma nação livre e soberana.

“Vamos colocar nas ruas nos próximos dias uma campanha absolutamente ativa em defesa da criação do Estado palestino, já! A hora é de ampliar a mobilização e colocar pressão articulada, nacional e internacionalmente, para que se faça justiça”, afirmou o presidente da CUT, Artur Henrique, lembrando que a ONU deverá levar o tema à votação até o mês de setembro.

Em recente reunião com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em Brasília, Artur foi escolhido para falar em nome das centrais sindicais brasileiras. Na oportunidade, cobrou três questões da entidade internacional: o fim da agressão militar da OTAN à Líbia, o fim do criminoso bloqueio dos EUA a Cuba e o reconhecimento do Estado palestino. “Temos historicamente uma relação de respeito e solidariedade à causa palestina. A campanha que vamos desenvolver no Brasil contempla a necessidade de formação e informação, uma vez que os meios de comunicação desinformam com uma linguagem que apenas reproduz preconceitos”, sublinhou o presidente cutista.

De acordo com o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Antonio Felício, que visitou recentemente a Palestina, a ideia da campanha é dar muita visibilidade ao tema, colocando a questão entre as prioritárias na agenda da ONU. “Estivemos em Ramalah e em várias cidades palestinas e pudemos ver de perto o que significa a ocupação militar israelense, a agressão e o desrespeito aos direitos humanos a que a população vem sendo submetida e segregada pelo muro do apartheid, pelo assalto à sua terra e sua água, pela multiplicação dos postos militares de controle. Nossa campanha será ampla, envolvendo a Confederação Sindical Internacional (CSI), as entidades sindicais e movimentos sociais que desejaram somar sua voz contra os reiterados abusos praticados por Israel, pela paz e a justiça”, sublinhou João Felício.

Agradecendo “as palavras de estímulo e solidariedade”, que se concretizam com a realização campanha “que se estenderá nacional e horizontalmente”, o embaixador Ibrahim Alzeben destacou a importância do Conselho de Segurança da ONU levar à votação a criação do Estado palestino até o mês de setembro. A quase totalidade dos países é contrária à colonização e os Estados Unidos, que diz oficialmente ser contra, ficará isolado caso se pronuncie em favor de Israel, avalia o embaixador. “Por isso é importante dar a dimensão do apoio que estamos recebendo”.

“Defendemos a retomada do diálogo com Israel e um acordo sobre as bases do direito internacional, seguindo um calendário a ser respeitado. A crescente solidariedade nos ajuda para que a ONU se pronuncie e reconheça o direito dos palestinos ao seu Estado, dentro das fronteiras de 1967”, acrescentou Ibrahim. O embaixador condenou a “política de fato consumado”, onde os israelenses vão expandindo suas colônias com base em territórios roubados, logo plenamente militarizados. “Precisamos reconstruir a confiança entre os dois povos e isso se dará com o respeito ao direito internacional, com a retirada das tropas e o direito ao retorno dos refugiados, com paz e justiça. Por isso buscamos a negociação, mas também somamos apoios para que, após tantos anos, finalmente tenhamos reconhecido o Estado palestino”, frisou.

Também participaram da reunião o secretário-geral da CUT, Quintino Severo, e dirigentes de entidades árabes no Brasil como Elayyan Alladin e Emir Mourad.


Embaixador da Palestina visita MST e agradece solidariedade


Embaixador da Palestina visita MST e agradece solidariedade
27 de junho de 2011


Da Página do MST

Esteve presente na Secretaria Nacional do MST o embaixador do Estado da Palestina no Brasil, Ibrahim Al Zeben, no dia 20 de junho. Junto com ele estava o representante da Federação de Entidades Palestinas do Brasil (Fepal), Emir Mourad.

Ibrahim agradeceu a solidariedade prestada pelo MST à luta do povo palestino e relembrou momentos importantes desse apoio - como em 2002, quando uma delegação da Via Campesina esteve, por 22 dias, junto de Yasser Arafat no quartel general da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em Ramallah-Cisjordânia.

Marcelo Buzetto, da coordenação do MST, fez um relato das viagens que membros do MST fizeram para a Palestina em 2010 e 2011, dos contatos com movimentos de camponeses, de mulheres e com organizações políticas e sociais palestinas, além da esquerda israelense.

Condições favoráveis

Segundo Ibrahim, as mobilizações populares no mundo árabe e a situação internacional criaram condições favoráveis para que ocorresse a unidade entre as forças políticas da resistência palestina. Celebrando o recente acordo firmado entre os partidos Al-Fatah (Movimento de Libertação Nacional) e Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) - que governam a Cisjordânia e Gaza, respectivamente - ressaltou que a pressão do próprio povo palestino ajudou a acelerar tal união. "Como disse certa vez Yasser Arafat: 'o povo sempre está à frente das lideranças'", relembrou o embaixador.

De acordo com ele, todos os partidos políticos que integram a OLP assinaram o acordo, inclusive a Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP), a Frente Democrática pela Libertação da Palestina (FDLP) e o Partido do Povo Palestino (PPP), que representam os comunistas e marxistas no interior da OLP.

A necessidade de unificar todas as forças políticas da resistência palestina num mesmo espaço de debate, articulação e ação conjunta levou lideranças de partidos como HAMAS e Jihad Islâmica a debater sua incorporação à OLP, já que esses dois partidos representantes do nacionalismo islâmico palestino sempre estiveram fora dessa organização.
Como parte do processo de unificação das forças políticas palestinas está o esforço de democratização da OLP e de ampliação da participação de diferentes partidos nas instâncias da direção desta frente nacional e patriótica que, desde 1964, vem lutando cotidianamente pela criação de um Estado Palestino Laico e Democrático.

Apoio da CMS

Buzetto e Emir Mourad também aproveitaram para informar o Embaixador sobre as iniciativas que estão sendo organizadas por entidades ligadas à Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e à comunidade árabe-palestina, no sentido de desencadear, no Brasil, uma forte e ampla Campanha pela criação do Estado da Palestina Já!.
Seguindo as orientações e atendendo aos anseios do próprio povo palestino e de seus legítimos representantes, MST e Fepal reafirmaram a disposição em priorizar a luta para que a Organização das Nações Unidas (ONU) aprove, em setembro, a integração do Estado da Palestina como membro pleno, com todos os direitos e deveres que tal decisão implica.

De julho a setembro, a OLP e seus aliados em todo o mundo estarão travando essa batalha pela justiça e pelos direitos inalienáveis do povo palestino.

A coordenação do MST entregou para o Ibrahim e para Emir Mourad uma bandeira, um boné e livros que contam a história da luta pela Reforma Agrária no Brasil, e foi reafirmado o compromisso das trabalhadoras e dos trabalhadores rurais Sem Terra de continuar a luta pela criação do Estado da Palestina, livre, democrático e soberano.

Ibrahim convidou o Movimento para uma visita à Embaixada da Palestina, em Brasília, para continuar o debate sobre ações conjuntas para os próximos meses.

Na tarde do dia 20, houve uma reunião da Via Campesina Brasil para discutir a construção do 1° Encontro de Camponeses, Trabalhadores Rurais e Pescadores da Palestina: construindo a Via Campesina e a formação de uma brigada de trabalho voluntário para a colheita de azeitonas, entre outubro e novembro, na própria Palestina.

MST, Comissão Pastoral da Terra-CPT, FEPAL, Ibrahim e diversas outras organizações e pessoas participaram de uma reunião da Campanha Pelo Estado da Palestina Já!.


Jericó e Foz serão cidades-irmãs

Jericó e Foz serão cidades-irmãs

Processo de irmanação já está em andamento. Acordo foi acertado entre o embaixador da Palestina em Brasília, Ibrahim Al Zeben, e o prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo Mac Donald Ghisi.

Aurea Santos
aurea.santos@anba.com.br


26/06/2011





São Paulo – As cidades de Jericó, na Palestina, e Foz do Iguaçu, no Paraná, serão cidades-irmãs. O acordo para a irmanação dos municípios foi acertado entre o embaixador da Palestina em Brasília, Ibrahim Al Zeben, e o prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo Mac Donald Ghisi, neste mês, e o processo já está em andamento.

"Jericó e Foz têm características semelhantes", afirmou Al Zeben, durante visita à sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na última semana. "Ambas têm uma tríplice fronteira", destacou. Jericó tem fronteiras com Jordânia e Israel, enquanto Foz do Iguaçu faz divisa com a Argentina e o Paraguai. "Esta irmanação é favorável ao crescimento mútuo", ressaltou o embaixador.

Al Zeben esteve na cidade paranaense entre os dias 16 e 18 de junho para participar do Festival de Turismo das Cataratas do Iguaçu. O festival, que tradicionalmente reúne apenas agentes de turismo de países latino-americanos, contou pela primeira vez com um estande da Palestina.

"Acreditamos que o melhor apoio que os países da América Latina podem dar ao processo de paz (entre palestinos e israelenses) é fomentar o turismo porque cria pontes entre as nações", disse Al Zeben. No estande da Palestina, houve a divulgação de imagens do país, a exposição de peças de artesanato e também a distribuição de um jornal publicado especialmente para o evento.

"Queremos aproximar as nações para que se conheçam melhor. Isso abre portas para o intercâmbio humano, de mercadorias, de experiências. É mais do que aproximar os povos, também abre oportunidades para o aumento do comércio", completou Al Zeben. Entre os visitantes do estande palestino no festival estiveram o ministro do Turismo do Brasil, Pedro Novaes, e a ministra do Turismo do Paraguai, Liz Cramer.






quarta-feira, 22 de junho de 2011

Lançada em São Paulo campanha pelo Estado da Palestina já

Lançada em São Paulo campanha pelo Estado da Palestina já



Entidades do movimento social brasileiro, associações da comunidade árabe e palestina no Brasil e partidos de esquerda realizaram na noite da última segunda-feira (20) em São Paulo, na sede nacional do PCdoB, uma reunião em que lançaram a campanha “Pela Criação do Estado da Palestina Já!” Como convidado de honra participou do encontro o embaixador da Autoridade Nacional Palestina no Brasil, Ibrahim al-Zeben.

As organizações presentes eram PCdoB, PT, MST, CUT, CTB, UJS, Cebrapaz, Comissão Pastoral da Terra, Fearab, Fepal, Portal Arabesq, Portal Vermelho, Sociedade Palestina de São Paulo, Sociedade Palestina de Uruguaiana, Comunidade Maronita Libanesa El Marada e Partido Comunista Libanês. O deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP) também compareceu à sede do PCdoB para levar apoio à causa palestina.

As entidades organizarão no mês de novembro uma convenção nacional de solidariedade com a Palestina, cuja preparação envolverá uma série de ações, entre elas um seminário de aprofundamento e estudo no mês de julho.

Para o embaixador Ibrahim al-Zeben, “as organizações do movimento social brasileiro e os partidos presentes mais uma vez abrem os olhos da militância para os problemas da Palestina, mais uma vez os nossos amigos do Brasil dão a cara e brindam suas mãos e seu coração em apoio à Palestina”.

Ele explicou porque agora a questão palestina emerge com tanta força, a ponto de ser submetida às Nações Unidas: “Estamos melhor que antes, com a perspectiva de restaurar a unidade nacional e transformar a OLP”. Segundo sua análise, a “Primavera Árabe” abriu as portas e ajudou o Fatah e o Hamas a se darem conta da situação e reconstruíssem a unidade nacional. O representante da ANP no Brasil lembrou Yasser Arafat que dizia que o povo é mais avançado que as lideranças. “As massas disseram ‘chega´ de divisão e pediram a unidade nacional para já”, pontuou AL-Zeben, que defendeu também a necessidade de criar em breve “um governo representativo de todos os palestinos”.

O embaixador não poupou críticas ao governo israelense, “cada vez mais intransigente e negativo em relação aos direitos dos palestinos”. Ele fez o balanço de 15 anos de negociações, chegando à conclusão de que “os palestinos tudo fizeram, mas houve uma constante negativa por parte do governo de Israel”. O embaixador destacou ainda o papel positivo da diplomacia brasileira.

Ibrahim al-Zeben anunciou que a ANP vai tomar posições importantes nas próximas semanas: “Vamos solicitar assento como membro pleno da ONU. A solicitação vai ser feita pela Liga Árabe”. Sabendo que será uma luta difícil e complexa para fazer valer a decisão palestina nas instâncias da ONU, AL-Zeben disse que mais do que nunca seu povo necessitará do apoio da comunidade internacional. “Acreditamos no apoio do Brasil e consideramos que este precisa do apoio do movimento popular”.

A reunião foi unânime no apoio à reivindicação de criar o Estado da Palestina já.
Da redação

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Paz ou guerra em setembro de 2011?


Paz ou guerra em setembro de 2011?

Carta Maior - Internacional

13/06/2011


O presidente Barack Obama, antecipando as movimentações para o período eleitoral de 2012, iniciou uma mudança radical em sua equipe de segurança nacional que pode ter graves repercussões no Oriente Médio. Para Israel e os EUA, recorrer à ONU e não acreditar em Netanyahu e Obama passou a ser denominado de unilateralismo e ameaça à Paz! No momento em que cresce o apoio da comunidade internacional para o reconhecimento diplomático de um Estado Palestino na Assembléia Geral da ONU, em setembro, aumentam também as possibilidades de um ato tresloucado da direita israelense com o apoio do democrata Obama. O artigo é de Reginaldo Nasser.

Reginaldo Nasser (*)

No dia 23 de maio o presidente Barack Obama proferiu um discurso sobre a política externa dos EUA para o Oriente Médio no Departamento de Estado, declarando seu apoio à primavera árabe e reiterando sua crença a solução de dois Estados é a melhor maneira de resolver o conflito israel-palestino. No dia seguinte, foi a vez do primeiro ministro israelense, Netanyahu, dar seu recado. Em seu discurso no congresso rejeitou várias afirmações de Obama, sendo efusivamente aplaudido pelos congressistas (29 aclamações). Atribuiu a responsabilidade do conflito aos palestinos devido à não aceitação da existência do Estado de Israel: “eles simplesmente não querem acabar com o conflito. Eles continuam educando suas crianças para o ódio. Eles continuam com a fantasia de que Israel será um dia inundada pelos palestinos refugiados”. Assim, a proposta do governo israelense foi clara: só poderá existir um estado Palestino desmilitarizado e dentro de fronteiras diferentes daquelas acordadas em 1967 na Resolução 242 da ONU. Consequentemente, não aceitar essa proposta, é, para Netanyahu, sinal de que os palestinos não desejam a paz.

Equanto isso em Jerusalém, o ex-chefe da Mossad, Meir Dagan, que dirigiu a organização entre 2002-2010, criticou, publicamente, o governo israelense por “falta de discernimento e flexibilidade”, chamando-o de "imprudente e irresponsável" no tratamento da política de segurança de Israel. Dagan considera uma ameaça maior o isolamento de Israel por um grande segmento da comunidade internacional como provável resultado do esforço da Palestina em obter o reconhecimento de seu Estado. Ele alerta que diante da pressão internacional, Israel poderá trazer à tona o velho argumento de responder aos pequenos incidentes forçando uma solução militar.

Dagan não é nenhum pacifista utópico. Quando foi escolhido para ser chefe da Mossad, Sharon disse que ele queria uma Mossad com "uma faca entre os dentes." Nos últimos meses, o chefe militar, Gabi Ashkenazi, e o diretor da agência de segurança Shin Bet, Yuval Diskin, também renunciaram. Portanto, além de indicar a existência de fissuras dentro do establishment de segurança nacional de Israel, a saída desse triunvirato, de acordo com o próprio Dagan, demonstra que Netanyahu está removendo aqueles que até então resistiam à sua estratégia de atacar o Irã. 

Dagan não acredita em uma paz com a Síria, se opõe fortemente à criação de um Estado Palestino nas fronteiras de 1967 ou a qualquer compromisso sobre os refugiados, mas acha que Israel, por seu próprio bem, deve tomar a iniciativa no processo de paz. Principalmente nesse momento em que ocorrem mudanças regionais, ele está preocupado, em primeiro lugar pelo que está acontecendo no Egito.

Ao mesmo tempo, o presidente Obama, antecipando as movimentações para o período eleitoral de 2012, iniciou uma mudança radical em sua equipe de segurança nacional que pode ter graves repercussões no Oriente Médio. O presidente nomeou o diretor da CIA, Leon Panetta, para assumir o posto de secretário de Defesa, escolheu o comandante da guerra do Afeganistão, general David Petraeus, para substituir Panetta na agência de inteligência e indicou o General Martin Dempsey para chefe do Estado-Maior das forças armadas dos EUA. A nomeação desse último foi feita no 'Memorial Day', o feriado anual que recorda os americanos mortos em combate, e ocorre em um momento crítico de reorganização do aparato de defesa e segurança dos Estados Unidos.

Nas últimas duas décadas, Dempsey passou a maior parte do seu tempo dedicado ao Oriente Médio: oficial de operações com o corpo de blindados na Guerra do Golfo(1991); chefe da delegação americana que treinou a guarda nacional saudita; comandante de uma divisão de blindados no Iraque em 2003; oficial responsável pela formação do novo exército iraquiano, e finalmente chefiando o Comando Central, que abrange o Irã, Egito, Síria e a Jordânia. Além disso, Dempsey é bastante familiarizado com as Forças de Defesa de Israel por meio de intercâmbio de informações e de opiniões entre as forças de ambos os exércitos nos últimos anos. É um estudioso e admirador das ações de Israel na Guerra de 1973, Guerra do Líbano (2006) e das ações contra o terrorismo nos territórios ocupados.

Portanto, como bem observou Amir Oren (Obama's new security staff may approve attack on Iran Haaretz 01/06/2011) as mudanças na equipe de segurança nacional dos EUA são não apenas um assunto norteamericano. Apesar de o próprio Oren reconhecer ser difícil, Dempsey, no início do seu mandato, convencer Obama a atacar o Irã, ou mesmo permitir Israel fazê-lo, não se pode negligenciar seus estreitos laços com o pessoal da forças de Defesa israelenses e a confiança do Congresso norte-americano nos planos de Netanyahu. 

Para Israel e os EUA, recorrer à ONU e não acreditar em Netanyahu e Obama passou a ser denominado de unilateralismo e ameaça à Paz! No momento em que cresce o apoio da comunidade internacional para o reconhecimento diplomático de um Estado Palestino na Assembléia Geral da ONU, em setembro, aumentam também as possibilidades de um ato tresloucado da direita israelense com o apoio do democrata Obama. 

*Reginaldo Nasser é professor de Relações Internacionais da PUC-SP


http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17911&editoria_id=6



domingo, 12 de junho de 2011

ESTADO DA PALESTINA JÁ!


O Estado da Palestina já!

Folha de Sao Paulo - TENDÊNCIAS/DEBATES
12 Junho de 2011

EMIR MOURAD


O fato de Israel ter vencido guerras não o faz regulador de normas internacionais nem exime o país das infrações cometidas perante as leis.

A questão fundamental para a solução do conflito entre palestinos e israelenses é reconhecer que os países-membros da ONU possuem direitos e deveres que regulam a convivência civilizada entre nações, Estados, governos e povos.

Israel, dentre diversas resoluções do Conselho de Segurança e da Assembléia Geral, acatou, até hoje, uma só resolução: a que aceitou Israel como membro da ONU!

A Palestina existe de fato antes de Israel ser criado em maio de 1948: uma cultura milenar, um povo organizado na cidade e no campo, em maioria árabe muçulmana e cristã, com minoria judaica, todos pertencentes à sociedade palestina, com instituições sociais, industriais, educacionais, faltando só o reconhecimento de direito para estabelecer seu Estado independente. O estabelecimento do Estado da Palestina é questão de direito!

Vez ou outra nos deparamos com opiniões "desinformadas" sobre a demografia da época do mandato britânico sobre a Palestina, tais como "o território que a ONU destinou aos judeus já continha maciça maioria judaica".

Nos dados da ONU consta que, em dez dos 16 subdistritos administrativos, a população palestina perfazia mais de 82% do total da população. A Comissão de Inquérito Britânico-Americana, em 1945 e 1946, apresentou relatório com os dados de 1,269 milhão (67,6%) de árabes palestinos e 608 mil judeus residentes dentro das fronteiras do mandato da Palestina.

Sobre as guerras ocorridas em 1948, 1967 e 1973, todas as resoluções da ONU se referem às ações da "potência ocupante", Israel, e à ilegalidade de ocupar, colonizar e anexar territórios pela força militar.
Além da responsabilidade histórica de Israel pela expulsão dos refugiados palestinos.

Quanto aos judeus que foram expulsos de países árabes, eles obtiveram a cidadania israelense e deixaram de ostentar o direito de reivindicar qualquer status de refugiados, diferentemente dos refugiados palestinos, que hoje somam quase 5 milhões e são reconhecidos como refugiados segundo o estatuto da ONU e o direito internacional.


O conflito tem proporções internacionais, já que foi criado pela própria ONU e pelas intervenções de várias potências, em decorrência de seus interesses econômicos na região do Oriente Médio.


O fato de Israel ter vencido guerras não o faz regulador de normas e leis internacionais nem o exime de infrações cometidas perante a lei!

Em julho de 2004, a Corte Internacional de Justiça proferiu uma sentença, por 14 votos a um, declarando ilegal e pedindo a demolição do muro que Israel construiu nos territórios ocupados.

A representante do Brasil na ONU, embaixadora Maria Viotti, em seu relato sobre a questão palestina, declarou, em 21 de abril de 2011: "As atividades de assentamento na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental são ilegais e um obstáculo à paz".

Os palestinos, em setembro próximo, vão pedir que o Estado da Palestina seja reconhecido como membro das Nações Unidas, tal como Israel o foi em 1949. Se Israel continuar negando esse direito aos palestinos, estará negando a razão de sua própria existência!


EMIR MOURAD, engenheiro civil, é diretor da Federação Árabe Palestina do Brasil.

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Segue abaixo o artigo original enviado a Folha de São Paulo, que por motivos de espaço de publicação teve que ser reduzido. Cabe observar que mesmo com os cortes, ele manteve intacto a sua proposta original:

O ESTADO DA PALESTINA JÁ!


A questão fundamental para a solução do conflito entre palestinos e israelenses é reconhecer que os países membros da ONU possuem direitos e deveres que regulam a convivência civilizada entre as nações, estados, governos e povos.

Israel, dentre as diversas resoluções do Conselho de Segurança da ONU e da Assembléia Geral, acatou, até hoje, uma única resolução: a que aceitou Israel como membro da ONU!

Vejamos algumas dessas resoluções: a Resolução 194 sobre os refugiados palestinos: “11. Resolve que aos refugiados que desejam retornar aos seus lares e viver em paz com seus vizinhos deve ser permitido fazê-lo na data mais cedo possível, e que deve ser paga indenização pelas propriedades dos que preferirem não voltar.” A Resolução 242 sobre a guerra de 1967: “Dando ênfase à inadmissibilidade da aquisição de território pela guerra”, afirma pela “retirada das forcas armadas de Israel dos territórios ocupados no recente conflito”. A Resolução 3005, sobre violações dos direitos humanos, por Israel, nos territórios ocupados: “2. Insta fortemente com Israel para rescindir incontinenti e desistir de todas as políticas e praticas como: a anexação de qualquer parte dos territórios ocupados; o estabelecimento de colônias israelenses nesses territórios e a transferência de partes de uma população estranha para os territórios ocupados; a destruição e demolição de aldeias, quarteirões e casas, e o confisco e expropriação de propriedade; a evacuação, transferência, deportação e expulsão dos habitantes dos territórios ocupados; a denegação do direito das pessoas deslocadas de voltarem aos seus lares...”

A Palestina existe de fato antes de Israel ser criado em maio de 1948: uma cultura milenar, um povo organizado na cidade e no campo, em maioria árabe muçulmana e cristã, e uma minoria judaica, todos pertencentes à sociedade palestina, com instituições sociais, industriais, educacionais, faltando apenas o reconhecimento de direito para estabelecerem seu estado independente. O Estabelecimento do Estado da Palestina é uma questão de direito!  

Vez ou outra nos deparamos com opiniões “desinformadas” sobre a demografia da época do Mandato Britânico sobre a Palestina, tais como “o território que a ONU destinou aos judeus já continha maciça maioria judaica”. Nos dados da ONU- 1950- referencia 90(b), consta que em 10 dos 16 subdistritos administrativos, a população palestina perfazia mais de 82% do total da população. A Comissão de Inquérito Britânico Americana em 1945 e 1946, apresentou relatório com os dados de 1.269.000 (67,6%) de árabes palestinos e 608 mil judeus residentes dentro das fronteiras do Mandato da Palestina (Fonte: Eco Fondation – 1947).

Sobre as guerras ocorridas em 1948, 1967 e 1973, todas as resoluções da ONU se referem às ações da “Potencia Ocupante” Israel e a ilegalidade de ocupar, colonizar e anexar territórios pela forca militar. Alem da responsabilidade histórica de Israel pela expulsão dos refugiados palestinos!

Quanto aos judeus que foram expulsos de países árabes, eles obtiveram a cidadania israelense e deixaram de ostentar o direito de reivindicar qualquer status de refugiados, diferente dos refugiados palestinos, que hoje somam quase 5 milhões e são reconhecidos na condição de refugiados conforme o estatuto da ONU e do Direito Internacional.

O Conflito tem proporções internacionais já que foi criado pela própria ONU e pelas intervenções de várias potencias em decorrência de seus interesses econômicos na região do Oriente médio. O fato de Israel ter vencido guerras, não o faz regulador de normas e leis internacionais, nem o exime das infrações cometidas perante a lei! Em julho de 2004, a Corte Internacional de Justiça, proferiu uma sentença, por 14 votos a um, declarando ilegal e pela demolição do Muro que Israel construiu nos Territórios Ocupados.

A Representante do Brasil na ONU, Embaixadora Maria Viotti, em seu relato sobre a Questão Palestina, declarou em 21 de abril de 2011: “As atividades de assentamento na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental são ilegais e um obstáculo à paz.”

Os palestinos, em setembro próximo, vão pedir que o Estado da Palestina seja reconhecido como membro das Nações Unidas, tal como Israel o foi em 1949. Se Israel continuar negando esse direito aos palestinos, estará negando a razão de sua própria existência!

Emir Mourad- * Engenheiro Civil * Diretor da FEPAL- Federação Árabe Palestina do Brasil 


sábado, 11 de junho de 2011

A limpeza étnica dos palestinos, ou Israel democrático em ação


Carta Maior – Internacional - 14/05/2011

Enquanto ainda estamos desesperadamente ocultando, negando e reprimindo nossa principal limpeza étnica de 1948 – mais de 600.000 refugiados, alguns dos quais fugiram pelo temor às Forças Armadas de Israel e suas antecessoras, e outros que foram expulsos pela força – a realidade nos demonstra que 1948 nunca terminou, que seu espírito continua conosco. O artigo é de Gideon Levy.

Gideon Levy - Haaretz

Ocorreu no dia seguinte ao Dia da Independência, quando Israel estava imerso quase que ad nauseam em loas a si mesmo e a sua democracia, e nas vésperas do (virtualmente fora da lei) Dia da Nakba, quando o povo palestino comemora a “catástrofe” – o aniversário da criação de Israel. Meu colega Akiva Eldar publicou o que sempre soubéramos, mas ignorávamos as chocantes cifras reveladas: No momento dos Acordos de Oslo, Israel tinha revocado a residência de 140.000 palestinos da Cisjordânia. Em outras palavras, 14% dos residentes da Cisjordânia que ousaram viajar ao exterior tiveram seu direito de retornar a Israel e aqui viver negado para sempre. Em outras palavras, foram expulsos de suas terras e de seus lares. Em outras palavras: limpeza étnica.

Enquanto ainda estamos desesperadamente ocultando, negando e reprimindo nossa principal limpeza étnica de 1948 – mais de 600.000 refugiados, alguns dos quais fugiram pelo temor às Forças Armadas de Israel e suas antecessoras, e outros que foram expulsos pela força – a realidade nos demonstra que 1948 nunca terminou, que seu espírito continua conosco. Ainda continua conosco o objetivo de limpar esta terra de seus habitantes árabes o máximo possível, e até um pouco mais. Afinal, é a solução mais encoberta e desejada: a Terra de Israel para os judeus e só para eles. Algumas pessoas se atreveram a dizê-lo abertamente - o rabino Meir Kahane, o ministro Rehavam Ze’evi e seus discípulos, os quais merecem alguns elogios por sua integridade. Muitos aspiram a fazer o mesmo sem admiti-lo.

A revelação da política de negar a residência provou que este sonho secreto é efetivamente o sonho secreto do stablishment. Aí não se fala de transferência, graças a Deus; ninguém poderia pensar em chamá-lo de limpeza. Não se carrega os árabes em caminhões como era feito antes, mesmo depois da Guerra dos Seis Dias; não se dispara sobre eles para afugentá-los - todos esses métodos são politicamente incorretos no mundo novo. Mas, de fato, este é o objetivo.

Algumas pessoas pensam que é suficiente tornar miserável a vida dos palestinos nos territórios para forçá-los a irem embora, e muitos deles, com efeito, foram embora. Um êxito de Israel: de acordo com a Administração Civil, cerca de um quarto de milhão de palestinos abandonaram voluntariamente a Cisjordânia nos sangrentos anos 2000 – 2007. Mas isto não é suficiente. Portanto, vários e diversos outros meios administrativos foram acrescentados para transformar o sonho em realidade.

Qualquer um que diga que “não é apartheid” está convidado a responder: Por que um israelense tem permissão de sair de seu país pelo resto da vida e ninguém sugere cassar-lhe a cidadania, enquanto que um palestino, um filho nativo, não tem essa permissão? Por que um israelense pode casar-se com uma estrangeira e esta recebe uma permissão de residência, ao passo que um palestino não tem permissão de se casar com sua ex-vizinha que mora na Jordânia? Isto não é apartheid? Através dos anos, documentei intermináveis e lamentáveis tragédias de famílias que foram separadas, cujos filhos e filhas não recebiam permissão de viver na Cisjordânia ou em Gaza devido a regras draconianas - só para os palestinos.

Vejamos o caso de Dalal Rasras, por exemplo, uma menina de Beit Omar com paralisia cerebral, que foi separada de sua mãe durante meses porque sua mãe nasceu em Rafah. Somente depois de que seu caso se tornar público é que Israel permitiu que ela regressasse para sua filha “apesar da letra da lei”, a cruel letra da lei que não permite que os residentes de Gaza vivam na Cisjordânia, mesmo se ali tiverem feito suas casas.

O clamor dos despossuídos agora foi traduzido em números: 140.000, apenas até os Acordos de Oslo. Estudantes que saíram para estudar em universidades estrangeiras, homens de negócios que foram tentar a sorte no exterior, cientistas que viajaram ao exterior para sua formação profissional, jerusalenses nativos que se atreveram a mudar-se temporariamente à Cisjordânia, todos correram a mesma sorte. Todos foram levados pelo vento e foram expulsos por Israel. Não puderam regressar.

O mais surpreendente de tudo é a reação dos responsáveis pela política de limpeza étnica. Eles não sabiam. O major-general (na reserva) Danny Rothschild, ex-governador militar com o título eufemístico de “coordenador das atividades governamentais nos territórios”, disse que leu pela primeira vez sobre o procedimento no jornal Haaretz. Acontece que a limpeza étnica não apenas continua, senão que também continua sendo negada. Toda criança palestina sabe, só o general a desconhece. Até mesmo hoje ainda há 130.000 palestinos registrados como “NLR”, um comovedor acrônimo das IDF (Israeli Defense Forces – Forças Armadas de Israel) para definir aos “já não residentes”, como se fossem voluntários, outro eufemismo para denominar aos “expulsos”. E o general. que se considera relativamente bem informado, não tinha conhecimento.

Há uma recusa absoluta em permitir o regresso dos refugiados - algo que poderia “destruir o Estado de Israel”. Também há uma recusa absoluta em permitir o regresso das pessoas recentemente expulsas. Para o próximo Dia da Independência provavelmente inventaremos mais regulamentações para a expulsão, e nas próximas férias conversaremos sobre “a única democracia”.

Tradução: JairSouza


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Israel prepara lobby contra admissão de palestinos na ONU


Israel prepara lobby contra admissão de palestinos na ONU

10 DE JUNHO DE 2011 - 13H40 

Portal Vermelho

O Ministério das Relações Exteriores de Israel instruiu seus diplomatas a evitarem que os países em que atuam apóiem a pretensão palestina de ser admitida como membro pleno da ONU (Organização das Nações Unidas) em setembro, informa nesta sexta-feira (10/06) o jornal Haaretz. 

Em mensagens diplomáticas, o diretor-geral, Rafael Barak, e outros altos cargos do ministério, pedem pressão "ao máximo nível possível" para convencer as autoridades de que apoiar a pretensão palestina equivaleria a deslegitimar Israel e frustrar qualquer futuro acordo de paz. 

Entre as instruções recebidas pelos diplomatas estão obter apoio das comunidades judaicas e ONGs locais, escrever artigos na imprensa para influir na opinião pública, reunir-se com políticos do mais alto nível e organizar visitas oficiais quando necessário. A chancelaria determinou aos embaixadores e ao pessoal diplomático que cancelem todos os planos de férias para setembro e pediu que apresentassem um plano de ação para os países em que trabalham. 

"O objetivo é conseguir com que o maior número de países se oponha ao processo de reconhecimento de um Estado palestino pela ONU", disse Ehud Barak aos diplomatas em comunicado enviado no último dia 2 de junho. "O primeiro argumento é que, ao perseguir este processo na ONU, os palestinos estão tentando atingir seus objetivos fora das negociações com Israel, o que viola o princípio de que o único caminho para resolver o conflito é através de negociações bilaterais", acrescenta a nota. 

O ministério prepara um "Fórum de Setembro", que terá como função "analisar os possíveis passos dados pelos palestinos e as opções de Israel para fazer o processo fracassar", iniciando um plano que una a diplomacia e os meios de informação. Os diplomatas terão que informar uma vez por semana a este fórum sobre as atividades realizadas neste sentido. 

Em outro comunicado enviado nesta semana às embaixadas da Europa Ocidental por um diretor da pasta, Naor Gilon, é especificado que a meta é "dar um impulso contra o reconhecimento de um Estado palestino em setembro fazendo com que um bloco significativo de países da União Européia exponha sua oposição às ações unilaterais palestinas o mais rápido possível". 

Israel sabe que os palestinos irão contar com a maioria necessária na Assembléia Geral da ONU, embora a decisão não possa ser cumprida se for rejeitada pelo Conselho Geral, onde os Estados Unidos e outros países têm poder de veto. 

O voto, no entanto, representaria uma vitória moral e diplomática para os palestinos, que não vêem outro caminho além da declaração unilateral de independência após o fracasso do processo de paz iniciado em setembro passado e que ficou estagnado três semanas depois por conta da recusa israelense em frear a expansão das colônias judaicas nos territórios palestinos ocupados. 

Fonte: EFE

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=156198&id_secao=9


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A história não contada do acordo que sacudiu o Oriente Médio

7/6/2011, Robert Fisk, The Independent, UK

Encontros secretos entre intermediários palestinos, agentes da inteligência do Egito, o ministro turco de Relações Exteriores, o presidente Mahmoud Abbas e Khaled Meshaal, líder do Hamás – uma ida secreta a Damasco, tendo de desviar da cidade de Deraa, em rebelião – levaram à unidade dos palestinos que tanto perturbou os governos de Israel e dos EUA. Em maio, Fatah e Hamás puseram fim a anos de conflitos, com um acordo crucial para alcançar o reconhecimento internacional do estado palestino.

Várias cartas detalhadas, aceitas pelos dois lados, das quais The Independent tem cópias, mostram o quanto foram complexas as negociações. O Hamás também buscou – e obteve – o apoio do presidente sírio Bachar al-Assad, do vice-presidente Farouk al-Sharaa e de seu ministro de Relações Exteriores, Walid Moallem. Entre os resultados, há um acordo feito por Meshaal para pôr fim aos ataques de foguetes do Hamás, de Gaza, contra Israel – porque a resistência passaria a ser direito exclusivo do estado – e um acordo pelo qual o estado palestino reivindica fronteiras baseadas nas fronteiras de Israel em 1967.

“Sem a boa vontade de todos os lados, o auxílio dos egípcios e a aceitação pelos sírios – além do desejo dos palestinos de unir-se, desde o início da Primavera Árabe –, não teríamos conseguido fazer o que fizemos”, disse-me pessoalmente um dos principais intermediários, Munib Masri, 75 anos. Foi Masri quem ajudou a estabelecer um ‘Fórum Palestino’ de independentes, depois de o Hamás ter alcançado extraordinária vitória eleitoral em 2006. “Sempre entendi que as divisões que se criaram seriam uma catástrofe, e passamos quatro anos andando para frente e para trás entre os vários partidos”, disse Masri. “Abu Mazen (Mahmoud Abbas) pediu-me várias vezes que mediasse os contatos. Começamos a nos encontrar na Cisjordânia. Todos participaram. Reunimos muitas capacidades.”

Em três anos, membros do Fórum Palestino viajaram mais de 12 vezes a Damasco, ao Cairo, a Gaza e à Europa e várias iniciativas foram rejeitadas. Masri e seus colegas negociaram diretamente com o primeiro-ministro Hanniyeh do Hamás em Gaza. Adotaram a chamada “iniciativa de troca de prisioneiros” de Marwan Barghouti, alto líder do Fatah, que está preso em Israel; então, com os ventos das revoluções na Tunísia e no Egito, a juventude palestina, dia 15 de março, exigiu que os partidos se unissem e pusessem fim à rivalidade entre Fatah e Hamás. Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel sempre se recusou a negociar com Abbas porque, dizia ele, os palestinos estavam divididos. Dia 16 de março, em discurso, Abbas disse que estava “pensando em ir a Gaza”. Masri, que estava presente, subiu numa cadeira e aplaudiu.

“Supus que o Hamás responderia positivamente” – Masri recorda. “Mas nos primeiros dois ou três dias depois do discurso de Abbas, a resposta foi negativa. O Hamás queria eleições imediatas e nada de diálogo.” Abbas partiu para Paris e Moscou – para mostrar desagrado, aos olhos de alguns de seus associados. Mas o Fórum não desistiu.

“Redigimos um memorando – dissemos que íamos visitar os egípcios, para nos congratular com a revolução deles. Tivemos duas reuniões com o chefe da inteligência egípcia, Khaled Orabi – o pai de Orabi foi general do exército ao tempo do rei Farouk – e nos encontramos com Mohamed Ibrahim, do departamento de inteligência.” O pai de Ibrahim tornou-se muito conhecido na guerra de 1973, quando capturou o oficial israelense de mais alta patente no Sinai. A delegação também se reuniu com assessores de Ibrahim, Nadr Aser e Yassir Azawi.

Sete membros de cada grupo palestino formaram a delegação que foi ao Cairo. Eis os nomes que, no futuro, estarão nos livros de história da Palestina: pela Cisjordânia, o Dr. Hanna Nasser (reitor da Universidade Bir Zeit e da comissão eleitoral central palestina); Dr. Mamdouh Aker (presidente da sociedade de direitos humanos); Mahdi Abdul-Hadi (presidente de uma associação política em Jerusalém); Hanni Masri (analista político); Iyad Masrouji (comerciante de produtos farmacêuticos); Hazem Quasmeh (dirige uma Organização Não Governamental) e o próprio Munib Masri.

O ‘lado’ de Gaza foi representado por Eyad Sarraj (que não pôde viajar ao Cairo por ter adoecido); Maamoun Abu Shahla (membro da diretoria do Banco Palestino); Faysal Shawa (comerciante e proprietário de terras); Mohsen Abu Ramadan (escritor); Rajah Sourani (militante árabe de direitos humanos, que não viajou ao Cairo); ‘Abu Hassan’ (membro da Jihad Islâmica, indicado por Sarraj); e Sharhabil Al-Zaim (advogado em Gaza).

“Esses homens passaram muito tempo discutindo com o alto escalão do serviço de inteligência do mukhabarat egípcio” – Masri lembra. “Nos encontramos com eles dia 10 de abril, mas enviamos um documento antes de viajar. Por isso o contato tornou-se tão importante. Em Gaza havia dois ‘lados’ diferentes. Falamos sobre a microssituação, sobre os gazenses presos em Gaza, sobre direitos humanos, sobre o bloqueio egípcio, sobre dignidade. Shawa dizia “sentimos como se não tivéssemos dignidade – e sentimos que a culpa é nossa”. Nadr Asr, do departamento de inteligência disse: “Vamos mudar tudo isso.” 

“Voltamos às 19h, para nos reunirmos outra vez com Khaled Orabi. Eu disse: “Escute, preciso saber, de você: a nova iniciativa agrada a vocês, um pacote que é situação de ganha-ganha para todos? O caso da Palestina continua ‘quente’ no Cairo? Ele respondeu: “É processo meio longo – mas, sim, gostamos da ideia. Vocês conseguem pressionar os dois lados, o Fatah e o Hamás, e trazê-los para o projeto? Mas, sim, trabalharemos com vocês. Procurem o Fatah e o Hamás – e tratem tudo isso como assunto confidencial.” Nós aceitamos. Fomos falar com Amr Moussa (agora, candidato à presidência do Egito pós-revolução) na Liga Árabe. De início, mostrou-se muito cauteloso – mas no dia seguinte, quando nos reunimos com a equipe dele, todos foram muito positivos. Dissemos: ‘Deem uma chance à ideia’. Dissemos que a Liga Árabe foi criada para a Palestina, que a Liga Árabe tem papel importante em Jerusalém.” 

A delegação visitou também Nabil al-Arabi, no ministério de Relações Exteriores do Egito. “Al-Arabi disse: ‘Posso chamar o ministro das Relações Exteriores da Turquia, que está no Egito?’ O ministro veio e discutimos juntos a iniciativa. Ali descobri que o ‘novo’ Egito estava muito confiante no sucesso da nossa iniciativa: eles quiseram [itálicos] discutir na presença da Turquia. Assim, discutimos todos juntos e eu voltei com os outros para Amã, às 21h.” 

O grupo foi à Cisjordânia, para relatar o que fora feito – “estávamos felizes, nunca antes nos sentíramos como naquele dia” – e informar a Azzam Ahmed (chefe do grupo do Fatah que trabalhava pela reconciliação) que o grupo se preparava para apoiar a iniciativa de Mahmoud Abbas sobre Gaza. “Tivemos sete grandes reuniões na Palestina para reunir ali todos os grupos e os independentes. Abbas já nos dera um aval presidencial. Conversei com Khaled Meshaal (líder do Hamás, que vive em Damasco) por telefone. Meshaal perguntou: ‘Abu Mazzen (Abbas) concorda com tudo isso?’ Respondi que a questão não era essa. Dia seguinte fui a Damasco com Hanna Nasser, Mahdi Abdul Hadi e Hanni Masri. Por causa dos problemas na Síria, tivemos de contornar Deraa. Tenho boa relação com Meshaal. Ele disse que havia lido o nosso documento – e que achava que valia a pena trabalhar sobre a ideia.”

O fato de que os dois lados quisessem saber o que o outro pensava da iniciativa, antes de decidir, era sinal de que persistia a desconfiança entre o Hamás e Abbas. “Meshaal perguntou-me: ‘O que diz Abu Mazzen (Abbas)?’ Eu ri e respondi: ‘Você sempre pergunta isso. Estou aqui para saber o que vocês [itálicos] querem. Nos encontramos com assessores de Meshaal, Abu Marzouk, Izzat Rishiq e Abu Abdu Rahman. Lemos e revisamos o documento do acordo durante seis horas e meia. A única coisa que não arrancamos de Meshaal foi que o governo fosse constituído por acordo. Dissemos a ele que o governo seria governo de união nacional – sob a condição que teríamos de ser capazes de organizar e realizar eleições, levantar o bloqueio de Gaza e reconstruir Gaza, que tínhamos de obedecer à lei internacional, à Carta da ONU e às resoluções da ONU. Meshaal pediu três ou quatro dias. Aceitou que a resistência só aconteceria ‘na defesa do interesse nacional do país’ – e que teria de ser ‘aqlaqi’ – ética. Os ataques de foguetes contra civis tinham de acabar. Em outras palavras: ele tinha de garantir que não haveria mais foguetes de Gaza, contra Israel.”

Meshaal contou a Masri e acompanhantes que estivera com o presidente Bashar Assad da Síria, com seu vice-presidente Sharaa e com o ministro sírio de Relações Exteriores Moallem. “Disse que queria o apoio deles – mas no fim, prevaleceu a palavra do povo palestino. Estávamos muito felizes – dissemos que ‘surgiu uma pequena brecha’. Meshaal disse: ‘Nós não vamos deixar vocês sem apoio’. Dissemos que levaríamos a palavra dele ao Fatah e aos independentes na Cisjordânia, e aos egípcios. Na Cisjordânia, o Fatah chamava a iniciativa de ‘iniciativa do Hamás’ – mas dissemos que não, a iniciativa é de todos. Dois dias depois, Meshaal disse que falara com a inteligência do Egito e que eles estavam gostando do que tínhamos proposto.” 

As conversações foram bem sucedidas. Meshaal concordou com enviar dois de seus principais homens ao Cairo. A equipe de Masri esperava que Abbas fizesse o mesmo. Quatro representantes – dois de cada lado – viajaram ao Egito dia 22 de abril. Um ano antes, quando houve um impasse entre os dois lados palestinos, no Egito, o regime de Moubarak tentara criar obstáculos ainda maiores para impedir qualquer reconciliação. Meshaal chegou a reunir-se, sem qualquer resultado, com Omar Sulieman – factótum da inteligência de Mubarak e o melhor amigo de Israel no mundo árabe – em Mecca. Se alguém ainda duvidasse, ali se comprovou que Sulieman realmente trabalhava para os israelenses. Dessa vez, tudo foi mesmo muito diferente.

No dia que Abbas e Meshaal foram ao Cairo, foram os dois governos completos, exceto os dois primeiros-ministros rivais, Fayad e Hanniyeh. O Hamás declarou que, ao longo dos últimos quatro anos, os israelenses haviam roubado ainda mais terras em Jerusalém e construído mais colônias exclusivas para judeus na Cisjordânia ocupada. Meshaal irritou-se, quando supôs que não o deixariam falar do pódio, como os demais presentes – e falou, no evento. E o Hamás aceitou a fórmula sobre as fronteiras de 1967, consciente de que assim reconhecia a existência de Israel; aceitou também a referência à resistência; e também concordou em ceder mais tempo a Abbas, para mais negociações.

No momento em que o Hamás passasse a integrar o governo de união, estaria reconhecendo o estado de Israel. Mas se não integrasse o governo, ninguém reconheceria coisa alguma e não haveria acordo. “Não é justo dizer ao Hamás ‘faça isso ou aquilo’”, diz Masri. “Claro que a resistência é direito recíproco. Mas se o Hamás não se integrasse ao governo de união nacional, passaria a ser apenas um partido político, sem tribuna para dizer o que querem dizer. Os EUA portanto que se preparem para conhecer o Hamás ativo na formação do governo. Esse governo respeitará as resoluções da ONU e a legislação internacional. Essa ação tem de ser mútua. Os dos lados perceberam que, por pouco, teriam perdido o barco da Primavera Árabe. Não foi trabalho meu – foi resultado da conjunção de muitos esforços. Não fosse pela mediação dos egípcios e pela boa vontade dos dois grupos palestinos, nada teria acontecido.” No dia seguinte à assinatura do acordo, partidários do Hamás e de Abbas concordaram em parar de prender militantes de um lado e de outro.

Hoje afinal se conhece a história da unificação dos palestinos. A reação de Netanyahu, primeiro-ministro de Israel à novidade – depois de ter-se negado a negociar com os palestinos porque estavam divididos – foi decidir que não negociaria com Abbas, se o Hamás fosse integrado ao governo palestino. O presidente Obama virtualmente ignorou a iniciativa da unidade palestina. 

Mas falar de “fronteiras de 1967” implica que o Hamás reconhece a existência de Israel; e a decisão negociada sobre a resistência implica o fim dos foguetes de Gaza contra Israel. A disposição para subordinar-se à legislação internacional e às resoluções da ONU implica que a paz pode ser completada e que um estado palestino pode ser criado. Essa, pelo menos, é a opinião dos dois lados palestinos. O mundo esperará para saber se Israel outra vez rejeitará a paz.



Traducao: Coletivo Villa Vudu

quinta-feira, 9 de junho de 2011

IMAGENS DA DEMOCRACIA ISRAELENSE!

VEJAM E COMPARTILHEM ESSE VÍDEO! 

ESSA É A "DEMOCRACIA ISRAELENSE"! 

SE FAZEM ISSO COM UM JUDEU, NEM É PRECISO DIZER O QUE ESSES CANALHAS FAZEM COM OS PALESTINOS! 

"Lucas Koerner, esse jovem ativista de esquerda, judeu americano, foi preso em Jerusalem no dia 1 de junho e poucos dias depois foi expulso de Israel. Ele protestou contra as comemorações do Dia de Jerusalem, quando Israel comemora a ocupação de Jerusalem Oriental durante a guerra de 1967."
Guila Flint




quarta-feira, 8 de junho de 2011

Como o lobby israelense congela o debate sobre o Oriente Médio


4/6/2011, MJ Rosenberg, Al-Jazeera, Qatar

Essa semana, depois da escandalosa recepção ao primeiro-ministro Netanyahu no Congresso dos EUA, quero partilhar uma lembrança pessoal de como o status quo no Oriente Médio é preservado no Capitólio.

Era 1988, e eu trabalhava como assessor para política exterior do senador Carl Levin (Democrata, Michigan). Um dia, em fevereiro, Levin chamou-me a sua sala. Estava muito preocupado com uma declaração que lera no New York Times aquele dia. Um artigo citava o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Shamir, que dissera que rejeitava a ideia de retirar-se de qualquer parte da terra que Israel ocupara na guerra de 1967: “O ministro Shamir disse em entrevista a uma rádio, que ‘é claro que, para mim, nenhuma troca de território por paz será jamais aceitável’” (matéria de arquivo, só acessível para assinantes do jornal).

Levin entendeu perfeitamente o que Shamir estava fazendo: estava repudiando duas Resoluções do Conselho de Segurança da ONU, n. 242 e 338 (de cuja redação Israel participou) e que ordenavam “a retirada das forças armadas de Israel dos territórios ocupados no recente [1967] conflito” em troca de paz e segurança. Aquelas resoluções manifestavam então, como manifestam até hoje, a política oficial dos EUA e da ONU. Mas, em 1988, Shamir as declarara nulas e sem efeito.

Levin pediu-me que redigisse uma carta dirigida ao secretário de Estado George Shultz, declarando que o Senado dos EUA entendia que as resoluções da ONU permaneciam plenamente válidas e manifestavam a política dos EUA, Shamir gostasse ou não. A carta foi escrita, não exatamente nesses termos, é claro: uma carta muito polida. E Levin queria que a carta fosse endereçada a Shultz, não ao próprio Shamir, para evitar arrepiar demais os falcões de Israel.

Escrevi um primeiro rascunho. Levin editou e reeditou. Em seguida, convocou o presidente do AIPAC, Thomas A. Dine, para que examinasse os termos da carta. Tom aprovou: na avaliação dele, a carta estava “ótima”. Levin disse a Dine que manteria em sigilo o fato de que a carta fora aprovada por ele, para evitar-lhe qualquer embaraço.

Levin então pediu-me que entregasse a carta ao secretário de Estado, mas pediu algum tempo porque, antes, queria tentar reunir algumas outras assinaturas de senadores. Em uma hora, a carta estava assinada por 30 senadores. Não fosse sexta-feira, Levin teria facilmente reunido mais uma centena de assinaturas, mas era tarde, e a Casa já estava praticamente vazia.

Entreguei a carta. Levin não queria excessivo alarde sobre a carta e, por isso, o gabinete do senador não informou a imprensa. Na prática, era iniciativa secreta.

Mas um dos senadores passara cópia da carta ao New York Times. E em minutos os telefones começaram a tocar. Repórteres e financiadores do AIPAC (que não sabiam que Dine conhecia e aprovara o texto) estavam furiosos.

Levin foi procurado para entrevistas pelos três principais programas de notícias das manhãs de domingo. Não aceitou. De fato, como previsto há muito tempo, embarcou no sábado para Moscou.
No domingo, a primeira página do New York Times estampava manchete e longa matéria sobre a “Carta dos 30”, de Levin:

"Trinta senadores dos EUA, inclusive muitos dos principais apoiadores de Israel, enviaram carta em que criticam o primeiro-ministro Yitzhak Shamir e seu Partido Likud, sugerindo que estariam obstruindo esforços para um acordo de paz no Oriente Médio.
 
A extraordinária crítica pública a Israel veio em carta dirigida ao secretário de Estado George P Shultz, que retornou hoje de viagem de vários dias ao Oriente Médio. O secretário Shultz propôs, nessa viagem, as linhas gerais de um acordo provisório entre Israel e os palestinos (...).
 
Os senadores que assinaram a carta declaram-se preocupados ante a continuada resistência, por Israel, à ideia de ceder terras ocupadas em troca de paz, pedra angular dos esforços do secretário Shultz. Embora a carta também critique outros estados árabes, exceto o Egito, auxiliares do senador informaram que a intenção foi, principalmente, mandar recado claro ao primeiro-ministro Shamir e ao bloco do Likud."


Era tão significativo o fato de que, antes, nenhum senador dos EUA jamais criticara qualquer política de Israel (nem indiretamente), que, no domingo, o Sunday Times insistiu no assunto e publicou a carta na íntegra.
Na segunda-feira, o mundo veio abaixo. Como Levin estava na Rússia, seus assessores tiveram de responder aos telefonemas dos jornais e às ameaças de doadores de campanha, eleitores e organizações ‘pró-Israel’, todos furiosos. E, às tantas, aconteceu algo absolutamente inimaginável.

Um alto funcionário da embaixada de Israel veio ao gabinete, para apresentar pessoalmente mensagem de protesto do primeiro-ministro Shamir. O chefe de gabinete do senador Levin, Gordon C Kerr, disse-lhe que não fazia sentido algum um funcionário de embaixada apresentar qualquer protesto contra carta de senadores norte-americanos dirigida ao próprio governo dos EUA. Disse-o, é claro, em termos absolutamente polidos. 

O funcionário da embaixada de Israel insultou Levin e fez-lhe graves ameaças. Kerr expulsou-o do gabinete.
Simultaneamente, Levin recebeu mensagem do presidente Ronald Reagan em que o presidente agradecia a contribuição de organizar apoio à posição do seu governo; e Shamir pôs-se a telefonar para os senadores, dizendo-se “atônito” por suas políticas estarem sendo alvo de críticas.

Aconteceu então o momento que, para mim, foi a experiência mais chocante de todos os anos em que trabalhei para o governo dos EUA. William Safire, o colunista mais influente do New York Times, telefonou-me, em fúria. Disse que sabia, de fonte segura, que nem Levin nem eu escrevêramos aquela carta. Disse que sabia que a carta fora escrita por um assessor do líder do Partido Labour de Israel, Shimon Peres.

Disse que aquele assessor, alguém chamado Yossi Beilin, entregara-me um rascunho manuscrito da carta e que eu convencera Levin a assinar e reunir apoios. Disse-me que eu trabalhava para derrubar o governo de Shamir e substituí-lo por governo de Peres. Por pouco não deixei escapar uma gargalhada.

A simples ideia de que um assessor de senador tivesse tanto poder já era, só ela, um absurdo. Mas Safire fez ameaças. Perguntou se eu achava correto que um assessor de um senador dos EUA estivesse a serviço de partido político estrangeiro, e se eu sabia o que aconteceria quando Levin descobrisse sobre mim, na coluna de Safire no New York Times. Assustador. Como assessor de senador, eu jurara fidelidade aos EUA e à Constituição. Tinha passe livre, dado pela segurança. As consequências seriam arrasadoras.

Eu disse a Safire que eu rascunhara a carta e que Levin reescrevera, ele mesmo, longos trechos. Disse que jamais ouvira falar de Beilin (pura verdade). Safire, então, enlouqueceu. Disse que sabia que eu estava mentindo, porque recebera a história ‘real’ de fontes seguras: de Binyamin Netanyahu, então embaixador de Israel na ONU, e de Steve Rosen, número dois do comando do AIPAC (que, mais tarde, foi acusado de espionagem).

Respondi que não me interessava quem lhe tivesse contado. Que era mentira. E que Levin tomara a iniciativa de escrever ao secretário de Estado para ajudar Israel, porque entendia que, se Israel se opusesse à retirada dos territórios palestinos ocupados, o conflito jamais teria fim.

A conclusão da conversa foi que Safire recuou, não antes de me ameaçar mais uma vez: se ele descobrisse que eu mentira, eu estaria “acabado”. Disse que não escreveria a coluna,  porque – acredite quem quiser – acreditava mais em mim que em suas fontes.

E foi isso. Ninguém mais falou sobre a “Carta dos 30”, exceto para lembrar que, depois dos ataques viciosos contra Levin, poucos senadores dos EUA voltaram a desafiar o governo de Israel e o AIPAC.
E qual é a moral da história?

É a seguinte: criticar Israel é muito perigoso. Não fosse o medo, o que levaria um poderoso colunista do New York Times a telefonar a um assessor de senador e ameaçá-lo nos termos em que Safire ameaçou-me, de destruir minha carreira? Só o medo. E o que faria um colunista do New York Times agir como empregado do governo de Israel? Naquele dia, Safire não foi nem jornalista: trabalhava como agente do governo de Israel.

Quem, sabendo disso, surpreender-se-ia com o circo em que se converteu o senado dos EUA, aos pulos nas cadeiras, levanta e senta, levanta e senta, gritando de amores por Netanyahu? Quem se atreveria a vaiar um gorila de uma tonelada? Com certeza, não os eleitos para o Congresso dos EUA.

A parte boa de toda essa história, é que Levin apoiou-me 100%. A carta criou-lhe muitos problemas com doadores de campanha, mas ele sempre a defendeu – e de lá até hoje já foi reeleito quatro vezes. De fato, disse-me, há muito tempo, que se orgulha muito de ter redigido aquela carta. Ele redigiu. Não eu. 



Fonte: Redecastorphoto. Tradução: Vila Vudu


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