Acordo de reconciliação palestina oferece oportunidade para paz
20/05/2011
Mustafa Barghouthi
O governo israelense lamentavelmente não parece entender como o acordo de união palestina fornece uma oportunidade única. Este acordo apresenta, pela primeira vez em décadas, um consenso moderado palestino unificado, que inclui a Fatah, o Hamas e o campo democrático.
De uma perspectiva palestina, este fruto da Primavera Árabe e de um Egito pós-Mubarak é um desdobramento vital na busca para ultrapassar luta mutuamente destrutiva e focar na necessidade de pôr fim à ocupação israelense e garantir nossa liberdade.
Um observador dos discursos feitos por ocasião da assinatura do acordo no Cairo, no dia 4 de maio, se for aberto, verá que todos os grupos envolvidos aceitaram a solução de dois Estados ao longo das fronteiras de 1967, com um Estado Palestino nos territórios ocupados e Jerusalém Oriental como sua capital; que todas as partes se comprometeram a se abster de qualquer forma de violência e que em seu discurso, o presidente da Autoridade Palestina e da OLP, Mahmoud Abbas, declarou seu compromisso com todos os acordos anteriormente assinados com Israel, sem objeções dos presentes.
Como presidente da Organização pela Libertação da Palestina, Abbas será autorizado a negociar em nome de todas as facções palestinas, o que elimina a desculpa israelense de não poder negociar com uma sociedade palestina dividida.
O acordo de união oferece uma chance para Israel fazer paz duradoura com todos os palestinos, de todo o espectro político, e para a solução de dois Estados ser implementada imediatamente.
O acordo também promove a renovação da democracia palestina, inclusive um parlamento efetivo, um judiciário independente, a separação dos poderes e eleições democráticas livres dentro de um ano. Ele dará aos palestinos o direito de novamente escolher seus líderes livremente e democraticamente. Se o Congresso dos EUA apoia essas metas no Egito, Líbia e Síria, então por que não para a Palestina e os palestinos?
Nas eleições feitas em 2005-2006, os palestinos forneceram um exemplo brilhante de prática democrática para toda à região, mas este foi minado pelo cerco imposto em nosso governo de união nacional de 2007, que representou 96% do eleitorado palestino. O cerco serviu aos propósitos dos seus arquitetos e levou à divisão interna palestina.
Eu sempre acreditei que a única paz duradoura é a paz entre democracias. A experiência da Europa é a maior prova disso. Uma Palestina democrática e unificada será mais capaz de alcançar a liberdade e a independência e de manter uma paz durável e justa.
Infelizmente, as reações do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e de seus partidários ao acordo refletem uma visão retrógrada, não visionária, e danosa ao futuro tanto dos palestinos quanto dos israelenses.
Sua posição é indefensável e hipócrita. Como podem exigir que os palestinos respeitem os acordos existentes enquanto ao mesmo tempo Israel viola esses mesmos acordos quando não entrega os impostos devidos à Palestina, tirando os salários de médicos, enfermeiras, professores e até da elogiada polícia? Onde está a sabedoria em prejudicar os hospitais e as clínicas médicas palestinas como punição por moderar a posição do movimento nacional palestino?
Acabamos de passar anos tentando pavimentar o caminho para uma paz justa e convencer nosso povo que a não violência é a melhor estratégia, e agora estamos ameaçados com punição por termos conseguido. A retomada do cerco à Autoridade Palestina e ao governo de união leva consigo o enorme risco de causar o colapso total da Autoridade Palestina e com ele a solução de dois Estados.
Se os israelenses de fato desejam uma paz duradoura baseada na solução de dois Estados, a estrada está bem aberta para eles. Por outro lado, se quiserem que nós permaneçamos oprimidos sob a ocupação militar para sempre, vamos continuar resistindo unidos em nossa justa batalha pela liberdade.
Chegou a hora de o presidente Obama e da comunidade internacional aproveitarem esta oportunidade e mudarem de curso, de forma a evitar ainda mais desastres e derramamento de sangue no Oriente Médio.
Mustafa Barghouthi, médico e membro do Conselho Legislativo Palestino, é fundador do partido Iniciativa Nacional Palestina
Tradução: Deborah Weinberg
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Welcome Palestinian Unity
The New York Times / International Herold Tribune
Published: May 19, 2011
The Israeli government regrettably does not seem to realize what a unique opportunity the Palestinian unity agreement provides. This agreement presents, for the first time in decades, a unified, moderate Palestinian consensus, which includes Fatah, Hamas and the democratic camp.
From a Palestinian perspective, this fruit of the Arab Spring and a post-Mubarak Egypt is a vital development as we seek to move beyond internecine strife and focus on the need to end the Israeli occupation and secure our freedom.
An open-minded observer of the speeches made at the signing of the agreement in Cairo on May 4 will see that all groups involved have accepted the two-state solution along the 1967 borders, with a Palestinian state in the occupied territories and East Jerusalem as its capital; that all parties have committed themselves to abstain from any form of violence; and that in his speech, Palestinian Authority President and P.L.O. Chairman Mahmoud Abbas declared his commitment to all previously signed agreements with Israel, with no objections from those present.
As head of the Palestine Liberation Organization, Abbas will be authorized to negotiate on behalf of all Palestinian factions, taking away the Israeli excuse that they can’t negotiate with a divided Palestinian polity.
The unity agreement offers a chance for Israel to make lasting peace with all Palestinians, from left to right on the political spectrum, and for the two-state solution to be implemented immediately.
The agreement also provides for the renewal of Palestinian democracy, including an effective parliament, independent judiciary and separation of powers, and free democratic elections within a year. It will give Palestinians the right to choose their leaders freely and democratically once again. If the U.S. Congress supports these goals in Egypt, Libya and Syria, then why not for Palestine and Palestinians?
In elections held in 2005-2006, the Palestinians provided a shining example of democratic practice to the whole region, but it was undermined by the siege imposed on our 2007 national unity government, which represented 96 percent of the Palestinian electorate. The siege served the purposes of its architects and led to internal Palestinian division.
I have always believed that the only lasting peace is one between democracies. The experience of Europe is the greatest proof of that. A democratic, unified Palestine will be more capable of achieving its freedom and independence, and of keeping a durable and just peace.
Unfortunately the reactions of Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu and his supporters to the agreement reflect a backward-looking approach, rather than a forward-looking one, which is harmful to the future of both Palestinians and Israelis.
Their position is indefensible and hypocritical. How can they demand that Palestinians respect existing agreements while at the same time Israel violates those very same agreements by withholding Palestinian tax money, depriving doctors, nurses, teachers and even the security officers that they frequently praise of their salaries? Where is the wisdom in depriving Palestinian hospitals and clinics of medicine as punishment for moderating the position of the Palestinian national movement?
We have spent years trying to pave the road toward a just peace, and to convince our people that nonviolence is the best strategy, and now we are threatened with punishment for succeeding. Reimposing a siege on the Palestinian Authority and the unity government carries with it the huge risk of causing the total collapse of the P.A., and with it the two-state solution.
If Israelis do indeed desire a lasting peace based on the two-state solution, the road is wide open for them. On the other hand, if they want us to remain oppressed under military occupation forever, we will remain resilient and unified in our just struggle for freedom.
The time has come for President Obama and the international community to grasp this opportunity and change course to avoid yet more disaster and bloodshed in the Middle East.
Mustafa Barghouthi, a physician and member of the Palestinian Legislative Council, is the founder of the Palestinian National Initiative, a political party.